segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ALERTA VERMELHO

É certo que, quando a ganância se alia à hipocrisia e os responsáveis pelo bem-estar e segurança de todos assobiam para o lado, só se podem esperar maus resultados. A luta contra a droga e os seus efeitos devastadores, em particular entre os jovens, tem tido momentos de maior ou menor sucesso, mas tem sido uma constante assumida pela sociedade. Até agora.
Nos últimos tempos, têm aberto legalmente ao público dezenas de lojas por todo o país, incluindo Coimbra, que se dedicam a um estranho comércio.
Essas lojas, conhecidas por “smart shops”, com uma decoração a preto e vermelho e cheias de palavras inglesas que remetem claramente para viagens, alucinações, pedradas, etc. vendem, supostamente, produtos que classificam como fertilizantes para plantas. Esses produtos, com diversas dosagens, são caros. Cada embalagem ou dose custa entre 12 e 40 euros. No exterior contêm avisos do tipo “não para consumo humano”, “fertilizante para plantas” e “não somos responsáveis por uso indevido”.
Na verdade, ninguém sabe bem a composição daquele pó ou do que está dentro das drageias. Mas o produto base, isso sabe-se bem o que é e não tem nada a ver com plantas. É conhecido internacionalmente por “miau miau” e o seu verdadeiro nome é mefedrona. É uma droga sintética, com efeitos alucinogénicos que muitos comparam à cocaína para pior, embora ainda não esteja devidamente estudada e só se lhe conheçam alguns dos trágicos efeitos em casos concretos por todo o mundo. Uma coisa se sabe no entanto: não há conhecimento de que alguma vez tenha sido usada como fertilizante para plantas, seja onde for.
Já está proibida em muitos países, mas ainda não em Portugal onde pode ser vendida, embora não para consumo humano, razão por que se continua a ver “lojas espertas” com portas abertas por todo o lado. Ainda não foi incluída na lista de drogas do INFARMED, pelo que a venda é livre. Entretanto, os vendedores vão desde já adiantando que, depois de ser proibida, bastará alterar ligeiramente a composição química para que possa continuar a ser vendida.
Isto é, o negócio e os lucros com um comércio infame e nojento que essencialmente destrói a juventude e as famílias continuam impunes e a alastrar com o maior dos à-vontades e a complacência, para não dizer mais, das autoridades. A ASAE, que tão competente tem sido nos últimos anos e ainda bem, a combater falcatruas no comércio ainda não deu por isto, ou anda distraída. Na verdade, ninguém sabe exactamente o que está dentro daquelas saquetas e elas estão à venda. Todos sabemos que se alguém abrir uma loja com pistolas e lhes chamar “pedaços de aço” para decoração e escrever que não se destinam a matar e que não é responsável por uso indevido, a loja será imediatamente encerrada. Isto é, neste caso a hipocrisia campeia à vista de toda a gente.
Se muitos dos compradores sabem exactamente ao que vão, muitos jovens compram e começam a usar mefedrona, porque sendo livremente comprada em lojas de porta aberta acreditam que não faz mal e que não se trata de verdadeira droga, já que essa é ilegal e só se compra aos “dealers” às escondidas.
Urge acabar rapidamente com esta situação. Acredito que a maior parte das pessoas e mesmo muitos pais não fazem ideia de que estas coisas se passam ao nosso lado. Por isso mesmo, todos os alertas são importantes, para que o Estado acorde e exerça o seu dever de protecção dos cidadãos.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Dezembro de 2011

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