terça-feira, 30 de setembro de 2008

A DECO BOICOTA

Alguém informado se importa de me esclarecer sobre o significado do boicote ao abastecimento de combustíveis no sábado passado organizado pela DECO?

Na prática a acção foi absolutamente irrelevante, como era de esperar.

Por outro lado ninguém se convence que uma acção destas melhora a imagem da DECO como defensora dos consumidores.

O que é que a Associação quer?

Pressionar as gasolineiras?

Apertar o Governo?

Aparecer nas televisões?

Tudo isto me cheira a esturro e a mãozinha de spin-doctors.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

FRASES FORTES A RETER

Elizabeth Spiers na última "Fortune" acha que estão a "colocar baton num porco":

"Wall Street suffered from the illusion that it could make beautiful bonds out of piles of dubious mortgages"

"When there is intervention, I really believe the shareholders need to lose. I don't know how you can put government money in and protect them"

Na realidade, ao contrário do que muitos pensam, não houve falta de regulação do Estado e sim um acumular de tensões que, face a uma série de pressupostos que correram todos mal em simultâneo, ditou um violento reequilíbrio do sistema financeiro.
Por outro lado, a não aprovação do programa proposto por Bush à Câmara de representantes, por difícil que seja de aceitar, até faz algum sentido.

COIMBRA NO SEU PIOR

Um jornal de Coimbra apresentou uma série de novos colaboradores.
A apresentação de todos, sob a foto e o nome diz: Professor Doutor, seguido da respectiva Faculdade.
Não há Engenheiros, Economistas, Médicos, Sociólogos, etc. como em qualquer parte do mundo.
Não: em Coimbra a profissão é Professor Doutor.
Depois queixem-se dos comentários de gozo que em Lisboa e no Porto fazem sobre esta característica de Coimbra e dos "coimbrinhas".

Presidencialismos à portuguesa

O papel do presidente da República no nosso regime está claramente definido e delimitado pela Constituição, dentro de uma lógica de semi-presidencialismo. Claro que em função das circunstâncias, isto é, da personalidade própria do detentor do cargo em cada momento, bem como da existência ou não de maioria absoluta na Assembleia da República, os equilíbrios podem mudar um pouco, o que é inteiramente compreensível e aceitável.
Já no que diz respeito ao cargo de primeiro-ministro, o edifício constitucional está montado no pressuposto de que os cidadãos escolhem os partidos que terão assento na Assembleia da República. Será a composição eleitoral da AR que virá a definir qual o partido que virá a ter responsabilidades governativas, daí saindo o nome do primeiro-ministro, que é nomeado pelo presidente da República. Na prática, contudo, só formalmente é que isso que sucede.
Como tem sido corrente, as escolhas dos eleitores dirigem-se para os líderes dos partidos, assumidos como candidatos a primeiro-ministro. Quase ninguém se preocupa com os programas dos partidos, nem com a constituição das listas de cada distrito. O que conta efectivamente são a personalidade e as qualidades políticas dos líderes dos partidos que se apresentam a votos.
Mesmo o exercício das funções de “primeiro-ministro” corresponde muito mais às de um presidente do Conselho de Ministros do que às de primeiro entre pares, como é bem claro para qualquer observador.
Quanto às autarquias locais, a presidencialização das câmaras é também mais que óbvia, embora não assumida na Lei.
As campanhas eleitorais para as autarquias andam sempre à volta dos candidatos a presidente da Câmara, muito mais do que entre programas eleitorais ou mesmo entre partidos.
Neste caso, os partidos ficam mesmo frequentemente reféns das suas escolhas, já que os eleitos nas listas não podem ser posteriormente substituídos, se não quiserem sair, produzindo conflitos destrutivos.
Por outro lado, os presidentes de câmara constituem na prática a única fonte de poder efectivo nos respectivos municípios. Sendo assim, os partidos que os propuseram ficam posteriormente “amarrados” à sua actuação, tendo que os apoiar sem reservas. Caso contrário, os presidentes com alguma facilidade são posteriormente reeleitos contra os seus próprios partidos de origem, como há vários casos neste momento (Gondomar, Felgueiras e Oeiras).
Assiste-se assim a uma presidencialização da vida política aos mais diversos níveis.
Os cientistas políticos poderão encontrar muitas razões para este facto, mas a realidade tem-se sobreposto às intenções dos legisladores, criando não raras vezes desfasamentos entre o que há e o que era suposto haver.
Situações deste tipo verificam-se muito mais vezes do que seria conveniente, como sucede por exemplo também na legislação penal, sendo inevitavelmente causa de muitas das incongruências e mesmo descompensações da nossa vida colectiva, com consequências no desenvolvimento económico e social do país.

Publicado no Diário de Coimbra em 29 de Setembro de 2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

SO WHAT

MILES DAVIS e JONH COLTRANE

BONS EXEMPLOS DA ECONOMIA REAL

A economia italiana aparece normalmente associada a factores negativos endémicos, fazendo parte daquilo a que os anglo-saxónicos, depreciativa e insultuosamente chamam países PIGS: Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain).

No entanto são sobejamente conhecidos os sectores da alta costura (moda) e indústrias pesadas (como a automóvel) em que a Itália ainda consegue dar cartas.

Curiosamente, os últimos anos viram a Itália tornar-se no produtor mais importante do mundo de algo que exige em simultâneo inovação, tecnologia, design e capacidade de distribuição ao mais alto nível: o fabrico de óculos.

Duas empresas italianas localizadas na região de Milão produzem actualmente a esmagadora maioria das armações, lentes de prescrição médica e óculos de sol: a Luxxottica e a Safilo.

A Luxxottica tem vindo a comprar as maiores empresas do ramo em todo o mundo, como por exemplo a bem conhecida Ray-Ban que de americana passou a italiana. Produz ainda sob licença várias marcas de luxo, como por exemplo, Prada, Bulgari, entre tantas outras.

Para se perceber a importância do potencial de crescimento desta indústria a nível mundial, basta sublinhar que cerca de 90% dos chineses sofrem de miopia. Se bem que a China produza muitos óculos de baixo custo, a qualidade dos óculos italianos tem vindo a impor-se naquele mercado absolutamente gigantesco. Por outro lado, todos conhecemos os conselhos médicos que nos levam a usar cada vez mais óculos de sol, para proteger os olhos de radiações prejudiciais. Também o crescimento do número de horas à frente do computador está a levar a que muito mais pessoas necessitem de óculos.

Embora a Safilo seja mais antiga, a Luxxottica, que foi fundada apenas em 1961, já ultrapassou o valor de 3 biliões de euros de vendas anuais.

Eis um exemplo de como um mercado muito específico pode ser atacado a nível global, por um número extremamente reduzido de empresas.

Ao contrário do que muitas vezes se diz, a economia italiana consegue muitas vezes produzir o melhor que há no mundo. Já não falamos apenas da Ferrari ou da Prada, de artigos exclusivos, mas de produtos acessíveis, e muitas vezes necessários, a muitas pessoas.

Por outro lado, não consta que a autêntica hecatombe do mundo financeiro leve as pessoas a deixar de usar óculos.

É um excelente exemplo para todos nós, de como a economia real, com uma base industrial forte, pode sobreviver e apresentar mesmo rentabilidades superiores aos negócios puramente financeiros.


Publicado no Diário de Coimbra em 22 de Setembro de 2008

sábado, 20 de setembro de 2008

COINCIDÊNCIA OU MANIPULAÇÃO?

No mesmo dia em que uns jornais divulgam a abertura de Manuela Ferreira Leite à possibilidade da candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa, sabe-se que Santana, o seu ex-chefe de gabinete na Câmara Miguel Almeida e a ex-Vereadora Helena Lopes da Costa são indiciados num processo de abuso de poder praticado na altura em que estavam na Câmara de Lisboa.
Mais uma história mal contada.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

ABSTENÇÃO CONSTRUTIVA

Perante a proposta de revisão do "Código de Trabalho"do PS, o líder da bancada social-democrata informou que a posição do seu grupo parlamentar vai ser de abstenção.
"Abstenção construtiva", adiantou Paulo Rangel. Explicou que a proposta do PS tem coisas negativas e coisas muito positivas. Ainda ninguém explicou ao Dr. Rangel que na vida é tudo assim? A dificuldade está precisamente em determinar se a parte positiva é superior à negativa ou o contrário, assim se definindo o sentido de voto, em função dos interesses do país e das convicções próprias.
O que não pode acontecer de forma nenhuma é um partido que quer ganhar eleições daqui a um ano não saber o que quer numa situação destas e demitir-se de se afirmar.
Passa-lhe pela cabeça que os portugueses não percebem?
Ora batatas, digo eu.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

FANNIE MAE e FREDDIE MAC




Contrariamente ao que à primeira vista possa parecer, os nomes do título não são de um casal de actores famosos de Hollywood envolvidos em alguma acção humanitária.

São antes os nomes das duas agências americanas fundadas para apoiar a concessão de crédito para compra de habitação nos Estados Unidos.

O Fannie Mae existe desde que o presidente Franklin Roosevelt o fundou em 1938, tendo sido privatizado em 1968 no tempo de Richard Nixon, que precisava de dinheiro para a guerra do Vietnam.

O Freddie Mac nasceu em 1970 e foi igualmente privatizado, em 1989.

Após a sua privatização, decorrente da venda das acções no mercado, ambos mantiveram no entanto um estatuto semi-público que obrigava – e obriga – o Estado a avalizar as suas operações.

Em conjunto, representam mais de metade do crédito imobiliário dos EUA, cerca de 12 biliões de dólares.

Estas agências actuam através da compra dos créditos concedidos pelos bancos a quem compra casa por empréstimo bancário, vendendo posteriormente essas carteiras de créditos a investidores sob a forma de títulos de dívida.

Quando funciona bem, todos ganham: os construtores vendem as suas obras, os compradores de casa têm financiamento, os bancos ganham a sua taxa, as agências cobram o seu juro e os investidores negoceiam as suas carteiras no mercado.

Só que há um ano surgiu a crise do crédito hipotecário de alto risco nos EUA.

Com problemas de liquidez e de desemprego, muitos compradores de casas deixaram de pagar as prestações aos bancos, que se viram com elas nas mãos, para descobrirem que os valores anteriores das casas estavam altamente inflacionados e as garantias reais afinal não existiam.

Foi todo um edifício que ruiu como um castelo de cartas e que está a ter efeitos em todo o mundo. As consequências ainda não são claras, havendo grandes bancos a ser salvos com verbas públicas, como o Northern Rock em Inglaterra e o Bear Stearns nos EUA, podendo o Lehman Brothers ir pelo mesmo caminho.

A vez do Fannie Mae e do Freddie Mac chegou agora. A Reserva Federal americana resolveu comprá-los, para o que gastará uns 200 mil milhões de euros.

Há quem se regozije com a situação, decretando a falência do capitalismo e definindo mesmo a actuação do estado americano como sendo socialista.

De facto, é uma situação estranha, mas significa que no fundo o sistema se defende, embora à custa dos cidadãos americanos que vão pagar cada um mais de 80 dólares dos seus impostos para esta solução.

É mais uma prova de que o mundo está perigoso, particularmente no que se refere ao sistema financeiro. É preciso que os Estados exerçam efectivamente e a tempo a sua competência reguladora, para não terem que intervir financeiramente mais tarde, como sempre à custa dos impostos pagos pelos contribuintes.


Publicado no Diário de Coimbra em 15 de Setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

ONDE ESTÁ O WALLY?

Do DN de hoje:

"O BPI anunciou ontem um acordo para a venda de 49,9% do capital do Banco do Fomento Angola (BFA) à Unitel, maior operadora de telecomunicações angolana. O negócio de 475 milhões de dólares (338 milhões de euros) com a principal empresa privada angolana foi fechado em pouco mais de três meses, depois de anos de conversas e vários meses de negociações formais com a Sonangol, a petrolífera estatal angolana, "não terem progredido ao mesmo ritmo", reconheceu o presidente executivo do banco português.

Fernando Ulrich admitiu ontem, em conferência de imprensa, que o facto da Sonangol ter feito, entretanto, uma parceria para o mercado angolano com o maior rival do BPI, para além de ser ter tornado no maior accionista do Millennium bcp, foi um obstáculo, embora não impeditivo, ao progresso das negociações. O banqueiro não confirmou a existência de um diferendo a propósito do preço.

A Sonangol acaba também por participar no negócio ontem anunciado já que, através da Mercury, é accionista da Unitel, detendo 25%. As duas entidades partilham ainda o presidente não executivo. Da estrutura accionista da Unitel faz ainda parte a Portugal Telecom, também com 25%, a Vidatel, ligada a Isabel dos Santos, e a GENI, sociedade de investidores privados angolanos com peso social e político, ambas com 25% cada. O BPI continuará a indicar o presidente executivo do BFA.
"

Não deixa de ser mais uma notícia interessante para se perceber o relacionamento entre Angola e Portugal. É só ver a estrutura accionista da Unitel que, vinque-se, tem uma gestão inteiramente "privada".
Depois não digam que ninguém avisou.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

RELIGIÃO E POLÍTICA

Eis porque gosto deste Papa:

Il est en effet fondamental, d’une part, d’insister sur la distinction entre le politique et le religieux, afin de garantir aussi bien la liberté religieuse des citoyens que la responsabilité de l’État envers eux, et d’autre part, de prendre une conscience plus claire de la fonction irremplaçable de la religion pour la formation des consciences et de la contribution qu’elle peut apporter, avec d’autres instances, à la création d’un consensus éthique fondamental dans la société. (Bento XVI, Discurso no Eliseu)

Sabe o que diz e coloca as questões como devem ser colocadas

ESTATUTO DOS AÇORES



Ou me engano muito, ou esta história do "estatuto dos Açores" ainda vai acabar muito mal para o Partido Socialista e seu Governo.
Cavaco nunca perderia tanto tempo a fazer avisos sobre este assunto, se não estivesse verdadeiramente aborrecido com esta proposta que lhe diminui os poderes com que foi eleito, sem haver qualquer revisão constitucional.
Parece-me que o partido Socialista deveria ouvir Vital Moreira com muita atenção sobre este assunto, antes que veja a Assembleia da República dissolvida e a sua maioria a ir pelo cano abaixo.