segunda-feira, 10 de maio de 2010

TEMPOS DIFÍCEIS

As últimas semanas têm vindo a revelar dificuldades acrescidas para o país, com possíveis consequências graves para o futuro. Já não se fala apenas do futuro longínquo, mas do futuro imediato.

As dificuldades da Grécia estão a espalhar-se de uma forma que parece difícil de conter, colocando o nosso país na primeira linha dos países que poderão vir rapidamente a confrontar-se com uma situação semelhante.

Está na moda acusar as “agências de rating”, como se fossem elas as causadoras da actual situação. É mais uma vez a tendência de matar o mensageiro, em vez de enfrentar o problema. Claro que as “agências de rating” já falharam algumas vezes, mas isso não significa que não tenham um papel importante; o facto de as suas análises terem como consequência o aumento do custo da nossa dívida soberana deve-se aos nossos próprios problemas, e nao à sua exposição pública. Todos os investidores internacionais precisam de quem faça o trabalho de analisar o verdadeiro valor dos papéis que circulam, como é o caso das obrigações emitidas pelos países para financiarem as suas actividades. A ideia peregrina de criar uma “agência de rating” europeia que utilizasse critérios de análise diferentes e que portanto fosse mais "simpática" para países em dificuldades seria apenas ridícula, se não fosse mesmo perigosa pelo que revela de ignorância ou mesmo vontade de manipular os mercados, por parte de quem a propõe.

Os nossos verdadeiros problemas têm a ver com uma dívida externa muito alta, mas também com um crescimento anémico ao longo de toda a última década, com um Estado gastador em excesso e com falta de competitividade externa. A própria Grécia cresceu na última década cerca de três vezes mais do que Portugal. Na realidade, em termos de crescimento médio anual, a última década só tem paralelismo com outra década na nossa história económica recente, que foi a década de 1911/1920, sendo conveniente ter este dado bem presente, antes de atirarmos pedras a quem dá as más notícias.

O valor excessivo do euro face à nossa capacidade económica, associado à falta de reforma do nosso sistema produtivo e ainda à existência de sobrecustos artificiais sobre a economia, está a ter um efeito corrosivo permanente na nossa afirmação económica no exterior.

É voz corrente que o país está a viver pelo menos dez por cento acima das suas possibilidades. Isto é, todos os anos nos endividamos em cerca de dez por cento do que produzimos, para pagar o que gastamos, e esta situação vai-se acumulando.

A situação está muito perigosa e exige não só sangue frio e coragem dos diversos responsáveis políticos, como também uma grande dose de bom senso e disponibilidade para encontrar respostas adequadas às novas situações que surgem todos os dias. O conceito de desenvolvimento sustentável não poderá ser deixado apenas para o ambiente em termos restritos, devendo ter em conta a evolução da economia que se reflectirá de forma muito séria na qualidade de vida das próximas gerações.

Publicado no Diário de Coimbra em 10 de Maio de 2010

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