segunda-feira, 13 de junho de 2011

CULTURA E TURISMO

Se há algo crucial para a recuperação da economia portuguesa é o aumento de produção de bens transaccionáveis. Se possível, que aumentem o volume das exportações e melhorem a nossa balança de transacções.
O turismo está na linha da frente dos nossos produtos exportáveis. Mas não um turismo qualquer. O mundo mudou muito nos últimos anos. As viagens aéreas tornaram-se baratas, pelo que não podemos competir com destinos exóticos que oferecem sol, praia e descanso espectaculares longe de tudo, destinos esses hoje em dia ao alcance de muita gente.
Por isso, muitos países designadamente europeus, mudaram o paradigma do seu turismo e adoptaram o turismo cultural. Muitas pessoas fazem hoje em dia pequenos períodos de descanso e aproveitam para se cultivar enquanto passeiam.
A óptica com que olhamos para a cultura também tem de mudar, quer a nível nacional, quer a nível local. Os responsáveis pela área da cultura não podem mais comportar-se como os antigos mecenas que pagavam aos artistas para os "divertir". No regime contemporâneo democrático, o foco deve estar virado para os potenciais usufruidores da actividade cultural. Na realidade, a actividade cultural é paga pelos consumidores, seja pela aquisição directa de bilhetes ou de obras de arte, seja pelos impostos que sustentam os subsídios entregues pelas entidades estatais, nacionais ou locais. Esses apoios financeiros deverão promover essencialmente uma oferta sustentada e permanente que leve a cultura a toda a gente e não apenas a uma elite, melhorando o nível geral da cultura das populações. Até porque para amar a arte é preciso conhecê-la.
Por outro lado, a actividade cultural deve ligar-se intimamente ao turismo. Não basta ter um património riquíssimo como acontece em Coimbra e esperar que os turistas que por cá passam parem e apreciem o que ali está há séculos. É necessário criar programas culturais que chamem os turistas, o que se traduzirá na rentabilização de uma riqueza fantástica que herdámos. Estou a falar de criar roteiros como o da Primeira Dinastia em Coimbra que já aqui referi por várias vezes, organizar eventos sistemáticos nos monumentos como cenas teatrais, pequenos concertos de música de época com trios ou quartetos, apresentações multimédia nos diversos monumentos, ementas gastronómicas votivas em restaurantes e hotéis durante todo o ano, etc. Há agências de turismo por essa Europa fora especializadas em turismo cultural interessadas em trazer turistas, desde que este tipo de oferta exista, seja de qualidade e permanente. Não é preciso inventar grande coisa. E os artistas que cá temos agradecem, obviamente.
Na minha opinião, Coimbra deveria ainda unir-se a outras terras que de alguma forma estão ligadas às personagens históricas que nos são importantes. Por exemplo, porque não ligar-se a Viseu e Guimarães por causa de D. Afonso Henriques em vez de se andar provincianamente a puxar por galões irrelevantes? Porque é que Coimbra não faz uma rede da Rainha Santa com outras povoações que têm igualmente uma tradição de devoção pela Sra. D. Isabel, como acontece com Quintanilha e Elvas, entre outras?
Há de facto muito a explorar na área do turismo cultural em Coimbra e também muito dinheiro à espera para ser aqui ganho nesta área. Assim haja visão e vontade política que promova a coordenação dos necessários esforços.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Junho de 2011

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