segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ÉTICA DOS NEGÓCIOS



Na semana passada, o Núcleo de Coimbra da Acege (Associação Cristã de Empresários e Gestores) levou a cabo mais uma iniciativa integrada no ciclo “Líderes Empresariais Cristãos e Portugal”, em que participaram largas dezenas de pessoas.

Tivemos desta vez a oportunidade de ouvir o Dr. António Lobo Xavier falar sobre “Ética nos Negócios”, o que proporcionou depois um interessante debate sobre o tema, reconhecidamente da maior actualidade. De facto, é comum dizer-se que a recente crise de que ainda sofremos as consequências é fruto de falta de ética de muitos responsáveis por grandes empresas, designadamente do sector financeiro internacional. O Dr. Lobo Xavier manifestou a opinião de que esta crise se deveu essencialmente à existência de imperfeições, defeitos e mesmo negligência dos responsáveis pela regulação daquelas actividades, acompanhadas por desvios e erros em matérias básicas da condução de negócios. O eclodir da crise, com as suas colossais consequências, veio depois a destapar acções pouco ou mesmo nada éticas levadas a cabo por alguns responsáveis, o que é um pouco diferente. Ensinou-nos ainda que, nas últimas dezenas de anos, a evolução do capitalismo tem trazido novidades importantes para a actividade das grandes empresas e para a condução dos seus destinos.

É assim que hoje em dia se encontra institucionalizada uma “ética corporativa” nas grandes empresas, que define valores sem os quais nenhuma dessas empresas tem condições para operar no mercado internacional. Essa “ética corporativa” define-se usualmente a três níveis, sendo o superior constituído pelos chamados “valores corporativos”, definidos pelos accionistas tendo em vista a obtenção do sucesso da actividade da empresa. Há depois um nível intermédio, conhecido por “princípios de actuação”, onde já se podem encontrar algumas preocupações éticas, mas ainda em função apenas dos objectivos da empresa. Há por fim o nível mais básico, que determina os procedimentos individuais de todos os colaboradores, qualquer que seja o seu nível de prestação, que constitui o “código de regras de conduta individuais” e apresenta já muitas preocupações éticas, alinhadas com o objectivo do sucesso económico da empresa.

Além de todas estas normas, a própria “boa governação” das empresas dita hoje em dia que a actividade dos seus gestores e administradores seja sujeita a regras, muitas vezes bem apertadas.

Todas as grandes empresas possuem códigos de comportamento ou mesmo de ética deste tipo. Mesmo aquelas que deram origem à crise de que todos falamos. Sendo assim, há uma conclusão evidente a tomar. Por mais regras corporativas que se inventem e adoptem (e são bem necessárias), há uma Ética sem a qual as organizações, designadamente as empresariais, não podem passar e essa é a ética pessoal das pessoas. Isto é, quando a ética pessoal falha, as organizações correm perigo, ainda que tenham os melhores e mais sofisticados códigos de comportamento corporativo. As leis não são suficientes, ao contrário do que dizem os que defendem o primado da chamada “ética republicana”. O cristianismo completa a lei com um conjunto de valores baseados na melhoria pessoal, no aperfeiçoamento, cujo cumprimento deve significar liderança e exemplo moral.

Participar neste encontro alertou-nos para diversas facetas desta temática tão importante para as empresas e sua condução nos dias de hoje. Por isso, e pela simpatia bem conimbricense com que nos brindou neste seu regresso à sua cidade, um bem-haja ao Dr. António Lobo Xavier.

Publicado no Diário de Coimbra em 22 de Fevereiro de 2010

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