segunda-feira, 27 de julho de 2009

POLÍTICA E RELIGIÃO




É frequente ouvirmos críticas duras contra a tomada de posições políticas públicas por parte de membros da Igreja Católica, sejam leigos ou pertençam à hierarquia religiosa.

Não me refiro a apoios ou críticas de católicos a este ou aquele partido, posições que podem ser sempre contraditadas, como é norma em democracia. Mas, muitas vezes, as próprias posições de princípio são apresentadas como ingerências mais ou menos ilegítimas da Igreja num mundo do qual muita gente gostaria de a ver arredada. Como se a Igreja e os seus membros estivessem impedidos de ter posições públicas, mesmo quando os seus princípios morais são clara e sistematicamente atacados, muitas vezes com clara perda para a organização social e mesmo para o seu equilíbrio. Nos últimos tempos, vieram sinais fortes da Igreja, indicativos de que o que se passa no mundo dos homens não lhe é indiferente.

Entre nós, a Conferência Episcopal Portuguesa emitiu em Abril passado uma Nota Pastoral com o título”Votar, um exercício de cidadania”. Num ano de três actos eleitorais, os Bispos portugueses lembram que, sendo a política a acção do possível, os candidatos aos diversos órgãos serão candidatos ao serviço do bem comum, pelo que deverão ser capazes de realizar a sua missão com competência, cultura e vivência cívica, fidelidade e honestidade, sempre mais orientados pelo interesse nacional que pelo partidário ou pessoal. Àqueles que acusam a Igreja de querer impor os seus pontos de vista, os bispos portugueses lembram que ninguém deve esperar que um programa político seja uma espécie de catecismo do seu credo, mas um compromisso para a solução dos problemas do país, vincando, no entanto, que o eleitor cristão não pode trair a sua consciência no acto de votar. E isso porque os valores morais dos cristãos devem enformar as diversas dimensões da vida humana, designadamente familiar, social e política.

Curiosamente, também o Papa Bento XVI publicou a sua terceira encíclica chamada “Caritas in veritate”, isto é, “A caridade na verdade”. Esta encíclica vem recolocar a tónica na “Doutrina Social da Igreja”, 40 anos após a publicação da “Populorum Progressio” de Paulo VI.

Numa altura em que uma crise gigantesca abafa o desenvolvimento económico em todo o mundo, com consequências terríveis para tantas pessoas a nível de desemprego e sofrimento, o Papa vem lembrar os valores éticos essenciais da economia e da política. Claro que não cabe à Igreja apresentar saídas técnicas para a crise. No entanto, assume ser sua obrigação defender as pessoas concretas contra práticas que as ofendem, tanto as violações à sua liberdade individual e capacidade empreendedora, como um mercado desregulado e selvagem que a todos atropela.

O Papa relembra que “trabalhar pelo bem comum é cuidar e utilizar o conjunto de instituições que estruturam jurídica, civil, política e culturalmente a vida social, que se configura sim como polis, como cidade”.

Que melhor maneira de descrever qual deve ser a maneira de os cristãos pautarem a sua maneira de intervir no mundo?

Antes das férias e sobretudo antes das campanhas eleitorais que se avizinham, não nos fará mal nenhum ter em consideração o que a Igreja hoje nos diz, sejamos candidatos a qualquer cargo ou simples eleitores.

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