segunda-feira, 3 de março de 2014

MULHERES PODEROSAS



O papel das mulheres na sociedade foi variando muito ao longo dos tempos e diferentes civilizações. Se na Antiguidade houve civilizações que atribuíam à mulher um papel activo e relevante, na nossa sociedade ocidental, de matriz essencialmente cristã, a Mulher teve o seu destino marcado pela maternidade e modelo familiar pré-definido em consequência disso. A afirmação pessoal das mulheres ficou durante séculos dependente desse modelo rígido e só surgiu em pleno a partir do momento em que a possibilidade do planeamento familiar passou a ser uma realidade, já a meio do século XX.
Mas a afirmação profissional generalizada demorou ainda muitos anos a ser uma realidade e é ainda, entre nós, muito limitada e de difícil concretização, para além das áreas tradicionais ligadas ao ensino ou à saúde. Será bom que as leis das quotas, através das quais a sociedade faz uma discriminação positiva às minorias, seja desnecessária no que respeita às mulheres dentro de pouco tempo, até pelos efeitos perversos que provoca, muitas vezes contrários à afirmação própria das mulheres.
O mundo está a mudar a uma velocidade espantosa em muitas áreas e também nesta, podendo prever-se grandes alterações sociais para as próximas décadas. As mulheres começaram a chegar a lugares de topo na gestão de grandes empresas e também de organismos que até há pouco estavam historicamente reservados a homens. O caso de Christine Lagarde, actual directora geral do FMI é o mais conspícuo a nível mundial. 

Mas a chegada de Janet Yellen à presidência da Reserva Federal Americana é, talvez, ainda mais significativa. De facto, as competências próprias da RFA e a sua independência face mesmo ao presidente dos EUA, conferem a este cargo uma capacidade de intervenção enorme na economia americana e, em consequência, na economia mundial. E Janet Yellen não chegou lá por quotas ou até por ser casada com um prémio Nobel da Economia e sim por uma carreira profissional absolutamente excepcional que tornou a sua designação inquestionável.
Mas as mulheres dirigentes no mundo económico e financeiro de topo não surgem apenas em cargos ligados à administração pública. Também muitas grandes empresas têm hoje mulheres nos seus lugares de maior responsabilidade, o que começa já a não ser excepção e sim normal.
Por qualquer motivo, a indústria automóvel apareceu desde sempre associada aos homens, talvez pela ligação ao desporto automóvel, um domínio masculino clássico, com muito raras excepções, de que destaco Michelle Mouton nos rallies.
Assim, aparece ainda como facto de realce que a segunda maior construtora automóvel do mundo, a General Motors, tenha hoje uma mulher à frente da sua administração. Engenheira Electrotécnica de formação, Mary Barra dirige um conglomerado presente em seis continentes que emprega 212.000 pessoas e que recupera de uma situação de pré-falência em 2009, tendo já devolvido o apoio financeiro estatal que recebeu na altura e regressado aos resultados positivos a nível mundial. Mas outras grandes empresas têm hoje mulheres à frente dos seus destinos. É o caso da IBM, dirigida por Ginni Rometty, bem como da Pepsi Cola com Indra Nooyi, da Hewlett Packard com Meg Whitman, da Lockeed Martin com Marilyn Hewson ou da Yahoo com Marissa Mayer.
Estes são, evidentemente, casos americanos. De facto, o número de mulheres americanas com responsabilidades de topo em grandes empresas é superior ao número equivalente de todo o resto do mundo, sendo a Europa a segunda região com mais mulheres em lugares de topo, mas com a Ásia a aproximar-se rapidamente.
Não discuto se o facto de serem mulheres introduz alguma diferença relativamente à actuação dos homens em lugares semelhantes e, sinceramente, nem é isso que aqui está em causa. Importa, sim, saudar o facto de o mundo passar a ser mais equilibrado e respeitador de todas as pessoas como tal e não em função de género ou outras razões. E isso já é suficientemente positivo.
 Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 3 de Março de 2014

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