segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O imposto escondido



É sabido que os inimigos da Democracia usam muitas vezes o tema da corrupção para denegrir e atacar essa mesma democracia.
De facto, nas democracias liberais as sociedades são, por princípio, livres e abertas. Existem assim condições para que os esquemas de suborno e tráfego de interesses e influências sejam praticados com mais à vontade do que em sistemas ditatoriais em que as polícias tudo controlam e vigiam, enquanto normalmente fecham os olhos aos amigos do poder.
Mas é precisamente por as democracias terem como princípio básico a igualdade de oportunidades que devem combater a corrupção que desvirtua essa igualdade. Desvirtua, porque altera decisões gerando vantagens ilegítimas. E além de imoral, a corrupção é um imposto escondido suportado pelos cidadãos honestos, já que o valor da corrupção se reflecte em acréscimos de custos no acesso a bens e serviços.
Um determinado nível de corrupção existirá sempre, porque as pessoas não são perfeitas.
Mas as sociedades livres não podem permitir o grau de laxismo por parte do Estado que deixa que a corrupção atinja níveis insustentáveis para a sua própria continuidade.
Claro que a corrupção será tão mais eficazmente combatida, quanto maior for a exigência ética da sociedade e quanto melhor e mais justo for o clima económico. A degradação de qualquer um destes factores propicia o aumento da corrupção. Em alturas de dificuldade económica, é ainda mais premente aplicar a outra alternativa contra a corrupção, ou seja, aplicar a solução política e judicial última: as pessoas têm que perceber que, além de ilegítima, a corrupção dá cadeia, seja em que nível for. Como em tudo na vida, não adianta pregar bons princípios: o fundamental é dar bons exemplos e os exemplos têm que vir de cima.
Entre nós, infelizmente, a situação tem vindo a piorar. Há pouco mais de uma semana foi publicado o relatório anual da “Transparency International”, ou Índice de Percepções da Corrupção. Portugal aparece nesse índice no lugar nº 32, quando em 2007 ocupava o nº 28 e em 2006 o nº 26.
Não é nada que nos deva surpreender. Na realidade, todos nós nos apercebemos de que algo está errado na nossa organização política e social que permite a ocorrência de casos verdadeiramente escandalosos que são cada vez mais vistos como comuns.
Além de um imposto escondido, a corrupção é um veneno que de forma insidiosa vai minando os alicerces da nossa sociedade.

Publicado no Diário de Coimbra em 22 de Dezembro de 2008

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