segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

BIOMBOS

Quem tenha acompanhado a comunicação social nos últimos dias não poderá deixar de se ter admirado com o número de “notícias” e de comentários sobre dois protagonistas improváveis da nossa vida colectiva, atendendo ao momento crítico que se vive: a presidente do PSD, Dra. Manuela Ferreira Leite e o Presidente da República, Prof. Cavaco Silva.

A Dra. Ferreira Leite sofreu ataques de todos os lados, quer tenha falado, quer tenha ficado calada, quer tenha falado sério, quer tenha ironizado.

A líder do PSD não pode propor descida de impostos para enfrentar a actual crise, no que está bem acompanhada pela Comissão Europeia e pelo ex-ministro das Finanças Campos e Cunha, porque o controle do défice é que é necessário.

Não pode colocar em causa as decisões sobre os grandes projectos sem garantir a sua sustentabilidade e papel efectivo na competitividade, no que é igualmente acompanhada pelo Prof. Campos e Cunha, porque esses projectos serão necessários para a recuperação da economia, o que está ainda por provar.

Não se pode queixar do tratamento da comunicação social às suas intervenções, porque é queixinhas e não pode pretender condicionar a comunicação social.

Se fossem precisos exemplos para demonstrar que tem razão nessa queixa, os últimos dias deram-lhe inteiramente razão. A Dra. Ferreira Leite propôs há quase dois meses uma alteração no pagamento do IVA para ajudar as pequenas e médias empresas, passando essa entrega ao Estado a efectuar-se aquando do pagamento e não no momento da emissão da factura. Aqui d’el rei, que a Dra. Ferreira Leite é incompetente e não percebe nada disso, porque as normas da União Europeia proibiriam essa alteração. Pois bem, a semana passada a Comissão Europeia veio informar que não tem nada contra essa alteração. O leitor encontrou alguma referência na comunicação social a essa posição e ao facto de ir de encontro ao proposto pela Dra. Ferreira Leite?

Quanto ao Presidente da República, assiste-se igualmente a uma barragem de ataques enviesados com base em financiamentos que a sua candidatura recebeu de forma totalmente legal e na situação de um Conselheiro de Estado que ele deveria demitir, o que até lhe está vedado pela lei.

Isto é, a gravíssima crise financeira que também já é económica e a aproximação de uma série de actos eleitorais, parecem levar à criação de criar biombos artificiais que escondam a realidade.

Mas a realidade surge de todo o lado.

Só nos últimos dias, para além da revisão sistemática e quase semanal das previsões económicas em baixa, foram conhecidos relatórios que reflectem a gravidade do que se passa.

Assim, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, o indicador de clima económico caiu em Novembro pelo sexto mês consecutivo, para o nível mais baixo desde 1989, com especial intensidade na indústria transformadora; por outro lado, o indicador de confiança dos consumidores baixou para o nível mais baixo desde 1986.

Por mais biombos que se coloquem, a verdade é que a realidade da crise se está a impor com tal força que já não pode ser escondida, sendo crucial juntar esforços para a enfrentar e não escamoteá-la.


Publicado no Diário de Coimbra em 1 de Dezembro de 2008


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