segunda-feira, 19 de julho de 2010

AS RESPOSTAS NECESSÁRIAS

O conhecido economista Jean Tirole deu há poucas semanas uma entrevista à revista Exame onde entre outras coisas, afirmou que Portugal deverá permanecer no euro, para o que será necessário "assegurar que o país é solvente" isto é, conseguirá pagar as suas dívidas. Mas depois disse ainda que provavelmente Portugal terá uma recessão decorrente das medidas de redução abrupta do défice (exigência alemã, como é sabido). Já nesta semana, o Banco de Portugal publicou o seu habitual Relatório de Verão onde se aponta que o crescimento da actividade económica em Portugal deverá ser este ano de 0,9% devido a um primeiro semestre favorável, mas que deverá descer já neste segundo semestre até uma previsão de 0,2% em 2011. Isto é, ou teremos estagnação ou mesmo recessão, de novo. O relatório do BP conclui ainda que "neste contexto, assume um papel primordial a implementação de alterações ao enquadramento institucional em que se desenvolve a actividade empresarial de forma a melhorar a afetação de recursos internos e a atrair projetos inovadores". Na linguagem um pouco cifrada do BP, isto significa apenas que é urgente alterar o ambiente em que se processa a actividade empresarial. Isto é, o mercado laboral português tem uma rigidez que gera demasiada contratação a prazo e elevado número de recibos verdes, com consequências nefastas no normal crescimento da economia.

A consequência desgraçada é que a produtividade da nossa economia é muito baixa comparada com a dos outros países nossos concorrentes. Note-se que isto não significa que os portugueses trabalhem poucas horas: significa é que a rentabilidade média de cada uma dessas horas é muito baixa.

Temos todos que tomar consciência de que são as empresas e os impostos sobre aquilo que produzem que pagam todo o funcionamento do país. As despesas do Estado, quer seja para as suas funções de soberania, quer seja para as funções sociais e outras que entende por bem exercer, vêm todas das receitas do Orçamento Geral do Estado (directa ou indirectamente). É a produção económica isto é, os resultados daquilo que as empresas fazem e vendem que gera impostos para pagar tudo isto. Ou devia ser, já que o Estado gasta tanto que se vê permanentemente na necessidade de pedir dinheiro emprestado para pagar apenas o seu funcionamento. Dentro da produção económica, o que propulsiona crescimento real é aquilo que é exportado, ou que evita importações. Se o nosso problema crónico é o da competitividade, fácil é concluir ser absolutamente necessário proporcionar aos empresários condições para que a sua actividade possa gerar rentabilidades a médio e longo prazo que tragam sustentação e sustentabilidade para a economia nacional.

Contrariando o negativismo em que temos vivido, na semana passada foi assinado o contrato de instalação de uma fábrica de alta tecnologia em Coimbra, mais concretamente no Coimbra Inovação Parque (iParque). Trata-se da primeira fábrica de nanomateriais em Portugal, criada pela empresa Innovnano. Tal só é possível porque o iParque está construído, porque em Coimbra há os recursos humanos qualificados que uma unidade de alta tecnologia exige e porque hoje em dia a Câmara Municipal tem vontade e é capaz de fazer esforços para atrair e apoiar a instalação de investimentos de qualidade. Trata-se de um investimento de dez milhões de euros que dará origem a 40 empregos de grande qualificação acima de licenciatura, e que gerará produtos de altíssimo valor acrescentado e com uma procura em todo o mundo com acentuado crescimento real e potencial. Ainda melhor, para além desta, outras empresas ligadas a alta tecnologia se preparam para se instalar no iParque graças aos esforços e competentíssima acção do Prof. Norberto Pires.

É certamente este o caminho certo. Claro que há muitas actividades económicas tradicionais que fecham, muito por causa da globalização e concorrência de países emergentes e isso é uma grande infelicidade para quem lhes dedicou tanto esforço e se vê sem empresa e sem trabalho para sustentar as suas famílias. Mas o que é essencial é que em sua substituição surjam novas actividades altamente rentáveis que contribuam para melhorar decisivamente a competitividade da economia nacional.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 de Julho de 2010

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