segunda-feira, 18 de julho de 2011

COIMBRA E OS INDICADORES


A recente publicação dos dados provisórios do “Censos 2011” merece alguma atenção e avaliação despida de preconceitos político-partidários. Perante a realidade de um copo de água, é sabido que o mesmo estará cheio ou vazio, conforme a perspectiva ou mesmo o desejo de dois observadores com interesses diferentes; e o curioso é que ambos têm razão.

O concelho de Coimbra tem agora menos 5.582 habitantes, o que significa uma diminuição de 3,6 % relativamente ao último censo de há dez anos. Isto é, a população residente no concelho passou de 148.443 para 143.052 entre 2001 e 2011.

Em relação ao resto do país, verifica-se que Coimbra já não se encontra de facto entre os maiores municípios em termos populacionais, situação que aliás não é nova. O investimento maciço nas duas principais áreas metropolitanas (Lisboa e Porto) só podia levar a esta situação em Coimbra, que se encontra ensanduichada entre elas. Mas Coimbra continua a ser claramente o município com maior população da região Centro, mesmo não contando com as dezenas de milhares de indivíduos que durante a maior parte do ano estão em Coimbra para estudar nas diversas instituições de ensino superior. E isto mau grado a política de policentrismo definida para a Região Centro há já alguns anos e que, como aqui tenho repetidamente referido, tem como consequência a diminuição da importância regional e mesmo nacional de Coimbra e da própria Região Centro relativamente a Lisboa e Porto.

As variações relativas entre os municípios vizinhos que com Coimbra mantêm relações de intimidade através das mais de quatro dezenas de milhares de deslocações diárias só vêm provar que, embora incipiente, existe uma metropolização do território à volta de Coimbra. Razão para que Coimbra assuma essa situação, sem complexos nem manias de grandezas, mas manifestando aos municípios vizinhos a disponibilidade e apoio para se encontrarem, em conjunto, soluções para problemas e necessidades comuns para além de QREN e actividades acessórias. Entre outros, o aspecto da habitação deve ser encarado de forma completamente diferente. Na realidade, enquanto houve aquela diminuição populacional, o nº de alojamentos dentro do município aumentou mais de dez mil e o número de edifícios cresceu cerca de 5.000, verificando-se esta mesma tendência em todos os municípios vizinhos apesar de, no conjunto, se terem perdido mais de 5.500 habitantes.

Mas os censos populacionais e de habitação não fornecem, nem de perto nem de longe, o retrato completo dos municípios, incluindo Coimbra. Se em termos populacionais Coimbra não é das maiores cidades do país, em termos económicos a situação é completamente diferente. Se, por exemplo, formos ver os índices relativos ao IRS constantes dos orçamentos de Estado para efeitos de determinação das transferências para os municípios, constata-se que Coimbra é actualmente o sétimo município do País em valores absolutos de geração de IRS, apenas ultrapassado por Cascais, Lisboa, Oeiras, Sintra, Porto e Gaia, neste caso com um valor praticamente igual. Isto é, Coimbra não perdeu valor no seu emprego e trabalho; antes pelo contrário, verificou-se uma subida constante do mesmo, apesar da ligeira diminuição populacional e da prolongada estagnação económica nacional.

Sendo certo que ninguém gosta de ver índices a descer, não é menos certo que a qualidade é bem mais importante que a quantidade. Nestes tempos em que a competição territorial se faz cada vez mais entre cidades, a afirmação pela qualidade e sustentabilidade é o que mais importa e já não o crescimento tantas vezes anárquico. A observação dos indicadores em conjunto diz-nos que Coimbra se deverá afirmar cada vez mais pela qualidade e que fará bem em coordenar esforços com os vizinhos para aumentar a força de todos, que neste caso será maior do que a simples soma das forças próprias de cada um.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Julho de 2011

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