segunda-feira, 21 de maio de 2012

ÉTICA E CORRUPÇÃO




O que é a ética? Pergunta de difícil resposta, embora, neste início do século XXI se fale de ética por tudo o que é sítio. Talvez porque se sente muita falta dela. Procurando respostas simples verificamos, desde logo, que o termo vem do grego “ethos” que significa “costume”; É, portanto, algo que não é de agora, mas que vem de há muito e se mantém actual nos dias hoje, o que desde logo atesta a sua importância na vida da sociedade. Segundo os dicionários, ética é a “parte da filosofia que estuda os fundamentos da moral”, ou muito simplesmente “um conjunto de regras de conduta”. O dicionário não nos facilita muito a vida: de facto; se por um lado nos atira para a moral, termo que vem do latim “mores” e que significa também “costumes”, por outro lado remete-nos para a conduta, o que tem a ver com a acção, isto é, a prática de vida. Ser ético, portanto, será verdadeiramente aquilo que importa, o que não é fácil, dadas as diferentes fontes de moral que ao longo dos séculos se foram sucedendo desde os tempos da ética filosófica de Aristóteles, assistindo-se hoje à coexistência de muitas delas e mesmo á recuperação de algumas que se julgava perdidas. Talvez resida aí uma das razões principais do actual desnorte nesta matéria.
E o que é a corrupção? Socorrendo-nos de um dicionário, ficamos mais uma vez quase na ignorância, já que o seu significado aponta para “depravação, suborno, alteração” ou mesmo “sedução”. Mas neste caso da corrupção, ao contrário da ética, acontece sempre algo de concreto e bem material e não filosófico, pelo que se encontra completamente identificada na lei, que tipifica mesmo os diversos tipos de corrupção, que vão do suborno à extorsão e ao peculato, passando pelo nepotismo. Claro que em Portugal é mais fácil sentir o cheiro da corrupção do que prová-la, pelo menos quando há políticos envolvidos.
É cada vez mais frequente ouvir-se discorrer sobre ética e corrupção, associando-lhe a política. Na verdade, ouve-se tantos políticos falar em ética, que quando isso acontece fico logo desconfiado, principalmente quanto mais alto falam e quanto mais assertivos são sobre o assunto. E os anos que já levo por cá e a experiência de vida aconselham de facto a ser prudente ao ouvir a palavra ética, principalmente quando associada a política e negócios. Há por aí fazedores de opinião de alto gabarito e muita “ciência económica” que vendem a necessidade da ética nos negócios quando até se sabe terem já sido corruptos em alto grau.
Por outro lado, é comum ouvir-se dizer que “a minha ética é a lei da República”, mais uma vez quase sempre por políticos no activo. Triste de quem confina a sua vivência à observância da lei. Será que se pode em verdade dizer que se não infrinjo a lei, sou ético? Ou que apresentar credencial de nunca ter sido condenado por corrupção significa o mesmo? Claro que não. O sistema de valores vai muito para além das leis; aliás, se as leis abarcassem todo o comportamento humano estaríamos na ditadura total e não seríamos mais que autómatos.
Voltando ao velho Aristóteles, “Toda a teoria da conduta tem de ser apenas um esquema e não um sistema exacto…e os temas de conduta e comportamento não têm em si nada de fixo e invariável. E se isto é verdade na teoria geral da ética, ainda é menos possível a precisão exacta ao tratar de casos particulares de conduta…os próprios agentes têm de considerar o que é conveniente nas circunstâncias de cada ocasião”. Isto é, ao contrário do que alguns profissionais do julgamento popular pretendem, nada disto é fácil.
Claro que a ignorância generalizada e a falta de cultura associadas à miscelânea de códigos de valores da nossa civilização leva a que se perca o fundamental e se eleja mesmo o sucesso económico obtido seja de que forma for, como o critério essencial de consideração social. Mas atrás do tempo, tempo vem, e a História está carregada de fases confusas como a actual. E os que pensam que a História acabou estão redondamente enganados, como é já possível detectar em sinais fáceis de percepcionar por muita gente, menos pelos economistas que hoje dominam a nossa vida e apenas tratam de números e olham para o futuro como a continuação das séries do passado.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Maio de 2012

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