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domingo, 24 de setembro de 2017
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
Um ministro perdido no seu labirinto
E, ao fim de dois meses e meio, o ministro da Defesa resolveu falar...para dizer que não sabe nada sobre o assalto de armas em Tancos. Chegou ao ponto de afirmar, e não dá gosto nenhum transcrever um ministro de Portugal neste desnorte, que “no limite, pode não ter havido furto nenhum. Como não temos prova visual nem testemunhal, nem confissão, por absurdo podemos admitir que o material já não existisse”.
Recordando o que nos chegou pelas notícias que foram
sendo dadas, em 29 de Junho soubemos que tinha havido um assalto a um paiol de
armamento na Base de Tancos. Nesse mesmo dia o porta-voz do Exército Tenente
Coronel Vicente Pereira explicou como se tinham apercebido da situação, tendo a
primeira indicação no sentido do roubo sido dada pela existência de um buraco
na vedação detectado pela patrulha. Em 1 de Julho o chefe do Estado-Maior do
Exército anunciou a demissão de cinco comandantes de alguma forma ligados ao
furto de material de guerra em Tancos, “para evitar interferências nas
investigações”.
O assalto tinha tanta gravidade que, no dia 4 de Julho,
o próprio Presidente da República foi a Tancos, levando consigo o ministro da
Defesa Nacional que até aí ainda não tinha sentido necessidade de aí se
deslocar, para se inteirar no próprio local das circunstâncias da ocorrência.
Após a vistoria às instalações que todos os portugueses tiveram oportunidade de
acompanhar em directo pela televisão, pelo menos na parte não reservada, o Presidente
da República reuniu com o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, com
o Chefe do Estado Maior do Exército, com o ministro da Defesa Nacional e com o
seu secretário de Estado. O roubo de Tancos tinha provocado a realização de uma
reunião ao mais alto nível da defesa nacional, já que o próprio Presidente da
República é, por inerência constitucional, o Comandante Supremo das Forças
Armadas. Maior relevância não podia ter, e todo o país assim o entendeu.
Entretanto, nesse dia, os jornais davam já informação
do material roubado, que incluía, não sendo a lista completa, mais de 50 quilos
de explosivos, 22 bobines de fio de metal para bombas, 44 lança-rockets
anticarro, mais de 100 granadas de mão ofensivas e 1.450 munições de calibre 9
mm.
Tudo isto se passava enquanto o primeiro-Ministro
estava em férias no estrangeiro, que não interrompeu, sendo com toda a
normalidade substituído pelo Ministro Santos Silva que sublinhava publicamente
a importância da intervenção do Presidente da República.
Os partidos apoiantes do Governo iam assobiando para o
lado ou mesmo corrigindo o tiro, com o BE e o PCP a exigirem investigação antes de
consequências políticas e com Jerónimo de Sousa a garantir que “o que falhou
em Pedrógão e em Tancos foi política de Direita e não o Estado”, pasme-se.
No Exército as repercussões das atitudes da chefia
provocaram graves convulsões, de que a ponta do iceberg foi a demissão de dois
oficiais generais, de entre os quais o tenente-general Antunes Calçada que aqui
em Coimbra conhecemos bem por ter comandado brilhantemente a Brigada de
Intervenção aqui sedeada.
O regresso do primeiro-Ministro às suas funções
coincidiu com um profissional e bem visível desmontar da importância do
problema, para o que foram convocadas as chefias militares que obedientemente
se prestaram ao serviço. Foi assim que o CEMGFA logo a 11 de Julho reconheceu
que o assalto de Tancos “representou um soco no estômago”, mas adiantando logo
que o valor do material roubado seria apenas de 34 mil euros e que algum dele
até estaria para abate. Cinco dias depois, o Chefe do Estado-Maior do Exército
reintegrou os cinco comandantes que tinha exonerado “temporariamente”, embora o
ministro da Defesa ainda fosse dizendo que essa reintegração não significava
que não pudessem vir a ser responsabilizados nas investigações em curso.
Visivelmente, a “coisa” estava a compor-se e os estragos
políticos a diminuírem a cada dia que passava. O CEMGFA recuperava a
auto-confiança e já afirmava que "depois de um soco no estômago, os chefes
militares levantaram a cabeça”.
De descida em descida da importância do assunto,
chegou-se agora ao grau zero de desresponsabilização dos intervenientes, com
uma entrevista do ministro da Defesa, em jornal e em rádio. O ministro,
claramente perdido num labirinto demasiado complexo para ele, fala agora em
“material que se diz roubado” e mesmo em “hipotéticos ladrões”. Aplicando uma
técnica de dúvida metódica ao roubo de Tancos, o ministro coloca tudo em causa,
apetecendo mesmo perguntar se ele será efectivamente ministro da Defesa, ou
apenas assinou uma tomada de posse de exercício de uma pantomima ligada à
tropa, conclusão aliás fácil de tomar quando se vê a sua pose ao passar revista
a militares.
Das duas, uma: ou tudo o que se passou a seguir a 29
de Junho foi teatro e aí alguém vai ter que responder ao representante máximo do
povo português que é o Presidente da República pela vergonha de tudo o que o
fez passar e dizer sem motivo, ou então o Governo e o ministro da Defesa em
particular, não têm capacidade para apresentar relatórios sobre um simples
assalto em quase três meses.
Cada uma das situações é pior do que a outra,
denunciando ambas falta de respeito pela dignidade das Forças Armadas e do que significam
para o país, ainda por cima arrastando nessa atitude os chefes máximos
militares.
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
O caso do aeroporto internacional de Coimbra
Estas eleições
autárquicas ficam desde já marcadas pela promessa de transformar o Aeródromo Municipal
Bissaya Barreto em aeroporto internacional. Tendo em consideração as
responsabilidades de quem a fez, o actual Presidente da Câmara que se
recandidata, trata-se, obviamente, de uma questão a merecer análise, sob
diversos pontos de vista.
Que faz sentido
haver um equipamento deste tipo na Região Centro, não parece haver grandes dúvidas,
pela distância aos aeroportos internacionais existentes e pela população
presente na zona, para além do seu elevado interesse turístico.
A distância entre
Lisboa e Porto, cidades onde se situam os dois aeroportos internacionais mais
próximos é de 300 quilómetros. Em Lisboa, o aeroporto Humberto Delgado situa-se
a Norte da cidade, embora praticamente no seu interior, o que significa que,
quem vai do Centro, não tem que atravessar a cidade para o alcançar, muito
menos passar o rio Tejo. Contudo, mais cedo ou mais tarde haverá um segundo
aeroporto em Lisboa que, se fosse na Ota como previsto durante alguns anos, o
aproximaria algumas dezenas de quilómetros da região Centro. Já a localização
actualmente prevista, na margem Sul do Tejo, afastará irremediavelmente essa
infra-estrutura de quem vive no centro do país. O aeroporto Sá Carneiro está
localizado cerca de 20 quilómetros a Norte do Porto.
A sua acessibilidade é, no
entanto, muito fácil indo de Coimbra, sendo a deslocação de cerca de 120
quilómetros rápida e económica usando o comboio até Campanhã e o metro até ao
interior do aeroporto.O aeroporto Sá Carneiro apresenta uma proximidade, relativamente a Coimbra, que não foge muito a aeroportos que servem muitas cidades pela Europa, ao contrário do aeroporto Humberto Delgado que está, à luz desse critério, algo afastado, o que só piorará caso seja deslocalizado para a margem esquerda do Tejo. Se considerarmos a distância entre os dois aeroportos referidos, uma alternativa intermédia, a ser necessária, deveria situar-se no triângulo Figueira da Foz, Coimbra. Leiria, o que sugere a hipótese da utilização civil da Base Aérea de Monte Real como a mais viável, pela localização e baixos custos da alteração para utilização comum, à semelhança do que sucede na Base das Lages, na Ilha açoriana da Terceira.
A procura de um
aeroporto internacional tem a ver com a população residente na sua área de
influência e, embora hoje menos devido às companhias low-cost, com o rendimento
gerado na mesma área. A Área Metropolitana do Porto tem mais de um milhão e setecentos
mil habitantes, enquanto a de Lisboa tem mais de dois milhões e oitocentos mil
habitantes, que comparam com a população da região Centro, de dois milhões e duzentos
e cinquenta mil habitantes.
O Aeródromo Municipal
Bissaya Barreto foi construído no cimo de um monte, apresentando, pois,
semelhanças com um porta-aviões terrestre, com o vazio nas duas extremidades da
sua pista que, na sua parte pavimentada, tem uma extensão de 920 metros que
poderá ser aumentada para cerca de 1.200 metros utilizando toda a extensão até
aos limites das duas extremidades.
Colocando de parte a hipótese do
prolongamento da pista através da construção de laje sobre estacaria como foi
feito no Funchal pela óbvia inviabilidade financeira, aquela será a extensão
máxima da pista, não permitindo qualquer falha nas operações de aterragem ou de
levantar voo. Fica assim impossibilitada a sua utilização por aviões comerciais
médios, designadamente os utilizados pelas companhias low-cost, que necessitam
de uma extensão dupla daquela. Acresce que um aeroporto internacional não se
resume às pistas, sendo necessária a instalação de táxi-ways, edifícios e
equipamentos para os quais o aeródromo Bissaya Barreto manifestamente não
possui área suficiente. Observar um avião C-295 da FA a aterrar neste aeródromo
e daí concluir da possibilidade da sua utilização por aviões comerciais de
médio porte não parece fazer sentido, porque aquele avião militar necessita
apenas de 700 metros para aterrar.
De facto, é
reconhecido que o Aeródromo Municipal Bissaya Barreto necessita de ser dotado
com novas estruturas e equipamentos que lhe permitam uma utilização mais
frequente e diferenciada e essas obras são mesmo pedidas há bastantes anos,
nomeadamente pelo Aero-Clube de Coimbra. Contudo, isso é muito diferente de
pretender transformá-lo em aeroporto comercial internacional, para o que não
dispõe de condições físicas, mais parecendo essa ideia com pretender “meter o
Rossio na Betesga”. E afirmar isto não é menorizar Coimbra e muito menos
pertencer a um clube dos que não querem o melhor para Coimbra. É precisamente
por se querer mais e o melhor para Coimbra que não se podem iniciar mais
processos de saída complicada ou mesmo sem ela e que se vêm a prolongar no
tempo sem solução e com custos desnecessários: Coimbra já tem demasiadas destas
situações e passa bem sem mais uma.
Se governar é a
arte do possível, a política é a arte de sonhar? Sim, desde que o sonho não se
venha a tornar numa frustração permanente ou mesmo em pesadelo, como no caso do
aeroporto de Beja onde se enterraram 30 milhões de euros para nada.
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
Neo Lysenkoismo
A destruição da
produção agrícola que se seguiu à revolução russa de há cem anos levou a que os
novos dirigentes soviéticos tentassem encontrar soluções que rapidamente
resolvessem os problemas da fome que surgiam num país que, até então, tinha
sido um produtor gigantesco de cereais.
Num regime com uma
ideologia que, supostamente, iria resolver todos os problemas que a humanidade
tinha sentido ao longo da sua História, em particular após a primeira revolução
industrial, acreditou-se que os princípios fundamentais do marxismo se
aplicariam também aos métodos científicos da agricultura e a toda a biologia.
Foi assim que um
técnico agrário conseguiu influenciar e mesmo dominar toda a ciência, em
particular a Biologia, na União Soviética durante a primeira metade do século
XX com consequências desastrosas sobre a ciência, mas sobretudo pela fome e
desgraça que levou a milhões de pessoas nos campos do país.
Trofim Denisovicht
Lysenko desenvolveu as suas doutrinas pseudo-científicas contra toda a
investigação científica de muitos anos, tendo-se conseguido impor através da
intrusão da política e da ideologia na área que deveria estar reservada aos
cientistas no seu trabalho livre e independente. Prometendo ao poder soviético grandes
colheitas de cereais na sequência das fomes dos anos 30, Lysenko distorceu todo
o conhecimento científico que já existia na altura em nome dos princípios da
teoria marxista e de um discurso politicamente correcto. Negou toda a genética
mendeliana e a teoria da evolução de Darwin, descartando o papel dos
cromossomas e dos genes como estando na base da hereditariedade,
contrapondo-lhe o disparate científico dos “caracteres adquiridos” já que,
segundo ele, o espírito da teoria marxista exigia uma teoria de formação das
espécies por saltos e não pelo gradualismo da evolução de Darwin. Quem não
concordasse era reacionário, com as consequências inerentes.
Para Lysenko, todos
os organismos tinham a capacidade, em função do meio ambiente, de se poderem
modificar, com a vantagem de transmitir essas mudanças à sua descendência. Esta
afirmação era música para os ouvidos dos comunistas, na altura liderados por
Stalin, apostados na construção de um “homem novo” e para quem o homem seria
largamente o produto da sua própria vontade. Para os soviéticos a ciência devia
servir a ideologia política, pelo que Lysenko encontrou o terreno ideal para
dar largas à difusão das suas teses, colocando toda a comunidade científica a
seus pés. O que era mentira passou, através do poder político, a ser a verdade
obrigatoriamente aceite.
O Comité Central do
Partido Comunista ofereceu-lhe todos os meios para se afirmar contra a
verdadeira ciência o que, num regime ditatorial significou a perseguição de
todos os cientistas que se atreceram a manifestar a mínima discordância, como
sucedeu com Vavilov que era um cientista reconhecido mundialmente e que foi
afastado, enviado para um campo de concentração e logo depois eliminado. Ao
mesmo tempo, Lysenko era eleito para a Academia das Ciências da URSS e para
presidente da Academia Lenine das Ciências Agrárias, só tendo perdido o seu
ascendente já em meados dos anos 60.
Nos nossos dias
começa a falar-se apenas de géneros, ultrapassando-se tudo o que a ciência
ensina acerca da genética e mesmo da biologia celular, sendo politicamente
incorrecto falar de sexo masculino e de sexo feminino. Contudo, a evolução das
espécies, em particular nos animais mamíferos como os seres humanos,
orientou-se para a diferenciação de dois sexos, que transmitem a sua informação
genética através das células reprodutoras masculinas e femininas. Os cientistas
dizem que foi isso que levou à enorme variedade dos seres humanos, dos quais
não há dois rigorosamente iguais e daí a enorme riqueza da humanidade. As
diferenças entre os dois sexos não são apenas, ou mesmo essencialmente,
exteriores existindo ao nível de todas as células do corpo humano, por exemplo
nas mitocôndrias. É por isso que o aspecto exterior de qualquer um de nós pode
ser artificialmente alterado de acordo com a nossa vontade, mas não a essência biológica
profunda.
O respeito pelas
opções individuais de cada um incluindo as sexuais, que deve ser defendido, não
pode ser confundido com uma obrigatoriedade de aceitar acriticamente teorias
sociais que mudam com os respectivos autores, susceptíveis das maiores manipulações.
É por isso que, por exemplo, é insensato substituir sexo por género em
documentos oficiais, abrindo a porta à substituição da realidade concreta e
verificável por algo que não se conhece nem de que se sabe o fim.
O exemplo do
Lysenkoismo deve estar presente quando alguém ultrapassa a evidência e o
conhecimento científico, curiosamente de novo a Biologia e a Genética, para
chegar a conclusões pré-definidas em função de objectivos sociais assentes em
orientações políticas.
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
O nazismo, derrotado há 72 anos
No dia 2 de Setembro de 1945, faz
no próximo sábado 72 anos, foi assinada a rendição japonesa que ditou o fim da
Segunda Guerra Mundial em que perderam a vida mais de 33 milhões de pessoas. O
Japão imperial foi a última das potências do Eixo a assumir a derrota militar,
depois da Itália fascista e da Alemanha nazi.
A guerra tinha começado
oficialmente seis anos antes, no dia 3 de Setembro de 1939, quando a
Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, dois dias após esta ter
invadido a Polónia que, a partir de 17 do mesmo mês, começou a ser igualmente
ocupada a Leste pelo exército soviético, assim se dando cumprimento ao Pacto
Nazi-Soviético assinado em 23 de Agosto desse mesmo ano.
Pode-se considerar que a Segunda
Grande Guerra foi apenas o verdadeiro epílogo da Primeira, com um intervalo 23
anos de paz pelo meio. Mas o que lhe deu origem imediata foi a ascensão ao
poder de Hitler e dos seus sequazes do partido Nacional-Socialista. Todas as
justificações dadas pelos nazis, desde a cláusula da “Culpa de Guerra” do
Tratado de Versalhes às reparações financeiras impostas à Alemanha pelo mesmo
Tratado até à definição do “espaço vital” e à superioridade da “raça ariana” e
inferioridade de todas as outras “raças”, não foram mais do que desculpas para
obter o poder absoluto e total que permitisse o seu domínio do mundo.
Em 1923 Hitler era ainda apenas um
político excitado que insultava judeus, marxistas e todos os que considerava
serem responsáveis pela derrota alemã de 1918. O seu partido não tinha qualquer
deputado no parlamento alemão, o “Reichstag”. Com apoio financeiro por parte de
grandes industriais, começou a fazer crescer o número de apoiantes. Em 9 de
Novembro desse ano, depois de um encontro célebre numa cervejaria em Munique,
proclamou um novo governo, mas foi preso e, em Abril de 1924, condenado a 5
anos de cadeia. Acabou por ser libertado em Dezembro do mesmo ano, tendo
aproveitado o tempo de cadeia para escrever o livro “A minha luta” – Mein Kampf.
Aí apresentou as suas ideias e desenvolveu a estratégia para conseguir os seus
objectivos: Os arianos eram a raça pura, enquanto os judeus representavam tudo
o que os homens podiam ter de pior, sendo causadores permanentes da adulteração
do sangue. O ódio puro com base na “raça” era elevado a orientação política.
Com base no populismo e aproveitamento da crise económica com elevadíssima
inflação e grande desemprego, os nazis aumentaram de número, ficando-se no
entanto pela eleição de 12 deputados nas eleições de Maio de 1928. Enquanto passou
a haver milícias nazis nas ruas com perseguições generalizadas a criar medo
colectivo, nas eleições de 1930 esse número aumentou para 107, correspondendo a
18% dos votos.
Nas eleições seguintes em Julho de 1932, o partido nazi alcançou
a sua maior votação democrática - 37,1% sem ter no entanto, a maioria absoluta.
Perante a incapacidade de formar governo e as diatribes de Hitler, houve novas
eleições em Novembro do mesmo ano e o Partido Nazi desceu para 33,1%. Desta vez
o velho Marechal Hindenburg viu-se obrigado a chamar Hitler para Chanceler em
30 de Janeiro e aí começou a tragédia alemã do século XX, ao ser levado para o
poder o terror que já grassava nas ruas às mãos dos “camisas castanhas “nazis.
O incêndio do Reichstag em 27 de Fevereiro de 1933 e as posteriores “eleições”
de Março desencadearam a tomada do poder total pelos nazis, tendo imediatamente
começado o envio para o primeiro campo de concentração (Dachau) de todos os
considerados inimigos, a começar por judeus e políticos comunistas,
sociais-democratas e sindicalistas, cujo número atingia os 100.000 já no final
desse ano.
A barbárie que foi o regime nazi
na Alemanha dos anos 30 e 40 estendeu-se à cultura com proibição e queima
pública de livros, mas também perseguição a todos os artistas criadores do que
considerava “arte degenerada”. Não foi menor a consequência, que durou muitos
anos, da apropriação pelos nazis da criação artística alemã do século XIX tida
como simbólica daquilo que consideravam representativo da cultura ariana, como
a música de Wagner. Como não pode ser escamoteada a forma como um sistema
jurídico sofisticado não só aceitou, como mesmo legitimou os procedimentos
instituídos pelo regime de Hitler.
Mas há algo que marca o regime
nazi para sempre. Foi a perseguição fanática aos judeus, por motivos puramente
raciais, a que se chamou Holocausto. A eliminação pelas mais diversas formas,
qual delas a mais desumana, de mais de seis milhões de pessoas é uma marca
indelével na História da Humanidade. Ann Frank foi apenas uma dessas pessoas,
mas é o símbolo do que aconteceu naqueles anos.
Quando hoje se vêem pessoas a
assumir a admiração e saudade pelos nazis nos mais diversos pontos do globo,
não podemos deixar de recordar quem foram na realidade, o que fizeram e o que
tentaram fazer, evitado pelo sacrifício de milhões de pessoas, civis e
militares, que deram a vida para que a escuridão que traziam não se estendesse
a todo o mundo.
A cultura e o conhecimento que
nos diz, por exemplo, que na humanidade só existe uma raça, são o melhor
antídoto para as tentações que levam ao totalitarismo sempre pronto a saltar
para a luz do dia. Mas uma força calma e decisiva que advém da justiça e do desejo
da Liberdade é sempre também necessária, não o esqueçamos.
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
País dos enganos
Neste Verão do nosso descontentamento
os portugueses chegaram àquele momento em que já têm justificadamente medo de
ir passar uns dias ao interior, nem que seja junto às águas de uma barragem. Os
incêndios florestais passaram a ser um pavor que invade aldeias e mesmo o
interior de vilas, matando portugueses às dezenas, mostrando à evidência o
colapso, em grande parte do interior do país, da principal função do Estado que
é garantir segurança aos cidadãos e colocando a nu a mais completa
descoordenação nos serviços nacionais com responsabilidade no sector. A forma
lamentável como o Governo está a tratar o assunto da floresta, para além de ir
ao ponto de “filtrar” a informação real sobre os incêndios, fica ainda marcada pelo
ridículo quando o ministro da Agricultura afirma que a reforma da floresta que
está a protagonizar é a mais importante desde D. Dinis.
Esta catástrofe acontece
praticamente a meio da legislatura em que o PS de António Costa, depois de
obter o sofrível resultado eleitoral de 32%, encontrou um caminho para governar
através da negociação de apoio parlamentar com o Partido Comunista Português e
com o Bloco de Esquerda. Assim, faz todo o sentido perceber como vai o país,
quais os resultados conseguidos e o que esperar até ao fim da legislatura.
A descida do desemprego e o
crescimento do PIB continuaram, felizmente, o caminho que vinham a seguir desde
o fim de 2013 atingindo hoje valores bastante razoáveis, embora a economia não
esteja a crescer tanto como em muitos países da União Europeia, a começar pela
vizinha Espanha.
As chamadas “reversões” nos vencimentos
da Função Pública e pensões que foram apresentadas como o fim da “austeridade”
aplicada pelo governo anterior na sequência da chamada da “troika” pelo último
governo socialista, foram em grande parte pagas com um aumento dos chamados
impostos indirectos que, como se sabe, são socialmente os mais injustos de
todos.
A execução orçamental do ano de
2016 sofreu um volte-face notável a partir do primeiro semestre. Quando o
Governo verificou que as medidas que tinha apontado para a recuperação da
economia e a diminuição do défice estavam a produzir efeitos contrários aos
pretendidos, aplicou medidas extremas de corte nas despesas. No fim do ano foi
possível verificar que as chamadas cativações andaram pelos 900 milhões de
euros e o investimento público baixou para os níveis mais baixos das últimas
décadas. O resultado foi um défice de 2,1%, que deixou a Comissão Europeia
deslumbrada e acalmou os mercados internacionais.
Claro que, com esta diminuição
drástica de despesa, muitas funções do Estado ficaram como se costuma dizer a
pão e água, com limitações significativas no funcionamento corrente do Estado.
Por outro lado, a dívida pública retomou
fortemente a trajectória ascendente de crescimento que desde 2012 era
descendente, apresentando em Junho deste ano um montante recorde de quase 250
mil milhões de euros. Há muito que o critério europeu dos 60% do produto foi
esquecido pela União Europeia, mas andar claramente muito acima de 100% não é
saudável e é mesmo muito perigoso, no caso de haver um solavanco económico
internacional. E um tal crescimento da dívida pública levanta ainda fundadas
dúvidas sobre a real descida do défice, sendo legítimo pensar-se que está a ser
contabilisticamente mascarado, enquanto a Comissão Europeia olha para o lado.
A evolução da economia e das
contas públicas é a maior demonstração de que as propostas do PS nas eleições
de 2015 eram completamente erradas. De facto, a economia cresce apesar do mais
baixo investimento público de há décadas. Esse crescimento é impulsionado, não
pelo aumento do consumo privado provocado pela devolução de rendimentos à
Função Pública, mas sim pelas exportações como era defendido pela direita. O
Turismo tem sido aqui um factor essencial para o crescimento da economia.
A inexistência de críticas à esquerda
pela incoerência do caminho seguido é apenas a confirmação da falta de
escrúpulos e mesmo da mais rematada hipocrisia do PCP e do BE que, calados
perante uma pesada austeridade do Estado, proporcionam uma paz social e
sindical que, por sua vez, acaba por demonstrar o papel eminentemente político
dos sindicatos.
O que se vai seguir não será,
certamente, diferente do que se viu até aqui. O PCP e o BE continuarão reféns
de António Costa que comprará o seu apoio político para o Orçamento 2018 com os
custos inerentes, pelo que o investimento público continuará baixíssimo e as
cativações serão a regra. Não haverá reformas estruturais e a dívida pública
continuará a crescer mesmo acima dos 40 milhões diários de 2016. E, no fim da
legislatura, vamos poder assistir aí sim, com medo dos resultados eleitorais, ao
espectáculo nada edificante da fuga para a frente de PCP e BE contra as
políticas que caucionaram por completo durante quatro anos.
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