segunda-feira, 7 de abril de 2014

ABRIL



Chegou o mês de Abril em que se cumprem 40 anos sobre a Revolução dos Cravos que nos devolveu a Democracia e a Liberdade. Em República, é a primeira vez que Portugal consegue manter-se de forma duradoura com o único regime político que na História da Humanidade até hoje garantiu os direitos mínimos aos homens e mulheres, transformando-os de simples pessoas em cidadãos: a Democracia. Essa simples circunstância é suficiente para que o 25 de Abril seja justamente comemorado e que aos seus autores seja prestado o preito do nosso reconhecimento.

 
Claro que a Democracia não faz quarenta anos. À queda do anterior Regime, que praticamente ninguém defendeu, seguiu-se uma fase de instabilidade perfeitamente compreensível porque tudo se aprende na vida, até a utilização consciente e responsável da Liberdade. Menos aceitável foi a tentativa de apropriação dessa fase turbulenta para instalação de um novo regime totalitário, através da manipulação de algumas facções extremistas de militares.
Mas o povo português aproveitou bem a oportunidade que lhe foi dada para manifestar a sua vontade em eleições, logo em 25 de Abril de 1975, criando condições para que em Novembro do mesmo ano o passo fosse corrigido, orientando definitivamente Portugal para uma Democracia representativa que o levasse ao seio da Europa ocidental.
Passados quarenta anos, podemos dizer que Portugal está irreconhecível, para muito melhor. Eu frequentei a escola primária numa pequena escola localizada á beira de um pinhal na Beira Alta onde só se chegava por um caminho de terra e que tinha uma única sala para as quatro classes. Penso que basta esta pequena descrição para se perceber o quanto diferente é o Portugal de hoje. 

Naquele tempo ainda se falava em “instrução primária”, depois passou-se para “ensino” e hoje estamos no tempo da “educação”. As diferenças não são apenas semânticas, têm verdadeiro significado. Claro que o aumento exponencial de alunos que acompanhou a extensão da escolaridade obrigatória não podia deixar de trazer uma descida da qualidade, algo que se está a tentar corrigir. O acesso a cuidados de saúde era precário e caro, colocando muita gente fora dos cuidados médicos mínimos. Algo que o Serviço Nacional de Saúde corrigiu, colocando Portugal entre os países do mundo com melhores indicadores nessa área.
Nem tudo correu pelo melhor, ou como deveria ter corrido. A nossa velha pecha das más contas públicas obrigou-nos a chamar o FMI para nos tirar da bancarrota por três vezes desde 74, obrigando a grandes sacrifícios precisamente a quem menos responsabilidade terá por isso, como sucede nos dias de hoje. O crescimento económico tem sido anémico, sempre abaixo das taxas anteriores a 74, mesmo com os fundos europeus. A ocupação do território foi um desastre, muito por causa da necessária recuperação do atraso na oferta de habitação, mas também por uma inexistente política eficaz de ordenamento e de uma especulação imobiliária patrocinada por autarcas e entidades bancárias.
Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, diz o povo na sua sabedoria. Ouvimos muitos hoje falar contra os partidos e frequentemente com carradas de razão, mas não podemos esquecer que, sem partidos, não há democracia. É nossa obrigação de cidadania sermos exigentes e castigarmos os dirigentes que se esquecem do verdadeiro motivo pelo qual são chamados pelo povo a exercer o poder: cuidar do bem comum, preparar sustentadamente o futuro e proteger os que, por um ou outro motivo, são desfavorecidos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em  7 de Abril de 2014

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