segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Neo Lysenkoismo

A destruição da produção agrícola que se seguiu à revolução russa de há cem anos levou a que os novos dirigentes soviéticos tentassem encontrar soluções que rapidamente resolvessem os problemas da fome que surgiam num país que, até então, tinha sido um produtor gigantesco de cereais.
Num regime com uma ideologia que, supostamente, iria resolver todos os problemas que a humanidade tinha sentido ao longo da sua História, em particular após a primeira revolução industrial, acreditou-se que os princípios fundamentais do marxismo se aplicariam também aos métodos científicos da agricultura e a toda a biologia.
Foi assim que um técnico agrário conseguiu influenciar e mesmo dominar toda a ciência, em particular a Biologia, na União Soviética durante a primeira metade do século XX com consequências desastrosas sobre a ciência, mas sobretudo pela fome e desgraça que levou a milhões de pessoas nos campos do país.
Trofim Denisovicht Lysenko desenvolveu as suas doutrinas pseudo-científicas contra toda a investigação científica de muitos anos, tendo-se conseguido impor através da intrusão da política e da ideologia na área que deveria estar reservada aos cientistas no seu trabalho livre e independente. Prometendo ao poder soviético grandes colheitas de cereais na sequência das fomes dos anos 30, Lysenko distorceu todo o conhecimento científico que já existia na altura em nome dos princípios da teoria marxista e de um discurso politicamente correcto. Negou toda a genética mendeliana e a teoria da evolução de Darwin, descartando o papel dos cromossomas e dos genes como estando na base da hereditariedade, contrapondo-lhe o disparate científico dos “caracteres adquiridos” já que, segundo ele, o espírito da teoria marxista exigia uma teoria de formação das espécies por saltos e não pelo gradualismo da evolução de Darwin. Quem não concordasse era reacionário, com as consequências inerentes.
Para Lysenko, todos os organismos tinham a capacidade, em função do meio ambiente, de se poderem modificar, com a vantagem de transmitir essas mudanças à sua descendência. Esta afirmação era música para os ouvidos dos comunistas, na altura liderados por Stalin, apostados na construção de um “homem novo” e para quem o homem seria largamente o produto da sua própria vontade. Para os soviéticos a ciência devia servir a ideologia política, pelo que Lysenko encontrou o terreno ideal para dar largas à difusão das suas teses, colocando toda a comunidade científica a seus pés. O que era mentira passou, através do poder político, a ser a verdade obrigatoriamente aceite.

O Comité Central do Partido Comunista ofereceu-lhe todos os meios para se afirmar contra a verdadeira ciência o que, num regime ditatorial significou a perseguição de todos os cientistas que se atreceram a manifestar a mínima discordância, como sucedeu com Vavilov que era um cientista reconhecido mundialmente e que foi afastado, enviado para um campo de concentração e logo depois eliminado. Ao mesmo tempo, Lysenko era eleito para a Academia das Ciências da URSS e para presidente da Academia Lenine das Ciências Agrárias, só tendo perdido o seu ascendente já em meados dos anos 60.
Nos nossos dias começa a falar-se apenas de géneros, ultrapassando-se tudo o que a ciência ensina acerca da genética e mesmo da biologia celular, sendo politicamente incorrecto falar de sexo masculino e de sexo feminino. Contudo, a evolução das espécies, em particular nos animais mamíferos como os seres humanos, orientou-se para a diferenciação de dois sexos, que transmitem a sua informação genética através das células reprodutoras masculinas e femininas. Os cientistas dizem que foi isso que levou à enorme variedade dos seres humanos, dos quais não há dois rigorosamente iguais e daí a enorme riqueza da humanidade. As diferenças entre os dois sexos não são apenas, ou mesmo essencialmente, exteriores existindo ao nível de todas as células do corpo humano, por exemplo nas mitocôndrias. É por isso que o aspecto exterior de qualquer um de nós pode ser artificialmente alterado de acordo com a nossa vontade, mas não a essência biológica profunda.
O respeito pelas opções individuais de cada um incluindo as sexuais, que deve ser defendido, não pode ser confundido com uma obrigatoriedade de aceitar acriticamente teorias sociais que mudam com os respectivos autores, susceptíveis das maiores manipulações. É por isso que, por exemplo, é insensato substituir sexo por género em documentos oficiais, abrindo a porta à substituição da realidade concreta e verificável por algo que não se conhece nem de que se sabe o fim.

O exemplo do Lysenkoismo deve estar presente quando alguém ultrapassa a evidência e o conhecimento científico, curiosamente de novo a Biologia e a Genética, para chegar a conclusões pré-definidas em função de objectivos sociais assentes em orientações políticas.

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