segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O nazismo, derrotado há 72 anos



No dia 2 de Setembro de 1945, faz no próximo sábado 72 anos, foi assinada a rendição japonesa que ditou o fim da Segunda Guerra Mundial em que perderam a vida mais de 33 milhões de pessoas. O Japão imperial foi a última das potências do Eixo a assumir a derrota militar, depois da Itália fascista e da Alemanha nazi.
A guerra tinha começado oficialmente seis anos antes, no dia 3 de Setembro de 1939, quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, dois dias após esta ter invadido a Polónia que, a partir de 17 do mesmo mês, começou a ser igualmente ocupada a Leste pelo exército soviético, assim se dando cumprimento ao Pacto Nazi-Soviético assinado em 23 de Agosto desse mesmo ano.
Pode-se considerar que a Segunda Grande Guerra foi apenas o verdadeiro epílogo da Primeira, com um intervalo 23 anos de paz pelo meio. Mas o que lhe deu origem imediata foi a ascensão ao poder de Hitler e dos seus sequazes do partido Nacional-Socialista. Todas as justificações dadas pelos nazis, desde a cláusula da “Culpa de Guerra” do Tratado de Versalhes às reparações financeiras impostas à Alemanha pelo mesmo Tratado até à definição do “espaço vital” e à superioridade da “raça ariana” e inferioridade de todas as outras “raças”, não foram mais do que desculpas para obter o poder absoluto e total que permitisse o seu domínio do mundo.
Em 1923 Hitler era ainda apenas um político excitado que insultava judeus, marxistas e todos os que considerava serem responsáveis pela derrota alemã de 1918. O seu partido não tinha qualquer deputado no parlamento alemão, o “Reichstag”. Com apoio financeiro por parte de grandes industriais, começou a fazer crescer o número de apoiantes. Em 9 de Novembro desse ano, depois de um encontro célebre numa cervejaria em Munique, proclamou um novo governo, mas foi preso e, em Abril de 1924, condenado a 5 anos de cadeia. Acabou por ser libertado em Dezembro do mesmo ano, tendo aproveitado o tempo de cadeia para escrever o livro “A minha luta” – Mein Kampf. Aí apresentou as suas ideias e desenvolveu a estratégia para conseguir os seus objectivos: Os arianos eram a raça pura, enquanto os judeus representavam tudo o que os homens podiam ter de pior, sendo causadores permanentes da adulteração do sangue. O ódio puro com base na “raça” era elevado a orientação política. Com base no populismo e aproveitamento da crise económica com elevadíssima inflação e grande desemprego, os nazis aumentaram de número, ficando-se no entanto pela eleição de 12 deputados nas eleições de Maio de 1928. Enquanto passou a haver milícias nazis nas ruas com perseguições generalizadas a criar medo colectivo, nas eleições de 1930 esse número aumentou para 107, correspondendo a 18% dos votos. 

Nas eleições seguintes em Julho de 1932, o partido nazi alcançou a sua maior votação democrática - 37,1% sem ter no entanto, a maioria absoluta. Perante a incapacidade de formar governo e as diatribes de Hitler, houve novas eleições em Novembro do mesmo ano e o Partido Nazi desceu para 33,1%. Desta vez o velho Marechal Hindenburg viu-se obrigado a chamar Hitler para Chanceler em 30 de Janeiro e aí começou a tragédia alemã do século XX, ao ser levado para o poder o terror que já grassava nas ruas às mãos dos “camisas castanhas “nazis. O incêndio do Reichstag em 27 de Fevereiro de 1933 e as posteriores “eleições” de Março desencadearam a tomada do poder total pelos nazis, tendo imediatamente começado o envio para o primeiro campo de concentração (Dachau) de todos os considerados inimigos, a começar por judeus e políticos comunistas, sociais-democratas e sindicalistas, cujo número atingia os 100.000 já no final desse ano.
A barbárie que foi o regime nazi na Alemanha dos anos 30 e 40 estendeu-se à cultura com proibição e queima pública de livros, mas também perseguição a todos os artistas criadores do que considerava “arte degenerada”. Não foi menor a consequência, que durou muitos anos, da apropriação pelos nazis da criação artística alemã do século XIX tida como simbólica daquilo que consideravam representativo da cultura ariana, como a música de Wagner. Como não pode ser escamoteada a forma como um sistema jurídico sofisticado não só aceitou, como mesmo legitimou os procedimentos instituídos pelo regime de Hitler.
Mas há algo que marca o regime nazi para sempre. Foi a perseguição fanática aos judeus, por motivos puramente raciais, a que se chamou Holocausto. A eliminação pelas mais diversas formas, qual delas a mais desumana, de mais de seis milhões de pessoas é uma marca indelével na História da Humanidade. Ann Frank foi apenas uma dessas pessoas, mas é o símbolo do que aconteceu naqueles anos.

Quando hoje se vêem pessoas a assumir a admiração e saudade pelos nazis nos mais diversos pontos do globo, não podemos deixar de recordar quem foram na realidade, o que fizeram e o que tentaram fazer, evitado pelo sacrifício de milhões de pessoas, civis e militares, que deram a vida para que a escuridão que traziam não se estendesse a todo o mundo.
A cultura e o conhecimento que nos diz, por exemplo, que na humanidade só existe uma raça, são o melhor antídoto para as tentações que levam ao totalitarismo sempre pronto a saltar para a luz do dia. Mas uma força calma e decisiva que advém da justiça e do desejo da Liberdade é sempre também necessária, não o esqueçamos.

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