segunda-feira, 27 de junho de 2011

COIMBRA SOFRE

Engana-se quem pensa que a indefinição sobre o futuro do metro ligeiro de superfície afecta apenas os cidadãos dos municípios da Lousã e Miranda do Corvo. A actual situação afecta igualmente Coimbra, afecta muito e não apenas pelo desequilíbrio metropolitano criado.

Relembro que as obras em curso no ramal ferroviário da Lousã tiveram o seu início em Dezembro de 2009, dizendo respeito aos troços da linha entre Serpins e o Alto de S. João. As obras referentes ao troço entre o Alto de S. João e o apeadeiro de S. José não foram iniciadas, dado que a Refer não procedeu ainda à sua adjudicação, embora tenha realizado o respectivo concurso. Por outro lado, como é conhecido, a certa altura foram retirados alguns trabalhos às empreitadas em curso, designadamente a colocação dos carris e da catenária; oficialmente, pretendeu-se evitar o roubo dos respectivos materiais, enquanto não se definisse o futuro do projecto. Como resultado boa parte das empreitadas, com excepção daqueles trabalhos, está a ficar pronta, isto é, os viadutos e túneis estão praticamente recuperados e foi colocado o sub-balastro em quase toda a extensão. O balastro ficou por colocar, atendendo à decisão de não colocar os carris. Claro que há zonas urbanas atravessadas pela linha férrea nos troços das actuais empreitadas, na Lousã e em Miranda do Corvo, que não poderiam ficar eternamente à espera do acabamento superficial, porque também lá passam veículos automóveis. Neste caso, está previsto que os carris assentem em vigas de betão, permitindo tráfego rodo e ferroviário. Surpreendentemente, em vez de colocar já a solução definitiva nesses locais, a Refer optou por alcatroar essas zonas, o que significa que, quando forem colocados os carris, se terá que desfazer todo este trabalho, com o aumento de custos e inerentes aborrecimentos acrescidos para as populações da Lousã e Miranda do Corvo.

Esta última decisão levantou legítimas dúvidas sobre uma eventual decisão escondida de substituir o modo ferroviário por autocarros na linha da Lousã, sistema conhecido por BRT. Receio infundado, dado que esse tipo de transporte apenas é possível em troços sub-urbanos planos. No caso concreto, teriam que ser colocadas guias nas numerosas travessias de pontes e túneis que baixariam de tal forma a velocidade de exploração que inviabilizaria completamente o sistema.

É um facto indesmentível que a Lousã e Miranda do Corvo estão a sofrer com a actual situação. O seu mercado imobiliário associado à mobilidade de e para Coimbra está extremamente afectado. Os seus moradores que trabalham em Coimbra são obrigados a percorrer a chamada Estrada da Beira que hoje não é mais do que uma rua com traço contínuo em quase toda a sua extensão, levando a que as deslocações diárias sejam um suplício. Miranda e a Lousã ficaram subitamente muito mais longe de Coimbra.

Mas Coimbra também sofre e muito. Desde logo, pelos atrasos que a situação traz à regeneração urbana da Baixa. Depois, pela própria indefinição das políticas de estratégia de urbanismo, acessibilidades e transportes da cidade. Por fim, não esqueçamos toda a carga de autocarros que durante partes importantes do dia utilizam as nossas vias urbanas, com as inerentes sobrecargas a nível de poluição, desgaste de pavimentos e formação de enormes filas de trânsito. Tudo isto constitui um custo enorme suportado por Coimbra, que começa a ser insuportável e a exigir tomadas de posição fortes e determinadas.

Os estudos económicos indicam que o projecto do Metro Mondego apenas se viabiliza com os troços urbanos dentro de Coimbra; o troço entre Coimbra e a Lousã/ Serpins será sempre deficitário, pelo que todos nós devemos pugnar pelo projecto na sua totalidade. Ninguém se convença que, com os actuais constrangimentos económicos do país que estão aí para dar e durar, a ultra-endividada Refer se disporá a arcar com os prejuízos da exploração de um ramal que foi, não é e certamente não será, só por si.

A actual situação é de não-decisão e traz custos elevadíssimos para todos. O que se pede é que, seja ela qual for, a decisão sobre o Metro Mondego seja tomada rapidamente, esperando-se que se opte, claro está, pela rápida conclusão das obras iniciadas, incluindo o troço urbano.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Junho de 2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

Solstício de Verão

Summer fest na Noruega (à meia noite)

Solstício de Verão

O dia mais longo do ano no hemisfério Norte e começo do Verão. Festa em vários pontos da Europa do Norte (Summer fest).




Ao que nos trouxeram os grandes líderes europeus

Um grito de lucidez no Financial Times: "
Poucos jornais terão defendido de forma tão sistemática e consistente que a solução para todos os problemas europeus e do euro passam por mais integração e mais “liderança” do que o Financial Times. Por isso apreciei especialmente este texto do seu colunista Gideon Rachman:

Those who argue that “political union” is the solution to the current crisis seem to believe that Europe’s problem is institutional (…) This is a profound misdiagnosis of the crisis. The real problem is political and cultural. There is not a strong enough common political identity in Europe to support the single currency. That is why German, Dutch and Finnish voters are revolting against the idea of bailing out Greece again – while Greeks riot against what they see as a new colonialism imposed from Brussels and Frankfurt.

To argue that even deeper political integration is the solution to this mess, is like recommending that a man with alcohol poisoning should treat himself with a more powerful brand of vodka.

It is important to understand that the origins of the current crisis lie precisely in the dream of political union in Europe. For the true believers, currency union was always just a means to that greater end. It was a way of “building Europe”. (…)

Joschka Fischer, a former German foreign minister, who is one of the boldest advocates of deeper European unity, was unrepentant in defending this elitist model of politics. He insisted that most important foreign policy decisions in postwar Germany had been made in the teeth of public opposition. “It’s called leadership,” he explained.

Such leadership is all very well, if it is vindicated by events. However, if elite decisions go wrong, they create a backlash – which is exactly what is happening in Europe now. German voters were told repeatedly that the euro would be a stable currency and that they would not have to bail out southern Europe. They now feel betrayed and angry. Greek, Irish, Spanish and Portuguese voters were told repeatedly that the euro was the route to wealth on a par with that of northern Europe. They now associate the single currency with lost jobs, falling wages and slashed pensions. They too feel betrayed and angry.

(…) A single currency that was meant to bring Europeans together is instead driving them apart.

(…)But if political union is not the answer to Europe’s problems, what is? There are two possible solutions. The eurozone leaders might somehow patch the current system up. Or the weaker members of the currency union – above all, Greece – could leave. That process would be chaotic and dangerous. But Greece, as it stands, is a demoralised country that has lost the sense that it controls its own government. Leaving the euro might just be the beginning of a national regeneration.


Retirado de José Manuel Fernandes, no Blasfémias

segunda-feira, 20 de junho de 2011

CULTURA (do desperdício)

Imagine o leitor que o presidente da câmara de uma cidade qualquer sem clube de futebol na primeira divisão decidia que, por um ano, iria constituir um clube de primeira categoria capaz de ganhar todos os jogos. Para tal, iria ao mercado contratar jogadores para jogarem e ganharem tudo durante esse ano e apenas esse, escolhendo para isso os melhores. Imagine ainda que esse presidente não era extravagante por lhe ter saído o euromilhões. Muito simplesmente tinha convencido as autoridades nacionais de que era um desígnio da sua terra assim conseguindo dinheiros nacionais e dos fundos comunitários para pagar o seu sonho. Disparate, dirá o leitor. E com toda a razão, concordo eu. Ninguém se lembraria de tal coisa. Pois é, mas o que até no futebol é não é imaginável, já o é na cultura.
No fim-de-semana passado, a imprensa trouxe um anúncio gigantesco a publicitar a abertura de um concurso de escolha de músicos para a constituição de uma orquestra sinfónica em Guimarães, por um ano. Espero que o leitor esteja sentado. O anúncio pedia mesmo candidaturas para 72 músicos dos diversos instrumentos para constituírem uma orquestra sinfónica com a duração de um ano, entre Dezembro de 2011 e Dezembro de 2012, que assegurará a execução da programação de música clássica de Guimarães Capital Europeia da Cultura. Bem à portuguesa, capital da cultura, do disparate e do desperdício, claro está.
A despesa associada à constituição desta orquestra por um ano será sempre acima de um milhão e meio de euros. A questão nem está em gastar esta verba em música clássica numa capital europeia da cultura. A questão está em deitar o dinheiro fora, ao constituir uma orquestra sinfónica que se desmobilizará um ano depois. Para não ir mais longe, no Norte do país há duas orquestras sinfónicas apoiadas pelo Ministério da Cultura, a Orquestra do Norte em Amarante e a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música com capacidade mais que suficiente para assegurar qualquer programa. Aqui em Coimbra há uma orquestra clássica profissional, tal como em Aveiro existe uma orquestra de câmara permanente, que poderiam sós ou em conjunto responder a parte do Programa da Capital Europeia da Cultura 2012. Todas estas formações vivem, pagam aos seus músicos e maestros e têm necessidade e vontade de fazer concertos, durante todo o ano. A contratação dos serviços dessas formações sairia incomensuravelmente mais barata do que aquela verba que a capital europeia da cultura de Guimarães vai gastar e que só servirá para alimentar o ego dos programadores deixados à solta. Parece mesmo um vício nacional, que até cá em Coimbra já foi tentado: constituir orquestras para eventos pontuais, (como festivais de música ou capitais nacionais ou europeias) que não deixam rasto da sua efémera existência. É assim tão difícil investir na continuidade e na estabilidade das instituições já existentes e firmadas, em vez de fazer festas?
Nem parece que Portugal tem que cumprir um delicado e penoso programa de redução de despesas públicas negociado com a EU e o FMI. Para além dos elevadíssimos vencimentos e benefícios dos gestores da Capital Europeia, ainda temos que arcar com os custos das suas extravagâncias. Vício de país rico: vamos fazer uns concertos espectaculares, logo constituímos uma orquestra sinfónica para isso; Nada de contratar orquestras que fazem isso mesmo todo o ano, há anos, não senhor. Há quem pague, vamos em frente. E quem paga, caro leitor? O leitor com os seus impostos. E não aceite quando lhe disserem que são dinheiros do QREN; se esses dinheiros vão para aí, não vão para outro lado onde seriam necessários, por exemplo apoiar instituições culturais permanentes e não foguetório .
Um novo Governo está aí. Que haja coragem e capacidade para pegar também nestas questões é o que se espera. Basta de dinheiro mal gasto.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Junho de 2011

domingo, 19 de junho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

CULTURA E TURISMO

Se há algo crucial para a recuperação da economia portuguesa é o aumento de produção de bens transaccionáveis. Se possível, que aumentem o volume das exportações e melhorem a nossa balança de transacções.
O turismo está na linha da frente dos nossos produtos exportáveis. Mas não um turismo qualquer. O mundo mudou muito nos últimos anos. As viagens aéreas tornaram-se baratas, pelo que não podemos competir com destinos exóticos que oferecem sol, praia e descanso espectaculares longe de tudo, destinos esses hoje em dia ao alcance de muita gente.
Por isso, muitos países designadamente europeus, mudaram o paradigma do seu turismo e adoptaram o turismo cultural. Muitas pessoas fazem hoje em dia pequenos períodos de descanso e aproveitam para se cultivar enquanto passeiam.
A óptica com que olhamos para a cultura também tem de mudar, quer a nível nacional, quer a nível local. Os responsáveis pela área da cultura não podem mais comportar-se como os antigos mecenas que pagavam aos artistas para os "divertir". No regime contemporâneo democrático, o foco deve estar virado para os potenciais usufruidores da actividade cultural. Na realidade, a actividade cultural é paga pelos consumidores, seja pela aquisição directa de bilhetes ou de obras de arte, seja pelos impostos que sustentam os subsídios entregues pelas entidades estatais, nacionais ou locais. Esses apoios financeiros deverão promover essencialmente uma oferta sustentada e permanente que leve a cultura a toda a gente e não apenas a uma elite, melhorando o nível geral da cultura das populações. Até porque para amar a arte é preciso conhecê-la.
Por outro lado, a actividade cultural deve ligar-se intimamente ao turismo. Não basta ter um património riquíssimo como acontece em Coimbra e esperar que os turistas que por cá passam parem e apreciem o que ali está há séculos. É necessário criar programas culturais que chamem os turistas, o que se traduzirá na rentabilização de uma riqueza fantástica que herdámos. Estou a falar de criar roteiros como o da Primeira Dinastia em Coimbra que já aqui referi por várias vezes, organizar eventos sistemáticos nos monumentos como cenas teatrais, pequenos concertos de música de época com trios ou quartetos, apresentações multimédia nos diversos monumentos, ementas gastronómicas votivas em restaurantes e hotéis durante todo o ano, etc. Há agências de turismo por essa Europa fora especializadas em turismo cultural interessadas em trazer turistas, desde que este tipo de oferta exista, seja de qualidade e permanente. Não é preciso inventar grande coisa. E os artistas que cá temos agradecem, obviamente.
Na minha opinião, Coimbra deveria ainda unir-se a outras terras que de alguma forma estão ligadas às personagens históricas que nos são importantes. Por exemplo, porque não ligar-se a Viseu e Guimarães por causa de D. Afonso Henriques em vez de se andar provincianamente a puxar por galões irrelevantes? Porque é que Coimbra não faz uma rede da Rainha Santa com outras povoações que têm igualmente uma tradição de devoção pela Sra. D. Isabel, como acontece com Quintanilha e Elvas, entre outras?
Há de facto muito a explorar na área do turismo cultural em Coimbra e também muito dinheiro à espera para ser aqui ganho nesta área. Assim haja visão e vontade política que promova a coordenação dos necessários esforços.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Junho de 2011

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O EXEMPLO DA MÚSICA

A arte é a mais elevada demonstração da capacidade humana de produzir beleza. De entre as diversas manifestações artísticas a música é, nos dias de hoje, talvez aquela que mais democrática e eficazmente contribui para a formação da juventude, contribuindo para que se obtenha uma sociedade melhor e mais educada. O seu papel na formação dos jovens está mais que provado. Ainda há dias uma professora do Secundário afirmava que, se havia algo em comum entre os seus alunos que aprendiam música no Conservatório, é que eram todos bons alunos e apresentavam ainda algo mais que os diferenciava dos outros: para além de um maior desenvolvimento da capacidade de raciocínio, aprenderam a fazer uma boa gestão do seu tempo já que, para além dos seus estudos obrigatórios, dedicam muito tempo ao estudo e prática do seu instrumento musical.
Coimbra possui, desde há 10 anos, uma formação profissional de música, a Orquestra Clássica do Centro. Poucas cidades portuguesas se podem orgulhar disso, sonho de muitas gerações de melómanos e amantes da música dita erudita. Desde há algum tempo, a Orquestra Clássica do Centro dinamizou ainda uma Orquestra Juvenil do Centro com mais de trinta músicos com mais de quinze anos de idade, alguns deles já com o Conservatório concluído e ainda um notável Coro que tem produzido interpretações de obras absolutamente extraordinárias só ao alcance de coros constituídos por músicos com grande formação musical. Mais do que uma orquestra, trata-se já do embrião de uma casa de música com formações diversas que lhe permitem ter capacidade de resposta para um reportório cada vez mais diversificado e exigente, motivo de mais orgulho ainda para a Cidade de Coimbra. A Orquestra Juvenil participará em breve num concerto em conjunto com a Orquestra Clássica, que será transmitido gravado e depois transmitidopela Antena2 da RDP, o que só por si atesta da sua qualidade já reconhecida fora de Coimbra.
A Associação Orquestra Clássica do Centro vive do protocolo com a Câmara Municipal de Coimbra que lhe garante cerca de um terço do seu orçamento anual, de alguns pequenos apoios mecenáticos e, fundamentalmente, do seu próprio trabalho isto é, de produzir concertos em Coimbra, na nossa Região e um pouco por todo o país, desde a Maia ao Algarve.
A Orquestra Clássica do Centro demonstra, com o seu trabalho, o que deve ser a centralidade de Coimbra, desde que assumida como um serviço. As políticas nacionais e mesmo regionais têm sistematicamente tentado reduzir Coimbra a ser apenas um dos pólos urbanos da Região Centro, o que no futuro favorece o "ensanduichamento" da nossa Região pelas metrópoles do Porto e de Lisboa. Nada nos pode mover contra as outras cidades da Região, mas essa é uma política perfeitamente errada, contrária a toda a História e mesmo à realidade visível. Coimbra não tem sabido ou mesmo tido vontade de se opor a estas políticas, talvez tolamente complexada com um passado que já foi. Pelo contrário, defendo que somos nós, em Coimbra, que temos que ir ter com os nossos vizinhos, mostrar-lhes as nossas capacidades e oferecer a partilha do que temos, com o que todos certamente ganharão, Coimbra, Região e o País.
Olhemos com atenção para esse trabalho que tem sido feito pela Orquestra Clássica do centro e tentemos todos ser capazes de o replicar nos mais diversos sectores. Coimbra merece.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Junho de 2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O pato abriu a boca

Aquela abertura da última semana de campanha deve-se a uma escolha tardia dos eleitores ou apenas a "erros" sistemáticos das sondagens até essa altura? É impressionante.

Tirado daqui: http://sondagens.apphb.com/