segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Cidade com passado, do presente e com futuro





As cidades são seres vivos que nascem, evoluem e podem, eventualmente, definhar e mesmo morrer. A História está cheia de casos de cidades que, em determinada altura foram farol da civilização e que desapareceram na poeira do tempo. Quem cuida de uma cidade tem, a par do conhecimento do seu passado, que ser capaz de perceber as pulsões profundas que sempre existem e de as orientar para caminhos que, em vez de levar a um enfraquecimento, permitam chegar a um futuro de sucesso e de afirmação.
Coimbra tem uma História rica e longa de muitos séculos que estendem até aos fenícios muito tempo antes de ser a capital romana Aeminium, tendo conhecido altos e baixos ao sabor das conquistas por novos povos e senhores. A estabilidade veio com o estabelecimento da corte do nosso primeiro Rei Afonso em Coimbra, o que fez dela a primeira capital de Portugal. A identidade mais duradoura e profíqua da Cidade de Coimbra é a sua Universidade fundada originalmente pelo rei D. Dinis em 1290 e aqui instalada de forma definitiva em 1537. O reconhecimento desta importância veio com a classificação da Alta e Sofia como Património Mundial da Humanidade, pela UNESCO em 2013 e é só por si, um facto do presente que puxa pelo passado projectando-se no futuro. Sendo o bem classificado uma universidade, mal ficaria a Coimbra se não elegesse a Cultura como vector fundamental da sua afirmação. Valorização que passa, não pela chamada esporádica de Rolling Stones ou outros que pouco ou nada cá deixam e levam muito dinheiro, mas pelo apoio permanente e dedicado a quem cá produz arte nas suas diversas formas, seja a música erudita, o teatro ou o jazz, que lhes permita serem vectores da projecção de Coimbra para o exterior.

O surto de industrialização das primeiras décadas do século XX desapareceu já, levado pelas alterações políticas, sociais e económicas que caracterizaram o Portugal das últimas décadas. Coimbra apresenta hoje uma economia baseada em serviços públicos, de que a economia da saúde e empresas das tecnologias de informação são as excepções mais notórias e importantes, com a circunstância de a área estatal da saúde ser claramente o esteio da privada, sem o qual esta desapareceria em pouco tempo.
Como é de uma evidência total, a dimensão dos serviços públicos não tenderá a crescer, razão pela qual Coimbra necessita de atrair investimento privado, não só para se manter com alguma viabilidade, mas sobretudo para se afirmar no panorama nacional. O tempo dos professores que de cá saiam para em Lisboa tomarem conta da política nacional já acabou há muito e não voltará nunca. A Universidade de Coimbra foi formalmente a única do país até ao início do século passado e de facto até aos fins do século XVIII. Felizmente, há hoje muitas instituições de ensino superior de grande qualidade por todo o país, pelo que se a Universidade de Coimbra quer continuar a ter um papel importante tem que fazer por isso em igualdade de oportunidades e não por ser património mundial, o que lhe pode trazer muitos visitantes, mas também obriga a muitas responsabilidades.
O desenvolvimento do país tem proporcionado um crescimento anormal das áreas urbanas de Lisboa e Porto, numa lógica territorial que, aliás, é perfeitamente terceiro-mundista e diz bem da qualidade dos governantes que temos tido. Coimbra e a sua região que é a Região Centro/Beiras têm ficado como que ensanduichadas (passe o neologismo) entre aquelas áreas metropolitanas Deve recordar-se que a importância da localização de Coimbra não é de hoje, tem mesmo a ver com o seu início e com a ligação viária entre Norte e Sul que vem desde os romanos, a meio caminho da ligação entre Olissipo e Bracara Augusta com passagem por Cale que hoje conhecemos como Porto.
Aqui reside a outra grande linha estratégica de actuação política. Coimbra não pode deixar-se apertar, necessitando como de pão para a boca, de se assumir como pólo aglutinador das Beiras aos mais diversos níveis. Deve esquecer a região centro tal como se encontra hoje definida para a CCDRC que, de forma errada e pensando apenas nos fundos europeus, foi evoluindo para ser “tomada” precisamente pelas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, perdendo a sua identidade histórica.
As próprias Comunidades Intermunicipais (CIM) estão a evoluir para organismos burocráticos, onde os interesses de cada município se sobrepõem ao interesse comum.

Por isso, Coimbra tem que agregar os municípios à sua volta com os quais tem já relações metropolitanas informais de alguma dimensão, de que os fluxos diários de dezenas de milhar de deslocações por dia são um bom indicador. Deve dirigir-se a eles, estudar aquilo que de comum pode puxar por todos e trabalhar com eles em conjunto, sem qualquer espírito de superioridade, mas de colaboração para um desenvolvimento social e económico espacialmente coerente. 

Em Lisboa desenham-se, tantas vezes de forma artificial, políticas de desenvolvimento regional. Cabe a nós, de Coimbra, tratar do nosso futuro, se não queremos que os nossos filhos e netos sejam tudo, menos conimbricenses.

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