segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Construir uma Cidade com História


Brasília foi construída do nada nos anos 50 e 60 do século passado, sob o impulso do Presidente Kubitschek de Oliveira, segundo um plano urbanístico de Lúcio Costa e tendo os edifícios mais marcantes a assinatura de Oscar Niemeyer.
Há poucos exemplos de cidades construídas assim apenas a partir de uma ideia e de um terreno vazio. Teoricamente, têm tudo para dar certo. Quem já foi a Brasília sabe que isso não é verdade. Para além do artificialismo e mesmo de um formalismo demasiado pesado, para uma cidade com menos de 100 anos, aparece-nos surpreendentemente velha e gasta. Mesmo os edifícios governamentais que aparecem tão bonitos nas fotografias surgem já, quando vistos mais de perto, com um ar sujo e pouco brilhante.
O que se dirá de uma cidade como Coimbra? Que é muito mais que o resultado do sonho de um homem. Coimbra não nasceu ontem. Antes de o ser já era Aeminium. Isso muito antes de um jovem rebelde ter resolvido pegar na História com as suas mãos e, mal ou bem, ter separado para sempre o Condado Portucalense da Galiza virando-se para Sul para construir um País, conquistando-o aos mouros.
O jovem que se fez Rei começando por lutar contra a própria Mãe, fez de Coimbra a primeira capital do seu Reino e foi nesse preciso momento que a História da nossa Cidade se começou a confundir com a História de um Portugal então nascente.
Nós, os que cá estamos hoje, tenhamos ou não responsabilidades públicas, somos apenas um momento fugaz na história da nossa Cidade. Isso não diminui o nosso papel, antes pelo contrário. Torna-nos responsáveis por um legado antiquíssimo que temos que transmitir aos que haverão de vir depois de nós. Da forma como o melhorarmos ou não dependerá a qualidade de vida das futuras gerações de conimbricenses.
Caímos muitas vezes na tentação de dizer que vamos definir o futuro, falamos mesmo demasiadas vezes num “homem novo”, temos a arrogância de imaginar que, com o poder, poderemos construir uma cidade nova.
Nada de mais errado, convenhamos, pelos desgraçados exemplos históricos que conhecemos. Mas cair na posição contrária não é melhor. Uma veneração estática do passado tantas vezes consequência de um conhecimento aprofundado pelo estudo universitário, mas acompanhada por uma incapacidade de provocar mudança e evolução, equivale a parar no tempo, transformando a cidade num museu de pedras mortas.
Isto é, construir uma cidade como Coimbra nos dias de hoje, exige, para além de um respeito pelo passado baseado num conhecimento histórico estruturado, uma compreensão do mundo actual e, fundamentalmente, uma grande vontade de acompanhar as mudanças e capacidade para “Fazer”.
Coimbra nem pode ter vergonha de si mesma e do seu passado, nem pode deixar de ter capacidade de se afirmar de uma forma orgulhosa por tudo o que de bom e progressivo possui nos dias de hoje, impondo-se numa grande região beirã que só espera isso mesmo de nós.
Aqui está a chave para a resolução de todos e cada um dos problemas sectoriais da nossa Cidade, quer na área da Cultura e do Turismo, quer na área do desenvolvimento sócio-económico, quer na gestão do território. O facto de todo o país atravessar um momento particularmente difícil, só nos pode encorajar a utilizar de forma consequente o legado do passado com os meios do presente, encontrando novas soluções para problemas velhos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Agosto de 2012

1 comentário:

João Paulo Craveiro disse...

Um bom amigo enviou-me este comentário que merece MUITO ser publicado:
Obrigado,João Paulo,mas Coimbra não serve de exemplo,pois,e apesar de apenas há quase 20 anos aqui viver,aprendi que muitos meus antepassados ou por aqui viveram,ou passaram ou deixaram as suas raízes,veja-se por exemplo a hist´ria de Ançã,de Figueiró, de Ega,com as suas gentes e casas nobres e vestígios por lá deixados.Contudo Coimbra,não soube ultrapassar as mentes e mentalidades dessas épocas e continua a viver da sua pequenês social,em que as pessoas vivem da vida e das novidades das vidas alheias.Desculpem-me se assim penso,pois permanentemente tenho sentido na pele,aquilo que refiro.Vive-se de imagem.Um abraço.A.M.