segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O mundo sempre em mudança




"O mundo pula e avança
Como bola colorida
entre as mãos de uma criança"
António Gedeão.

Pertenço a uma geração que cresceu e se desenvolveu entre alguns medos, alguns deles suficientemente poderosos para influenciarem decisivamente o futuro da própria humanidade. Um deles foi o medo do holocausto nuclear, que acompanhou toda a guerra fria desde a 2ª Guerra Mundial até à última década do século XX. 

O outro tem permanecido activo até aos dias de hoje e prende-se com o receio do esgotamento das reservas de energia, designadamente do petróleo, que significaria o fim do mundo tal como o conhecemos hoje. Esse medo, propalado há dezenas de anos por imensos analistas e mesmo por muitos cientistas, está igualmente a desaparecer, para nosso alívio. Ao contrário do que tantos diziam, tudo indica que o mundo está prestes a atingir um pico energético, mas de procura e não de fornecimento. De facto, as reservas energéticas mundiais, contando com um aumento de procura semelhante à evolução das últimas décadas, passaram recentemente de 50 anos para 200 anos. O próprio custo da energia associada aos recursos fósseis está a conhecer uma redução acentuada. Deve-se isto ao desenvolvimento de novas técnicas de extração do petróleo e gás natural retidos em xistos argilosos existentes por todo o mundo, o que até há pouco tempo era impensável. Nos EUA, mais de 25% do gás natural produzido hoje vem das rochas xistosas e os preços unitários baixaram em cinco anos de 23 para 4 dolares. O que já hoje se passa na América vai estender-se rapidamente a todo o mundo, estando a China a comprar tecnologia e conhecimento para explorar o petróleo e gás natural das suas enormes quantidades de rocha xistosa.
Como é sabido, 60% da produção mundial de petróleo vai para os transportes. Mas também isso está a mudar rapidamente. Grande parte dos veículos pesados irão trocar o combustível para gás, muito mais barato e menos poluidor, o que acontecerá igualmente nos grandes navios, centrais térmicas e sistemas de aquecimento doméstico e industrial, por todo o mundo. No chamado mundo rico, a procura de derivados do petróleo já está a descer desde 2005, contando-se com o desenvolvimento dos países asiáticos para que a procura mundial continuasse a crescer. No entanto, a China está também a introduzir limites ao consumo dos automóveis, impondo um limite de 6,9 litros aos cem km em 2015 e de 5l em 2020, o que contribuirá para descer o consumo.
Entre nós, o choque vai ser grande e também benéfico para os consumidores e para a economia em geral. Pagamos uma energia caríssima porque os políticos associaram-se durante anos ao sector energético tendo levado a que, por exemplo, a capacidade de energia eólica instalada em Portugal seja mais do dobro do que deveria ser num sistema equilibrado. A custos enormes, suportados por todos nós pelos subsídios para aí canalizados e nas facturas mensais de electricidade. Mais cedo ou mais tarde a realidade vai desatar o nó energético que alguns têm andado a apertar à nossa custa e da economia, com lucros enormes para os sectores protegidos pelo próprio Estado.

A História dá-nos muitos exemplos de como o excesso de voluntarismo e mesmo alguma dose de fanatismo traz maus resultados e de como a evolução da humanidade foge sistematicamente aos modelos pré concebidos por alguns, por mais iluminados e bem-intencionados que se julguem. O que se está a passar com a energia é apenas mais um desses exemplos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em  12 de Agosto de 2013

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