segunda-feira, 30 de novembro de 2009

É urgente discutir a Regionalização


Pode dizer-se que, nas últimas décadas, o modelo de desenvolvimento do país tem sido este: Olhar para Portugal a partir do Terreiro do Paço.

De facto, apesar de a Regionalização estar prevista na Constituição desde 1976, nenhum passo concreto foi dado nesse sentido, para além do Referendo de Novembro de 1998, de triste memória. Nessa altura, o Governo de António Guterres levou a sua pulsão de tacticismo negocial a um tal ponto que conseguiu colocar uma grande parte dos regionalistas de sempre a votar contra a regionalização então proposta.

O desenvolvimento absolutamente anacrónico do país tem levado ao seu confinamento ao litoral, parecendo-se cada vez mais com uma estreita faixa compreendida entre o Oceano Atlântico e a EN1, numa imagem bem expressiva apresentada há tempos por um advogado viseense.

Os apoios financeiros da União Europeia estão hoje canalizados essencialmente para as obras rodo-ferroviárias com centro em Lisboa e à construção de auto-estradas, a maior parte delas apenas redundantes. Isto para além do novo aeroporto internacional de Lisboa, claro, a construir na margem esquerda do Tejo, o mais afastado possível do centro geográfico do país, mas certamente bem localizado em função dos interesses próprios lisboetas.

Não devemos esquecer que, hoje em dia, a Região de Lisboa e Vale do Tejo já ultrapassou o limite que permite financiamentos europeus. A continuar assim, prevê-se que dentro de poucos anos metade da população portuguesa viva nesta região, situação bem terceiro-mundista. A inexistência de Regiões leva a que seja o Governo nacional a definir as prioridades de investimentos apoiados por fundos comunitários, o que tem como consequência que o resto do país, verdadeiramente abaixo daquele limite, veja o grosso dos dinheiros europeus a serem canalizados para a capital.

Costumo dizer que, vista do resto do país, Lisboa parece um imenso buraco negro que tudo absorve: impostos, fundos europeus, investimentos, empresas, pessoas.

Claro que a consequência é a progressiva desertificação do interior, que, por sua vez, vai justificando o encerramento de serviços públicos por falta de utentes. Estamos num ciclo vicioso que só uma medida de excepção pode cortar, e essa medida é a regionalização, que pode efectivamente contrariar o modelo de desenvolvimento com origem no Terreiro do Paço.

Está mesmo por provar que as auto-estradas do interior do país, apresentadas como um veículo de promoção do desenvolvimento das regiões que atravessam, sirvam efectivamente esses fins. Provavelmente, investimentos públicos e apoios locais decididos a nível regional serviriam muito melhor essas populações do que auto-estradas com pouco ou nulo tráfego.

É preciso desmontar a ideia hoje muito difundida, ao contrário do que acontecia há vinte anos, de que “as CCDR’s deverão ser apenas, ao seu nível, responsáveis pela execução das políticas nacionais” isto é, decididas pelo centralismo lisboeta.

O Partido Socialista tem dito que nesta legislatura aguarda pela posição do Partido Social Democrata sobre este assunto. Isto é, numa altura em que mais uma vez o PSD se prepara para escolher uma nova liderança, a posição das candidaturas partidárias sobre a regionalização será muito importante.

Chegámos a uma altura da nossa vida colectiva em que as nossas escolhas pessoais terão de ser feitas perante opções concretas dos candidatos.

Por mim, quer em função do modelo de desenvolvimento nacional, quer atendendo aos interesses das diversas regiões e, em particular da Região Centro, as escolhas a fazer passarão obrigatoriamente por propostas concretas para o país, tendo à cabeça a questão da regionalização.

Publicado no Diário de Coimbra em 30 de Novembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Meditação

Evangelho do Dia


(Lc 21, 29-33) Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Olhai a figueira e as outras árvores: Quando vedes que já têm rebentos, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão».


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Citação

Citação de Ian Kershaw na biografia de Hitler agora publicada entre nós pela Europa-América:
"Foi a cegueira da direita conservadora (...) que entregou o poder de uma nação soberana, que albergava toda a agressão reprimida de um gigante ferido, nas mãos do perigoso líder de um bando de arruaceiros políticos"
Saliente-se que nas eleições de 1933 que levaram o "Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães" -era assim que se chamava a coisa - Hitler obteve apenas 33,1% e mesmo assm foi o que se viu.


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Impostos

O que Vítor Constâncio veio dizer é o óbvio. Depois da UE ter aceite o plano de recuperação mais apertado do défice a partir de 2011, será nessa altura que isto tudo vai apertar. Claro que a despesa não irá diminuir, como nunca diminuiu, nem com maioria absoluta. Serão os impostos a tapar o buraco gigantesco do défice criado no último ano e meio (baixar de 8% para menos de 3% em três anos). Isto é, os portugueses em geral terão de pagar todos os apoios e despesas da "crise". Como aliás, sempre acontece em qualquer parte do mundo. Como diria César das Neves, "não há almoços grátis".

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Violência

Na semana passada (numa única semana, vinque-se) quatro mulheres, diria raparigas, foram assassinadas pelos seus namorados em Portugal.
Como é evidente o amor entre duas pessoas está, nestes casos, completamente subvertido. Em vez de dádiva ao outro, transforma-se em sentimento de posse. Será um sinal dos tempos egoístas que atravessamos? Quem dera que não fosse e que se tratasse apenas de uma coincidência temporal de desvios comportamentais. Mas desconfio que isto tem razões sociológicas muito mais profundas do que desconfiamos. Infelizmente.

PÚBLICO

Dos vários significados da palavra “público”, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa coordenado por José Pedro Machado aponta estes: “pertencente ao povo”; “que diz respeito ao governo geral do país”; “que é do domínio de todos”.
É este, de facto, o significado que geralmente é atribuído à palavra “público”, o que não significa que seja tido em conta por todos.
Existe mesmo a sensação de que os portugueses têm um convívio difícil com este conceito, parecendo mais estarem convencidos de que o que é público é para ser tomado pelo primeiro que de tal for capaz.
Deverão existir razões históricas para que tantos portugueses tenham esta estranha relação com o bem público, e, em geral, com o Estado. A nossa História é muito antiga de séculos, mas é fértil em levas sucessivas de emigrações que alteraram profundamente a constituição na nossa sociedade e a deixaram quase sempre mais pobre. O poder central sempre foi exercido de uma forma que levava os portugueses a serem desconfiados de quem os governava e lhes levava os impostos para pagar despesas que não se reflectiam em melhorias da sua vida. Há duzentos anos, o país foi varrido por invasões francesas que deixaram o povo arrasado e faminto. Logo a seguir, as lutas da Guerra Civil, em vez de permitirem recuperação económica, atrasaram ainda mais a nossa pobre economia. A revolução industrial veio fraca e a más horas. O fim da Monarquia e a Primeira República afastaram ainda mais o povo dos políticos que nos desgovernavam. Por exemplo, Rafael Bordalo Pinheiro caricaturava nesse tempo a política como uma porca a alimentar muitos bácoros. A seguir vieram quase cinquenta anos de um regime autoritário e anti-liberal, em que os “ungidos” do regime sabiam o que era bom para todos, restando ao povo obedecer.
Todas estas razões, e certamente muitas mais, criaram entre os portugueses uma desconfiança perante o Estado, nas suas diversas formas, que se traduz no termo com designa vulgarmente os governantes: “ELES”.
Esta atitude generalizada traduz-se igualmente na visão do que é público e que leva muitos a tomar para si o que é ou devia ser de todos.
Fazem-no, aliás, todos os dias e das mais diversas formas.
A corrupção é talvez o traço mais grave dessa atitude, porque se traduz num pesado imposto que todos temos que pagar. O Código Penal coloca hoje nesta categoria muitas atitudes a que os portugueses estão habituados desde sempre, e que ainda não estão interiorizadas como crimes. Veja-o o caso do tráfico de influências, tido como simples ajuda entre amigos, tão “natural”.
Mas há muitas outras atitudes do dia-a-dia que denunciam este nosso comportamento e que, eventualmente por lidarmos quotidianamente com elas, quase não damos pela sua existência.
Quando vemos ruas em que os passeios estão ocupados por carros estacionados, estamos perante um exemplo dessa atitude. O passeio é de todos e destina-se aos peões. Não faz sentido que estes tenham que ir pelo meio da rua a fugir dos automóveis e muitas vezes a levar com água e lama, só porque o comodismo de uns tantos automobilistas os leva a apropriar-se do que é de todos.
A noção de que o dinheiro com que lidam é sagrado, porque vem dos impostos (um sacrifício de todos os cidadãos), também é demasiadas vezes ignorada por quem, pelas suas funções, tem que gerir dinheiros públicos e acha que eles estão ali para gastar como entende.
O grande problema (de carácter quase esquizofrénico) dos dias de hoje é que os portugueses continuam a referir-se aos representantes eleitos como “eles”, tendo-se disseminado a ideia de que existe uma justiça para poderosos e outra para pobres. Em consequência, “eles” que são todos iguais que se arranjem, enquanto nós por cá tratamos da nossa vidinha como pudermos.
Aprender a ter respeito por aquilo que é público, como sendo de todos, é muito mais do que uma atitude cívica; é essencial para a saúde da sociedade e mesmo para a efectiva consolidação do regime.

Publicado no Diário de Coimbra em 23 de Novembro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Um início auspicioso

Finalmente a União Europeia tem nomes para a representar nos meetings internacionais.
Presidente da UE: Herman Van Rompuy
Alta representante para a Política Externa da UE: Catherine Ashton.
Alguém os conhece? Para os altos cargos a UE continua a preferir personalidades que gerem consensos.....porque não existem politicamente.
Depois admirem-se por americanos, chineses e indianos não nos ligarem nenhuma.
Ah! E ainda outro pormenor (ou maior, não sei): foram escolhidos e não eleitos. O Tratado de Lx começa bem, não há dúvida.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

REFERENDOS

Peço imensa desculpa pela pergunta. Mas se houver referendo sobre o "casamento gay" e ganhar o sim, passa a ser aceitável por todos, ou é apenas instrumental?

JUSTIÇA (??)

Alguém sabe o que se passa com o caso "Casa Pia"? Ou continua toda a gente a ir lá uma vez por mês picar o ponto?

Tensão

O actual clima à volta do PGR faz-me lembrar a situação estranha e extrema para o regime democrático que se viveu em Dezembro de 1980, aquando da morte de Sá Carneiro. Muita gente levantava a hipótese de atentado que, a generalizar-se, poderia ter gravíssimas consequências, estando os espíritos exaltados como estavam, na altura. Freitas do Amaral e muitos responsáveis da AD vieram deitar água na fervura, pondo de lado a hipótese de atentado. Muitas dessas pessoas estariam intimamente convencidas de que foi atentado, mas negaram-no publicamente, para proteger o país.


Evangelho do dia

(Lc 19, 1-10) Naquele tempo, Jesus entrou em Jericó e começou a atravessar a cidade. Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver quem era Jesus, mas, devido à multidão, não podia vê-l’O, porque era de pequena estatura. Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria. Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Entretanto, Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Disse-lhe Jesus: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SNS

Na campanha das últimas eleições, o Serviço Nacional de Saúde foi utilizado como arma de arremesso, nas piores maneiras possíveis. Não devia: é uma área demasiado importante e sensível, a precisar de urgentes reformas. O SNS não é só uma sigla, é um sistema que providencia cuidados de saúde a todos os cidadãos. Os seus custos globais ultrapassam hoje 10% do PIB, dos quais mais de 7% são gastos pelo Ministério da Saúde.

A reforma dos últimos anos traduziu-se no encerramento de uma série de equipamentos descentralizados, com base numa tentativa de racionalização da oferta de serviços públicos. Estas mudanças compreendem-se tanto pelas limitações de recursos como pela exigência de qualidade. Evidentemente, reconhecemos que houve exageros, que levaram a situações absurdas como o nascimento de bebés portugueses no país vizinho, por falta de maternidades nacionais.

No entanto, o maior erro da reforma efectuada não foi esse episódio, e sim a falta de reforço dos hospitais que passaram a receber doentes de serviços encerrados. Também nesses imperou a regra de poupar, muitas vezes à custa de reduções de pessoal.

Integrado nos HUC, existe um serviço que é um exemplo para todo o SNS, e que, incompreensivelmente, não é replicado por todo o país. Refiro-me ao Centro de Cirurgia Cardiotorácica, dirigido pelo Prof. Manuel Antunes. Há poucos meses, tive oportunidade de lhe ouvir uma explicação sobre o funcionamento desse “Centro de Responsabilidade Integrada”, numa iniciativa da Acege - Coimbra.

Os resultados obtidos pelo Centro de Cirurgia Cardiotorácica, desde o seu início, são bem a prova de que um serviço de saúde bem dirigido, organizado em regime de autonomia com a necessária responsabilidade, pode conseguir níveis de produtividade e qualidade a níveis de excelência mundial. Naturalmente, os níveis de exigência praticados naquele Centro são também pouco vulgares entre nós, de dedicação e sacrifício ímpares.

Quiseram as circunstâncias da vida que há poucos dias eu tivesse sido operado neste Centro. Felizmente, a garantia da excepcional competência das equipas de cirurgiões é um dado adquirido, e muito ajuda à confiança com que os doentes se submetem aos tratamentos. Mas o que verdadeiramente mais me impressionou foi algo que infelizmente rareia cada vez mais nos hospitais públicos. A dedicação aos doentes por parte de todos os profissionais, o carinho mesmo com que todos são tratados desde que entram até que saem do Centro, é exemplar. Ultrapassa em muito o dever de exercer as funções de cada um com competência e dedicação, desde auxiliares a cirurgiões, passando pela equipa de enfermagem: corresponde a uma atitude que é resultado da escolha adequada de pessoas, de organização e de um espírito colectivo que se constrói. Verifiquei, por exemplo, que não existem naquele serviço períodos em que os doentes se sintam menos acompanhados. O serviço responde sempre às necessidades dos doentes, sem a menor negligência.

Hoje, o Centro de Cirurgia Cardiotorácica de Coimbra prova que, dentro do SNS, é possível obter soluções com produtividade e qualidade, que promovam a humanização do tratamento dos doentes, combatendo ineficiências e desperdícios, que tão caros nos ficam a todos.

Publicado no Diário de Coimbra em 16 de Novembro de 2009

domingo, 15 de novembro de 2009

Notícias do tempo

Mau tempo generalizado em Portugal: chuva e ventos fortes. Não desanimemos: depois da tempestade vem sempre a bonança e o tempo das limpezas.

sábado, 14 de novembro de 2009

Bach

Ao ouvir na Antena 2 uma cantata lindíssima e muito triste de Bach, senti de repente pena de José Saramago. Bach escreveu toda a sua música "para maior glória de Deus". Que tristeza deve ser não poder sentir Deus nesta música.

Sorte (e azar dos outros)

Em poucos dias Lisboa recebe três pianistas geniais: Daniel Baremboim, Radu Lupu e Maurizio Pollini: que sorte e que azar o nosso, que vivemos na "província".

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sexta-feira, 13

Hoje de manhã, bem cedo, reparei que é sexta-feira, 13.
Ao fim do dia ouvi o Ministro Vieira da Silva classificar a actuação dos Procuradores como sendo "espionagem politica".
Isto será tudo azar nosso, ou de quem?

Curiosidade

Hoje é sexta-feira, 13.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Peter Drucker

"O objectivo de uma Empresa é criar um Cliente": simples, não é? Não, não é.

Peter Drucker


Faz este mês cem anos que nasceu Peter Drucker. Todos nós temos algum dos livros dele sobre gestão na biblioteca. Mas será que os lemos bem? E que levamos a sério os seus ensinamentos?
Não sendo nada esquerdista, avisou em 1980 (leram bem, em 1980) "que as empresas iriam pagar um preço por permitirem aos executivos pagamentos excessivos e criarem esquemas de compensações que encorajam os gestores a correr riscos excessivos e a focarem-se em demasia no curto prazo" ( Adi Ignatius, editor da HBR).
A este propósito, ler o último nº da Harvard Business Review quase todo dedicado à obra de Peter Drucker.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Campanha

É defeito meu, ou tudo o que vejo e ouço dá a entender que a campanha eleitoral não terminou?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Bons conselhos

Na Fortune deste mês, Nancy Peretsman (gestora de Allen & Co.) partilha com os leitores o melhor conselho que recebeu na vida: "Stop Talking and Start Listening".
Nem mais. Até porque "temos duas orelhas e uma boca e devemos usá-las nessa proporção".

Bach: Magnificat

Começa assim: A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador...

Abertura Tannhauser

Claro que no computador isto perde muito, mas mesmo assim sabe bem ouvir.

Evangelho do Dia



(Jo 2, 13-22) Estava próxima a Páscoa dos judeus
e Jesus subiu a Jerusalém.
Encontrou no templo
os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas
e os cambistas sentados às bancas.
Fez então um chicote de cordas
e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois;
deitou por terra o dinheiro dos cambistas
e derrubou-lhes as mesas;
e disse aos que vendiam pombas:
«Tirai tudo isto daqui;
não façais da casa de meu Pai casa de comércio».
Os discípulos recordaram-se do que estava escrito:
«Devora-me o zelo pela tua casa».
Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe:
«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?».
Jesus respondeu-lhes:
«Destruí este templo e em três dias o levantarei».
Disseram os judeus:
«Foram precisos quarenta e seis anos para construir este templo
e Tu vais levantá-lo em três dias?».
Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo.
Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos,
os discípulos lembraram-se do que tinha dito
e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.

Em democracia, os melhores também se despedem

Em Portugal, vamo-nos habituando a desconsiderar os cidadãos que trocam as suas actividades profissionais pela dedicação à actividade política. Estou firmemente convencido de esse sentimento é inteiramente injusto, para a maioria dos políticos. Existem, felizmente, inúmeros portugueses que se dedicam à coisa pública com verdadeiro espírito de missão, sacrificando mesmo a sua vida pessoal em nome do que consideram ser a sua obrigação para com a comunidade.

Como se sabe, em democracia o exercício de funções públicas está sempre limitado no tempo, acabando por saída própria ou por perda de eleições, o que acaba sempre por suceder, mais cedo ou mais tarde.

Na sequência das últimas eleições autárquicas, deixou as funções de Vereador da Câmara de Coimbra um cidadão que, por todos os motivos, constitui um exemplo a seguir e que aqui quero saudar e de certa maneira homenagear. Refiro-me ao Engº. João José Gomes Rebelo, que, durante dois mandatos, suspendeu a sua vida para se dedicar de alma e coração a Coimbra, dentro das relevantes funções que lhe foram atribuídas na Câmara Municipal de Coimbra.

Como se costuma dizer, devo agora fazer claramente uma declaração de interesses: sou amigo do João Rebelo desde os tempos da Faculdade, já lá vão mais de três dezenas de anos. Sempre lhe reconheci uma nobreza de carácter caracterizada pela lealdade, verticalidade e absoluta honestidade.

Curiosamente, somos ambos filhos adoptados de Coimbra, vindos da Beira interior, embora em alturas diferentes da vida, já que eu ainda frequentei os dois últimos anos no Liceu D. João III e o João Rebelo fez o liceu em Castelo Branco, embora tivesse nascido em Lisboa.

Esta coincidência terá permitido uma proximidade de visão sobre o mundo e particularmente sobre a Cidade que nos acolheu e que escolhemos para viver.

O João Rebelo passou oito anos na Câmara de Coimbra como Vereador e não se lhe nota qualquer alteração nas características que acima apontei, a que aliás se junta uma grande delicadeza no trato e capacidade de tratar todos os munícipes por igual. Louvo ainda a sua extraordinária capacidade de trabalho, que o levou a exercer as suas funções muito para além dos limites temporais exigíveis a qualquer pessoa, sem nunca dar a entender que o fizesse com sacrifício.

Mesmo nesta sua actividade política, assumiu-se sempre como pessoa por inteiro, não escondendo, por exemplo, as suas opções religiosas, como hoje parece ser moda, antes as assumindo com toda a naturalidade, por serem parte da sua identidade.

É um Homem que, quando chamado a exercer funções políticas, o fez de uma forma perfeitamente exemplar, o que num tempo como o de hoje é da mais inteira justiça realçar.

Deliberadamente, omiti nesta pequena homenagem a qualidade do seu trabalho e a extrema competência com que exerceu estas suas funções na Câmara. Falta-me a capacidade para tal, confesso, e essa avaliação não é o objectivo destas linhas. Será com certeza feita facilmente pelos nossos concidadãos através do simples método da comparação.

Publicado no Diário de Coimbra em 9 de Novembro de 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

Recomendo vivamente a leitura urgente

Novo livro de Sebastião Formosinho Sanches que explica as razões de muito do que somos.

A crise acabou: a crise vem aí

As previsões da UE para Portugal avisam-nos claramente que a crise internacional está a passar, mas que a nossa estará por cá por muitos anos:
- Dívida pública em % do PIB em 2009: 77,4%
- Dívida pública em % do PIB em 2010: 84,6%
- Dívida pública em % do PIB em 2011: 91,1%
(Notas: em 2002 era de 55,5%; o Pacto de Estabilidade estabelece 60% como valor máximo)
- Défice das contas públicas em 2009: 8%
- Défice das contas públicas em 2010: 8%
- Défice das contas públicas em 2011: 8,7%
- Crescimento do PIB em 2009: negativo (quanto?, não se sabe)
- Crescimento do PIB em 2010: 0,3%
- Crescimento do PIB em 2011: 1%
(Nota: dos piores valores da UE e de todo o mundo)

O Prof. Ernâni Lopes diz que Portugal está a definhar há anos: como aqueles doentes que não se levantam da cama, não melhoram, nem pioram.
Entretanto, andamos para aí a apresentar candidaturas a organizar campeonatos mundiais de futebol, a construir auto-estradas para lado nenhum, TGV para andarem vazios e novas pontes para Lisboa.
Não há juízo.

O tempo não pára

Ao ver um documentário sobre a queda do muro de Berlim, há vinte anos, não posso deixar de reparar em algo que une os regimes ditatoriais, sejam de direita ou de esquerda: os seus líderes tentam todos encapsular o tempo e é isso que acaba por os derrubar.

sábado, 7 de novembro de 2009

Evangelho de hoje

Palavras duras, mas bem actuais:

Evangelho segundo S. Lucas 16,9-15.

«E Eu digo-vos: Arranjai amigos com o dinheiro desonesto, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no muito. Se, pois, não fostes fiéis no que toca ao dinheiro desonesto, quem vos há-de confiar o verdadeiro bem? E, se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores; ou há-de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» Os fariseus, como eram avarentos, ouviam as suas palavras e troçavam dele. Jesus disse-lhes: «Vós pretendeis passar por justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os vossos corações. Porque o que os homens têm por muito elevado é abominável aos olhos de Deus.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

COIMBRA NO SEU MELHOR (de novo)


É provável que o leitor se interrogue sobre as razões que me levam a utilizar tantas vezes o mesmo título nestas minhas crónicas: “Coimbra no seu melhor”. Na realidade, a nossa Cidade tem uma característica bem portuguesa, que por razões históricas é mais pronunciada entre nós e que se revela numa intensa capacidade de dizer mal de tudo e de todos. Concedo até que essa atitude se deva a uma vontade subliminar de ouvir em resposta que não, que em Coimbra até há isto ou aquilo de bom. Mas, aqui entre nós, essa é uma atitude bem “coimbrinha” que deve ser combatida, porque desvirtua a realidade actual da nossa Cidade. E, para dificuldades, já nos chegam as provocadas pelo bicefalismo territorial do país, que esmaga a zona Centro em que nos integramos e de que Coimbra é claramente a cidade principal.

Por estas razões, o exercício activo da cidadania obriga-me a mostrar e divulgar aquilo que sinto ser o que Coimbra tem de melhor para oferecer. E não haverá textos que me dêem mais prazer escrever do que estes.

Venho hoje referir, de novo, a excelente Orquestra Clássica do Centro. Vou repetir-me em parte, porque já aqui elogiei o trabalho de todos os que dão corpo àquele projecto que deve ser acarinhado por todos.

A existência continuada em Coimbra de uma formação orquestral de música clássica de qualidade indiscutível foi um sonho de muitos ao longo de muitos anos. Encontra-se finalmente concretizado da melhor maneira, o que se deve obviamente a todos os que de uma maneira ou de outra a apoiam, mas fundamentalmente a duas pessoas, a Dra. Emília Cabral Martins e o Maestro Virgílio Caseiro. O Maestro Virgílio Caseiro dedica à OCC toda a sua competência técnica, amor à arte musical e trabalho, muito trabalho, de forma inteiramente gratuita. A Dra. Emília Martins consegue fazer o quase impossível, só comparável ao milagre da multiplicação os pães. O único apoio oficial digno desse nome vem da Câmara Municipal de Coimbra e traduz-se em 175.000 euros por ano. Para uma orquestra que custa 490.000 euros, não há outra designação para o que tem sido conseguido à custa de imensa imaginação, alguns apoios empresariais e mesmo pessoais, para além de uma excepcional capacidade de gestão.

O Estado concedeu este ano um apoio pontual de 30.000 euros à Orquestra Clássica do Centro. Não apoia regularmente a OCC, porque defende que a região Centro só merece uma orquestra clássica e já apoia a orquestra que existe em Aveiro, de dimensão e número de concertos bem reduzidos face à OCC. O mesmo critério não é aplicado pelo Estado a outras actividades artísticas, como o Teatro, havendo na nossa Região várias companhias teatrais que recebem muitas centenas de milhares de euros por ano. Não está evidentemente em causa que o Estado apoie o Teatro, mas que os critérios sejam semelhantes, não havendo artes inferiores e artes superiores

A Dra. Emília Martins escreveu há alguns dias uma carta aos jornais, naquilo que chamou de desabafo, mas que se pode considerar um verdadeiro grito de alerta em defesa da Cultura na nossa região. Perguntava mesmo porque não é possível encontrar uma plataforma de entendimento entre as duas formações orquestrais existentes na Região que, mesmo juntas, não conseguem ainda hoje em dia constituir uma orquestra sinfónica. Pela minha parte, não faço mais do que a minha obrigação em manifestar aqui todo o apreço pelo trabalho em prol da Cultura de todos os que de alguma forma apoiam a Orquestra Clássica do Centro, fazendo votos de que tenha uma longa vida e consiga evoluir para nos oferecer um leque cada vez mais variado e complexo de oferta musical de qualidade.

Publicado no Diário de Coimbra em 2 de Novembro de 2009