segunda-feira, 2 de abril de 2012

REPRESENTAÇÃO POLÍTICA



Churchill dizia que o regime democrático é o pior que há, exceptuando todos os outros. O regime saído do 25 de Abril constitui a primeira experiência democrática portuguesa credível e, por isso mesmo com uma duração que já vai em 38 anos, o que é de registar. A própria participação numa União Europeia para a qual se transferiram várias competências, antes tidas como soberanas, terá muito a ver com esta duração.
No entanto, sente-se no ar que o nosso sistema democrático chegou a um ponto de algum cansaço que acompanha um crescente distanciamento dos representantes políticos relativamente aos cidadãos em geral. Claro que para isso muito contribui um clima de descrença que é consequência da presente situação económica e da certeza de que a actual geração jovem será a primeira a conhecer uma situação económica mais difícil do que aquela que os seus pais conheceram, o que gera a má sensação de “andar para trás”.
As críticas relativas ao próprio Regime são ainda ténues e oriundas de sectores localizados, que provavelmente criticarão sempre o regime de representação democrática, quer ele funcione bem, quer não. Quem ainda acha que o regime anterior era melhor que este, afirma que os problemas económicos que sentimos hoje são consequência do próprio regime; outros que participaram ao mais alto nível no 25 de Abril afirmam que afinal não serviu para nada e que é preciso outro…
Mas as críticas aos políticos, essas são constantes e generalizadas, começando até a ser difícil defender este ou aquele responsável político como sendo sério e honesto, porque se caiu na generalização do “são todos iguais e só querem é servir-se”. Posição injusta, porque, em primeiro lugar a política é a actividade mais digna que existe, desde que persiga o seu fim primeiro que é a realização do “bem comum” e porque, em segundo lugar, a maioria daqueles que se dedicam a ela o fazem com honestidade e vontade séria de melhorar as condições dos seus concidadãos. Claro que notícia é o “homem que morde o cão” e não o inverso, pelo que os jornais todos os dias nos trazem notícias de poucas vergonhas de políticos. E ainda bem que as trazem, já que existem; mal é que haja a sensação de que a Justiça não age nestes casos com a eficácia que se desejaria.
Um dos problemas graves do nosso sistema político é a separação entre eleitos e a população em geral. É certo que os deputados e autarcas são eleitos por todos nós, como deve ser em Democracia. Mas quem os escolhe previamente? Os partidos políticos porque não há democracia sem os partidos; no entanto, por diversas razões, os partidos estão hoje demasiado dependentes dos respectivos aparelhos, pelo que as escolhas dos candidatos são tudo menos transparentes, equivalendo a perfeitas nomeações feitas com critérios que demasiadas vezes escapam ao interesse público e à capacidade pessoal para o exercício daquelas funções específicas.
Esta é uma das razões principais do descrédito dos políticos e reformar este sistema devia ser a primeira prioridade política para quem quer o melhor para Portugal e para a Democracia.
Felizmente começa finalmente a discutir-se a possibilidade de os principais partidos escolherem os seus candidatos a Deputados e a Autarcas através de um processo de eleições primárias por sufrágio directo dos militantes e mesmo simpatizantes, no qual todo e qualquer militante se pode propor, acabando-se com as aprovações caricatas de braço no ar de listas completas propostas pelas comissões políticas. É essencial e urgente seguir este caminho, único que pode cortar com o “amiguismo” e com as “negociatas” de grupos de pressão que tantas vezes impõem candidatos sem qualidade e sem capacidade de se afirmarem por si próprios.
Claro que a escolha por este processo não garante que os eleitos serão sérios e competentes; mas uma coisa garante: a ligação dos representantes aos representados que não poderão virar as costas e dizer que não tem nada a ver com aqueles. Já não é pouco.


Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 2 de Abril de 2012

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