segunda-feira, 27 de outubro de 2008

REGIONALIZAÇÃO, HOJE



Durante muitos anos, fui defensor da regionalização do país. Ainda estou convencido de que teria havido toda a vantagem se o país se tivesse regionalizado durante a chamada fase de “desenvolvimento” que se seguiu ao 25 de Abril. Penso que teria sido particularmente importante para a aplicação dos quadros comunitários de apoio da então CEE e hoje União Europeia, dado que a divisão em regiões poderia ter permitido uma aplicação mais homogénea desses dinheiros pelo país, evitando-se as macrocefalias que hoje se verificam.

Esse tempo, no entanto, já passou. Hoje em dia, poucas infra-estruturas apoiadas por aqueles fundos há que se possam verdadeiramente chamar de regionais, tendo a perspectiva dos grandes investimentos uma lógica muito mais nacional.

A experiência nacional em termos de regionalização dever-nos-ia hoje levar a uma atitude muito mais prudente quanto a esse caminho. De facto, existem já em Portugal duas regiões que dispõem de uma autonomia muito ampla, a nível político, administrativo e financeiro: os Açores e a Madeira.

Na região autónoma dos Açores realizaram-se eleições para a Assembleia Regional há cerca de uma semana.

Dos cerca de 190.000 eleitores inscritos, votaram umas escassas 90.000 pessoas, o que significa uma abstenção recorde de 53%. Isto é, mais de metade dos eleitores açorianos não achou relevante ou necessário para as suas vidas participar nestas eleições.

O partido que ganhou as eleições, o PS, teve pouco mais de 40.000 votos, que lhe garantiram contudo uma maioria absoluta.

Para representar aquele número de eleitores, o parlamento açoriano tem 57 deputados; o leitor leu bem: cinquenta e sete deputados regionais.

Por outro lado, na Madeira está o mesmo partido no poder sem interrupções desde 1978 com o mesmo presidente de Governo Regional: o Dr. Alberto João Jardim. Nos Açores, durante 20 anos esteve o mesmo partido no poder com o mesmo presidente de Governo Regional: o Dr. Mota Amaral. Quando o Dr. Mota Amaral resolveu ter uma carreira política nacional, o poder passou para o Dr. Carlos César, que já vai no 4.º mandato. Parece já ser evidente que só sairá quando muito bem assim entender.

Depois de uma fase em que a regionalização significou de facto uma recuperação de um atraso insustentável, tanto na Madeira como nos Açores verifica-se hoje a existência de obras que representam despesas absolutamente excessivas, para não dizer outra coisa. As obras de requalificação do porto de recreio e Avenida Marginal de Ponta Delgada, recentemente concluídas e que custaram cem milhões de euros, deveriam fazer-nos parar a todos para reflectir sobre a regionalização.

Eu bem sei que a regionalização prevista para o continente não terá os mesmos graus de autonomia que as da Madeira e dos Açores. Devo, aliás, assinalar que não estou de forma nenhuma a colocar em causa a autonomia da Madeira e dos Açores, compreensível e justificável por várias e boas razões.

Mas só de pensar em cinco regiões no continente com boa parte das características das regiões autónomas, confesso que me arrepio.

Criar as regiões no continente será como abrir uma caixa de Pandora. Saber-se-á como começa, mas ninguém saberá como acaba. Olhe-se aqui para o lado, para a vizinha Espanha, e veja-se a profundidade da autonomia que as regiões foram conquistando, muito por causa das lutas político-partidárias.

Muito provavelmente, os primeiros líderes regionais continuarão a sê-lo dezenas de anos depois. Aparecerá uma nova camada de pessoal político nesse nível de decisão. As regiões muito dificilmente poderão corrigir as assimetrias já existentes num país de tão reduzida dimensão como o nosso, potenciando provavelmente o contrário.

Sei que esta minha posição vai contra a forma de pensar politicamente correcta, nomeadamente em Coimbra.

Mas as situações mudam com o tempo, pelo que, nos dias de hoje, repito, parece-me da mais elementar prudência uma nova fase de pensamento sobre a regionalização.


Publicado no Diário de Coimbra em 27 de Outubro de 2008

domingo, 26 de outubro de 2008

Fórmula 1 dos pobres


"O regresso da fórmula 1 a Lisboa"

A acção de marketing da Renault em Lisboa foi assim chamada e "comprada" pela imprensa.
Um carro de fórmula 1 a subir e a descer sozinho a Av. da Liberdade e uns carritos a fazer peões para alfacinha ver não passam de uma acção de publicidade bem imaginada e bem "vendida" a quem interessa: autoridades locais e comunicação social.
Na verdade não se trata de nenhum regresso da fórmula 1 a Lisboa. Mas impressiona todo o ambiente inacreditável e saloio criado à volta desta acção publicitária, incluindo mais de mil polícias, fecho de ruas ao trânsito e até esquecimento do nível de decibeis trazido para junto de quem não tem culpa nenhuma. Se a Câmara anda a dar "kits"de limpeza aos moradores do Bairro Alto, porque é que não se lembrou de dar tampões de ouvidos aos moradores locais?
Daqui a uns anos saberemos todos quem esteve envolvido nesta farsa e quanto dinheiro correu.
Entretanto, sou levado a concordar com Paula Teixeira da Cruz quando diz no Expresso desta semana que Lisboa é hoje um caso de polícia.

sábado, 25 de outubro de 2008

MALAS DE DINHEIRO

O Expresso de hoje traz mais informações sobre "o caso do dinheiro vivo".
Refiro-me, como é bom de ver, à história da alteração do regime de financiamento partidário que o Orçamento Geral do Estado para 2009 trazia escondida no ventre.
Depois de descoberta a marosca, não aparece ninguém responsável pela alteração proposta. Pudera!
Até o Dr. Alberto Martins vem agora assegurar que "aquilo" não passaria. Como se os deputados da maioria tivessem independência para votar: viu-se no casamento dos homosexuais.
Como apreciador de livros policiais, dou um conselho para descobrir o responsável. Basta fazer a pergunta clássica: a quem interessa o crime?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

MAHLER

Como sempre digo, no século XX, Bach chamou-se Mahler.

BACH

A obra prima absoluta da história da música.
Da Paixão segundo S. Mateus:

Bach

Como prometido, aqui fica algo que anda sempre no carro desde há uns trinta anos (antes em cassete e agora em CD, claro está). O Alan Grennspan é que devia ter ouvido isto nos últimos 40 anos.

ACTUS TRAGICUS (depois não digam que não sou amigo).
Por favor, ouçam até ao fim.

Bach

Nem eu sei bem porquê, os resultados da bolsa de hoje levaram-me a ouvir os Concertos Brandeburgueses (de Brandeburgo, claro está).
Aqui fica um pouco no nº3 que é óptimo para ouvir no carro.
A seguir vou colocar algo mais complicado, mas absolutamente magnífico.

MAIS NÚMEROS

Não resisto a colocar aqui uma tabela de índices comparativos da situação do país em 2004 e as previsões para 2009, da autoria de Miguel Frasquilho e publicado no blogue Atlântico:




Nem são precisos grandes comentários.

SERVIÇO PÚBLICO

A RTP continua no seu serviço público de publicidade gratuita ao produto chamado “Magalhães”.

No noticiário das 8 horas da manhã de hoje, apresentou uma reportagem feita numa escola do 1º ciclo, sendo perguntado às criancinhas que ainda estão a começar a aprender a ler e a fazer contas se o dito cujo era importante, com as respostas que se calculam.

Só um dos petizes foi capaz de declarar que preferia o método dos cadernos ao “Magalhães”para aprender. Coitado, ainda não aderiu à revolução tecnológica que há-de levar todos os seus coleguinhas à estratosfera do conhecimento e competência.

No final da peça, ouviu-se um comentário do repórter segundo o qual naquela escola que tem 197 alunos, só um deles não tem “Magalhães” imagine-se, “porque os pais disseram não”. Grandes bandidos, digo eu. Por agora não foram publicamente identificados, mas não deverá faltar muito para irem responder a Tribunal pelo crime óbvio que estão a cometer.

Seria interessante comparar de forma independente, já no final deste ano lectivo, os resultados destes dois alunos tão desirmanados do restante, no que toca à “aquisição de competências” básicas daquela idade que evidentemente não incluem navegar na internet nem jogar no computador.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

"BBC proíbe humor sobre Islão na sua programação"

Do Diario Digital:

"BBC proíbe humor sobre Islão na sua programação

O director-geral da BBC, Mark Thompson, impôs novas directrizes aos seus trabalhadores, que passam pela proibição de qualquer tipo de humor ou referência satírica sobre os muçulmanos nos conteúdos da cadeia britânica.

Thompson justifica a decisão como uma questão de «sensibilidade», já que considera que todas as religiões têm as mesmas características.

«Não há nenhuma razão para afirmar que há religiões que sejam imunes à confrontação, mas considero que todas são iguais», explicou, referindo-se a uma religião (o islamismo) que tem actualmente cerca de 1,6 milhões de praticantes em território britânico. "

Mais uma vez o medo a trabalhar. Lembram-se dos desenhos de Maomé?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DO EXERCÍCIO DO PODER E DA SUA CONQUISTA


É frequente ouvir-se dizer de um político que não presta, porque não é capaz de ganhar eleições a quem quer que seja.

Pelo contrário, outros políticos há cujo único atributo de qualidade parece ser o de ganhar muitas eleições, seja de que maneira for.

Ponto prévio: falar em eleições é, evidentemente, falar em eleições democráticas, onde se pode perder ou ganhar. A democracia não é um sistema perfeito, como todos vamos apreendendo diariamente, mas tudo indica que seja, apesar de tudo, o menos mau de todos.

Em democracia, para se exercer o poder é necessário ganhá-lo antes, o que significa vencer eleições.

O povo, na sua sabedoria, escolhe muitas vezes lideranças para resolver problemas específicos de determinado momento histórico, rejeitando até essas mesmas lideranças quando as circunstâncias passam a ser outras.

O caso de Winston Churchill é bem conhecido e exemplificativo desta afirmação. Durante anos bradou sem sucesso contra os políticos do seu país e do resto da Europa pelas posições de subserviência perante Hitler. Começada a Segunda Guerra Mundial, foi-lhe atribuída a difícil tarefa de dirigir os destinos do seu país, com o célebre lema “we will never surrender” (nunca nos renderemos) e prometendo apenas “sangue, suor e lágrimas”. Com a vitória no final da guerra, foi imediatamente substituído em eleições na governação do país, que entregou a outros a tarefa da reconstrução.

Os momentos históricos de crise exigem dos candidatos capacidade e vontade de afirmar respostas para situações muito mais exigentes do que é normal.

Os grandes líderes manifestam-se precisamente nessas alturas, como foi o caso de Churchill na Segunda Grande Guerra.

A crise que hoje vivemos não é, felizmente, uma situação de guerra. Mas não nos iludamos: a sua gravidade já está a ter consequências na economia mundial e vai ter implicações profundas em muitos aspectos da nossa vida. As suas causas e extensão são ainda desconhecidas na sua totalidade, o que significa que os dirigentes políticos que lhe fazem frente têm que ser verdadeiros líderes, sob pena de consequências ainda mais severas.

Não se pense, contudo, que os momentos de crise devem ser pretexto para a criação de consensos que, no fundo, só interessam a quem está no poder e que limitam as hipóteses do povo escolher o seu caminho.

Para continuar a usar o Reino Unido como exemplo, observemos atentamente a forma, a substância e a capacidade de afirmação de David Cameron perante Gordon Brown, precisamente num momento em que este até sobressaiu pela positiva perante a maioria dos actuais responsáveis governativos europeus.

A do Reino Unido é talvez a democracia mais antiga do mundo e certamente a mais consolidada. Seguramente que aquilo que lá se considera normal e até necessário em termos democráticos, não poderá deixar de ser considerado como tal, também por cá.


Publicado no Diário de Coimbra em 20 de Outubro de 2008

domingo, 19 de outubro de 2008

NUMEROS DE PORTUGAL

NÚMEROS PARA PENSAR
(retirado do documento apresentado por Manuela Ferreira Leite na conferência de imprensa sobre o Orçamento 2009)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CIRCO

Há por aí uns pessimistas que acham que o mundo está perigoso.
Erro.
O mundo está é transformado é num imenso circo .
Senão, vejamos:
O presidente da empresa encarregada dos estudos e construção do novo aeroporto de Lisboa, ao ser indagado da razão da ausência completa de responsáveis políticos (leia-se ministros e secretários de Estado) na apresentação do lay-out do aeroporto de Alcochete, respondeu: "o meu assignment é fazer acontecer coisas" .
O presidente da Entidade para a Comunicação Social (ERC) que ainda ninguém fora da política entendeu para que serve, achou "estranho" que os gravadores de TODOS os elementos da ERC tenham falhado aquando da gravação das declarações do Director do jornal Público numa célebre prestação de declarações. Nem o dele, da marca Sony, arrancou dessa vez (revista Sábado de 16/X/08).
Soube-se agora que o presidente da república francesa Nicolas Sarkozy teve um caso com a mulher de um actual membro do seu governo, quando era ministro do Interior de Jacques Chirac (revista Sábado de 16/X/08). Viva a França.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ÉTICA EMPRESARIAL





João César das Neves publicou a "Introdução à Ética Empresarial", com edição da PRINCIPIA.
Quem já teve a oportunidade de o ouvir sobre esta matéria sabe bem a sorte que é ter agora à disposição este volume com muito daquilo que há a saber sobre a Ética Empresarial.
Quer a visão histórica, que nos dá a conhecer a história da evolução dos conceitos ligados à Ética desde a Grécia Antiga, quer a visão concreta da Ética na gestão já nos nossos dias, tudo isso está neste volume.
Recomendo vivamente.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

ORÇAMENTO

O Orçamento Geral do Estado foi entregue hoje ao fim do dia.
Entretanto, desde ontem que a comunicação social discute aspectos concretos do orçamento. Isto é, foram deliberadamente lançados pormenores para fora, que servem para colocar a discussão nos planos que interessam ao Governo.
Isto só significa que o Governo dispõe de uma máquina de comunicação eficaz.
O que impressiona mesmo é a forma, no mínimo acrítica, como toda a imprensa vai atrás do que lhe atiram, bem como a própria oposição.
Triste país este.

AMVOX2 DBS Transponder


Lindo

Lembrar Romy Schneider



Romy Schneider, a belíssima SISSI da tela deixou-nos há 26 anos.
A sua vida não foi um mar de rosas, antes pelo contrário. Contudo, as imagens que nos deixou transmitem uma grande serenidade e beleza interior, para além, claro, de mostrarem uma das mulheres do cinema mais belas de sempre.







SETIMA DE BEETHOVEN

2º Andamento, por Karajan - magnífico

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

ESTA CRISE É DE TODOS NÓS



A semana passada terminou tal com havia começado. Se na segunda-feira as bolsas de todo o mundo haviam conhecido quedas como não se via há muitos anos, a sexta-feira levou verdadeiramente as bolsas aos infernos.

Mais grave, tal sucedeu dois dias depois de finalmente os principais bancos centrais de todo o mundo se terem conseguido entender para descer as taxas de juro em 0,5%.

A actual crise que começou por ser financeira passou já para as outras áreas da economia, começando a ver-se grandes empresas a baixar as suas produções, outras a fechar algumas fábricas e outras a falir.

Até há pouco, o cidadão comum sentia o reflexo da crise através dos aumentos constantes na prestação a pagar ao banco para amortização da casa. Neste momento, é a chamada economia real que se começa a ressentir de forma violenta, o que já está a ter consequências na vida de todos nós.

Os institutos internacionais como o FMI já reduziram as previsões de crescimento dos países europeus para este ano. Para 2009 prevê-se recessão para vários desses países, enquanto outros deverão estagnar, o que é pouco melhor.

Estamos todos a testemunhar uma das maiores e mais repentinas alterações na ordem económica mundial de que há memória.

No nosso léxico diário entraram já termos até agora relativamente desconhecidos como “produtos financeiros contaminados”, “risco sistémico”, “risco específico”, etc.

Entretanto, muito boa gente entretém-se a discutir se as intervenções dos Governos nos bancos e na actividade financeira em geral significa o fim do sistema capitalista e o triunfo final do Estado como orientador e planificador de toda a nossa vida isto é, a prova final das vantagens do socialismo. Entre nós, chegou-se mesmo a ouvir dizer que esta crise corresponde ao “cair do muro de Berlim” do capitalismo. Há ainda quem apresente ao povo as bolsas como sendo casinos em vez de forma de regular os preços e financiar a actividade económica. Os tempos conturbados sempre foram oportunidade para se proferir os maiores disparates.

Esta crise serviu ainda, infelizmente, para colocar a nu a incapacidade de os países da União Europeia se entenderem. Durante mais de uma semana foi possível assistir às mais desencontradas posições e manifestações de hipocrisia entre os líderes dos principais países europeus. Se em relação a muitos deles, sinceramente não se esperaria outra coisa dada a sua manifesta falta de qualidade e substância, outros houve que foram uma triste novidade como é o caso da chanceler alemã, Ângela Merkel.

Uma última nota, relativamente às causas profundas desta crise financeira global.

Se houve muitas falhas, a nível de regulação e de ganância generalizada no sistema financeiro em todo o mundo, uma falha gravíssima ressalta sobre todas as outras e que é a demonstração do desaparecimento da Ética da actividade financeira. É notório que as questões éticas foram completamente afastadas das preocupações de grande parte das elites que dominam os instrumentos financeiros.

Dir-se-à que essas preocupações éticas já não fazem falta no mundo de hoje em que o homem desenvolveu sistemas complexos e poderosos de regulação.

Pois a actual crise é bem a prova de que no início e no fim das actividades económicas deverá estar a pessoa humana e a sua dignidade, razão única da existência dessas actividades. Perdendo-se esta perspectiva, isto é, eliminando a Ética da nossa actividade, os mais poderosos e magníficos sistemas ficam a trabalhar no vazio e mais cedo ou mais tarde desabam fragorosamente.


Publicado no Diário de Coimbra em 13 de Outubro de 2008