quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A REALIDADE VIRTUAL

O último número do Expresso traz uma interessante informação sobre o trabalho das "agências de comunicação".
Para quem não sabia, ficou claro que hoje em dia praticamente toda a gente usa os serviços de consultores de imagem para atingir os seus objectivos que tenham que passar por conquistar opiniões favoráveis de algum grupo social.
As empresas desde sempre que o fazem para convencer os consumidores da excelência dos seus produtos ou serviços.
Os políticos também o fazem há muito para convencer os seus potenciais eleitores.
No entanto não deixa de ser verdadeiramente espantoso que entidades estatais como a Entidade Reguladora da Comunicação Social ou o Supremo Tribunal de Justiça entendam justificado ou razoável gastar fundos públicos para promoverem a sua imagem.
Claro que situações destas passam-se há muito em países com sistemas democráticos estabilizados, em que a maioria das pessoas têm já perfeito conhecimento delas .
Há um aspecto relevante neste uso e abuso dos consultores de imagem e que é necessário que todos tenhamos consciência dele. É que muitas vezes, para além de maquilharem quem os contrata, tratam ainda de limitar os estragos das suas asneiras e, principalmente, criam na comunicação social uma realidade virtual que cria temas e discussões que levam toda a gente atrás, enquanto o que verdadeiramente interessa passa discretamente por baixo de toda essa espuma que rapidamente se desfaz, até aparecer nova matéria de distracção.
É ver como determinados assuntos são lançados e tratados com grande voluntarismo pela generalidade da comunidade bloguística e pela comunicação social, para logo de seguida serem praticamente esquecidos e substituídos por outra matéria igualmente discutida e analisada por todos.
São inúmeros os sinais de que em Portugal se pratica actualmente este tipo de manipulação da realidade, que urge denunciar.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O agradecimento alemão

Logo após o sucesso da obtenção de acordo para o “Tratado Reformador” da União Europeia, a chanceler alemã Angela Merkel resolveu brindar o nosso Primeiro-ministro e Presidente em exercício da União com um sonoro e expressivo “obrigado José”.
Como os alemães não costumam ser muito dados a reacções efusivas e não são propriamente conhecidos por brincarem a feijões nestas coisas da política da União, o entusiasmo com que aquele agradecimento foi feito despertou-me curiosidade sobre as suas razões.
Desde logo, a chanceler alemã ficou naturalmente satisfeita, porque as negociações difíceis sobre o Tratado que dirigiu durante a presidência alemã, foram levadas a bom porto pela presidência portuguesa.
Por outro lado, parece agora possível ultrapassar os problemas de gestão da União decorrentes dos sucessivos alargamentos e dos chumbos dos referendos à anterior Constituição em França e na Holanda em 2005, o que naturalmente será bom para toda a União e não para nenhum membro em particular.
Do texto da anterior “Constituição” foram deixados cair o hino, a bandeira e o ministro dos negócios estrangeiros da União, que continuará ser o “Alto Representante da União para os Assuntos Externos e Política de Segurança”. Também a livre concorrência deixou de ser um objectivo da União, para passar a ser apenas um instrumento. Como se vê, as diferenças são meramente de pormenor e até de designação, mas enfim, já não há formalmente Constituição Europeia, o que dá jeito para evitar referendos.
Manteve-se o reforço do Conselho de Ministros diminuindo os poderes da Comissão, o que evidentemente é muito bom para os países grandes, com a Alemanha à cabeça.
Foi ainda criado o cargo de Presidente fixo do Conselho Europeu, acabando a partir de 2009 as presidências rotativas de seis em seis meses, que simbolizavam a igualdade entre os países membros.
Foi adoptado o sistema de decisão por dupla maioria com aplicação a partir de 2014, pelo qual o Conselho de Ministros decidirá quando tiver uma maioria de 55% dos Estados, com 65% da população, facilitando a formação de maiorias entre os países grandes, deixando os pequenos com menos influência.
Com o novo sistema, a representação de Portugal, que pelo método anterior era de 3, 47%, passa a ser de 2,14%. Curiosamente, o peso da Alemanha passa dos actuais 8,4% para 16,7%.
Isto é, verifica-se facilmente que o novo Tratado beneficia os países maiores da União, em particular a Alemanha, pelo que se compreende agora bem o entusiasmo do agradecimento de Angela Merkel.
Já Portugal fica muito satisfeito porque o acordo final foi alcançado durante a presidência portuguesa, o que levará a que a sua assinatura seja feita em Lisboa, ficando naturalmente a ser conhecido por “Tratado de Lisboa”.
Enfim, nestas negociações difíceis cada um ficou com o que conseguiu e, curiosamente, todos os líderes europeus regressaram a casa a reclamar vitória.

Publicado no DC em 29 Outubro 2007

domingo, 28 de outubro de 2007

O PROBLEMA

Mais uma vez surgem os rankings das escolas. A confiança nestas classificações não pode ser muita, porque os jornais as fazem muito à pressa a partir dos dados não trabalhados do Ministério da Educação. São no entanto importantes, porque reflectem resultados concretos e não quaisquer outras considerações teóricas.
Há um resultado constante em todos os rankings publicados: os primeiros lugares são sempre ocupados por escolas do ensino privado, à semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores.
Sigificativamente, qual foi a reacção política mais notória a estes resultados? Precisamente a do Bloco de Esquerda que atirou sobre as escolas privadas, acusando-as de estarem a ser promovidas pela direita, ou mesmo pela extrema direita. Isto é, em vez de analisarem as razões dos maus resultados da maioria das escolas públicas, criticam o que é bom e deveria servir de exemplo.
Por mais descabida que seja, esta reacção deve no entanto ser tida em conta, porque provavelmente visa preparar o terreno para mais ataques ao ensino privado.
Nesta mesma altura, o Estado resolve acabar com as reprovações por faltas injustificadas. É mais um passo na direção do abismo, apenas para mascarar as etatísticas de resultados. Só apetece dizer: "shame on you".

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

TRATADO REFUNDADOR

Agora que passou a onda do acessório, era conveniente que a substância do Tratado fosse claramente explicada aos portugueses (incluindo, ou principalmente aqueles que têm dificuldade em passar da leitura da 2ª página). E já agora, se possível, que fosse demonstrada a nítida vantagem para Portugal da nova situação da União decorrente da assinatura do Tratado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sete cidades


Portugal, Açores, S. Miguel, 7 Cidades

ESCUTAS

Esta história das escutas telefónicas cheira cada vez pior.
Quando o Procurador Geral da República disse o que disse, sabia muito bem que uma eventual escuta ao seu telefone seria ilegal.
Depois disso veio uma senhora juíza informar que acontece frequentemente haver "lapsos" na identificação dos números que a polícia pede para escutar, o que leva a que os magistrados tenham que verificar os números nas operadoras, o que nunca nos passaria pela cabeça que fosse necessário.
Aprendemos que, embora não seja muito legal, haverá serviços de informações a fazer escutas. Se não é legal, quem controla?
Depois parece que há "espionagem industrial" que também usa escutas.
A cereja em cima do bolo é a garantia dada pelo Ministro da Justiça e pelo Director Nacional da Judiciária de que não há em Portugal escutas ilegais, garantia em que obviamente ninguém acredita.
Pelos vistos, e infelizmente, os Estados não passam hoje sem vasculhar a vida privada dos cidadãos, situação que obriga a que esta actividade seja muito bem definida e controlada.
O novo Código de Processo Penal dá aos arguidos a faculdade de conhecer as escutas que as autoridades policiais lhes fizeram, antes de serem destruídas por as autoridades as considerarem sem interesse para o processo.
Porque é que os simples cidadãos que são escutados "por arrasto" não têm também a possibilidade de conhecer o que a polícia ficou a saber deles e quem teve acesso a essa informação?
Será verdade que floresce entre nós uma industria de chantagem a coberto destes conhecimentos ilegítimos, como alguns afirmam?
Haja alguém que seja capaz de explicar todo este enredo aos simples cidadãos que nunca foram acusados, nem arguidos nem sequer suspeitos de nenhuma actividade ilegal. Ou será que hoje em dia todos os cidadãos são permanentemente suspeitos de algo ilegítimo? Ou será que o exercício da autoridade dá a alguns a vantagem de conhecer a vida privada dos outros?
A começar pelo Presidente da República espera-se que os principais responsáveis do País façam com que tudo isto seja muito bem explicadinho e nos demonstrem que os receios que são agora generalizados não têm razão de ser e que o Estado democrático existe também para nos proteger e não para servir de esconderijo a quem se serve ilegitimamente dele.

sábado, 20 de outubro de 2007

Comentários

Cheguei a uma altura em que me vejo na necessidade de estabelecer um critério de publicação de comentários.

Atendendo ao carácter do blogue será adoptado o seguinte procedimento:

Não serão publicados comentários que se refiram concretamente a pessoas, quer para elogiar, quer para depreciar.

De facto, uma mensagem publicada abaixo, mereceu de um visitante um comentário favorável, mas que continha apreciações (elogiosas) à pessoa do administrador deste blogue, razão por que o comentário não foi aceite. As minhas desculpas ao comentador em causa, mas compreenderá que não ficava bem ao administrador do blogue proceder à publicação, ficando agora clara esta regra.

TELEFONES

Da entrevista ao Sol do Procurador Geral da República:


O que pensa da possibilidade de os serviços de informações fazerem escutas?

Eu vou dizer uma coisa com toda a clareza, que talvez não devesse dizer: acho que as escutas em Portugal são feitas exageradamente. Eu próprio tenho muitas dúvidas que não tenha telefones sob escuta. Como é que vou lidar com isso? Não sei. Como vou controlar isto? Não sei. Penso que tenho um telemóvel sob escuta. Às vezes faz uns barulhos esquisitos.




Bom. Como o meu telemóvel de vez em quando também faz uns barulhos estranhos, só me resta concluir que alguém ouve as minhas conversas. Que lhe faça bom proveito.

COIMBRA NA REGIÃO CENTRO


Na sequência das saídas de Coimbra de serviços desconcentrados da Administração Central já anunciadas e das notícias avulsas sobre a saída de outras, temos assistido às mais diversas reacções por parte de alguns responsáveis políticos de Coimbra.

Umas vezes insurgem-se contra as notícias e os comentários, como se hoje fosse possível calar os cidadãos, sejam eles quem forem. Esquecem-se, ou eventualmente nunca ouviram falar, da velha história de que não se anula um facto matando o mensageiro que dele dá notícia.

Outras vezes aparecem a proclamar o seu amor desvelado a Coimbra, como se estas questões fizessem parte de um concurso para ver quem ama mais Coimbra. Fazem lembrar os maridos que depois de enganarem a mulher regressam a casa com um anel de brilhantes e palavras bonitas.

Não meus senhores. De facto, o que está em causa nestas discussões é algo muito mais importante para o futuro de Coimbra e de toda a região Centro. Como aqui escrevi há várias semanas, só não vê isto quem não que ver.

Trata-se de levar à prática uma tese que infelizmente vem sendo desenvolvida há alguns anos pelos planeadores regionais oficiais e que sustenta que o carácter policêntrico da região Centro é que lhe dá importância, ao contrário do que se defende para todas as outras regiões do país.

Deliberadamente esconde-se que Coimbra é a única cidade da região Centro que tem condições para ser uma cidade média europeia. Ao pretender-se nivelar todas as cidades da região como pretende o PNPOT em vigor, mais não se faz do que nivelar por baixo, esquecendo toda a importância de Coimbra na História de Portugal, a sua relevância cultural, o papel crucial da Universidade de Coimbra no âmbito do ensino superior, da investigação científica e da colaboração com o mundo económico que hoje tem, o empreendedorismo que cá existe ao mais alto nível tecnológico e económico, a sua altíssima capacidade de atracção turística, as condições únicas em termos de dimensão e qualidade de prestação de serviços de saúde a nível nacional, etc.

Em devido tempo a Câmara Municipal alertou para as opções do PNPOT, tendo-as criticado como lhe competia, o que no entanto não foi acolhido no documento final.

Como consequência das decisões políticas que vêm sido tomadas há vários anos, verifica-se hoje um estrangulamento deliberado de Coimbra como se pode ver, por exemplo, pelas ligações rodoviárias e respectivas portagens à volta de Coimbra.

Reafirmo que ao pretender-se anular a importância de Coimbra na região Centro, será toda a região que perderá, não faltando muitos anos para que seja absorvida pelas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, à boa maneira terceiro mundista e ao contrário do que se passa na Europa a que pertencemos. O próprio país ficará desequilibrado e perderá, no seu conjunto.

É absolutamente necessário e mesmo urgente que a sociedade civil de Coimbra acorde de vez para esta questão.

Publicado no DC em 22 Outubro 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

JAZZ

Meus amigos, permitam-me que vos ofereça algo verdadeiramente sublime
http://www.youtube.com/watch?v=U4FAKRpUCYY&mode=related&search=

ELIS

Para os meus amigos, aqui vai uma prenda com um abraço amigo
http://www.youtube.com/watch?v=wuq0VYEf4nc&mode=related&search=
boa semana

QUESTÕES DE LIDERANÇA

Todas as organizações complexas precisam de uma liderança forte para se afirmarem. Isto é verdade, por exemplo, para grandes clubes desportivos, para empresas no mercado global, para forças armadas em situação de conflito e é também verdade para partidos políticos que ambicionam o poder.
Se há muitas maneiras de se exercer a liderança, existem no entanto duas condições básicas para que as pessoas que integram essas organizações acompanhem o respectivo líder nas suas movimentações com vista a atingir os objectivos a que se propõem.
A primeira dessas condições é a representatividade/emulação. Significa que os membros de uma organização gostam ou precisam mesmo de se sentir bem representados pelo seu líder nas situações de confronto, a fim de eles próprios terem ânimo para enfrentar as dificuldades. Quando um líder é pública e frequentemente vencido nesses confrontos e mesmo assim não demonstra qualquer sinal emotivo de reacção, pode ser considerado muito frio e profissional por alguns, mas não suscita qualquer empatia daqueles que dirige. Acontece que a relação afectiva entre os membros de uma organização e os seus líderes é muito mais importante na obtenção de motivação do que pode parecer à primeira vista.
A confiança na sua liderança é outra condição para um bom funcionamento de qualquer organização. Os membros de uma organização têm que saber que, em casos de contrariedade vinda do exterior, a reacção da sua liderança será defendê-los. O papel das lideranças não pode ser o de abrir brechas na organização, devendo tomar posições de limpeza interna apenas perante provas concretas e irrefutáveis de má conduta. Caso contrário, no limite seria a própria liderança a permitir que os adversários abatessem paulatinamente os seus um a um, apenas com o simples levantamento de suspeitas.
Quando surgem, estes sentimentos de perda de representatividade e de confiança vão minando as relações e podem a certa altura transformar-se em sentimentos de rejeição, muitas vezes não reconhecidos de imediato pela liderança. No momento em que uma liderança que permite esta situação se vir na necessidade de suscitar o apoio dos elementos da sua organização, terá com toda a certeza a amarga constatação de que estará quase sozinha.
A História está cheia de exemplos de situações deste tipo, algumas trágicas, outras apenas curiosas, mas que deveriam estar permanentemente no espírito de quem dirige organizações complexas.
Concluindo, se o leitor está a pensar que na minha mente está o que aconteceu recentemente no PSD, tem toda a razão. Devo acrescentar ainda que, em minha opinião, esta incapacidade de gestão de recursos humanos teceu o pano de fundo em que a política veio a escrever o resultado da eleição directa.

Publicado no DC em 15 Outubro 2007

sábado, 13 de outubro de 2007

Fausto Correia

De forma singela, aqui se homenageia Fausto Correia.
À primeira vista, muito nos separava na visão do mundo.
Mas havia nele claramente uma nobreza de carácter e uma grandeza de alma que infelizmente poucos possuem.
E havia nele aquele amor entranhado e algo irracional a Coimbra que me recorda Mendes Silva.

Não se compreende

Contra os meus hábitos, nestas últimas duas semanas comprei o SOL. Não gosto do jornal e parece-me que não terá grande futuro.
No entanto, estes dois últimos números devem ter sido um êxito absoluto de vendas, por causa da entrevista a prestações da D. Catalina da Casa Pia.
A senhora é uma personagem complicada, exemplo típico da baralhação mental da geração "soixante-huitard".
Só o facto de continuar a assumir-se como admiradora de Otelo deverá colocar-nos de sobreaviso. As fotografias do bandido do CHE também não ajudam muito.
E no entanto...
As afirmações da senhora são de tal ordem, que das duas uma: ou vai a tribunal levada pelos defensores do tal ex-ministro, ou o próprio regime perde totalmente a sua credibilidade.
Não se compreende que as afirmações da senhora fiquem totalmente sem consequências.
Aliás, para provar a gravidade da situação, basta verificar as reacções dos autores do "Causa Nossa". Raramente tenho assistido a tal violência de linguagem.
Se esta entrevista não tiver consequências sérias, não será preciso mais nenhuma prova de que algo está podre no reino da Dinamarca, aliás república de Portugal.

LÍDERES


Em Maio de 2006 publiquei este texto no DC :

A evolução das organizações, por mais diversas que sejam, está sujeita a regras não escritas, mas cuja importância é crucial.

Nas empresas familiares por exemplo, mesmo naquelas de grande dimensão, verifica-se que raramente chegam à quarta ou mesmo terceira geração. Sobrevivem e crescem quando desde o princípio ou logo na segunda geração existe o discernimento para adoptar uma gestão profissional, ficando a família com o capital total ou decisivo das sociedades e uma palavra essencial para as grandes decisões estratégicas.

Um fenómeno semelhante ocorre nas organizações políticas por excelência, que são os partidos. Após lideranças fortes com grande carisma, que mais cedo ou mais tarde têm sempre que terminar, coloca-se a questão de escolher novos líderes. A tentação normal é de as segundas figuras da anterior liderança darem um passo em frente e assumirem-se como novos líderes. Têm a grande vantagem de já estarem perto da liderança, lugar para onde foram levados por diversas razões, normalmente ao colo, pelo anterior líder. Mas esta opção corre normalmente mal. Há numerosos exemplos históricos de sucessões deste tipo que correram mal no passado. Recordo a sucessão a Margaret Tatcher protagonizada por John Major que deu lugar a dez anos de Tony Blair na Grã-Bretanha. Entre nós e para não ir mais longe, aponto as sucessões de Balsemão a Sá Carneiro, de Fernando Nogueira a Cavaco Silva e de Santana Lopes a Durão Barroso. A excepção será a sucessão de Carmona Rodrigues a Santana Lopes na Câmara de Lisboa, mas essa foi claramente ditada por factores externos de todos bem conhecidos e actualmente na berra.

Com vista a uma boa qualidade de liderança, há toda a vantagem em que os novos líderes sejam escolhidos fora da anterior liderança e nunca do seu interior

Quem conhece bem esta situação são os treinadores de futebol. Quando no fim da época se vão embora peças fundamentais da equipa, nunca se vão buscar as segundas linhas da equipa para os substituir. A regra é contratar novos jogadores de primeira linha, tão bons ou melhores do que os que saíram. Infelizmente, na política, isso raramente acontece, sendo em minha opinião uma das razões para a descida de qualidade a que temos assistido, e não só entre nós.

Estado e Igreja


Ultimamente o Estado tem dado mostras de querer atirar a Igreja Católica para as sacristias e de não a querer presente nas suas celebrações.
No entanto, gosta de ser convidado e de aparecer nas celebrações da Igreja, como se viu na inauguração da nova basílica de Fátima.
Ainda bem.

domingo, 7 de outubro de 2007

DIALOGAR COM OS LEITORES

Esta é a centésima crónica semanal da actual série que foi iniciada em Outubro de 2005.

O dia a dia atarefado da actualidade leva a que o tempo passe por nós bem mais depressa do que gostaríamos, esquecendo-nos demasiadas vezes de parar para reflectir e avaliar o percurso.

A crónica número cem justifica, a meu ver, que o seu objecto seja o conjunto dos textos entretanto publicados, não abordando qualquer assunto específico da actualidade como tem sucedido normalmente.

Aproveito por relembrar aqui algumas das orientações editoriais que ficaram definidas logo na primeira crónica:

“Tentar-se-á aqui fugir dos juízos morais que se transformam hoje amiúde em armas de combate político e de destruição, a fazer lembrar tempos inquisitoriais antigos que deveriam estar já bem enterrados. Optar-se-á sim por posições optimizadoras e construtivas, com o objectivo de poder contribuir para uma visão positiva da sociedade, que tão necessária é para melhorar a auto-estima dos concidadãos.”

Do sucesso ou insucesso dos escritos entretanto publicados quando observados à luz dos princípios assumidos ajuizará o leitor.

Algumas vezes me terei afastado mais do que gostaria do caminho traçado, mas o esforço sério para que tal não sucedesse foi real. Há evidentemente leitores que acham que vou por vezes longe demais na opinião emitida e existem outros que me criticam por ser demasiado brando em algumas matérias.

Penso que aquilo que verdadeiramente importa é o exercício activo de cidadania, expondo publicamente os pontos de vista pessoais o que, sem falsas modéstias, vai sendo cada vez mais raro na nossa sociedade. Cabe aqui agradecer os comentários recebidos ao longo deste tempo, quer os mais críticos, quer os favoráveis. É para isso mesmo que ao fundo de cada texto aparece o meu endereço electrónico. Saúdo uns e outros, consciente de que muitas vezes essas posições reflectem antagonismos profundos e mesmo preconceitos de vária ordem nuns casos e amizade demasiado indulgente noutros.

Cabe igualmente pedir desculpa aos leitores pelos erros ou gralhas que de vez em quando aparecem nos textos, apesar dos cuidados para que tal não suceda. Foi o caso da crónica da passada semana em que, após as numerosas alterações introduzidas no texto, ficaram duas palavras que lá não deviam estar.

Termino recordando que ser optimizador e construtivo é uma alternativa a ser meramente optimista ou pessimista, já que qualquer uma destas posições pode levar ao imobilismo e falta de vontade de melhorar a realidade.

Publicado no DC em 8 de Outubro de 2007

sábado, 6 de outubro de 2007

Tratado "Reformador"

Veja aqui o texto do Projecto de Tratado Reformador da União Europeia:
http://www.eu2007.pt/ue/vpt/noticias_documentos/20071004ttratado.htm

O PROBLEMA PRINCIPAL


O Instituto Nacional de Estatística comemorou o “Dia Mundial da População” com a publicação do que chamou “ breve análise da evolução de alguns indicadores demográficos em Portugal, relativa às duas últimas décadas”, cuja leitura atenta se aconselha a todos os que preocupam com o futuro do nosso país.

Este trabalho do INE teve alguma repercussão na imprensa, embora receie que seja rapidamente esquecido, sem abanar as consciências como deveria acontecer.

O estudo informa que o índice de fecundidade, que indica o nº médio de crianças nascidas por mulher em idade fecunda, desceu de 1,65 para 1,36. Se em 1987 a mulher portuguesa tinha um filho com a idade média de 26,8 anos, em 2006 essa idade média era de 29,9 anos.

Sublinha-se que se considera que o índice de fecundidade que garante a sustentabilidade de uma sociedade é de 2,1, pelo que a sociedade portuguesa está a morrer. E está de tal forma a morrer que, se a evolução futura dos índices demográficos se mantiver, no ano de 2050 Portugal deverá ter perdido cerca de 2,5 milhões de habitantes, tendo nessa altura uma população de cerca de 7,5 milhões de habitantes.

A acrescentar a esta hecatombe, teremos a circunstância trágica de as pirâmides etárias estarem a estreitar em baixo e a alargar em cima isto é, a passarem a estar invertidas, dado haver muito mais velhos e muito menos crianças e jovens.

Esta evolução dos índices demográficos tem que ser vista como consequência da organização da sociedade e não como natural, porque a ser natural, o futuro seria obrigatoriamente trágico.

As reformas que têm vindo a ser introduzidas na Segurança Social são de fim de linha e insustentáveis, dando provavelmente apenas para mais uma ou duas legislaturas, mesmo com supostas panaceias como a flexigurança.

Este é O maior problema de Portugal e não pode mais ser escamoteado.

È absolutamente necessário e urgente ir às causas da situação e trabalhar para a reorganização do país à luz destes dados, que devem condicionar decisões de grandes investimentos, políticas sociais, de trabalho, de família e, fundamentalmente, da mulher. Não podemos esquecer que a actual organização do país leva a que as mulheres portuguesas sejam as que mais trabalham na União Europeia, das que mais tarde têm filhos e das que têm menor taxa de fecundidade. E lembra-se ainda que Portugal é também um dos 4 países europeus que menos apoiam as famílias com filhos.

Publicado no DC em 16 de Julho de 2007

O PSD FOI A VOTOS


Em 30 de Julho escrevi este texto no DC. Depois de eleito um novo líder do PSD parece-me que continua perfeitamente válido, para o bem e para o mal:

O PSD está de novo em processo de escolha de liderança.

Espera-se que, para além da escolha da pessoa que liderará o PSD até às próximas eleições legislativas, o processo eleitoral revele uma capacidade de afirmação que reconcilie os portugueses com o PSD e que lhe devolva o crédito da confiança perdida.

A passagem dos partidos pela oposição deve traduzir-se numa renovação dos protagonistas políticos mas, acima de tudo, numa redefinição dos objectivos essenciais que o exercício do poder quase sempre faz perder de vista.

A actual governação socialista tem revelado uma vontade de renovação e de capacidade reformadora que não foi apanágio do PS no passado. Há que ser justo e reconhecê-lo mas, por outro lado, há que ver quais as mudanças na organização do Estado português que são profícuas e vão no caminho de um desenvolvimento sustentado. É que há outras que apenas maquilham a realidade e garantem a continuidade de velhos vícios do Estado que comem impostos e apertam as amarras do Estado sobre a liberdade dos cidadãos.

O PSD não pode cair na armadilha de deixar que se generalize a ideia de que o actual governo está a fazer aquilo os social-democratas quereriam fazer e não foram capazes de levar a cabo. Pelo contrário, tem de provar que possui hoje propostas próprias consistentes, isto é, tem que ser uma alternativa real e percebida como tal pelos portugueses. Para tal, é imprescindível que os interesses individuais ditados por tacticismos e carreirismos cedam perante os valores colectivos partidários e mesmo nacionais, já que sem oposição forte e credível não há regime democrático que resista.

O PSD também não se pode deixar enredar em discursos sobre refundações da direita, fusões de partidos, etc., porque nada disto interessa ao comum dos portugueses.

Se há uma área em que o PSD deverá desde logo afirmar-se contando com a compreensão dos portugueses, é a da participação de Portugal na União Europeia.

É hoje evidente que as regras europeias tiveram como consequência a destruição quase total da nossa agricultura e da pesca. Não nos podemos dar ao luxo de permitir que os funcionários europeus venham também dar cabo do nosso sector vitivinícola, com vantagens futuras para quem se imagina, isto é, alemães e franceses.

Não estamos na União Europeia por favor, nem para recolher migalhas. A nossa participação na União Europeia não pode ser senão a da defesa intransigente dos nossos interesses, independentemente de quem ocupa os lugares cimeiros na estrutura da União.

O PSD, sem deixar de ser um partido europeísta assumido e convicto, bem podia colocar os olhos em Brown e Sarkozy e começar por se afirmar nesta matéria, sem complexos, que os portugueses agradecerão.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A GRANDE DIFERENÇA


Os leitores recordam-se com certeza do vendaval que varreu o mundo islâmico nos primeiros meses de 2006, na sequência da publicação de umas caricaturas sobre Maomé num jornal dinamarquês.

Na altura, muitos políticos e comentadores ocidentais condenaram a publicação daquelas caricaturas, por ofenderem a religião muçulmana, manifestando mesmo a maior compreensão pelas violentas reacções que se seguiram e defendendo mesmo a proibição da sua reprodução.

Curiosamente, um concurso artístico realizado há poucos dias na Austrália teve como vencedora um fotografia manipulada que representa as faces de Jesus Cristo ou de Osama Bin Laden, conforme o ângulo de observação e que foi reproduzida em inúmeros meios de comunicação social.

Não é preciso ser cristão para reconhecer que Jesus Cristo é a imagem da paz e do amor, tendo a sua mensagem original revolucionado toda a humanidade ao pregar pela primeira vez, por exemplo, que todos os seres humanos são iguais perante Deus.

Já Bin Laden, que nem sequer é um líder religioso, é a representação viva do ódio e da violência, afirmação que me parece também indiscutível, observem-se as suas palavras e acções sob que ângulo for.

Fundir as suas imagens numa só é portanto, para além do mau gosto e provocação óbvios, uma manifestação concreta do relativismo que grassa na nossa sociedade de hoje, perante o qual tudo é admissível e tem o mesmo valor.

Mas aquilo que me parece ser mais importante nesta história é a diferença de atitude generalizada perante esta publicação, relativamente às reacções muçulmanas à publicação das caricaturas de Maomé.

Não se viu nem ouviu e muito bem, qualquer reacção destemperada de cristãos e muito menos de responsáveis da Igreja Católica.

Embora qualquer cristão se possa sentir pessoalmente chocado e até insultado com aquela imagem, reconhece-se à sua autora, a artista Joyce Bracks, a liberdade de se exprimir, dando aliás ensejo a que se discuta e comente pacificamente o seu significado, como é o caso desta pequena crónica.

Por esta atitude generalizada do mundo cristão se pode verificar, no concreto, por onde é que passam a tolerância e os valores civilizacionais nos dias de hoje.

Publicado no DC em 17 de Setembro 2007

SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER VER



Quando em Agosto aqui escrevi sobre a importância de defender a relevância de Coimbra na região Centro, não faltou quem achasse que a minha posição não fazia sentido e era apenas uma manifestação de bairrismo.

Infelizmente os últimos dias vieram dar-me toda a razão.

Mais uma Direcção Regional foi retirada de Coimbra com justificações forjadas que não convencem ninguém, excepto quem quer ser convencido.

No início deste mês foi publicado o PNPOT (Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território) que, entre outros pontos, “fornece opções estratégicas territoriais para as várias regiões e estabelece um modelo de organização espacial”.

Pois bem, o que propõe o PNPOT relativamente à região Centro e concretamente a Coimbra? Na definição do contexto estratégico fala-se mais uma vez “numa rede urbana multipolar e estruturada em sistemas urbanos sub-regionais com potencial para sustentarem um desenvolvimento regional policêntrico” que depois são descritos, conseguindo-se que a palavra Coimbra não surja referenciada uma única vez!

No que se refere às opções estratégicas territoriais, surge logo em segundo lugar “promover o carácter policêntrico do sistema urbano, consolidando os sistemas urbanos sub-regionais que estruturam a região”.

Está bem à vista o quadro que preside a toda esta estratégia de retirar de Coimbra os serviços desconcentrados do Estado, distribuindo-os pelas outras cidades da região, actuação que vai continuar, até porque neste momento é mesmo um desígnio do Estado.

Há receios fundados de que a reestruturação do Serviço Nacional de Saúde siga o mesmo caminho, retirando a Coimbra a actual relevância que tem a nível nacional nesse domínio.

Mas por outro lado, quando lhe dá jeito, é o próprio Estado que vem reconhecer que Coimbra tem um lugar completamente diferente no contexto nacional e no ranking das cidades portuguesas. De facto, no Orçamento Geral do Estado, com o fim de determinar a participação dos Municípios nos Impostos do Estado e calcular as transferências para os Municípios é utilizado o critério dos valores do IRS gerados em cada Município.

E como surge Coimbra, nestes dias tão criticada pelas suas próprias elites, nessa tabela?

Surpresa das surpresas, apenas 5 Municípios geram mais IRS que Coimbra: Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras e Sintra.

E qual a ordem de relação com os centros da tal região polinucleada? Pois bem, os valores equivalentes são da ordem de 3,99 para Leiria, 3,48 para Aveiro, 3,29 para Viseu, 2,17 para a Figueira da Foz, 1,83 para Castelo Branco e 1,34 para a Guarda.

Para que conste, o valor de Coimbra é 9,82, que até é superior aos de Gaia e de Braga.

Evidentemente que um único critério não reflecte a realidade completa. Mas foi este o critério escolhido pelo próprio Estado e não por mim.

Mantenho que esta estratégia relativa à região Centro que agora é um objectivo nacional através do PNPOT, está completamente errada, prejudica objectivamente Coimbra e em consequência toda a região, ao praticar a técnica de dividir para reinar, ensanduichando a região Centro entre as áreas metropolitanas de Porto e Lisboa. As cidades da região que recebem os serviços saídos de Coimbra até podem pensar que lhes é favorável mas, a longo prazo, é indiscutivelmente prejudicial para a região como um todo.

Esta é a hora em que se deve tomar consciência do que se passa e de se fazer frente a toda esta estratégia de apagamento de Coimbra do mapa de Portugal.

Publicado no DC em 24 Setembro 2007

HORÁRIOS DO COMÉRCIO


Regresso a um tema já aqui abordado em Agosto, que me parece merecer a atenção de todos nós.

De facto, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) entregou na Assembleia da República um abaixo-assinado sob o lema “Liberte-se”, promovido aos balcões dos hipermercados, solicitando uma alteração do regime de horários. O objectivo é conseguir uma liberalização dos horários do comércio que possibilite a sua abertura aos domingos à tarde e nos feriados.

Os argumentos principais da APED a favor desta alteração prendem-se com a defesa da liberdade individual do consumidor, com o favorecimento da concorrência e com a defesa da iniciativa económica privada.

Por outro lado, a própria Associação de Defesa do Consumidor (DECO) veio dar uma ajuda à pretensão, argumentando que a liberalização dos horários iria permitir a aquisição de bens de uma forma mais calma e consciente, o que se reflecte na qualidade e no preço.

Começando pela argumentação da DECO, caberia perguntar pelo estudo em que se baseou para chegar a tal conclusão relativamente à qualidade e ao preço. O leitor sabe bem que se há sítio onde não faz compras de forma calma é nos hipermercados, onde acaba por comprar sempre mais do que aquilo de que necessita, dado o marketing extremamente agressivo que praticam e para o qual a maioria dos consumidores não está minimamente preparada.

Quanto ao que é afirmado pela APED, começaria por dizer que a distribuição está adaptada ao actual regime, já que as grandes empresas de distribuição que dominam o sector dispõem de segmentos de oferta variados, não precisando certamente de regimes que os protejam. Não se vê também em que é que o actual regime promove mais distorção à concorrência do que o agora proposto. O contrário é que seria verdade, dado que no comércio de rua é frequente os próprios lojistas estarem nas suas lojas enquanto estão abertas, o que seria impossível se estivessem abertas também ao domingo. Já a defesa da iniciativa privada, tal como é apresentada levará, se for levada à letra, à possibilidade de as lojas passarem a estar abertas 24 horas por dia, sete dias por semana.

A alteração pedida pela APED é mais um passo na total desregulação da vida da sociedade que levará a uma cada vez maior desumanização da mesma, mais parecendo um regresso à selva. Atrás da liberalização total dos horários virá inevitavelmente a total liberalização das relações contratuais, já que será necessário encontrar soluções para as novas situações criadas.

Não nos venham dizer que essas alterações virão melhorar o conforto e qualidade de vida da maioria da população, porque não é verdade.

Quanto à promessa de que os preços baixarão com essa medida, é uma afirmação que carece de demonstração, dado que os custos gerais de funcionamento da sociedade aumentarão inevitavelmente.

Publicado no DC em 1 de Outubro de 2007