domingo, 27 de julho de 2008

SÁ CARNEIRO E A ÂNSIA DE CHEGAR AO PODER

Sérvulo Correia é um distinto jurista, advogado de sucesso e Professor Universitário de Direito de Lisboa, a quem o jornal Sol resolveu dedicar a entrevista de fundo da revista Tabu deste fim-de-semana.
Sendo um figura pública de grande merecimento nacional, percebe-se a oportunidade da entrevista, a qual tem aliás o subtítulo de "advogado do regime".
Sucede porém que na entrevista são abordados determinados aspectos relacionados com a fugaz passagem de Sérvulo Correia pela política que são muito interessantes e fazem mesmo pensar sobre o actual estado do país e, em particular, do PSD.
Recorde-se que Sérvulo Correia foi militante do então PPD desde a primeira hora, tendo abandonado o partido aquando da famosa debandada das famosas "opções inadiáveis" ocorrida em 1978 antes da formação da AD, acontecimento que deixou marcas ainda hoje detectáveis no PSD. Nessa altura 42 deputados eleitos pelo PSD abandonaram o partido, , em choque com o líder do partido Sá Carneiro, sem largarem os seus lugares na Assembleia da República. Boa parte deles vieram a integrar a ASDI, transitando posteriormente para o PS, o que aliás não aconteceu com Sérvulo Correia.
Segundo Sérvulo Correia, enquanto "Sá Carneiro tinha ânsia de chegar ao poder, nós queríamos uma oposição responsável".
E aqui bate o ponto desta entrevista. De facto, Sá Carneiro era visto como irresponsável por muito boa gente que se queria dar bem com o PS e com o PSD , porque queria a todo o custo acabar com a nefasta influência dos militares e colocar Portugal na senda das democracias ocidentais não tuteladas com a maior rapidez possível. Teve que se confrontar na altura com metade do próprio PSD, com os militares e com o próprio Presidente da República de então, Ramalho Eanes.
A análise do que se passou desde então leva Sérvulo Correia a concluir que o tempo lhe deu razão. Eu só posso concluir exactamente o contrário.
No início dos anos oitenta Portugal poderia ter dado o salto, mas acabou por perder tempo e energias que ainda hoje andamos todos a pagar, tais foram os excessos do gonçalvismo, rumo ao socialismo.
Cabe-nos recordar a memória de Sá Carneiro e não aceitar o cinzentismo das "opções inadiáveis" que por aí ainda perduram com outros nomes e que ajudam a impedir que a política seja uma actividade nobre de assumpção clara de alternativas para o doce deslizar para a bancarrota a que todos assistimos.

Sem comentários: