segunda-feira, 27 de junho de 2016

A questão conimbricense da “via central”


 O ambiente político de Coimbra anda agitado por causa da chamada “via central”. Há mesmo quem defenda que se pergunte a opinião aos conimbricenses sobre a abertura da via, através de referendo local. Mas será que sabemos todos de que se trata?
Nos anos noventa do século passado, perante a iminência do fecho da Linha da Lousã a exemplo de outros ramais por todo o país que foram encerrados por falta de rentabilidade, surgiu a ideia do Metro do Mondego, posteriormente designado “Sistema de Mobilidade do Mondego”. A sustentabilidade económica do sistema seria garantida pelo trajecto urbano cujo eixo central uniria a linha ao longo do rio com os Hospitais da Universidade, passando pela zona do “bota abaixo” e desembocando na Rua da Sofia em frente à Caixa Geral de Depósitos. Como é sabido, as obras de construção da linha do Metro Mondego avançaram, com aquisição e demolição de prédios na baixa de Coimbra necessários à implantação da via, bem como as obras de beneficiação da antiga linha do caminho-de-ferro até Serpins/Lousã. Lamentavelmente, estas obras foram suspensas durante o governo Sócrates e durante o governo Passos Coelho não foram retomadas, com a agravante de a Sociedade Metro Mondego não poder sequer levar a cabo as obras de reabilitação/renovação dos prédios frente à Rua da Sofia e na Rua Nova, nem ser autorizada a entregar os prédios a outra entidade para realizar as obras.

O canal da travessia entre a Av. Fernão de Magalhães e a Rua da Sofia foi objecto de uma necessária DIA (Declaração de Impacte Ambiental) em 2004 que contemplava condicionantes, entre as quais a de que a faixa rodoviária que acompanha as duas ferroviárias apenas pudesse ser utilizada por veículos de emergência e de carga e descarga. Com a candidatura da Universidade a Património Mundial que incluia a Rua da Sofia, que já era no seu todo Monumento Nacional, esta rua passou a ter uma importância patrimonial acrescida, pelo que se prevê para ela uma diminuição da utilização rodoviária. A alternativa óbvia, perante a defesa do bem patrimonial maior que é a Rua da Sofia e estando as demolições já realizadas, é a utilização do canal da Metro pelo que a DIA foi alterada em 2010. A utilização rodoviária sem condições do canal do metro ficou autorizada, na condição da libertação progressiva da Rua da Sofia do tráfego rodoviário, começando pela eliminação de um dos sentidos de trânsito e alargamento dos passeios.
O atraso de decisões sobre a instalação do metro ligeiro de superfície está a ser prejudicial para a Baixa de Coimbra aos mais diversos níveis. Desde logo, as demolições realizadas são uma ferida no tecido urbano com consequências nefastas a nível social, comercial e outras. Por outro lado, a renovação urbana da Rua da Sofia só poderá avançar com a abertura do canal da Metro que dispõe de um estudo de integração urbana da autoria do Arq, Gonçalo Byrne garantindo o equilíbrio urbano entre a travessia rodo-ferroviária e os espaços e edificações envolventes. Assinalo que a ligação viária entre a beira-rio e o interior da Cidade é muito deficiente devido à orografia do terreno e ao fecho das Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz ao trânsito rodoviário que não pode voltar atrás.
Essa abertura implica naturalmente obras nos edifícios da Rua da Sofia onde o canal desemboca, no edifício-ponte do meio e nos dois laterais que lhe darão o apoio estrutural e os acessos, já que não terá ligação directa ao espaço público. O projecto conjunto destes edifícios aprovado com os necessários pareceres do Ministério da Cultura, que é de grande qualidade arquitectónica, é igualmente da autoria do Arq. Gonçalo Byrne.

O actual Presidente da Câmara assumiu os projectos que já vinham de trás e se encontravam parados, tendo a Câmara desenvolvido um projecto provisório que contempla uma primeira parte do futuro canal, incluindo a parte rodoviária, a que tem chamado “via central”, completamente compatível com a futura utilização rodo-ferroviária.

Perante todos estes dados, perguntar em referendo aos cidadãos se concordam com esta obra é, a meu ver, o mesmo que perguntar a alguém que anda de cadeira de rodas se quer caminhar sozinho, já que a alternativa é manter o que está e que é inaceitável. Os diversos partidos e movimentos de cidadãos têm, naturalmente, todo o direito a ter as suas próprias opiniões e opções. Mas neste caso concreto há um partido, para além do que actualmente governa a Câmara, que tem responsabilidades acrescidas e que é o PSD. Todos os projectos em causa se iniciaram, ou foram mesmo totalmente desenvolvidos, nos anteriores mandatos da sua responsabilidade e é claramente o interesse da Cidade que está em causa, acima das contingências políticas imediatas. Só lhe ficará bem assumir publicamente este projecto que iniciou e foi assumido pela actual Câmara, apoiando a sua execução no mais curto prazo possível.

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