domingo, 11 de dezembro de 2011

Perceber Sarkozy?

Leituras:

«Fui para dentro e jantei. Para França, foi uma refeição a valer, mas, depois de Espanha, parecia cuidadosamente racionada. Bebi uma garrafa de vinho, para acompanhar. Era Château-Margaux. Sabia bem beber devagar e saborear o vinho e bebê-lo a sós. Uma garrafa de vinho faz muita companhia. (...) Era confortável estar num país onde era tão fácil tornar felizes as pessoas. Nunca se sabe se um criado espanhol nos agradece. Em França, tudo assenta numa tão clara base financeira. É o mais simples dos países para viver. Ninguém complica as coisas pelo facto de se travar de amizade connosco por qualquer razão obscura. Se a gente quer que gostem de nós basta gastar um dinheirito.»


Ernest Hemingway, Fiesta


Editorial Verbo, 1972. Colecção Livros RTP, nº 92.


(Tradução de Jorge de Sena)

Ruptura/FER sai do Bloco - Renascença

Sai a esquerda da esquerda à esquerda. Confusos? Não vale a pena

Ruptura/FER sai do Bloco - Renascença

Uma criança em Paris - Opinião - DN

Uma criança em Paris - Opinião - DN

Seguro acusa Governo de conduzir país para a pobreza (vídeo)

Há os apaixonados pela austeridade e há os apaixonados pela dívida e que, ainda por cima, não têm qualquer intenção de pagar.

Seguro acusa Governo de conduzir país para a pobreza (vídeo): Secretário-geral do PS considera que o Executivo de Passos Coelho "é apaixonado pela austeridade" e não manifesta vontade para liderar um processo de mudança conjunta.

Mais um ditador "out"

Noriega chega ao Panamá para cumprir mais 20 anos de prisão: O ex-ditador militar do Panamá Manuel Noriega foi este domingo extraditado de Paris para o país natal, onde o aguarda uma pena de prisão de 20 anos, pela morte e desaparecimento de opositores ao seu regime, após já duas décadas de encarceramento cumpridas nos Estados Unidos e em França.

Para continuação de conversa (II)

Para continuação de conversa (II):

Vasco Pulido Valente, hoje no Público, contra o utilitarismo dos escravos.



(texto copiado do Estado Sentido)



O veto da Inglaterra na última cimeira foi invariavelmente explicado pelo interesse (ou interesses) nacionais que ela queria proteger, e antes de mais nada a primazia da City como praça financeira. Este preconceito tem tradições. Já Napoleão dizia que a Inglaterra era um país de merceeiros. Não ocorreu a ninguém que as razões fossem outras. Mas basta conhecer o sítio e um pouco da velha história dela para se perceber que a Inglaterra nunca engoliria o plano de Merkel, porque ele na essência limita os poderes do Parlamento, que são a origem e o fundamento da legitimidade e do Estado. Um Parlamento que aceitasse a tutoria orçamental da burocracia de Bruxelas, que ninguém elegeu e não precisa de responder perante ninguém, deixava de ser o Parlamento e a Inglaterra deixava de ser a Inglaterra.

Claro que a sra. Merkel não é Hitler ou o imperador Guilherme II e não quer hoje, como ontem, dominar a Europa. Mas basta comparar o mapa da Alemanha nazi em 1943 com o mapa da UE para se descobrir um ponto interessante: tirando menos de meia dúzia de excepções, os dois quase coincidem. Se em vez de um mapa militar, esse mapa fosse político, descreveria com exactidão a força da democracia na "Europa". No Sul e Sudeste, por exemplo, a democracia ainda não chegou aos cem anos e continua a não se distinguir pelos seus costumes. No centro, é o resultado recente do colapso do império soviético. Só no Norte e em franjas do Noroeste, ela faz parte de uma velha cultura nacional. Não admira que a prepotência de Sarkozy e Merkel não perturbe por aí além os 27. Estão habituados.

Quanto a Portugal, com uma interminável ditadura, um ensaio de revolução "leninista" e uma Constituição absurda, que, apesar de revista, vai persistentemente conservando restos do marxismo vulgar e as fantasias da esquerda de 1970, não promete muito. Nem a vida política, como se formou e desenvolveu a partir de 1980, com a sua pública tolerância da corrupção e da intriga, ajudou a que se formasse uma consciência cívica. Os sobressaltos que de quando em quando imaginários perigos para a nossa imaginária soberania provocam no coração sensível de alguns patriotas não passam, no fundo, de uma retórica obsoleta e relutante. Por isso, Passos Coelho não sofreu com certeza uma dor lancinante com a assinatura do acordo intergovernamental de anteontem. A democracia não lhe pesa, nem nos pesa a nós.

E mesmo depois desta cretinice de quem "desgovernou" isto durante seis anos, ainda há quem o defenda.

Possível fim do euro já é discutido pelos economistas - Economia - DN

Possível fim do euro já é discutido pelos economistas - Economia - DN

Calha bem; como se os economistas resolvessem alguma coisa.

"Os jovens estão a encontrar formas de mudar sociedades" - Globo - DN

"Os jovens estão a encontrar formas de mudar sociedades" - Globo - DN

E não se livram destes cromos?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ALERTA VERMELHO

É certo que, quando a ganância se alia à hipocrisia e os responsáveis pelo bem-estar e segurança de todos assobiam para o lado, só se podem esperar maus resultados. A luta contra a droga e os seus efeitos devastadores, em particular entre os jovens, tem tido momentos de maior ou menor sucesso, mas tem sido uma constante assumida pela sociedade. Até agora.
Nos últimos tempos, têm aberto legalmente ao público dezenas de lojas por todo o país, incluindo Coimbra, que se dedicam a um estranho comércio.
Essas lojas, conhecidas por “smart shops”, com uma decoração a preto e vermelho e cheias de palavras inglesas que remetem claramente para viagens, alucinações, pedradas, etc. vendem, supostamente, produtos que classificam como fertilizantes para plantas. Esses produtos, com diversas dosagens, são caros. Cada embalagem ou dose custa entre 12 e 40 euros. No exterior contêm avisos do tipo “não para consumo humano”, “fertilizante para plantas” e “não somos responsáveis por uso indevido”.
Na verdade, ninguém sabe bem a composição daquele pó ou do que está dentro das drageias. Mas o produto base, isso sabe-se bem o que é e não tem nada a ver com plantas. É conhecido internacionalmente por “miau miau” e o seu verdadeiro nome é mefedrona. É uma droga sintética, com efeitos alucinogénicos que muitos comparam à cocaína para pior, embora ainda não esteja devidamente estudada e só se lhe conheçam alguns dos trágicos efeitos em casos concretos por todo o mundo. Uma coisa se sabe no entanto: não há conhecimento de que alguma vez tenha sido usada como fertilizante para plantas, seja onde for.
Já está proibida em muitos países, mas ainda não em Portugal onde pode ser vendida, embora não para consumo humano, razão por que se continua a ver “lojas espertas” com portas abertas por todo o lado. Ainda não foi incluída na lista de drogas do INFARMED, pelo que a venda é livre. Entretanto, os vendedores vão desde já adiantando que, depois de ser proibida, bastará alterar ligeiramente a composição química para que possa continuar a ser vendida.
Isto é, o negócio e os lucros com um comércio infame e nojento que essencialmente destrói a juventude e as famílias continuam impunes e a alastrar com o maior dos à-vontades e a complacência, para não dizer mais, das autoridades. A ASAE, que tão competente tem sido nos últimos anos e ainda bem, a combater falcatruas no comércio ainda não deu por isto, ou anda distraída. Na verdade, ninguém sabe exactamente o que está dentro daquelas saquetas e elas estão à venda. Todos sabemos que se alguém abrir uma loja com pistolas e lhes chamar “pedaços de aço” para decoração e escrever que não se destinam a matar e que não é responsável por uso indevido, a loja será imediatamente encerrada. Isto é, neste caso a hipocrisia campeia à vista de toda a gente.
Se muitos dos compradores sabem exactamente ao que vão, muitos jovens compram e começam a usar mefedrona, porque sendo livremente comprada em lojas de porta aberta acreditam que não faz mal e que não se trata de verdadeira droga, já que essa é ilegal e só se compra aos “dealers” às escondidas.
Urge acabar rapidamente com esta situação. Acredito que a maior parte das pessoas e mesmo muitos pais não fazem ideia de que estas coisas se passam ao nosso lado. Por isso mesmo, todos os alertas são importantes, para que o Estado acorde e exerça o seu dever de protecção dos cidadãos.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Dezembro de 2011