segunda-feira, 4 de maio de 2009

QUE ENERGIA PARA O FUTURO? (1)



Em Abu Dhabi, encontra-se actualmente em construção aquela que será a primeira cidade do mundo “carbono zero/ lixo zero”: Masdar (visitar em www.masdaruae.com).

De acordo com a revista Fortune, a nova cidade de Masdar só estará pronta em 2016, mas é digna de ser conhecida desde já. A cidade soma todas as boas práticas energéticas e ambientais conhecidas, acabando por ser, portanto, um autêntico laboratório urbano.

Embora o financiamento da sua construção tenha por base a exploração do petróleo, os responsáveis pelo desenvolvimento do projecto de Masdar assumem que o petróleo é um recurso do século que ficou para trás, sendo sua intenção investir no século XXI. A ideia é que Abu Dhabi pode ser um parceiro energético, bem para além de exportador de petróleo.

Masdar está projectada para 50.000 habitantes, contando ainda com um afluxo diário de mais 40.000 pessoas.

O “master plan” da cidade é da autoria do gabinete londrino “Foster & Partners”, do bem conhecido Arquitecto Norman Foster.

Através da optimização do planeamento urbano e das edificações, a cidade de Masdar gastará menos 75% de electricidade e menos 60% de água do que o habitual.

Como a cidade está a ser construída no deserto, as condições ambientais locais são ainda mais adversas do que em muitos outros sítios, sendo necessário garantir um arrefecimento de 20º C relativamente ao ambiente exterior.

No entanto, os gastos energéticos foram pensados de forma sustentável, a um nível local. Assim, 52% da energia será solar fotovoltaica; 26%, térmica solar, através de grandes quintas solares; 14%, através de colectores solares nos edifícios; 7% terá origem na incineração de lixo e, finalmente, 1% terá como fonte o vento.

Os edifícios administrativos da cidade, que começarão a funcionar em 2010, produzirão pelo menos mais 3% de energia do que aquela que consumirão. Nos seus terraços, cobertos por grandes canópias em vidro com células solares geradoras de electricidade, existirão jardins irrigados através das águas sanitárias já utilizadas, ajudando ao arrefecimento do ambiente e à absorção de dióxido de carbono. Apesar de a cidade se encontrar no deserto, os edifícios não terão sistemas de arrefecimento e circulação mecânica de ar, sendo essa função garantida através de técnicas arquitectónicas.

Em Masdar não haverá circulação automóvel. Nas entradas da cidade existirão grandes silos cilíndricos de estacionamento de automóveis. Quem se deslocar no interior da cidade terá à sua disposição um completo sistema de transportes de dois tipos: um sistema colectivo ferroviário ligeiro subterrâneo ou a utilização de um dos 3.000 veículos de transporte pessoal rápido para um máximo de 6 passageiros, que usam bateria reciclável de lítio/cádmio. O sistema está preparado para que nenhum utente tenha que andar a pé mais de 150 metros até atingir uma das 83 estações da cidade.

Chegados a este ponto, o estimado leitor perguntar-se-á se estou a inventar ou a escrever uma crónica de ficção científica. A realidade é que tudo o que acima fica escrito é verdade. A cidade de Masdar está mesmo a ser construída em Abu Dhabi. E a distribuição da produção de energia para o seu funcionamento parece ser mesmo o milagre de eficiência que acima descrevo. Voltarei a este tema, porque é essencial para nós e para o nosso futuro.


Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Maio de 2009

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