segunda-feira, 7 de outubro de 2013

CRÓNICA DE UM ACTO FALHADO


Para quem observava de fora, a recente candidatura autárquica do PSD em Coimbra mais parecia uma tentativa de “take over” da Universidade à Câmara Municipal. Sabemos bem que não o era, porque a instituição Universidade de Coimbra não tem nada a ver com as listas às autárquicas, qualquer que seja a forma como elas são constituídas. Mas a presença de professores nos três lugares cimeiros, assim como toda a linguagem utilizada, designadamente pelo mandatário da candidatura durante a campanha, fazia apelo à importância dessa presença, acentuando mesmo que há muitos anos que Coimbra não tinha um professor universitário como presidente da sua Câmara. Como bem se sabe, em política o que parece é, mesmo não o sendo na sua essência e foi pois, assim, que a candidatura foi percepcionada pela maioria das pessoas.
Por outro lado, todos sabíamos que o PSD nunca anteriormente tinha ganho a Câmara de Coimbra sem ir coligado com o CDS. Quando no início do Verão os responsáveis pela candidatura, fracassaram na sua negociação com o CDS, o cidadão comum teve a percepção clara de que a vitória iria para a candidatura do PS, sem apelo nem agravo, ficando ambos os partidos da ex-coligação “Por Coimbra” a perder.
Os resultados eleitorais vieram mostrar à evidência os erros estratégicos cruciais do PSD em todo este processo. O Partido Socialista ainda perdeu 1.700 votos em relação às eleições autárquicas de 2009. Mas o PSD perdeu 10.000 votos: é obra! E não se tente escamotear o resultado com a situação nacional. De facto, se os eleitores quisessem castigar o partido do governo, teriam votado massivamente na oposição. E não foi isso que sucedeu. Na realidade, o que engordou foi a abstenção e o nº de votos em branco, que foi superior ao nº de votos no CDS que, como era de esperar, ficou fora da Câmara. A abstenção em Coimbra foi superior a 50%. Isto é, quase todos aqueles 10.000 votos perdidos pelo PSD foram transferidos para a abstenção e não para outro lado, porque embora não apoiando a candidatura socialista, também recusaram votar na candidatura apresentada pelo PSD.
A candidatura do PSD ainda se foi segurando nas freguesias urbanas, mas muito à pele. Nas freguesias não urbanas a razia foi gigantesca, surpreendendo até a candidatura socialista pelos resultados aí conseguidos, prova da inadequação das propostas em relação a esses eleitores.
Não tenho qualquer satisfação em partilhar esta minha análise sobre o sucedido com os meus leitores e note-se que não critico pessoas, mas opções políticas, designadamente as estratégicas sobre uma candidatura autárquica. O resultado é certamente triste para os que participaram activamente e com todo o entusiasmo na campanha, em particular os jovens sempre generosos. Mas é-o ainda mais para quem em devido tempo fez notar tudo o que acima fica escrito, sem qualquer resultado.
Por tudo isto, estou firmemente convencido que o PSD só perdeu estas eleições em Coimbra por culpa própria, o que não pode deixar de ter consequências para o futuro. A Cidade e todo o concelho exigem que o verdadeiro PSD que sempre foi republicano, laico e social-democrata regresse (com caras novas, que as tem) para ultrapassar o desaire que constituiu este acto falhado de tentar impor a todo o custo uma solução que o povo de Coimbra claramente não quis.

Publicado no Diário de Coimbra em 7 Outubro 2013

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