segunda-feira, 7 de junho de 2010

NOTÍCIAS DOS VELHOS ALIADOS


Nestes tempos conturbados e de deriva política, não nos faz mal nenhum recordar as nossas antigas ligações e ver o que o que os nossos mais velhos aliados andam a fazer. De facto, negócios podem fazer-se com toda a gente ou quase, pelo que não virá grande mal se algumas empresas portuguesas ganharem dinheiro na Líbia, na Venezuela ou nos países do Magreb. O que não podemos de forma nenhuma é imaginar que nos virá alguma vantagem política ou social de um contacto mais íntimo com os regimes desses países. Aquilo a que muitos chamam a “magrebização” do país significaria apenas um retrocesso lamentável na nossa organização social económica e política, que deve ter como modelo a Europa.

Voltando aos nossos aliados da “Aliança Inglesa”, devemo-nos recordar que essa é a mais antiga aliança diplomática do mundo em vigor. Significa uma ligação quase umbilical entre Portugal e Inglaterra, hoje Reino Unido. O Tratado de Windsor foi firmado em Maio de 1386, mas a “Aliança Inglesa” era já de 1373. Da ascensão ao trono de D. João I e seu casamento com Filipa de Lencastre, filha de João de Gant, duque de Lencastre, veio a Ínclita Geração e uma época de grande prosperidade económica com grande desenvolvimento do comércio que hoje chamaríamos de exportação, e ainda o início da época dos descobrimentos com todos os seus sucessos e prosperidade.

Não esqueçamos ainda que a Inglaterra é a mais antiga Democracia, e que aos ingleses se deve a tenaz resistência à barbárie nazi, não apenas militar, mas também, e sobretudo, ideológica e civilizacional.

Tudo isto para dizer que o Reino Unido resolveu finalmente deitar fora a “Terceira Via”, nome que Tony Blair e os seus amigos resolveram dar à política do Partido Trabalhista a que até chamaram “Novo Partido Trabalhista”, no fundo enterrando a social-democracia tal como a conhecíamos.

A coligação que o Partido Conservador e o Partido Liberal Democrata montaram é um modelo político a estudar e a seguir com o maior interesse. E isto porque os respectivos líderes, David Cameron e Nick Clegg, não construíram a coligação através de uma simples divisão de ministérios ou de pessoas. Os dois partidos partiram dos seus programas para as negociações e, sector a sector, analisaram com seriedade aquilo que para cada partido era crucial e aquilo em que podia ceder. Por exemplo, o Partido Conservador não cedeu nas suas propostas sobre Educação que foram uma das suas bandeiras principais, mas acrescentou-lhe os apoios financeiros para as crianças pobres, como o Partido Liberal Democrata propôs nas eleições. Bem interessante é constatar que ambos os partidos acordaram em reduzir drasticamente as despesas do Estado em vez de aumentar os impostos, para cortar no défice. A construção da terceira pista do aeroporto de Heathrow, por exemplo, foi abandonada. Em praticamente todas as áreas da governação houve negociações a sério e encontro de soluções aceitáveis por ambos os parceiros, o que permitiu um pacto de não agressão entre os dois partidos até às próximas eleições, daqui a cinco anos.

Bem refrescante, devo dizer. E um exemplo a ter em conta entre nós, acrescentarei ainda. Exemplo que, obviamente, não nos chegará do Magrebe ou da Venezuela.

Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Junho de 2010

Sem comentários: