quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A REALIDADE VIRTUAL

O último número do Expresso traz uma interessante informação sobre o trabalho das "agências de comunicação".
Para quem não sabia, ficou claro que hoje em dia praticamente toda a gente usa os serviços de consultores de imagem para atingir os seus objectivos que tenham que passar por conquistar opiniões favoráveis de algum grupo social.
As empresas desde sempre que o fazem para convencer os consumidores da excelência dos seus produtos ou serviços.
Os políticos também o fazem há muito para convencer os seus potenciais eleitores.
No entanto não deixa de ser verdadeiramente espantoso que entidades estatais como a Entidade Reguladora da Comunicação Social ou o Supremo Tribunal de Justiça entendam justificado ou razoável gastar fundos públicos para promoverem a sua imagem.
Claro que situações destas passam-se há muito em países com sistemas democráticos estabilizados, em que a maioria das pessoas têm já perfeito conhecimento delas .
Há um aspecto relevante neste uso e abuso dos consultores de imagem e que é necessário que todos tenhamos consciência dele. É que muitas vezes, para além de maquilharem quem os contrata, tratam ainda de limitar os estragos das suas asneiras e, principalmente, criam na comunicação social uma realidade virtual que cria temas e discussões que levam toda a gente atrás, enquanto o que verdadeiramente interessa passa discretamente por baixo de toda essa espuma que rapidamente se desfaz, até aparecer nova matéria de distracção.
É ver como determinados assuntos são lançados e tratados com grande voluntarismo pela generalidade da comunidade bloguística e pela comunicação social, para logo de seguida serem praticamente esquecidos e substituídos por outra matéria igualmente discutida e analisada por todos.
São inúmeros os sinais de que em Portugal se pratica actualmente este tipo de manipulação da realidade, que urge denunciar.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O agradecimento alemão

Logo após o sucesso da obtenção de acordo para o “Tratado Reformador” da União Europeia, a chanceler alemã Angela Merkel resolveu brindar o nosso Primeiro-ministro e Presidente em exercício da União com um sonoro e expressivo “obrigado José”.
Como os alemães não costumam ser muito dados a reacções efusivas e não são propriamente conhecidos por brincarem a feijões nestas coisas da política da União, o entusiasmo com que aquele agradecimento foi feito despertou-me curiosidade sobre as suas razões.
Desde logo, a chanceler alemã ficou naturalmente satisfeita, porque as negociações difíceis sobre o Tratado que dirigiu durante a presidência alemã, foram levadas a bom porto pela presidência portuguesa.
Por outro lado, parece agora possível ultrapassar os problemas de gestão da União decorrentes dos sucessivos alargamentos e dos chumbos dos referendos à anterior Constituição em França e na Holanda em 2005, o que naturalmente será bom para toda a União e não para nenhum membro em particular.
Do texto da anterior “Constituição” foram deixados cair o hino, a bandeira e o ministro dos negócios estrangeiros da União, que continuará ser o “Alto Representante da União para os Assuntos Externos e Política de Segurança”. Também a livre concorrência deixou de ser um objectivo da União, para passar a ser apenas um instrumento. Como se vê, as diferenças são meramente de pormenor e até de designação, mas enfim, já não há formalmente Constituição Europeia, o que dá jeito para evitar referendos.
Manteve-se o reforço do Conselho de Ministros diminuindo os poderes da Comissão, o que evidentemente é muito bom para os países grandes, com a Alemanha à cabeça.
Foi ainda criado o cargo de Presidente fixo do Conselho Europeu, acabando a partir de 2009 as presidências rotativas de seis em seis meses, que simbolizavam a igualdade entre os países membros.
Foi adoptado o sistema de decisão por dupla maioria com aplicação a partir de 2014, pelo qual o Conselho de Ministros decidirá quando tiver uma maioria de 55% dos Estados, com 65% da população, facilitando a formação de maiorias entre os países grandes, deixando os pequenos com menos influência.
Com o novo sistema, a representação de Portugal, que pelo método anterior era de 3, 47%, passa a ser de 2,14%. Curiosamente, o peso da Alemanha passa dos actuais 8,4% para 16,7%.
Isto é, verifica-se facilmente que o novo Tratado beneficia os países maiores da União, em particular a Alemanha, pelo que se compreende agora bem o entusiasmo do agradecimento de Angela Merkel.
Já Portugal fica muito satisfeito porque o acordo final foi alcançado durante a presidência portuguesa, o que levará a que a sua assinatura seja feita em Lisboa, ficando naturalmente a ser conhecido por “Tratado de Lisboa”.
Enfim, nestas negociações difíceis cada um ficou com o que conseguiu e, curiosamente, todos os líderes europeus regressaram a casa a reclamar vitória.

Publicado no DC em 29 Outubro 2007

domingo, 28 de outubro de 2007

O PROBLEMA

Mais uma vez surgem os rankings das escolas. A confiança nestas classificações não pode ser muita, porque os jornais as fazem muito à pressa a partir dos dados não trabalhados do Ministério da Educação. São no entanto importantes, porque reflectem resultados concretos e não quaisquer outras considerações teóricas.
Há um resultado constante em todos os rankings publicados: os primeiros lugares são sempre ocupados por escolas do ensino privado, à semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores.
Sigificativamente, qual foi a reacção política mais notória a estes resultados? Precisamente a do Bloco de Esquerda que atirou sobre as escolas privadas, acusando-as de estarem a ser promovidas pela direita, ou mesmo pela extrema direita. Isto é, em vez de analisarem as razões dos maus resultados da maioria das escolas públicas, criticam o que é bom e deveria servir de exemplo.
Por mais descabida que seja, esta reacção deve no entanto ser tida em conta, porque provavelmente visa preparar o terreno para mais ataques ao ensino privado.
Nesta mesma altura, o Estado resolve acabar com as reprovações por faltas injustificadas. É mais um passo na direção do abismo, apenas para mascarar as etatísticas de resultados. Só apetece dizer: "shame on you".

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

TRATADO REFUNDADOR

Agora que passou a onda do acessório, era conveniente que a substância do Tratado fosse claramente explicada aos portugueses (incluindo, ou principalmente aqueles que têm dificuldade em passar da leitura da 2ª página). E já agora, se possível, que fosse demonstrada a nítida vantagem para Portugal da nova situação da União decorrente da assinatura do Tratado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sete cidades


Portugal, Açores, S. Miguel, 7 Cidades

ESCUTAS

Esta história das escutas telefónicas cheira cada vez pior.
Quando o Procurador Geral da República disse o que disse, sabia muito bem que uma eventual escuta ao seu telefone seria ilegal.
Depois disso veio uma senhora juíza informar que acontece frequentemente haver "lapsos" na identificação dos números que a polícia pede para escutar, o que leva a que os magistrados tenham que verificar os números nas operadoras, o que nunca nos passaria pela cabeça que fosse necessário.
Aprendemos que, embora não seja muito legal, haverá serviços de informações a fazer escutas. Se não é legal, quem controla?
Depois parece que há "espionagem industrial" que também usa escutas.
A cereja em cima do bolo é a garantia dada pelo Ministro da Justiça e pelo Director Nacional da Judiciária de que não há em Portugal escutas ilegais, garantia em que obviamente ninguém acredita.
Pelos vistos, e infelizmente, os Estados não passam hoje sem vasculhar a vida privada dos cidadãos, situação que obriga a que esta actividade seja muito bem definida e controlada.
O novo Código de Processo Penal dá aos arguidos a faculdade de conhecer as escutas que as autoridades policiais lhes fizeram, antes de serem destruídas por as autoridades as considerarem sem interesse para o processo.
Porque é que os simples cidadãos que são escutados "por arrasto" não têm também a possibilidade de conhecer o que a polícia ficou a saber deles e quem teve acesso a essa informação?
Será verdade que floresce entre nós uma industria de chantagem a coberto destes conhecimentos ilegítimos, como alguns afirmam?
Haja alguém que seja capaz de explicar todo este enredo aos simples cidadãos que nunca foram acusados, nem arguidos nem sequer suspeitos de nenhuma actividade ilegal. Ou será que hoje em dia todos os cidadãos são permanentemente suspeitos de algo ilegítimo? Ou será que o exercício da autoridade dá a alguns a vantagem de conhecer a vida privada dos outros?
A começar pelo Presidente da República espera-se que os principais responsáveis do País façam com que tudo isto seja muito bem explicadinho e nos demonstrem que os receios que são agora generalizados não têm razão de ser e que o Estado democrático existe também para nos proteger e não para servir de esconderijo a quem se serve ilegitimamente dele.

sábado, 20 de outubro de 2007

Comentários

Cheguei a uma altura em que me vejo na necessidade de estabelecer um critério de publicação de comentários.

Atendendo ao carácter do blogue será adoptado o seguinte procedimento:

Não serão publicados comentários que se refiram concretamente a pessoas, quer para elogiar, quer para depreciar.

De facto, uma mensagem publicada abaixo, mereceu de um visitante um comentário favorável, mas que continha apreciações (elogiosas) à pessoa do administrador deste blogue, razão por que o comentário não foi aceite. As minhas desculpas ao comentador em causa, mas compreenderá que não ficava bem ao administrador do blogue proceder à publicação, ficando agora clara esta regra.

TELEFONES

Da entrevista ao Sol do Procurador Geral da República:


O que pensa da possibilidade de os serviços de informações fazerem escutas?

Eu vou dizer uma coisa com toda a clareza, que talvez não devesse dizer: acho que as escutas em Portugal são feitas exageradamente. Eu próprio tenho muitas dúvidas que não tenha telefones sob escuta. Como é que vou lidar com isso? Não sei. Como vou controlar isto? Não sei. Penso que tenho um telemóvel sob escuta. Às vezes faz uns barulhos esquisitos.




Bom. Como o meu telemóvel de vez em quando também faz uns barulhos estranhos, só me resta concluir que alguém ouve as minhas conversas. Que lhe faça bom proveito.

COIMBRA NA REGIÃO CENTRO


Na sequência das saídas de Coimbra de serviços desconcentrados da Administração Central já anunciadas e das notícias avulsas sobre a saída de outras, temos assistido às mais diversas reacções por parte de alguns responsáveis políticos de Coimbra.

Umas vezes insurgem-se contra as notícias e os comentários, como se hoje fosse possível calar os cidadãos, sejam eles quem forem. Esquecem-se, ou eventualmente nunca ouviram falar, da velha história de que não se anula um facto matando o mensageiro que dele dá notícia.

Outras vezes aparecem a proclamar o seu amor desvelado a Coimbra, como se estas questões fizessem parte de um concurso para ver quem ama mais Coimbra. Fazem lembrar os maridos que depois de enganarem a mulher regressam a casa com um anel de brilhantes e palavras bonitas.

Não meus senhores. De facto, o que está em causa nestas discussões é algo muito mais importante para o futuro de Coimbra e de toda a região Centro. Como aqui escrevi há várias semanas, só não vê isto quem não que ver.

Trata-se de levar à prática uma tese que infelizmente vem sendo desenvolvida há alguns anos pelos planeadores regionais oficiais e que sustenta que o carácter policêntrico da região Centro é que lhe dá importância, ao contrário do que se defende para todas as outras regiões do país.

Deliberadamente esconde-se que Coimbra é a única cidade da região Centro que tem condições para ser uma cidade média europeia. Ao pretender-se nivelar todas as cidades da região como pretende o PNPOT em vigor, mais não se faz do que nivelar por baixo, esquecendo toda a importância de Coimbra na História de Portugal, a sua relevância cultural, o papel crucial da Universidade de Coimbra no âmbito do ensino superior, da investigação científica e da colaboração com o mundo económico que hoje tem, o empreendedorismo que cá existe ao mais alto nível tecnológico e económico, a sua altíssima capacidade de atracção turística, as condições únicas em termos de dimensão e qualidade de prestação de serviços de saúde a nível nacional, etc.

Em devido tempo a Câmara Municipal alertou para as opções do PNPOT, tendo-as criticado como lhe competia, o que no entanto não foi acolhido no documento final.

Como consequência das decisões políticas que vêm sido tomadas há vários anos, verifica-se hoje um estrangulamento deliberado de Coimbra como se pode ver, por exemplo, pelas ligações rodoviárias e respectivas portagens à volta de Coimbra.

Reafirmo que ao pretender-se anular a importância de Coimbra na região Centro, será toda a região que perderá, não faltando muitos anos para que seja absorvida pelas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, à boa maneira terceiro mundista e ao contrário do que se passa na Europa a que pertencemos. O próprio país ficará desequilibrado e perderá, no seu conjunto.

É absolutamente necessário e mesmo urgente que a sociedade civil de Coimbra acorde de vez para esta questão.

Publicado no DC em 22 Outubro 2007