segunda-feira, 7 de março de 2016

Mudança radical à vista no mundo automóvel

A sinistralidade automóvel é um problema gravíssimo pelo sofrimento e custos sociais e económicos que provoca às famílias atingidas e à sociedade em geral. É conhecido o conjunto de factores que podem estar associados aos acidentes de viação, em conjunto ou por si só: as características da via e do veículo e ainda do próprio condutor, para além da envolvente, como as condições meteorológicas.
Nos últimos dez ou quinze anos, a sinistralidade automóvel em Portugal conheceu uma diminuição assinalável. Tal deveu-se a uma melhoria radical das nossas estradas, a um rejuvenescimento do parque automóvel e também, por certo, a um policiamento mais eficaz com vista, essencialmente, a descer a velocidade habitual de circulação dos automobilistas portugueses.
Contudo, a partir de 2014/2015 verificou-se uma inversão na tendência de melhoria da nossa sinistralidade automóvel. Relativamente a 2014, no ano de 2015 registaram-se mais 5.569 acidentes rodoviários num total de 122.800, um acréscimo de quase 5%, que provocaram 478 mortos.
Têm sido apontadas várias razões para tal facto, nomeadamente ligadas a alguma retoma económica que provoca um aumento de viaturas em circulação nas estradas o que, no entanto, explicará apenas uma pequena parte do problema. Sucede que o aumento da sinistralidade nos últimos dois ou três anos se tem vindo a verificar em todo o mundo e, em particular, na Europa e nos EUA, pelo que haverá razões comuns, para além do circunstancialismo deste ou daquele país.

Dado que as estradas são as mesmas e os veículos automóveis são cada vez mais seguros, as causas para o aumento do número de acidentes residirão certamente no comportamento dos condutores. Os especialistas apontam uma razão essencial para o actual aumento da sinistralidade e tem a ver com a utilização de meios de comunicação dentro do carro. Todos nós, que diariamente nos deslocamos na cidade verificamos que, na realidade, é enorme o número de condutores que, com a maior descontracção, conduzem enquanto seguram o telemóvel junto ao ouvido com uma das mãos. Apesar da existência de inúmeros sistemas que permitem falar ao telefone mantendo as mãos livres, penso que não exagerei se disser que, na maioria dos casos não são utilizados, seja por razões de privacidade na conversa, seja por qualquer outro motivo ligado à opção pelo sistema mais fácil, que é pegar no telefone. Mas o problema não se restringe às chamadas. O telefone é hoje uma ferramenta de comunicação potente, que permite ler e enviar mensagens escritas, fazer o mesmo com e-mails e comunicar através das redes sociais. Para além da distracção causada pelos telefonemas, o desvio do olhar da estrada para o aparelho potencia de forma terrível o surgimento de acidente e é precisamente isso que se verifica actualmente em todo o mundo. O número de acidentes não aumenta nas auto estradas e sim em meio urbano ou sub-urbano onde, por a velocidade ser inferior, os condutores tendem a baixar a defesa na condução e se distraem mais facilmente.
Não por acaso, surgem cada vez mais notícias de que o desenvolvimento da indústria automóvel está prestes a seguir no caminho dos veículo que circularão sem intervenção de condutor. A enorme capacidade da informática nos dias de hoje, a possibilidade de utilizar sensores que analisam o meio ambiente de forma mais completa que as pessoas e a possibilidade de interligação automática entre veículos e entre eles e as infraestruturas viárias está a permitir o surgimento de viaturas que se conduzem por elas mesmas. Para além dos milhares de veículos experimentais da Google que circulam na Califórnia, há marcas que já oferecem a possibilidade de condução completamente automática em auto-estradas com velocidade até 130 Km/h. A vontade ou necessidade de as pessoas estarem permanentemente conectadas leva a que prescindam da condução em favor dessa situação, o que está a levar a indústria automóvel a tentar encontrar novas soluções que estão já a mostrar um futuro rodoviário completamente diferente daquele que conhecemos até hoje. Acresce uma maior consciencialização da tremenda tragédia dos mortos e incapacitados por acidentes rodoviários, situação que se considera cada vez mais inaceitável.
Os automatismos dos veículos automóveis já estão aí há alguns anos, em praticamente todos os segmentos, dos mais económicos aos mais sofisticados. Muitos dos condutores não se aperceberão disso e a esmagadora maioria nem perceberá o seu funcionamento, mas os veículos têm hoje diversos sistemas que funcionam independentemente da vontade ou da acção dos condutores. Desde o ABS até sistemas de detecção automática de peões, de leitura de sinalização rodoviária e de detecção de vias até aos sistemas electrónicos de controlo de estabilidade e de tração, o caminho tem sido o de aumentar a segurança activa e passiva dos veículos, para além das capacidades dos condutores.

O próximo passo, em grande parte ditado pelos comportamentos actuais dos condutores, será o da auto-condução generalizada dos veículos. E não deverá estar tão longe como o leitor possa imaginar.

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