segunda-feira, 11 de julho de 2016

A morte à distância




A história da evolução do Homem encontra-se intrinsecamente ligada à guerra (quer se goste, ou não). Desde os primórdios da Humanidade que, quando algum grupo humano conseguia alguma vantagem tecnológica, logo se sobrepunha militarmente a outros grupos. Tudo começou com as lanças que chegavam mais longe do que as espadas, permitindo atingir os inimigos evitando o contacto directo. Seguiram-se as flechas que permitiram aos combatentes levar ainda mais longe as suas capacidades de eliminar os inimigos. Surgiram depois as máquinas de guerra, com lançamento de objectos pesados a grandes distâncias, destruindo inimigos, fortalezas e mesmo navios.
A distância a que os combatentes conseguiam atingir os inimigos sofreu uma mudança radical com a utilização da pólvora. Embora tivesse sido descoberta na China no século I, a sua utilização militar só se desenvolveu naquele país a partir do século X, após o que chegou a toda a Ásia e à Europa, tendo-se difundido a sua utilização a partir do século XIII. A partir daí surgiram as primeiras armas pessoais parecidas com as actuais espingardas e desenvolveu-se enormemente a artilharia, cuja capacidade foi evoluindo até aos gigantescos canhões utilizados pelos alemães na II Grande Guerra e aos tanques de guerra.
A II Grande Guerra foi ocasião para um desenvolvimento extraordinário do ponto de vista tecnológico, induzido pela necessidade de ultrapassar tecnicamente o inimigo. Se os vectores que já vinham da I Grande Guerra como os navios, os aviões e os próprios submarinos conheceram um salto qualitativo gigantesco, a novidade essencial foram os mísseis. 

As então chamadas “bombas voadoras” inventadas pela Alemanha, as V1 e, fundamentalmente as V2, levaram a morte e a destruição à Inglaterra, tendo os londrinos sofrido na carne durante anos os efeitos mortíferos desses primeiros mísseis.
Durante a “guerra fria” assistiu-se, essencialmente, à evolução dos mísseis, quer no respeita ao raio de acção, quer quanto ao armamento que transportam (designadamente nuclear) e à precisão de atingir o alvo. Passou a ser possível levar a morte e a destruição literalmente a qualquer ponto do globo terrestre.
Mas, perto do final do século XX, outra transformação fulcral aconteceu com a arte da guerra, com a chegada da cibernética. Começou pelas telecomunicações. É conhecido o episódio de um chefe de uma determinada organização terrorista no médio-oriente ter sido morto com o próprio telemóvel; o estado que combatia descobriu o seu número de telemóvel e, à distância, provocou-lhe uma avaria, o que levou o proprietário a levá-lo a ser reparado; na oficina foi introduzido um explosivo no aparelho e, quando o utilizou morreu numa explosão, não sem que antes uma chamada tivesse permitido verificar que o utilizador era de facto o alvo a eliminar.
A internet veio permitir todo um novo conjunto de alternativas para combate à distância, agora sem qualquer contacto físico. Há alguns anos, o Irão comprou um novo conjunto de alguns milhares de centrifugadoras para enriquecimento de urânio. Para descobrir, pouco depois de começarem a trabalhar, que tinham perdido o controlo sobre elas, que rodaram violentamente até se destruírem: o vírus Stuxnet tinha chegado pela internet e provocado a destruição do equipamento.
A guerra mais sofisticada e mais letal é hoje uma verdadeira guerra de computadores. As próprias redes sociais são um dos meios utilizados. O ISIS que tão bem tem feito uso das redes com fins propagandísticos, está a descobrir quão traiçoeira pode ser a sua utilização. Mais que um militante foi enganado por mensagens enganadoras que os levaram a locais onde esperavam encontrar-se com chefes para apenas irem de encontro à morte.
As forças armadas das potências mais poderosas possuem já ciber-departamentos dentro das suas organizações que, ao contrário do que se possa pensar ou mesmo do que aceitem revelar, têm alvos específicos e bem definidos, não servindo apenas de apoio de “intelligence” para os outros departamentos militares. A ligação do mundo inteiro pela internet veio oferecer uma nova via não detectável para enviar projecteis cibernéticos a qualquer parte do mundo, por mais escondido que pense estar.

 Se no local do alvo definido ainda será necessário utilizar uma arma clássica para atingir o fim pretendido, seja bomba ou uma bala, já não deverá faltar muito para que até isso seja alterado, se é que tal ainda não aconteceu.

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