segunda-feira, 25 de junho de 2012

Concerto de Mozart - Fagote, KV191. 1° Mov.

PODER E AUTORIDADE


Portugal encontra-se hoje numa daquelas situações atípicas que nunca deveriam suceder, mas a que somos periodicamente sujeitos, normalmente devido a disparates financeiros cometidos por governantes que não pesam os seus desejos com as capacidades do país. E, como a História o demonstra, estas situações trazem normalmente grandes perigos no seu interior.
Em tempos de crise grave como a que atravessamos, só se encontram verdadeiras saídas em democracia, se o poder constituído aos diversos níveis da governação do país detiver autoridade que seja reconhecida pela maioria dos cidadãos.
Há cem anos, Max Weber definiu poder como a possibilidade de alguém obrigar outro a cumprir a sua própria vontade, mesmo que com resistência, enquanto a autoridade será a habilidade de levar as pessoas a fazerem de livre vontade a sua própria vontade, apenas pela sua influência pessoal.
O conceito de autoridade vem dos tempos da República Romana, a chamada “auctoritas” que de certa forma media o prestígio e a influência dos senadores romanos, junto dos seus concidadãos. Essa autoridade era conquistada de diversas formas, incluindo os feitos militares ou a maneira como essas pessoas tinham servido a República em posições proeminentes. Para existir, essa autoridade tinha que ser reconhecida pelos outros.
Entre nós é comum queixarmo-nos de “falta de autoridade”, ao mesmo tempo que se nota um profundo desrespeito pelos responsáveis políticos em geral que, na minha opinião, tem razões muito mais profundas do que a crise que atravessamos:
Quando antigos responsáveis políticos de grande projecção são encontrados em situações ilegais e a Justiça demora eternidades a aplicar o devido castigo; quando os partidos mantêm em cargos de responsabilidade pessoas que perderam o respeito dos cidadãos ficando em consequência sem autoridade; quando os partidos escolhem para listas pessoas por critérios obscuros, deixando de lado outras com provas mais que dadas; quando para cargos de gestão de responsabilidade o critério é o amiguismo em vez do currículo pessoal; quando numa altura em que toda a gente é chamada a sacrifícios pesadíssimos, entidades do Estado mantêm todas as prerrogativas e mesmo privilégios e benefícios financeiros insuportáveis; quando entre as funções de Estado e as grandes empresas há um corredor aberto em permanência entre aquele e estas, é a autoridade de todo um Estado que se esboroa, sem apelo nem agravo.
Todos conhecemos exemplos de pessoas que, sem deterem qualquer poder político ou material demonstraram uma grande capacidade de mudar as circunstâncias em que surgiram. A sua capacidade de liderança e exemplo atribuíram-lhes uma autoridade reconhecida pelos outros, a tal “auctoritas” dos romanos.
Estas são pessoas raras. Infelizmente, muito mais frequentes são aquelas que de uma forma ou doutra, muitas vezes sem saber bem como, adquiriram algum poder sem possuírem qualquer autoridade. E usam esse poder para impor as suas vontades ou os seus gostos e mesmo para se vingarem de quem não gostam, por esta ou aquela razão, mas normalmente por simples inveja, aquela última palavra que Camões usou para fechar os Lusíadas.
Na realidade, abuso de poder pode ser cometido por acção, tal como está fixado na Lei, mas também por inacção ou mesmo impedimento de acção. Mas demonstra sempre falta de autoridade, quando não falta de princípios. E destruir o que os outros fazem ou fizeram é sempre muito fácil quando se tem algum poder público e não se percebe que esse poder vem do povo, pelo que se está ministro ou seja o que for e não se é esse mesmo cargo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Junho de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

ASPECTOS DE GUERRA


Se a internet, as comunicações e a localização geográfica por satélites entraram na vida do cidadão comum para a alterar por completo, a influência que têm hoje noutros aspectos da comunidade internacional é cada dia mais avassaladora e aumenta a cada dia que passa.
Para além dos nossos desejos, a guerra é uma das constantes da História do Homem. Ainda que em determinado momento não seja possível apontar um local da Terra em que esteja a decorrer um conflito armado declarado, mesmo assim a organização de Forças Armadas é uma constante, tal como o é o desenvolvimento contínuo de novas armas e novas formas de combater um inimigo.
As novas tecnologias trouxeram duas novas armas que estão já a mudar a maneira de fazer a guerra: os drones e a ciberguerra.
Os drones não são mais do que veículos aéreos tele-comandados, isto é, sem tripulantes a bordo. Claro que são apenas detidos pelos países mais desenvolvidos tecnologicamente, mas a sua utilização tem sido cada vez mais intensa em determinados teatros de operações, como sejam o Afeganistão, o Paquistão e o Yemen, além de outros mais próximos de nós mas com maior grau de secretismo. Possuem sensores ultrassofisticados que varrem o terreno de forma contínua e silenciosa, permitindo aos respectivos controladores verificar o que se passa, detectar alvos inimigos e eliminá-los, enquanto estão sentadosem total segurança a mover um joystick em frente de monitores a milhares de quilómetros de distância. Tudo isto sem colocar em risco a vida de pilotos e restantes tripulantes de aviões clássicos e usando equipamento muitíssimo mais barato.
Já a ciberguerra faz-se sem a utilização de qualquer arma clássica, mas o seu papel e importância têm sido crescentes. Nas últimas semanas os jornais deram nota da descoberta de um novo vírus informático chamado Flame, tendo sido notória a falta de informação credível sobre o assunto. As últimas notícias davam conta de que alguém tinha dado ordem ao vírus para se autodestruir não deixando qualquer rasto nos sistemas informáticos infectados. Entretanto, os especialistas russos que o detectaram lá foram dizendo que se tratava de um vírus muito mais poderoso e complexo do que qualquer outro anteriormente conhecido e que estaria instalado em países do Médio Oriente, prestando informações sobre todo o conteúdo dos computadores atacados. Logo a comunidade informática se lembrou de outro vírus aparecido há dois anos chamado Stuxnet, que invadiu as fábricas de purificação de urânio do Irão, tendo destruído milhares de centrifugadoras. Pelos vistos os códigos de programação dos dois vírus têm aspectos comuns que provam que houve, pelo menos, contacto entre os respectivos programadores. O Flame é extremamente complexo e sofisticado, podendo ser considerado uma arma cibernética concebida especificamente para ciber-espionagem e só pode ter sido desenvolvido por uma equipa de programadores a trabalhar durante meses e nunca por uma única pessoa. Isto é, trata-se de uma arma desenvolvida por algum país ou mesmo através de colaboração de países, com alvos hostis comuns.
Já neste mês de Maio, o Secretário da Defesa americano Leon Panetta aprovou uma nova rede organizacional que deverá ser o primeiro passo para a estandartização de ciber-operações militares. A nova organização define Ciber Centros Conjuntos e um Ciber Comando (CYBERCOM). Os objectivos desta nova super estrutura militar americana são simultaneamente defensivos e ofensivos, pelo que no futuro terá uma importância capital nas forças armadas americanas.
Chegados a este ponto, o leitor não pense que pode ficar descansado por esta guerra cibernética se passar longe, estando portanto livre de ser afectado por ela. Na realidade, todo e qualquer computador ligado à internet é um possível alvo de utilização indevida por desconhecidos. Para além dos hackers que permanentemente vasculham a net à procura dos dados bancários dos incautos e dos motores de busca e redes sociais que fornecem os dados dos utentes com intuitos comerciais, certamente não por acaso, a Google anunciou a semana passada que avisará os utentes do seu Gmail que sejam alvos de ataques de vigilância por parte de Estados. Pelos vistos, jornalistas, trabalhadores de ONG’s, estudantes, académicos e outros em vários países, já receberam avisos desses.
Como se costuma dizer, pode-se não acreditar em bruxas, mas que as há, há, pelo que todo o cuidado com a internet é pouco.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Junho de 2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

EUROPA: PARA ONDE?



Com os sacrifícios generalizados que agora começam a ser mais evidentes em alturas de pagamentos de IRS, de férias sem subsídios e de níveis de desemprego nunca vistos, Portugal lá vai prosseguindo na tarefa difícil de tentar recuperar a credibilidade internacional para se poder financiar por si próprio.
Entretanto, a nossa comunicação social parece ter entrado em pura esquizofrenia, abandonando a realidade e saltando alvoroçadamente da Ongoing para a Impresa, do Freeport para o FaceOculta, das agências de rating para o bispo incendiário das Forças Armadas, do vaticanleaks para o Euro 2012, das Secretas que temos para o Público e por aí fora.
Bem pode o Tribunal de Contas vir agora dizer que o SNS aumentou a dívida em 117% entre 2008 e 2010 com a simpática ministra Ana Jorge, que isso não interessa para nada, nem sequer que esse aumento fosse apenas devido a contratos e parcerias e não a melhoria dos serviços prestados. Bem pode o Tribunal de Contas aprovar relatórios, por unanimidade, sobre as parcerias publico privadas rodoviárias denunciando que lhe foram escondidas despesas de 700 milhões de euros, que isso não interessa para nada, face à “notícia” do “aparecimento” de relatórios inexistentes de um juiz desconhecido em cacifos de deputados da Assembleia da República, imagine-se. Bem pode “descobrir-se” que Portugal comprou créditos de CO2 por dezenas de milhões de euros, que não fazem falta nenhuma, que isso não é notícia.
Que todos os sacrifícios que os portugueses fazem tenham já como resultado que, segundo o INE, a Procura Interna esteja pela primeira vez há dezenas de anos a praticamente coincidir com o PIBpm, numa evolução drástica desde meados de 2011 com tudo o que isso significa em termos de base para a nossa recuperação económica, também não é notícia.
Mas, pior que tudo, também não é notícia o que se passa na União Europeia a que pertencemos. Quem ler a nossa imprensa pensará que tudo se resumirá a uma questão: os que querem o bem do povo defendem o crescimento e os que querem o seu mal, defendem a austeridade. A esta simplicidade se resume, entre nós, a discussão sobre o futuro da Europa.
Isto quando, de facto, o tempo se esgota para a Europa tomar decisões cruciais. O mapa da cise europeia parece o dos fogos de verão que alastram por todo o sul, desde a Grécia à Península Ibérica. Ou a Europa do Euro se afunda, o que sucederá se não se fizer nada, isto é, se se continuar a tentar resolver os problemas dos países um a um, ou muda de caminho com decisão. Não nos venham convencer com mais “compromissos para crescimento e emprego” e mentiras semelhantes ao célebre “compromisso de Lisboa”. Não chega fornecer dinheiro aos bancos a boas condições como o BCE fez de forma maciça em Dezembro e Fevereiro, apenas aliviando os sintomas do mal de forma temporária. Não basta pedir eurobonds, é preciso avançar com determinação pela integração orçamental e fiscal mínimas que sustentem uma resposta europeia, que incluirá naturalmente as obrigações de dívida comuns. O atraso nessa resposta está a fazer subir os custos da solução a níveis que um dia destes serão absolutamente incomportáveis. A Directora do FMI Christine Lagarde já propõe que se fechem os políticos numa sala até que concordem num plano, recordando o que J.P. Morgan fez com os colegas banqueiros em 1907, até acertarem todos numa solução.
O medo generalizado e justificado de um “super-estado” tem tolhido os responsáveis políticos europeus, impedindo-os de avançar um pouco que seja no caminho da federalização mínima necessária, continuando-se a meio do caminho da criação do euro, erro original que está na base de tudo o que se passa.
Mas chegou-se a um ponto em que ou se avança na federalização, com perda voluntária de mais soberania, inclusive por parte da Alemanha, ou se assistirá em breve ao desmantelamento do euro, que ninguém imagine que possa ocorrer de forma coordenada e pacífica. Residirá, porventura, no medo de partilha de soberania por parte da Alemanha, a razão de ser da falta de apoio de Merkel ao caminho da federalização, ainda que mitigada, como deverá ser. Sucede que os povos do sul começam a sentir esse medo doutra maneira, isto é, como vontade imperialista de impor regras, o que, atendendo à História dos últimos cem anos até compreende facilmente. E isso poderá impedir definitivamente uma solução justa e duradoura.
A Europa está na encruzilhada e tem de optar. Urgentemente.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Junho de 2012

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lá tenho de falar da "Selecção "de todos nós"

Um diário espanhol quis perceber quanto é que as várias selecções em competição vão gastar com o alojamento, e o resultado foi este, sem mais comentários.



Selecção e custo de hotel, por dia:

1. Portugal – Opalenica 33.174 euros
2. Rússia – Varsovia 30.400 euros
3. Polónia – Varsovia 24.000 euros
4. Irlanda – Sopot 23.000 euros
5. Alemanha – Gdansk 22.500 euros
6. Rep. Checa – Wroclaw 22.200 euros
7. Inglaterra – Cracóvia 19.000 euros
8. Holanda – Cracovia 16.200 euros
9. Italia – Wieliczka 10.500 euros
10. Croácia – Warka 8.300 euros
11. Dinamarca – Kolobrzeg 7.700 euros
12. Espanha – Gniewino 4.700 euros

Em homenagem aos homens comuns que tombaram nas areias da Normandia no dia D.

Miles Davis "Summertime" (1958)

D-Day

Finalmente, após dias de espera, a meteorologia autorizou o desembarque na Normandia no dia 6 de Junho de 1944.
Com muito sacrifício, sangue e heroísmo, começava finalmente a derrota da barbárie negra.



250 GTO

Este é o Ferrari 250 GTO feito para o Stirling Moss e que foi agora vendido por 30 milhões de dolares, o carro mais caro de sempre.
Há quem ache este o carro mais bonito jamais fabricado e eu concordo, embora nunca esqueça o Jaguar E Type.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pablo Casals: Schumann Cello Concerto (1/3)

Nigel Kennedy / Purple Haze

CUSTOS A PAGAR


O que se tem passado com o chamado Metro Mondego, agora Sistema de Mobilidade do Mondego é demasiado grave para que alguém de Coimbra se possa abster de tomar posição sobre o mesmo.
Chegámos a um ponto em que pouco interessa quem fez ou deixou de fazer o quê. Essa análise far-se-á certamente quando chegar a hora do ajuste de contas político, que ocorrerá mais depressa do que se possa pensar e, ou muito me engano, ou gerará muitas surpresas.
O que agora verdadeiramente interessa é que, num tempo de comissões destinadas a suportar decisões políticas, não se deixe de manifestar que tudo tem um custo, pago por alguém.
As obras de reabilitação da antiga “linha da Lousã” já absorveram mais de cento e vinte milhões de euros. Faltará menos de metade disso para colocar os veículos (de rodas metálicas) a circular entre Serpins e Coimbra. Em tempo de reafectação de verbas do QREN conviria garantir a reserva do valor necessário para acabar as obras que, ao que se sabe, já pouco ou nada necessitarão do orçamento de estado. A necessária rentabilização da despesa já feita só se poderá fazer com actividade comercial, isto é, com a venda dos bilhetes, pelo que acabar a obra e colocar o sistema em funcionamento faz todo o sentido.
Mas tudo tem um custo, mesmo o que agora se passa. E os custos que estão a ser suportados pelos municípios atravessados pela linha e pelos seus munícipes, em resultado da actual situação, é elevadíssimo. Numa região que já evidencia algum grau de metropolização, não se pode eliminar um transporte de massa pré-existente, sem custos sociais e económicos insuportáveis.
Já não falo dos custos sociais e políticos consequência da consciencialização, por parte das populações, de que os decisores políticos eleitos democraticamente não cumprem as suas promessas concretas nem mostram diligência na gestão competente dos dinheiros públicos. Mais cedo ou mais tarde será o próprio sistema político ou mesmo o regime a ressentir-se disso.
Mas há de facto custos concretos, decorrentes da paragem do projecto, que eram evitáveis e que se podem contabilizar.
Os munícipes da Lousã, Miranda e Coimbra que utilizam os autocarros em vez do comboio têm os seus tempos de percurso diários e outros aumentados de uma forma extrema; para não falar da falta de conforto, o aumento de tempo médio associado ao nº de viagens dará uma ideia clara de uma das parcelas dos custos. Outra parcela advém das alterações no mercado da habitação da Lousã e de Miranda do Corvo que somará quer os prejuízos privados da descida de valor gerado, quer as receitas municipais perdidas.
Mas o município de Coimbra é claramente o mais prejudicado e aquele que suporta uma factura maior. Desde logo, pelos prejuizos semelhantes aos dos dois outros municípios já referidos, na parte do concelho atravessada pela linha. Depois, pelas dificuldades e aumento de custos associados aos atrasos na reabilitação urbana do centro histórico de Coimbra. Mas não podemos esquecer o caos induzido no sistema rodoviário da cidade, pela eliminação da alternativa ferroviária da linha da Lousã. E esse custo é também calculável: atrasos por causa das filas em todo o eixo Portela/Estação Velha de manhã e ao fim da tarde, que se repercutem no resto da rede viária urbana. Os custos ambientais são igualmente pesados e hoje em dia mensuráveis: o fumo dos escapes dessas filas de pára-arranca compostas em boa parte por pesados de passageiros é claramente visível a olho nu, podendo e devendo os níveis de poluição do ambiente passar a ser medidos nesses locais. Os pavimentos das ruas estão a ser sujeitos a cargas pesadas com uma frequência muito superior ao suposto, o que se reflectirá em custos de reparação também certamente necessários nas infraestruturas enterradas.
Os municípios afectados pela actual situação andariam bem se preparassem mensalmente uma factura mensal dos custos que suportam (actuais e futuros, mas reais) pela falta de decisão de terminar o que está começado e quase acabado, factura essa a integrar de forma consistente os elementos que servirão de base à decisão final.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Junho de 2012

domingo, 3 de junho de 2012

No fundo

Soube agora que Portugal perdeu ontem com a Turquia. Por 3 a 1.
Pois.
Chamem o de paris para montar um "plano de recuperação seleccional". Pode ser que resulte.