domingo, 30 de novembro de 2008

Sermão do Bom Ladrão

Neste "ano vieirino" não há como recordar alguns dos melhores sermões do P. António Vieira.
Peço desculpa por não começar pelo "sermão aos peixes", mas este é particularmente adequado ao presente e os "reis" de hoje fariam bem em conhecê-lo:

"Levarem os reis consigo ao Paraíso ladrões não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é tanto pelo contrário que, em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno."

FURACÃO

Ouvi hoje a Dra. Cândida Almeida, directora do DCIAP, dizer que a Polícia Judiciária foi afastada da investigação da Operação Furacão, sem indicar as razões.
Esta afirmação, embora tenha adiantado grandes elogios à PJ, permite todas as dúvidas sobre a actuação da PJ, o que só pode provocar a maior perplexidade e desconfiança.
Ficou criada mais uma situação insustentável na sociedade portuguesa, precisamente numa área que necessita de calma, sobriedade e confiança de todos: a Justiça.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Recessão

Vem aí a recessão. Da estagnação (essa palavra proibida) vamos passar à recessão.
Pior ainda: pode vir o ar gelado da estagflação.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

MONEY

A canção do momento


Botas feitas para caminhar

Para caminhar é preciso botas (ou sapatos).
Ou de como a Nancy Sinatra até tinha mais mensagem do que parecia.


FUGA PARA A FRENTE

O Conselheiro de Estado.

Numa situação com a delicadeza da que se atravessa com o BPN, a fotografia tem que ficar composta, de modo que a confiança pessoal é agora reiterada e daqui a uma semana ou coisa parecida perante novos desenvolvimentos que certamente não deixarão de surgir, o próprio pede a renúncia ou suspensão, para não colocar minimamente em causa o Presidente.
No meio de tudo isto há outra entidade que parece ter descoberto um estranho gosto por sofrer em silêncio, que é o PSD. As solidariedades são para se ter perante quem as merece e, nesse caso, afirmam-se claramente.
Um partido, ainda por cima a menos de um ano de eleições, não pode ter a sua actual postura. Das duas uma: se desconfia que o seu antigo dirigente tem algo a apontar, distancia-se e afirma-se claramente quanto à questão; caso contrário, corre o risco e atravessa-se em sua defesa. Em qualquer caso, tem é que levantar rapidamente a cabeça, porque os seus militantes não têm culpa nenhuma do que está a acontecer. Diria mesmo: e muito menos culpa têm os restantes portugueses que necessitam de sentir uma alternativa política como de pão para a boca.
Para facilitar a análise da situação, aqui ficam duas citações:

1:

Do Estatuto do Conselho de Estado:



Artigo 5.º
(Termo de funções)

1. Os membros do Conselho de Estado a que se referem as alíneas a) a e) do artigo 2.º mantêm-se em funções enquanto exercerem os respectivos cargos.

2. O exercício do cargo dos membros do Conselho de Estado a que se referem as alíneas g) e h) do artigo 2.º cessa com o mandato do Presidente da República que os tiver designado ou com o termo da legislatura da Assembleia da República que os houver eleito, mas mantêm-se em funções os membros cessantes até à posse dos que os substituírem nos respectivos cargos.

3. As funções de membro do Conselho de Estado cessam ainda por renúncia, morte ou impossibilidade física permanente, nos termos e condições previstos nos artigos seguintes.


Artigo 14.º
(Inviolabilidade)

1. Nenhum membro do Conselho de Estado pode ser detido ou preso sem autorização do Conselho, salvo por crime punível com pena maior e em flagrante delito.


2:

Da TSF em 25 de Nov. de 2008:

"O Presidente da República afirmou, esta terça-feira, que mantém a confiança em Dias Loureiro, antigo administrador da Sociedade Lusa de Negócios, que detinha o BPN. Cavaco Silva disse que o conselheiro de Estado lhe garantiu não ter cometido qualquer ilegalidade no BPN."





segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A FALTA QUE A VERGONHA FAZ




No primeiro livro da Bíblia, é descrito como, depois de praticarem o acto proibido, Adão e Eva tiveram vergonha e se sentiram nus.
A vergonha é, assim, um dos mais antigos e eficazes processos que a sociedade tem para prevenir a prática de actos considerados errados e condenáveis.
Ao longo de milhares de anos, a moral foi definindo critérios para determinar o que é ou não aceitável, tendo-se desenvolvido um quadro ético de relacionamento entre os indivíduos, entre estes e a sociedade, e mesmo entre todos e o Universo que nos rodeia.
Em simultâneo, a civilização humana foi desenvolvendo códigos e leis que regulam as nossas relações sociais e económicas. É assim que quem não tem grande respeito pelos valores éticos, tem pelo menos medo da punição pelos actos ilegais que venha a praticar.
Mas a vergonha social esteve sempre presente, ao lado do medo da Justiça.
A sociedade de hoje está a mudar todo este quadro.
Como se sabe, quer se goste, quer não, as religiões foram desde sempre o maior fornecedor de critérios morais às sociedades. A racionalização da sociedade ocidental está a levar a um acantonamento das religiões por parte dos Estados, pretendendo-se regular por lei todo o tipo de relacionamento entre as pessoas. Tende-se, assim, a considerar que os valores éticos dizem apenas respeito àqueles que seguem as suas religiões, não tendo os outros nada a ver com isso.
A consequência é um relativismo crescente que leva a considerar toda e qualquer posição como respeitável, dentro das normais definidas pela lei.
Por outro lado, a ligeireza introduzida pelos novos estilos de vida e pela inundação de informação, trazida primeiro pela televisão e depois pela internet, potencia o afastamento do pensamento profundo, da seriedade e mesmo da responsabilidade.
Uma das consequências desta evolução é claramente o desaparecimento progressivo de um quadro genericamente aceite de referências éticas e, portanto, do próprio sentimento pessoal de vergonha.
O sucedido há poucos dias, aquando da condenação de uma presidente de Câmara por três actos ilícitos, é bem a prova do que acima fica dito.
A senhora, ao ser proferida a sentença, apresentou-se como uma vencedora, porque não foi para a cadeia. Para ela, o único problema era esse. Como a vergonha desapareceu por completo do quadro mental, o que resta é a sanção judicial: não havendo prisão, ainda que haja condenação, o sentimento pessoal é de vitória e é isso que é transmitido.
Pior ainda, o tratamento dado ao caso pela comunicação social vai no mesmo caminho.
Uma sociedade que promove o desaparecimento do sentimento da vergonha, substituindo-o pela fria decisão judicial, vai por maus caminhos e só pode esperar um mau fim.

Publicado no Diário de Coimbra em 24 de Novembro de 2008

sábado, 22 de novembro de 2008

A prisão de um banqueiro

Portugal no seu pior.
Aqui há uns anos foi preso um banqueiro em Espanha: Mário Conde.
É irresistível a comparação. O banqueiro espanhol era altivo, mesmo arrogante, vestia-se bem, andava bem acompanhado e viveu o melhor possível enquanto durou.
O banqueiro português é exactamente o contrário, mais parecendo um humilde caixa do banco a que presidia.
Obviamente que esta situação do BPN é extremamente séria e merece que todos dediquemos a maior atenção aos diversos aspectos que encerra. Mas às vezes, o que parece é.

Emmylou Harris

Ouvir Brandi Carlyle ao vivo (é excelente, e impressionante pela força da sua voz, aos 23 anos) fez-me recordar a "velhinha" Emmylou Harris.
Aqui fica:
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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

EDUCAÇÃO E AVALIAÇÃO


O nosso sistema público de educação atravessa uma crise de uma gravidade profunda, que abrange já tanto professores como alunos, o que deve reconhecer-se não ser nada habitual.

O detonador desta situação foi o sistema adoptado para a avaliação dos professores.

Como em todas as classes profissionais, haverá maus professores, mas devemos reconhecer que, na sua esmagadora maioria, são profissionais competentes e interessados em educar bem os seus alunos. E fazem-no dentro de um sistema que parece hoje mais apostado em conseguir boas estatísticas do que em educar capazmente os cidadãos de amanhã.

Não é possível ignorar, ou mesmo acusar de manipulação, uma classe especialmente bem preparada em termos de cidadania, que em poucos meses faz duas manifestações nacionais com uma participação bem acima dos 50% de todo o seu universo.

É claro para quem observa de fora que os próprios sindicatos foram completamente ultrapassados em todo este processo. Foram-no em Março aquando da 1.ª manifestação, e foram-no agora quando os professores nas suas escolas, um pouco por todo o país, ignoraram o “memorando de entendimento” assinado entre o Ministério e os sindicatos. Vir igualmente acusar os alunos que agora aproveitam a boleia da confusão instalada nas escolas para fazerem as suas próprias e incipientes reivindicações é no mínimo caricato. Para quem anda sempre com o Maio de 68 na ponta da língua, vir classificar as atitudes infantis dos estudantes como manifestações anti-democráticas é, pelo menos, um pouco estranho.

Uma correcta avaliação de desempenho que permita aos melhores uma progressão na carreira mais rápida, através da acumulação de pontos, é perfeitamente normal. Se há alguém familiarizado com a avaliação de desempenho são os professores – fazem-no diariamente aos seus alunos. Também por isso desenvolveram uma sensibilidade muito grande à qualidade dos sistemas de avaliação.

E não podem concordar com o sistema que os dividiu em professores e professores titulares com recurso a critérios porventura coerentes em teoria mas completamente desajustados da realidade, dando origem a situações de injustiça concreta.

Também não lhes parece normal, por exemplo, que os professores que chumbem (perdão ao eduquês: que retenham) mais de três alunos não possam ser muito bons ou excelentes.

Por isso se vê hoje um elevadíssimo n.º de professores com muitos anos de carreira e considerados como modelos pela sua competência, a pedir reforma antecipada, o que não é nada favorável à qualidade de ensino, antes faz prever ainda mais degradação.

Os sistemas de avaliação de desempenho são importantes e necessários, mas são apenas instrumentos, e não são únicos. Não podem nem devem ser encarados como um objectivo em si mesmo, muito menos como sendo redentores de um sistema decadente, quase como uma religião, ainda por cima defendida de forma quase fanática.


Publicado no Diário de Coimbra em 17 de Novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

JOGO DE ESPELHOS

Do Diário de Notícias de hoje (incluindo os pormenores poéticos que, pelos vistos, vêm muito ao caso):

BPN: PS recusa ouvir Dias Loureiro no Parlamento


ANA SÁ LOPES
Parlamento. O pedido de Dias Loureiro para ser ouvido na Assembleia da República no âmbito do escândalo BPN não terá o voto favorável dos socialistas. A direcção do PS considera que, sendo o assunto do domínio da investigação criminal, o Parlamento não deve ouvir o conselheiro de Estado

O pedido do conselheiro de Estado para ser ouvido vai ser chumbado

O PS não vai aceitar que Manuel Dias Loureiro preste esclarecimentos no Parlamento sobre a sua ligação com o BPN, como é vontade do conselheiro de Estado, soube o DN junto de fonte da direcção. Para os socialistas, o caso do Banco Português de Negócios está a ser objecto de investigação criminal e nada justifica que a Assembleia da República (uma vez que não tem nenhuma comissão de inquérito parlamentar sobre esta matéria) venha a ser palco de qualquer intervenção nesta matéria.

Na semana passada, Dias Loureiro escreveu ao presidente da Assembleia da República a pedir para ser recebido pelos deputados, para prestar depoimento sobre a sua passagem pela administração da Sociedade Lusa de Negócios, na sequência do rebentar do escândalo BPN e consequente nacionalização. Jaime Gama enviou o pedido para a Comissão de Orçamento e Finanças, que agora o irá votar.

Mas os socialistas não entendem que o Parlamento seja a sede indicada para a defesa de Dias Loureiro, uma vez que há um processo judicial a decorrer. O destino do pedido do conselheiro de Estado será idêntico ao do requerimento do Bloco de Esquerda, que também pediu para ouvir Miguel Cadilhe e os antigos responsáveis do Banco Português de Negócios: o chumbo.

A única declaração pública de Dias Loureiro - um dos ministros mais influentes durantes os governos de Cavaco Silva - desde que foi conhecido o escândalo foi a de que desconhecia os problemas do BPN. "Não sei de nada sobre a nacionalização do Banco Português de Negócios, nem nunca tive conhecimento de problemas relacionados com o BPN", disse no dia 3 deste mês à Lusa. "Não me posso pronunciar sobre a nacionalização, porque tudo o que sei é o que leio nos jornais", acrescentou.

Dias Loureiro foi até Setembro de 2002 administrador executivo da Sociedade Lusa de Negócios, a holding que controlava o BPN. Posteriormente, até Dezembro de 2005, passou a administrador não executivo.

Na sexta-feira passada, o Presidente da República foi interrogado por jornalistas sobre o caso BPN. "Não posso fazer qualquer afirmação sobre um assunto que não conheço suficientemente. Não vejo sequer razão até para me ser feita essa pergunta", afirmou Cavaco, questionado sobre se mantinha a confiança em Dias Loureiro como conselheiro de Estado.

O ex-administrador do BPN foi um dos pilares políticos do actual PR, tanto no partido como no Governo. Cavaco começou por entregar a Dias Loureiro a gestão do PSD (nomeou-o secretário-geral) mas depois chamou-o para o Governo, onde foi ministro dos Assuntos Parlamentares entre 1989 e 1991. Depois de 1991, ocupou a pasta da Administração Interna. Foi, igualmente, um dos principais estrategas das duas campanhas de Cavaco Silva à Presidência da República. Na última, que elegeu Cavaco Silva Presidente, Dias Loureiro foi também o autor do hino de campanha."Fazer Portugal Maior é romper a bruma, abrir o dia, é rasgar o medo... é fazer melhor", rezava o refrão.

Duerme negrito

Recordar Atahualpa Yupanqui

terça-feira, 11 de novembro de 2008

CADILHE KO

Segundo a imprensa de hoje, o Estado levantou 300 milhões de euros do BPN em Agosto assim dificultando, e muito, o plano de recuperação de Cadilhe. Até se pode desconfiar que o próprio Estado tratou de criar as condições para que a nacionalização ou falência se tornasse inevitável. E é evidente que se os outros depositantes do Banco tivessem a mesma informação que o Estado, teriam igualmente procedido imediatamente ao levantamento dos seus depósitos. Já não é apenas o Banco de Portugal que começa a ficar mal visto nesta história.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

HUMANIDADE EM CAUSA




Nestes tempos em que, por motivos variados, (diria mesmo, desvairados) se tem visto usar entre nós a cruz gamada, símbolo do regime nazi, não deve deixar de se dar a conhecer a publicação de uma impressionante biografia de Heinrich Himmler, da autoria do professor e historiador alemão Peter Longerich.

A figura sinistra de Himmler foi um dos principais responsáveis do regime hitleriano, com um poder e desumanidade que muitos consideram não terem sido inferiores a Hitler. Foi da sua responsabilidade a montagem das SS, que dirigiu, bem como a definição da política de exterminação dos grupos que considerava como inimigos da Alemanha e que ficou conhecida como Holocausto: judeus, comunistas, homossexuais, deficientes e ciganos. Foi ele o responsável pela construção do primeiro campo de concentração em Dachau e o planificador e executor da chamada “solução final”.

Pretendia a purificação da raça ariana, composta apenas por homens altos, louros e atléticos, destinados a governar o mundo; tudo o que colocasse em risco este objectivo deveria ser varrido da face da Terra, assim se assassinando milhões de pessoas. Curiosamente, esta obra agora publicada levanta com seriedade a hipótese da existência de homossexualidade reprimida em alguns dos dirigentes nazis, designadamente Himmler, o que até poderá explicar a sua sanha persecutória contra os homossexuais.

Para Himmler, o cristianismo era igualmente considerado "a maior peste alguma vez criada na história", pelo que toda a tradição e cultura cristãs – que colocam a mulher no centro da sociedade – eram aberrações a destruir.

É triste que os símbolos desse regime vermelho e negro voltem a ser usados nos nossos tempos, seja em tatuagens exibidas em público, seja em bandeiras como arma de arremesso político.

O simples respeito pela humanidade em geral e pelas vítimas indefesas e abandonadas do Holocausto deveria levar à reflexão e repúdio por aqueles símbolos.

Não esqueço a resposta que um juiz deu um dia a quem lhe perguntou se achava que a humanidade ainda valia a pena, perante os horrores a que tantas vezes assistimos: “sei que vale, porque li o Diário de Anne Frank”.