segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ano novo, vida nova: façamos por isso

Entrados no ano de todos os maus presságios, não podemos deixar de considerar que, apesar de tudo, 2009 dificilmente será pior que 2008.
Como se o ano que passou não tivesse sido suficientemente mau, os actores políticos que temos não quiseram deixar passar a oportunidade para nos demonstrar como por vezes conseguem tornar tudo ainda pior.
O episódio do Estatuto dos Açores deverá ficar na História como um dos momentos menos edificantes da nossa democracia.
Após a declaração do Presidente da República em Julho, seria de esperar que a Assembleia da República tivesse um momento de sensatez e recuasse na proposta do Estatuto, eliminando os malfadados artigos 114 e 140 contestados publicamente pela generalidade dos constitucionalistas.
Mas não. A teimosia e o receio de perda dos votos açorianos falaram mais alto, pelo que a hipocrisia e o cinismo político ditaram as razões de voto na Assembleia da República.
Da estratégia assumida de confronto directo com o Presidente da República por parte dos partidos da esquerda parlamentar não haverá muito a dizer, a não ser registá-la.
Já a posição dos partidos da direita tem muito que se lhe diga, atendendo a que apoiaram directamente a eleição de Cavaco Silva como Presidente da República.
Talvez o actual CDS não se reveja muito no Presidente da República, mas não me parece grande ideia alinhar com toda a esquerda parlamentar numa matéria de confronto político com o Chefe de Estado.
No que toca ao PSD o que se passou foi muito mais grave e indesculpável.
O grupo parlamentar do PSD conseguiu o mais difícil, ao optar pela abstenção na votação do Estatuto nestas condições e ainda por cima reconhecendo razão às críticas do Presidente da República. A cereja em cima do bolo foi dar liberdade de voto para apoiar o Estatuto e proibir a votação contrária, oferecendo os votos para obter 2/3 dos deputados na aprovação. Que saudades dos tempos de Sá Carneiro que dizia primeiro o interesse do país, depois o governo e só depois o partido.
Foi um fim de ano infeliz para todos os intervenientes. Pessoalmente estou convencido que o Presidente da República só não dissolveu a Assembleia da República porque não há dúvidas que coloca o interesse nacional acima das contingências, ao contrário do que agora é comum por aí.
Que neste ano de 2009, ao nível de responsabilidade de cada um de nós sejamos todos capazes de contribuir para que seja melhor do que o ano que agora findou, são os meus votos.

Publicado no Diário de Coimbra em 5 de Janeiro de 2009

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