segunda-feira, 26 de novembro de 2012

MARKETING URBANO



As cidades estão hoje integradas num processo complexo de competição para se apresentarem como melhores sob os mais diversos pontos de vista, já que isso se poderá reflectir numa maior capacidade de atracção de moradores, investidores e turistas. Obter uma boa imagem externa passa, não só por conseguir resultados que mostrem uma boa capacidade de gestão urbana capaz de se reflectir na qualidade de vida dos seus habitantes, mas também por transmitir essa imagem.
Como todos sabemos, transmitir o valor de um produto ou de um serviço aos potenciais consumidores é o papel normal do marketing. E o marketing é muito mais do que simples publicidade, já tão gasta. Hoje em dia a capacidade de suscitar o interesse, de criar apetência e vontade de experimentar um produto é objecto de estudos e investigação aos níveis mais especializados, levando mesmo à adopção de técnicas de pura manipulação dos potenciais consumidores, com resultados cada vez mais difíceis de medir. Chega-se a um ponto de sofisticação tal que muitas vezes o segredo é voltar a fazer o mais simples. E o mais simples é mostrar a melhoria da qualidade da vivência quotidiana, que o produto oferece ou não oferece.
Com as cidades passa-se o mesmo. Qualquer cidade tem vantagens comparativas sobre as outras, tal como terá factores negativos de competitividade. O que os responsáveis fazem muitas vezes é adoptar procedimentos habituais de marketing. É esta a origem habitual de dois tipos de comunicação: uma delas consiste na tradicional publicação de anúncios em jornais, revistas e televisão; a outra, mais subtil, é feita através de “reportagens”, e “notícias plantadas” que de forma pretensamente noticiosa chama a atenção para determinados aspectos favoráveis.
Devo dizer que, dentro dos limites éticos, tudo isto é hoje necessário. Nada na vida moderna se afirma apenas por si, sem alguma forma de se mostrar.
Estas reflexões foram-me suscitadas por algo inesperado. Um dia destes, esperava pela minha vez de ser atendido numa agência da Caixa Geral de Depósitos, quando a minha atenção foi atraída pelas imagens que passavam no painel televisivo que normalmente passa informações diversas consideradas relevantes pela CGD. Estava a ser passada uma reportagem realizada aquando da realização dos últimos Encontros Internacionais de Guitarra Portuguesa em Coimbra, organizados pela Orquestra Clássica do Centro. Assim se reviu o Concerto da OCC integrado naqueles Encontros, tal como foi possível ver imagens de maestros, músicos, dirigentes da OCC e público anónimo. Tudo isto em Coimbra e transmitido nos painéis das agências da CGD em todo o país e no estrangeiro. Para a OCC e para música, em particular para os compositores e executantes de guitarra portuguesa, em boa hora a CGD decidiu apoiar financeiramente a realização daqueles Encontros.
Mas para a cidade de Coimbra e para a sua notoriedade, o valor é incomensuravelmente maior. O que é apresentado em centenas de locais é uma vivência cultural, sem artificialismos, mostrando uma pujança urbana invejável. Não terão sido poucas as pessoas que pelo país terão sentido alguma inveja pela possibilidade dos conimbricenses disporem desta oferta cultural, ou que terão mesmo encarado a hipótese de aqui se deslocarem para os concertos da OCC. Fazer simples, ou como os mais próximos do marketing dizem “make it simple”, é de facto a forma mais eficaz de chegar a um grande número de potenciais clientes e de com eles estabelecer uma ligação afectiva íntima.
Isto não é resultado de uma campanha de marketing. Com um apoio anual à OCC que, para além da sua actividade corrente, consegue alavancar esse apoio através de diversos mecenatos e colaborações, a Cidade sai claramente beneficiada com uma visibilidade favorável que extravasa em muito as suas fronteiras
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Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 26 de Novembro de 2012

sábado, 24 de novembro de 2012

Feira de gado na Índia


Através de http://lightbox.time.com/2012/11/23/pictures-of-the-week-november-16-23/

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

COIMBRA, CIDADE INTELIGENTE


A compreensão da evolução urbana é importante para se perceber o papel das cidades no mundo de hoje e tentar preparar um futuro que seja coerente com o passado e o presente, mas possa melhorar as condições de vida dos futuros “cidadãos”.
As cidades surgiram por motivos muito concretos relacionados com as potencialidades da sua localização. Por exemplo, Coimbra surgiu no primeiro local onde a navegação do Rio Mondego se tornava impossível para as embarcações que o subiam a partir da sua foz. O exacto local onde o Mondego deixava as montanhas para encontrar um caminho pacífico até ao mar, permitindo a navegação e a troca de mercadorias foi aquele que apresentou as condições para o surgimento e desenvolvimento de uma Cidade. Por essas e outras condições naturais e humanas, Coimbra seria muito mais tarde escolhida para primeira capital de um país em formação.
As razões para o surgimento de Coimbra foram umas. Ao longo das suas centenas de anos outras razões surgiram para a sua manutenção e crescimento. Crucial foi a transferência da Universidade no século XVI e a circunstância de a Cidade ter albergado os únicos estudos superiores de Portugal, praticamente até ao fim do século XIX.
A partir dos meados do século XX, o desenvolvimento do país criou toda uma nova envolvência às cidades e Coimbra não podia fugir disso. Alguma estagnação se sentiu na sequência de um certo desnorte no encontrar de novas razões para a sua existência, algo crucial para continuar viva no futuro.
Qualquer cidade, para se desenvolver de forma competitiva e sustentável tem que encontrar a sua razão de ser, a sua vocação, o seu carácter, perfil, atractividade, factores de diferenciação e uma capacidade de crescente desenvolvimento económico.
A necessidade de compreensão da realidade e do potencial existente continua a ser uma constante, para definir uma visão estratégica para o futuro.
Coimbra está incluída no grupo de 70 “smart cities” da Europa. A nossa cidade é a única portuguesa incluída no grupo, no qual só mais três se localizam na Península Ibérica: Pamplona, Valladolid e Oviedo. Para a escolha destas 70 “cidades europeias inteligentes” de entre quase 1.600 cidades europeias, investigadores de várias universidades usaram diversos critérios, ligados à economia, à habitação, à cultura, e às condições sociais e ambientais.
A ponderação desses factores num universo de cidades médias europeias com uma população entre 100.000 e 500.000 habitantes, dispondo de pelo menos uma universidade e com uma área de influência de menos de 1.500.000 pessoas, veio a considerar Coimbra como a única portuguesa entre as 70 cidades europeias ditas inteligentes.
A integração de Coimbra neste grupo é resultado de uma História e de uma conjugação de factores internos e externos. Corresponde a uma situação num determinado momento histórico, podendo a partir daí as condições manter-se estáveis, degradar-se ou, preferencialmente, evoluírem no sentido da melhoria. Depende da evolução das outras cidades e também da capacidade de acção dos seus responsáveis políticos para agarrarem e trabalharem as cinco áreas a que Ernâni Lopes chamava o “Pentagrama de Ouro”: a Economia, a Criatividade (cultural), a Segurança (de pessoas e bens), as Funções e Conteúdos Básicos (administração e organização), a Estabilidade Social e a Qualidade de Vida (ambiente, transportes, saúde, educação e habitação).
Como se vê, todo um conjunto de áreas que devem ser tratadas de forma integrada e harmoniosa, com visão estratégica que pressupõe conhecimento da realidade actual e da História bem como capacidade de concretização.
Muitas vezes, nas alturas cruciais das eleições para as Autarquias discute-se tudo e mais alguma coisa, menos o essencial que é aquilo que acima se resume. Que em tempo de escolha de candidatos não se esqueça o que é verdadeiramente importante para o futuro de Coimbra e dos seus cidadãos (actuais e que hão-de ser).
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 de Novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

NEGOCIAÇÃO PERMANENTE (OU REFUNDAÇÃO)



Em Maio de 2011, na negociação com a União Europeia e com o FMI com vista a chegar a acordo na elaboração do “Memorando de Entendimento” e conseguir dinheiro para o Estado pagar as suas despesas do mês seguinte, o Governo liderado por José Sócrates assumiu o compromisso de atingir “um défice das Administrações Públicas não superior a 5.224 milhões de euros em 2013”. Para chegar a esse objectivo, o Governo socialista comprometeu Portugal a reduzir despesas do Estado em diversos sectores, já em 2012, designadamente no funcionamento da administração central, na racionalização da educação e da rede das escolas, no decréscimo do nº de trabalhadores nas diversas administrações central e locais, do sector da saúde, etc. Dispenso-me de apontar os números gigantescos, que também lá estão no memorando de entendimento e que constituem a austeridade que conhecemos.
No fim de 2010, a dívida pública era de 173.000 milhões de euros, valor que resultou de uma duplicação da mesma em apenas dez anos o que, associado a um défice das contas públicas exageradíssimo, nos atirou para os braços dos agiotas internacionais que compram e vendem dívidas públicas. Em consequência da aplicação das medidas constantes no Memorando, os especialistas dizem que o défice de funcionamento do Estado neste momento já quase não existe, descontando os juros da dívida pública. E aí reside o busílis da questão. De facto, a violenta austeridade que nos foi imposta pelo Memorando de Entendimento está a dar os resultados pretendidos naquele documento. Só que o montante dos juros a pagar pela dívida pública, a que existia resultante dos desmandos anteriores mais a que estamos a assumir por via do tal entendimento com a troika que nos empresta dinheiro em vez dos mercados internacionais é muito alto; tão alto que todo o país está sufocado e sem capacidade de reagir para crescer o mínimo necessário à recuperação económica. Portugal sofre de anemia gravíssima e necessita de ferro que dê a todo o seu corpo o oxigénio suficiente para viver.
O actual Governo tem feito os possíveis e os impossíveis  (até mesmo socialmente inaceitáveis) para cumprir o caderno de encargos que lhe foi entregue pelo anterior.
O povo português tem aguentado a canga de uma forma impressionante, pelo seu estoicismo.
Mas há limites para tudo. Começa a estar provado que o peso do “Memorando de Entendimento” é demasiado para o país, pelo que tem que ser denunciado como prejudicial a partir de certo ponto, o qual suspeito que está prestes a ser atingido. Quem o negociou fê-lo depois de se terem passado todos os prazos normais para o fazer vendo-se, por isso mesmo, obrigado a aceitar tudo, mas tudo, o que os elementos da Troika imaginaram que podiam impor a Portugal.
Adicionar legenda
Tendo o actual Governo cumprido aquilo a que o anterior o obrigou e demostrado a boa-fé na vontade concreta de colocar as contas do país nos eixos, cabe-lhe agora sacudir a cabeça e encontrar novas soluções internacionais para o problema da dívida pública. A questão não é renegociar para piorar ainda mais as condições futuras, como vejo ser exigido pelas Esquerdas mais esquerdas e pelas Direitas mais direitas.
A questão é mostrar que os objectivos do “Memorando de Entendimento” só poderão mesmo ser conseguidos através de novas condições internacionais que permitam o aliviar do serviço da dívida e a retoma económica num quadro em que os mercados tenham a garantia de que Portugal honra os seus compromissos financeiros e faz de facto as reformas públicas a que se comprometeu perante a Troika. Não se trata de renegociação do Memorando, mas sim da negociação permanente exigida por uma situação limite do país, chame-se-lhe refundação, ou o que se quiser.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 12 de Novembro de 2012

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

COIMBRA, CAPITAL NA REGIÃO CENTRO



A linguagem é uma ferramenta poderosa para a comunicação. Por vezes, a troca de uma pequena palavra dá todo um novo significado a uma expressão. Há poucos dias, numa tertúlia sobre a nossa Cidade, alguém interveio sobre o papel de Coimbra na região Centro e afirmou que Coimbra deve ser a capital na região. Na região e não da região, como se costuma dizer. E a alteração pode parecer puramente semântica, mas é significativa e traz consequências, se for levada à letra pelos responsáveis políticos da Cidade.
Significa que Coimbra deverá assumir-se verdadeiramente como capital, não pode ser apenas a primeira entre as outras, que o é, por razões históricas e geográficas. Por razões históricas, porque é a cidade portuguesa mais ligada à nacionalidade, desde a fundação até aos dias de hoje, com tudo o que isso significa de património material e imaterial. Durante muitos séculos Coimbra albergou a única Universidade portuguesa, o que teve consequências muitas vezes imprevisíveis e curiosas como a existência do Brasil como um único país ao contrário das colónias sul americanas de origem espanhola que se dividiram em muitos países independentes. As razões geográficas são evidentes, desde a localização central até à população residente, muito superior a todas as outras cidades da Região, das quais apenas Leiria também ultrapassa os cem mil habitantes concelhios.
Para que Coimbra seja capital na Região e não apenas a capital da região, tem que se assumir a si própria como tal. Em primeiro lugar tem que se organizar de acordo com as cidades que hoje se projectam no futuro. Não pode lamentar o que foi ou o que perdeu. Tem que olhar para si e perceber como se desenvolveu, como se foi reorganizando internamente e quais são as suas vantagens competitivas actuais. Coimbra já não é uma cidade com um único centro, ainda que histórico e riquíssimo em património, centro esse a necessitar de uma cara e extensa regeneração urbana, já suficientemente estudada e planeada. A habitação e as actividades económicas, incluindo o comércio e os serviços foram-se organizando em novas centralidades que formaram outros tantos centros urbanos. Vastas zonas foram abandonadas devido à evolução das actividades económicas, com ocupação de novas áreas mais bem adaptadas às novas necessidades. Gerir a Cidade com perspectiva estratégica, significa entender esta nova realidade e potenciar as conexões entre todos estes centros que existem, se interpenetram e devem funcionar como um todo harmonioso.
Mas Coimbra tem também que se virar para fora e assumir-se como a única cidade das Beiras com potencial e capacidade para dar a cara pela Região Centro. Hoje em dia uma capital não se pode impor pela força ou por decreto. Antes deve ter a humildade dos fortes, que é oferecer o que tem para apoiar os outros, dando assim mais força ao conjunto; isto não se deve passar ao nível de associações artificiais e redutoras de municípios de “baixo mondego” ou “pinhal litoral” ou das outras denominadas NUT III, e sim da Região Centro que é a que pode impedir o ensanduichar entre as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Quem perceber isto e o levar à prática demonstrará verdadeira liderança. O actual presidente da Câmara de Coimbra, embora não tenha sido eleito como tal, mostra reunir todas as condições pessoais para o fazer, caso se candidate no próximo ano. Assim queira e consiga reunir equipas com os melhores, que conheçam a realidade concreta e tenham capacidade de propor as mudanças necessárias.
Coimbra precisa de se afirmar da forma que acima descrevi, interior e exteriormente. A Região Centro precisa de Coimbra para sair do torniquete de subdesenvolvimento relativo a que tem estado sujeita. Massa crítica humana há, com pessoas mais do que capazes, independentemente de inscrição em partidos. Que seja utilizada da melhor forma é o que se espera para um futuro que não existe ainda, mas que será fruto das escolhas do presente.