sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

E a chuva que não vem

Que chova depressa. Todos os dias desço a Av Sá da Bandeira a pé e os sapatos colam-se ao chão, tal é a camada de porcaria da cerveja derramada na zona dos bares.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Nikon F2. Velhinha, mas mais bonita não há.


UM HOMEM INVULGAR E UM POLITICO EXEMPLAR

Quando nasceu em 18 de Julho de 1918 em Mviza, no remoto Transkei na África do Sul, o seu pai deu-lhe o nome Rolihlahla o qual, traduzido para português, significa “provocador de sarilhos”. Foi um professor que mais tarde passou a chamar-lhe Nelson.
Nelson Mandela faleceu na semana passada, mas tinha-se tornado há muito um mito, com tudo o que isso significa de bom e de menos bom.
Se o racismo é já, em si, uma das maiores vergonhas da humanidade, o regime de “apartheid” instituído na África do Sul desde os inícios do século XX que consistia num sistema de classes que limitava os direitos dos negros sul-africanos face à minoria branca Afrikaner descendente dos antigos colonos ingleses e holandeses, era absolutamente insuportável sob todos os pontos de vista.
A adesão ao ANC que lutava contra o apartheid de diversas formas, inclusivamente violentas, levou Nelson Mandela à prisão e lá esteve 27 anos por esse motivo. Durante quase 20 anos, esteve preso na prisão de Robben Island, onde as duras condições a que foi sujeito afectaram a sua visão de forma permanente.
Foi no sacrifício da prisão que foi desenvolvendo uma nova atitude para com os opressores. Como ele dizia, teve primeiro que se “vencer a si próprio” e perceber que se queria a paz e a democracia para o seu país, o racismo e a intolerância seriam os grandes empecilhos para tal, inclusivé pelo lado dos negros sul-africanos. Foi ainda na prisão que percebeu a força do perdão.
Para grande escândalo inicial do ANC, Mandela iniciou a certa altura negociações com os responsáveis do Governo branco, levando à prática todo o novo quadro mental entretanto por si desenvolvido.
A sua libertação deu-se em 11 de Fevereiro de 1990, na sequência de uma campanha internacional, mas só aceitou sair da cadeia depois de garantir que todos os seus camaradas saiam também. As negociações com o então Presidente F.W de Klerk já iniciadas anteriormente, levaram ao fim do apartheid apenas quatro anos depois, sendo Mandela eleito Presidente numa eleição geral multi-racial. Quando tantos previam que uma guerra sangrenta se seguiria ao fim do regime do apartheid, nada disso sucedeu, o que se deve em grande parte aos esforços de pacificação e de instalação de clima de tolerância por Nelson Mandela.
Como exemplo, fica a imagem poderosa mas simultaneamente simples de Mandela envergando a camisola da equipa sul-africana de Rugby, levando a assistência quase toda branca a levantar-se e gritar entusiasticamente o seu nome: ele tinha a consciência clara de que libertar os brancos dos seus medos seria ainda mais importante para obter a paz do que libertar os negros da escravidão. A criação de uma África do Sul democrática e não racial ficará certamente como o grande sucesso da sua vida.
No fim do seu primeiro mandato presidencial em 1999, declinou ser de novo candidato, ele que seria presidente toda a vida se assim o quisesse. De novo deu uma lição de humildade democrática e, acima de tudo, de cidadania, mostrando que o processo de democratização da África do Sul era maior do que qualquer pessoa, ele próprio incluído.
Mandela não era um santo, sabia disso e assumia-o. Dizia que os homens vão e vêm, mas acreditava na justiça durante a vida. Era tolerante com tudo, excepto com a intolerância.
Mais que glorificar o Homem que parte, aprendamos todos com o seu exemplo.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 9 de Dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Cirurgia Cardio-torácica

Fui operado neste serviço. Lá vi as máquinas a que estava ligado a ficarem com os traços horizontais e a apitar e aqui estou para contar. Excepcional de uma ponta à outra: excelência exemplar em qualquer parte do mundo e em qualquer tipo de serviço de medicina, privado ou público. Obrigado, Dr. João Bernardo e restante pessoal médico e de enfermagem.


Ora bem

Numa tasca alentejana.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

UM MUNDO CADA VEZ MAIS COMPLEXO

Começa a fazer o seu caminho a ideia de que um “capitalismo sem limites” assentou arraiais no mundo e que é o único responsável pela desigualdade e exclusão social que todos vemos aumentar à nossa volta. O próprio Papa Francisco fala nisso, para grande satisfação dos que há anos culpam o chamado neo-liberalismo por todos os nossos males, incluindo saudosistas do “socialismo real dos amanhãs que cantam”, ingénuos bem pensantes sempre solidários com os sofredores desde que higienicamente bem afastados ou mesmo todos os outros cientistas sociais com soluções milagrosas para todos os males da sociedade. Claro que muitas pessoas há, que solidária e genuinamente se preocupam e sofrem com as dores físicas e íntimas dos semelhantes, sem tentarem usá-las para atingirem os seus próprios fins.
O que vemos à nossa volta quer nas proximidades, quer no resto do mundo, é no entanto demasiado complexo, sério e novo para ser explicado pelos velhinhos manuais simplistas dos ricos a viverem à custa dos pobres.
A economia mundial mudou muito nos últimos anos e ainda vai mudar muito mais, assim como a forma como se faz política, e também cá em Portugal. A globalização e opções políticas erradas patrocinadas pela então Comunidade Europeia levaram à desindustrialização do país, com a miragem dos serviços a substituir com menos esforço os trabalhos duros da agricultura, da pesca e da fábricas.
Entretanto, o mundo foi mudando com grande rapidez. As tecnologias informáticas associadas à desmaterialização do dinheiro permitiram aos detentores e gestores de grandes quantidades de dinheiro como os fundos soberanos e de pensões investir naquela parte do mundo e no momento em que a rentabilidade é a maior. Os investimentos financeiros passaram a ser mais atractivos do que os investimentos na chamada economia real, porque com maires lucros, obtidos mais rapidamente e sem o trabalho de criar empresas para criar e vender produtos transacionáveis.
A finança acabou por entrar também na área dos investimentos públicos. Fazer estradas, hospitais e escolas deixou de ser uma actividade económica para passar um negócio essencialmente financeiro através das parcerias público-privadas, com custos muito maiores para os contribuintes que deixaram aliás, de ter capacidade de perceber o que se passa nessa nova esfera e portanto de reagir em conformidade. Os bancos passaram de financiadores da economia a intermediários de capitais e mesmo financiadores da dívida pública.
A “financeirização” da economia trouxe ainda consigo outras alterações na socidade e na política, que estão longe de ser bem percebidas e compreendidas pela população em geral, mas que vão ter consequências sérias a curto ou médio prazo. Sempre se assistiu à existência e trabalho de lobbies das diferentes actividades económicas junto dos governos. O que se passa hoje é, no entanto, muito diferente. O poder político foi tomado por dentro pelas diversas actividades económico/financeiras. As próprias leis são feitas, não por serviços públicos, mas por sociedades de advogados contratadas para tal. A promiscuidade da passagem directa de pessoas entre cargos governamentais e gestão de empresas é apenas a face mais visível da tomada da política pela economia. E não é por qualquer economia, é mesmo a finança, até porque residem aí as únicas pessoas que entendem bem as técnicas sofisticadas de gestão dos “produtos financeiros”: como exemplo, basta ver o que se tem passado com os “SWAPS”.
Quem não tem nem quer ter nada a ver com este estado de coisas, afasta-se. É por isso que a política atrai cada vez menos aqueles se preocupam verdadeiramente com a coisa pública, com o servir os seus concidadãos: esquerda e direita alternarão cada vez mais como fantoches ao serviço de quem efectivamente manda, quando não juntas como agora na Alemanha, mostrando à luz do dia que na realidade não são hoje alternativa uma à outra. Até quando? Não sei. Mas tenho medo do que se seguirá.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 2 de Dezembro de 2013

domingo, 1 de dezembro de 2013

Calafetar a Alemanha

"Para evitar a repetição da I Guerra e das cenas de 1940, Mitterrand resolveu exigir o euro, que teoricamente evitaria uma nova hegemonia de Berlim. Mal preparado e mal pensado, o euro levou em pouco tempo ao resultado contrário: ao empobrecimento dos países mais fracos, da própria França ao nosso pindérico Portugal, e estabeleceu a Alemanha como a única potência económica e financeira da região – o que não deixa de a consolar e satisfazer e a conduziu a um isolamento pacato e certamente feliz, que não quer ver perturbado pelas raças inferiores do Sul e os seus sarilhos. O acordo entre os socialistas do SPD e as tropas de Merkel revela bem o estado da Alemanha em 2013. O SPD conseguiu alguns limitados gestos a benefício da populaça mais pobre. Merkel conseguiu que não se mexesse no resto, nomeadamente na política europeia: nada de dívidas soberanas, nada de défices para esconder a miséria de cada um e, principalmente, nada de eurobonds para obrigar o contribuinte alemão a pagar a irresponsabilidade e a incúria de estranhos. O contribuinte alemão usará as suas poupanças para viver bem, embora modestamente, e para se passear no Verão por climas quentes, como de resto inteiramente merece. Do que Merkel mais gosta na Alemanha são janelas bem calafetadas. Chegou agora a altura de calafetar a Alemanha. Por aqui, nem a esquerda, nem a direita falaram disso. Continuam ainda em 1988."

Vasco Pulido Valente, Público