segunda-feira, 28 de abril de 2008

RELATIVISMO


O Papa Bento XVI tem vindo a referir-se com muita ênfase sobre a questão do relativismo nas sociedades ocidentais, particularmente na Europa, denunciando as ameaças que contém para as novas gerações.

Mais recentemente voltou a focar esta grave questão na sua viagem aos Estados Unidos da América.

A sociedade ocidental cada vez mais “light” tende a confundir relativismo com tolerância, que é coisa muito diferente. Não há uma preocupação em conhecer em profundidade as diversas posições em causa na sociedade de forma a assim perceber os seus fundamentos e objectivos. Em consequência, não se estabelece uma clara distinção entre as diversas posições, caindo-se frequentemente na posição de tolerar tudo como tendo o mesmo valor e sendo igualmente aceitável.

Nada de mais errado e perigoso.

Torna-se pois necessário pugnar pelo conhecimento e pela cultura histórica, a fim de defender toda a nossa civilização de quem, e são muitos, a tenta minar por dentro. Não se pense que muitos dos ataques aos fundamentos culturais e religiosos da nossa civilização acontecem por acaso. Na realidade, fazem parte de uma agenda oculta de partidos e movimentos oriundos quase todos da extrema-esquerda de outros tempos que passo a passo vão destruindo os fundamentos da civilização ocidental, que as revoluções dos “amanhãs que cantam” não conseguiram derrubar pela força. Como afirmou Bento XVI em Washington, “0s conflitos pessoais, a confusão moral e a fragmentação do conhecimento colocam novos desafios para a formação académica e a educação, fundados na unidade da verdade e no serviço à pessoa e à comunidade”.

Dotar a juventude de uma educação sólida que forneça bases de cultura sustentada é a única via para fugir ao flagelo do nosso tempo que é o relativismo. Caso contrário será a nossa própria civilização que ficará fragilizada e à mercê de qualquer fundamentalista, já que os critérios de valoração estarão genericamente destruídos.

Eis por que é tão importante para todos nós a luta que Bento XVI tem vindo a travar pelo reconhecimento das bases cristãs da civilização ocidental e pela Verdade.

Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Abril de 2008

domingo, 27 de abril de 2008

PASSEIO


Como estive fora uns dias, não acompanhei a actualidade, não tendo provavelmente perdido grande coisa.
Aqui fica uma foto de recordação de um desses lugares que ainda vale a pena visitar.

CIDADANIA


Ao propor o desafio de escrever sobre cidadania, o Director do Campeão das Províncias sabia bem as dificuldades em que colocava quem aceitasse o repto.

Aceitando escrever sobre cidadania, estou bem consciente de que, no meu caso pessoal, não poderei ir pela exploração dos conceitos filosóficos, que obviamente não domino, pretendendo tão-somente discorrer sobre as questões práticas que lhe estão ligadas.

Desde logo, o termo cidadania deriva da palavra cidade, no seu sentido comunitário, o que significa que ninguém pode ser cidadão sozinho. Tanto do ponto de vista político como do ponto de vista jurídico, o exercício da cidadania obriga a um relacionamento com os restantes elementos da sociedade, assumindo o respeito por um conjunto de deveres e direitos, em igualdade de circunstâncias.

Representando uma perspectiva minimalista do exercício dessa mesma cidadania, há quem considere que, para se ser bom cidadão, bastaria então cumprir todas as leis, por ter automaticamente acesso aos chamados direitos de cidadania, em virtude de se ser cidadão (logo, tendo uma atitude passiva). A cidadania seria, desta forma, o exercício rotineiro dos seus direitos e obrigações; por exemplo, indo votar sempre que há eleições, ou pagando os impostos devidos. Fazendo o mínimo, na convicção de que basta esse mínimo para ser cidadão pleno.

Nada de mais errado, a meu ver. Isto acontece porque muita gente confunde hoje em dia os deveres com os direitos.

A cidadania exercida sem uma atitude de aproximação aos outros cidadãos é inteiramente vã. Cria apenas uma sociedade fria e burocrática, que funciona bem oleada, de um ponto de vista estritamente mecânico. Pode até suceder que a generalidade dos indivíduos cumpra os seus deveres, mas não se cria uma comunidade coesa. A cidadania plena implica um esforço de compreensão pelas dificuldades dos outros cidadãos. Desde logo, porque à igualdade formal em deveres e direitos perante a lei se sobrepõem as desigualdades reais, enquanto indivíduos naturalmente diferentes. O exercício da cidadania exige a prática de deveres, implica a construção de plataformas de entendimento e pontes com os outros cidadãos, nos mais diversos níveis. Por isso é tão necessária a existência de associações que agreguem cidadãos com perspectivas semelhantes da organização social e da definição de objectivos de futuro e sua prossecução, como é o caso dos partidos políticos, por exemplo, cuja importância social tantos tentam denegrir.

Mas a cidadania não se esgota com a actividade política. Uma sociedade bem estruturada não prescinde de uma rede de ligações entre cidadãos que permita o exercício de solidariedade organizada, como por exemplo as numerosas Organizações Não-Governamentais ou as Instituições Particulares de Solidariedade Social, que, através do voluntariado de cidadãos, preenchem as lacunas no apoio aos desprotegidos da sociedade, a quem o Estado por qualquer razão não chega. Exige ainda a existência de estruturas de organizações apartidárias, que agregam cidadãos com interesses semelhantes patrocinando a livre discussão de temas importantes, esforçando-se por contribuir para melhorar um ou outro aspecto da organização social, como é o caso dos “Clubes de Serviço” (exemplo dos Lions e Rotários). Muitas outras formas de participação cívica existem, servindo praticamente todos os gostos, desde a publicação de artigos de opinião assinados à participação em Associações de Pais, entre tantas outras.

As novas tecnologias permitem novas intervenções cívicas mais ou menos personalizadas, possibilitando a qualquer cidadão a activa – e imediata – intervenção na sociedade, como é o caso dos “blogues”.

Fundamentalmente, o que é necessário é ter a consciência de que só somos verdadeiramente cidadãos em liberdade e exercendo os nossos direitos cívicos, quando temos consciência dos deveres para com os outros cidadãos, e os exercemos efectivamente.

Publicado no Campeão das Provincias em 24 de Abril de 2008

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ELEIÇÕES NO PSD

Agora que o PSD vai a eleições havendo diversas hipóteses de escolha seria interessante que, por uma vez, os diversos candidatos se pronunciassem sobre os temas principais da sociedade portuguesa, para que toda a gente saiba ao que vai quem ganhar.
A Democracia funciona assim e era bom que nos pudéssemos habituar a isso, para não haver surpresas depois da escolha.
O processo de escolha dos candidatos republicano e democrata dentro dos respectivos partidos nos EUA é, nesse sentido, impressionante. Só para a escolha do candidato democrático entre Hillary Clinton e Barak Obama , já houve 21 debates em directo na televisão. E não são debates a fingir em que os candidatos se podem esconder em meias palavras ou mentiras, porque são imediatamente desmascarados em frente de toda a gente.
Este processo de escolha exige dos candidatos tomadas de posição claras sobre todas as matérias importantes, que obviamente até vão evoluindo durante o processo. Significa isto que as estruturas de apoio dos diversos candidatos têm que fornecer informação completa sobre as diversas matérias, como sustentabilidade económica, consequências sociais, percepção política dos eleitores, etc.
Por outro lado, a comunicação social vai acompanhando as tomadas de posição concretas dos candidatos, cruzando-as com as importâncias relativas atribuídas pelos eleitores.
Um exemplo é o acompanhamento feito pela CNN, em que os temas estão claramente definidos como se pode ver pela reprodução da página da CNN, retirada daqui :


Campaign Issues
From concerns about the economy and the war in Iraq to the perennial topics of Social Security and the health care system, a range of issues is guiding this year's presidential race.
Abortion Housing
Economic stimulus Immigration
Education Iran
Energy Iraq
Environment Same-sex marriage
Free trade Social Security
Guns Stem cell research
Health care Taxes
Homeland security


Esta atitude pode ser surpreendente para muitas pessoas entre nós que não acompanham a campanha americana e se deixam levar pela conversa da treta dos nossos anti-americanos do costume, mas como se verifica é mesmo assim e está a anos luz do nosso primarismo na escolha dos candidatos.

INGRID BETANCOURT


Ainda mais que a política interna dos países, a cena política internacional encontra-se cheia de situações de incongruência e frequentemente da maior hipocrisia.

Ingrid Betancourt é uma senadora colombiana, de origem francesa, que foi raptada em Fevereiro de 2002 pelas auto intituladas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que a mantêm em cativeiro na floresta desde essa altura.

Quando foi raptada, Ingrid Betancourt era candidata às eleições presidenciais da Colômbia. De acordo com testemunhos de outros reféns entretanto libertados, Ingrid Betancourt permanece presa com correntes metálicas ou atada a uma árvore durante a maior parte do tempo. É fácil de imaginar o estado de saúde de uma mulher retida na floresta nestas condições, contra a sua vontade e sem acesso aos medicamentos necessários.

O rapto não tem qualquer justificação, a não ser o valor de Ingrid para uma eventual troca por membros das FARC feitos prisioneiros pelas autoridades colombianas.

As FARC constituem um caso interessante na cena internacional. Foram constituídas em 1964 na sequência de um daqueles casos de injustiça frequentes na América Central, sendo um movimento de esquerda de inspiração marxista.

Esta força paramilitar terrorista utiliza essencialmente dois métodos para se financiar e continuar na senda da instituição do socialismo revolucionário na Colômbia: em primeiro lugar, através do negócio da coca, para produção de cocaína que, como se sabe, é plantada em larga escala nas florestas colombianas – negócio esse bastante rentável embora absolutamente desprezível e condenável; a outra fonte de recursos é precisamente o sequestro de pessoas, e sua posterior troca por prisioneiros ou dinheiro, dispondo as FARC permanentemente de várias centenas de pessoas nessas condições, o que é igualmente demonstrativo do carácter daquela gente.

Curiosamente, ou talvez não, as FARC são desculpadas e até muito bem toleradas em certos meios europeus. É conhecida a sua presença nos festivais do Avante até há poucos anos. Por outro lado, é frequente encontrar entre nós articulistas que culpam o governo colombiano pela situação de Ingrid Betancourt.

A França, dado que Ingrid Betancourt possui também nacionalidade francesa, tem feito todos os esforços para providenciar apoio médico à prisioneira, até agora sem resultados.

Espera-se que esta situação seja rapidamente ultrapassada, antes que a prisioneira, que não tem qualquer culpa pelo sucedido, seja mais um vítima mortal dos movimentos terroristas que pululam pelo mundo em nome de uma utopia que já provou ser a mais sanguinária da História.

Publicado no Diário de Coimbra em 21 de Abril de 2008

domingo, 20 de abril de 2008

HERBERT VON KARAJAN

O canal arte da TV CABO transmitiu hoje de manhã o concerto de homenagem da Orquestra Filarmónica de Berlim ao seu antigo Maestro Herbert Von Karajan, pelo centenário do seu nascimento.
A obra escolhida foi o Concerto para Violino de Beethoven, tendo a Filarmónica sido dirigida por Seiji Ozawa.
A solista, claro, só podia ser Anne-Sophie Mutter.
SUBLIME

sábado, 19 de abril de 2008

BRÁS GARCIA DE MASCARENHAS


Expectativas largamente ultrapassadas.
Música adequada para este encontro:


Não vou fazer comentários ao que se passou.
Fica apenas uma foto de grupo actual (a possível) de uma turma do 5º ano no longínquo ano de 1969:

sexta-feira, 18 de abril de 2008

BRÁS GARCIA DE MASCARENHAS

Amanhã vou ter uma das experiências pessoais mais interessantes dos últimos anos.
Vou participar num encontro de antigos alunos do antigo Colégio Brás Garcia de Mascarenhas em Oliveira do Hospital, que frequentei do 1º ao 5º ano do Liceu em finais dos anos 60.
Foram anos felizes.
Vou rever colegas, homens e mulheres porque o Colégio era misto o que os amigos da Cidade não compreendem muito bem porque nos liceus não havia mistura, que não vejo há quase 40 anos.
Para não falar de professores e professoras que não faço ideia se estão vivos.
Desejo um bom fim-de semana a todos, com uma musiquinha desse tempo feliz e despreocupado:



Da mesma cantora que aposto poucos recordam, (Esther Ofarim) aqui fica outra belíssima interpretação que faz uma boa ligação aos nossos dias, esperando que me perdoem a deriva romântica e nostálgica.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

COMUNIDADES DE AFECTOS

A Assembleia da República aprovou ontem as alterações ao regime jurídico do divórcio. Basicamente é eliminada a culpa para a concretização do divórcio.
A Esquerda em bloco age assim contra um dos pilares essenciais da sociedade, e não sou só eu que o digo.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem tão incensada pela Esquerda quando lhe convém, afirma a este respeito o seguinte:

“A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado”

Como é evidente, este novo regime fragiliza a situação da mulher e dos filhos.

Uma deputada do Bloco de Esquerda dizia ontem que este novo regime defende melhor as liberdades individuais e que isso é o mais importante. Claro que um casamento pressupõe obrigações mútuas, o que pode ser visto como uma auto-limitação de liberdade individual por quem apenas vê o individualismo como valor absoluto e egoísta.

Chamar a este tipo de relacionamento casamento é uma pura falácia. Por este andar, a instituição casamento ficará apenas confinada ao casamento religioso que, como todos sabemos é muito mais, porque se trata de um Sacramento. Qualquer dia quem se quiser mesmo casar temo que ir à Igreja, porque casamento civil já não terá grande significado porque não dá qualquer segurança a nenhum dos elementos do casal.

Só para se perceber um pouco melhor os fundamentos desta nova lei, transcrevo parte da "exposição de motivos" que a justifica e peço que seja lida até ao fim sem demasiadas gargalhadas, porque o assunto é muito sério:

"Em segundo lugar, assume-se de forma explícita o conceito de responsabilidades parentais como referência central, afastando assim claramente a designação hoje desajustada de “poder paternal”, ao mesmo tempo que se define a mudança no sistema supletivo do exercício das responsabilidades parentais considerando ainda o seu incumprimento como crime. Finalmente, e reconhecida a importância dos contributos para a vida conjugal e familiar dos cuidados com os filhos e do trabalho despendido no lar, consagra-se pela primeira vez na lei e em situação de dissolução conjugal, que poderá haver lugar a um crédito de compensação em situação de desigualdade manifesta desses contributos."....

..."Para identificar o processo da sentimentalização basta analisar diacronicamente as práticas da vida conjugal e familiar nas últimas décadas para inevitavelmente concluir que os afectos estão no centro da relação conjugal e na relação pais-filhos. Não excluindo a existência de outras dimensões importantes da conjugalidade e da vida familiar, como a dimensão contratual, a económica e a patrimonial, que obviamente também é necessário ter em consideração, é no entanto inegável ser a dimensão afectiva o núcleo fundador e central da vida conjugal. Quanto às relações familiares entre pais e filhos foi ficando cada vez mais claro que o bem-estar psico-emocional dos últimos passou a estar em primeiro plano. "

Parece-me que nem são precisos mais comentários para se aquilatar do calibre de quem consegue "parir" um aborto de lei destas.









segunda-feira, 14 de abril de 2008

ANGOLA - CRIMES CONTRA A HUMANIDADE

Acabei de ler no Blogue Sorumbático o artigo que António Barreto escreveu este fim-de-semana no Público.

Ainda não estou em mim com o que acabei de ler, nomeadamente a transcrição (comprovada) de uma carta que Rosa Coutinho, à altura representante máximo de Portugal em Angola, enviou a Agostinho Neto em fins de 1974, que reproduzo com o devido respeito ao Sorumbático:

“ Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela”.

NOTA: bold da minha responsabilidade.

Não me passa pela cabeça que os nossos órgãos de Soberania algum dia tenha tido conhecimento desta atitude, mas agora já não é possível ignorar.

Trata-se de uma atitude criminosa que, nem por terem passado mais de trinta anos pode passar sem consequências. É obviamente um crime contra a humanidade e assim deve ser tratado nas instâncias internacionais devidas. Já no que diz respeito aos portugueses em Angola, sim porque era deles que Rosa Coutinho falava a Agostinho Neto, aquilo que ele fez sendo representante oficial de Portugal só pode ter uma classificação: TRAIÇÃO.

Espero que em qualquer dos casos o Estado Português cumpra o seu dever.


HERBERT VON KARAJAN



Como já referi num comentário anterior, passam este mês 100 anos sobre o nascimento de Karajan.
O meu canal favorito da TV CABO, o MEZZO, dedica este mês de Abril a um tributo ao maestro, que não se deverá perder, pelo que aqui fica o anúncio.
Entretanto, aqui fica o Bolero de Ravel:

GOSTAR DOS JOVENS



A edição europeia da revista TIME publicou há poucas semanas um trabalho exaustivo sobre os graves problemas da juventude britânica dos dias de hoje.

Esses problemas, que assumem um carácter epidémico, manifestam-se de várias formas, destacando-se o crime violento, gravidez adolescente, alcoolismo acentuado e abuso de drogas.

As razões apresentadas para a actual situação prendem-se com:

– Falta de acompanhamento, e mesmo de afecto, por parte dos pais;

– Falta de mobilidade social;

– Sistema educativo que beneficia os privilegiados;

– Mudanças sociais abruptas que proporcionaram uma descida do número de casamentos e que levaram a que os pais disponham de pouco tempo para acompanhar os filhos.

Em Portugal, discute-se hoje em dia a violência nas escolas, havendo pouca preocupação com a situação da juventude em geral. É claro que a problemática da juventude britânica ainda não é reproduzida na sociedade portuguesa. Mas, se virmos bem, a situação está a mudar, e convinha olharmos bem para as alterações profundas e muito rápidas que se verificam entre nós.

De facto, as razões que levaram à actual situação na Grã-Bretanha estão também a acumular-se entre nós: os pais cada vez acompanham menos os filhos desde tenra idade, acabando estes por socializar apenas com elementos da mesma faixa etária; a cada vez maior diferença entre os rendimentos das diferentes classes sociais ajuda a uma maior estratificação social; a crise grave do sistema educativo público beneficia claramente os filhos das classes com mais recursos financeiros; a diminuição acentuada do número de casamentos e o aumento de divórcios conjugam-se para diminuir a estabilidade familiar, o que tem consequências na formação da personalidade dos filhos.

Esta conjugação complexa de factores permite concluir que o vírus poderá já estar inoculado na nossa sociedade.

Na realidade, temos hoje um consumo claramente excessivo de álcool por parte dos jovens (mais de 30% consomem demais entre os 13 e os 17 anos). A promiscuidade é também um facto, com os jovens a iniciar a actividade sexual, muitas vezes desprotegida, cada vez mais novos. A cultura individualista alastra a olhos vistos, potenciada pelos altos níveis de desemprego e grande competitividade profissional.

Como sempre, é muito melhor prevenir do que remediar. Trata-se de uma área em que as próprias Cidades deverão passar a ter um papel importante na prevenção, porque, para além de se acudir às situações de risco iminente, está praticamente ainda tudo por fazer.

Com vista à sua própria sustentabilidade, a sociedade tem que promover atitudes de afecto pelos seus jovens e acompanhá-los no desenvolvimento das suas capacidades e ambições.

Publicado no Diário de Coimbra em 14 de Abril de 2008

domingo, 13 de abril de 2008

VERGONHA

Esta notícia é um vergonha para o PSD, sem qualquer desculpa. Este é o mesmíssimo senhor que armou uma cena contra Marcelo Rebelo de Sousa quando comentava na TVI, enquanto ministro de Santana Lopes.
Só posso manifestar o meu vivo repúdio por esta atitude e pela minha parte pedir desculpa aos visados enquanto militante do PSD e esperar que este senhor deixe de ser vice-presidente do partido o mais depressa possível.
Notícia:

Lisboa, 12 Abr (Lusa) - O vice-presidente do PSD Rui Gomes da Silva afirmou hoje que a RTP deveria recusar a contratação directa ou indirecta da jornalista Fernanda Câncio, porque ela tem "um relacionamento com o primeiro-ministro", José Sócrates.


Em conferência de imprensa, na sede do PSD, Rui Gomes da Silva quis reiterar a discordância do seu partido em relação à participação da jornalista do Diário de Notícias Fernanda Câncio num programa da RTP2 sobre bairros sociais.

sábado, 12 de abril de 2008

CONVITE À DANÇA

Celebremos a Primavera, com esta valsa russa magnífica (valsa da Jazz suite nº 2 de Dmitri Shostakovich):

quinta-feira, 10 de abril de 2008

ET ÇA CONTINUE…

Sondagem CM/Aximage publicada hoje:

a) Intenções de voto.

PS: 35,7%

PSD: 26,0%

Abstenção: 45,2%

b) Variação das intenções de voto no último mês.

PS: +1,9%

PSD:-2,4%

c) Confiança para primeiro-ministro.

José Sócrates: 39,4%

Luís Filipe Menezes: 26,5%

d) Actuação do Governo.

Pior do que esperava: 52,7%

Melhor do que esperava: 11,8%

Igual ao que esperava: 33,3%

quarta-feira, 9 de abril de 2008

PONTES E HOMENS




O Prof. Carvalho Rodrigues criticou ontem violentamente a construção da nova ponte de Lisboa.
Partindo do exemplo do que está a acontecer na ponte Vasco da Gama, previu que a nova ponte vai potenciar o surgimento de inundações cada vez mais graves na margem direita do Tejo, particularmente na zona de Sacavém.
De facto, as fotografias aéreas da ponte Vasco da Gama mostram claramente o assoreamento à volta dos seus pilares de uma forma contínua ao longo do seu comprimento, formando uma espécie de açude, que impede a passagem livre das águas do rio. As consequências a nível de inundações na zona referida, a montante da ponte, já foram visíveis nos últimos meses aquando de chuvadas mais fortes.
A construção de uma nova ponte nas proximidades, que criará uma nova área de assoreamento, agravará esta situação de uma forma impressionante com consequências imprevisíveis.
Claro que, como as consequências serão para os seres humanos, os ecologistas estão caladinhos. Se o problema tivesse a ver com abetardas, lobos ou ratinhos do campo aí teríamos as associações todas a gritar aqui'el rei, a fazer manifestações e apelar para as instâncias internacionais.
Carvalho Rodrigues chegou a dizer que os responsáveis por estas decisões deviam ir para a cadeia, tal é a gravidade das consequências do que fazem.
As ligações entre as duas margens do Tejo na região de Lisboa são necessárias e mesmo esta nova ponte não resolve completamente o problema, muito longe disso. A sustentabilidade económica e ambiental de toda aquela área exige no entanto, para além de decisões, qualidade e competência técnica e científica. Numa situação destas, não se pode simplesmente pedir ao LNEC que estude em dois meses a melhor entre duas soluções de ponte que lhe são apresentadas, sem poder, por exemplo, acrescentar alternativas em túnel.
Ao estudarem soluções adequadas, os nórdicos chegam ao ponto de incluir na mesma ligação a ponte e o túnel, como se vê na imagem. Mas isso é em países ricos que se podem dar ao luxo de estudar as soluções mais sustentáveis, inclusivamente do ponto de vista económico, para os problemas de ordenamento do território.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

MAIOR DESIGUALDADE SOCIAL

De uma forma incompreensível, a comunicação social praticamente ignorou um relatório do INE sobre a distribuição dos rendimentos das famílias portuguesas publicado na passada semana. De facto, apenas a imprensa especializada em assuntos económicos lhe dedicou atenção, apesar do seu importantíssimo significado para a compreensão das actuais tensões da sociedade portuguesa e para a avaliação social dos resultados das actuações políticas governamentais entre 1995 e 2005.

Entre os vários aspectos referidos naquele relatório, destaca-se o acentuar da diferença entre os rendimentos das famílias mais ricas e mais pobres. Numa década, esse fosso duplicou. Enquanto em 1995 o rendimento médio das famílias mais ricas era 4,6 vezes superior ao das famílias mais pobres, em 2005 esse valor passou a ser de 8,9.

Significam estes números que nesta década os rendimentos das famílias mais ricas cresceram muito mais do que os rendimentos das famílias mais pobres. Muito significativo e com consequências sociais mais gravosas é o facto de as famílias mais ricas terem visto os seus rendimentos crescerem 1,4 vezes mais que as famílias da chamada classe média, que, por sua vez, ainda conseguiu afastar-se cerca de 1,3 vezes das famílias mais pobres.

Trata-se de uma tendência generalizada para a qual a OCDE tem lançado avisos, pelo que Portugal não está sozinho neste problema. Já a Espanha e a Irlanda viram diminuir o fosso na mesma década, o que é politicamente muito significativo.

A globalização será uma das causas deste fenómeno, ao eliminar as protecções das sociedades dos vários países, colocando-as em competição directa na produção económica e acentuando assim as desvantagens das menos preparadas.

Um dos aspectos cruciais a ter em conta para dar a volta a esta situação, e o mais rapidamente possível, sob pena de a nossa sociedade se tornar cada vez mais terceiro-mundista, é a educação. De facto, a maior vantagem comparativa das famílias mais ricas relativamente às outras está na qualidade da educação que podem oferecer aos seus filhos e que lhes permite aceder mais facilmente a carreiras em áreas competitivas a nível internacional.

É absolutamente crucial alterar radicalmente o panorama da educação em Portugal se queremos uma sociedade menos desigual. Se a escola pública continuar a ser dominada por teorias educativas ultrapassadas centradas no aluno e no seu bem estar, a desigualdade social continuará a aumentar e a média geral a descer. Não adianta atribuir diplomas para melhorar artificialmente as nossas estatísticas a nível internacional. O que é necessário e urgente é esquecer todo este passado e introduzir sem receios critérios de rigor e exigência absolutos, desde o 1º ao 12º anos e obrigar as escolas a cumpri-los sem contemplações.

Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Abril de 2008

domingo, 6 de abril de 2008

SONDAGENS E PERSPECTIVAS

Sem que tal tivesse suscitado grandes comentários dos responsáveis partidários (et pour cause...), o Expresso publicou ontem os resultados de uma sondagem sobre as perspectivas actuais dos portugueses sobre os partidos políticos e a governação:
- PS: 42,1%
- PSD: 29,4%
- CDU: 9,6%
- BE: 8,4%
- CDS: 6,0%
Partindo destes valores, o Expresso conclui que há uma viragem à esquerda no país, somando os partidos à Esquerda do PS 18%, o que já não sucedia desde 1979, verificando-se que a descida do PS corresponde a um ganho desses partidos, não sendo absorvida pela Direita.
Esta lembrança de 1979 não deixa de ser curiosa, já que foi precisamente nesse ano que a AD ganhou as eleições pela primeira vez.
Claro que as indicações desta sondagem são preocupantes para a Direita, quer para o PSD, quer para o CDS.
Parece óbvio que os eleitores, ao afastarem-se do PS e do Governo, não encontram respostas aos seus problemas nos partidos da Direita, indo refugiar-se à Esquerda.
Os eleitores querem respostas e vão tentar encontrá-las onde pensam que elas estão e já poderão ter retirado a maioria absoluta ao PS.
Quer isto dizer que o PSD necessita urgentemente de mostrar que tem essas respostas e a credibilidade para as concretizar, sob pena de não estar à altura das suas responsabilidades, com as consequências que se adivinham.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

HERBERT VON KARAJAN

Passam hoje cem anos sobre o nascimento do maestro Herbert von Karajan, considerado por muita gente como o maestro mais importante do século XX.
Como não podia deixar de ser, aqui fica um momento único da sua carreira e da história da música:
o primeiro andamento da 5ª de Beethoven, com a sua filarmónica de Berlim

AMVOX

O amigo JPF a quem dediquei a primeira mensagem sobre o AMVOX2 Chronograph DBS acaba de me informar sobre o seu verdadeiro custo, o que agradeço.
Como agora se diz, "então é assim":
O brinquedo para o pulso custa uns meros 23.000 Euros; se for comprado com o carrito, fica apenas em 15.000 Euros o que convenhamos, é uma pechincha. Ver aqui e aqui.
Três notas importantes:
1)
Fico satisfeito por estes comentários já terem despertado o interesse de mais alguém por estas matérias.
2) Garanto aos visitantes mais politizados que estes comentários não têm qualquer mensagem política subliminar.
3) Para evitar mal-entendidos, informo que não possuo qualquer máquina deste género, nem conto algum dia vir a possuir.




AMVOX

O amigo Fernando questionou-me sobre o preço do relógio AMVOX2 Chronograph DBS a que me referi dois comentários abaixo.
Não sei qual o preço, embora possa fazer uma ideia por comparação com outras peças do mesmo género, isto é, não me surpreenderia se custasse à volta dos 40 ou 50 mil euros. Tal como o Aston DBS deverá custar uns 250 a 300 mil euros.
Nestes casos o preço não me interessa para nada. Como disse, trata-se apenas de admirar construções mecânicas absolutamente excepcionais realizadas pelo génio humano, que se aproximam de verdadeiras obras de arte. No caso do relógio, basta imaginar o que serão mais de trezentas peças em movimento perfeitamente coordenado e controlado, a funcionarem num espaço reduzido, em condições de falta de estabilidade e mantendo a máxima precisão. Quanto ao automóvel, será uma das construções mecânicas mais sofisticadas dos dias de hoje, recorrendo a soluções de engenharia mecânica, de materiais e de electrónica extremamente avançadas que, eventualmente, um dia serão mais ou menos comuns nos restantes automóveis a preços já abordáveis pela maioria dos mortais. Claro que o luxo de materiais e acabamentos também ajuda ao preço destes produtos.
Como disse, estas peças aproximam-se muito de obras de arte. As obras de grandes artistas, como as pinturas de Paula Rego na actualidade,
por exemplo, atingem igualmente valores astronómicos, acessíveis a muito poucos afortunados.
Não é o facto de atingirem valores astronómicos que nos vai impedir de admirar estes produtos do engenho humano, sabendo-se bem que a sua posse é de facto privilégio de um número reduzido de pessoas, esperando-se apenas que os possuam não só por os poderem adquirir, mas porque conhecem bem o que significam culturalmente.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Governo pelo privado

Os senhores Secretários de Estado do Ministério da Educação reuniram-se hoje com representantes dos professores em Coimbra.
A reunião decorreu nas instalações de uma escola privada, no caso a Bissaya Barreto. Sem ironia, regista-se o bom gosto e o sinal dado à sociedade em geral sobre a opção pelo privado dos senhores Secretários de Estado.

terça-feira, 1 de abril de 2008

AMVOX2 Chronograph DBS

Penso que nesta altura do campeonato os meus fieis leitores já terão percebido o meu interesse por relógios mecânicos, principalmente se forem bonitos e tiverem grandes máquinas lá dentro.
Hoje apresento uma das peças mais extraordinárias que apareceram nos últimos tempos.
Trata-se do AMVOX2 Chronograph DBS. Alguns notarão as letras AM e DBS e poderão achar algo estranho o seu aparecimento na designação de um relógio.
De facto não é uma coincidência. AM são mesmo as iniciais de ASTON MARTIN. E DBS, bem, é isso mesmo, refere-se a essa máquina impressionante e o sonho de qualquer amante de bons automóveis que é o Aston Martin DBS.
O relógio a que me refiro é pois o resultado de uma colaboração entre a Jaeger-LeCoultre e
a Aston Martin e como tal só podia ser uma coisa absolutamente extraordinária.
Trata-se de um cronógrafo produzido numa série extremamente reduzida em que em vez de se carregar nos botões tradicionais para o fazer trabalhar, se carrega muito simplesmente no cimo e no fundo do mostrador.
Para além do feliz e merecidamente bem sucedido comentador que consegue fazer do círculo um quadrado, só conheço uma pessoa que mereceria inteiramente possuir uma jóia destas que é o meu amigo JPF.
Aqui fica a imagem daquilo que estou a descrever, se conseguirem desviar a vista do animal de quatro rodas que está ao lado:



VERDADES DURAS COMO PUNHOS


No passado fim de semana, António Borges deu uma entrevista ao Público onde, a certa altura, disse o seguinte:
"Os factos são o que são. Em 2005, fui ao Congresso do PSD e apresentei uma moção onde me disponibilizei para ajudar o PSD a ter uma oposição mais activa em relação ao Governo. O congresso teve lugar no fim-de -semana e na segunda-feira, logo de manhã, fui chamado ao gabinete do ministro Manuel Pinho que me comunicou que todos os contratos com a Goldman Sachs estavam cancelados a partir daquele momento".
Após estas afirmações, o ainda ministro Manuel Pinho pretendeu desmentir António Borges garantindo que honestamente não se lembra de ter falado com ele.
Dois comentários:
-Em primeiro lugar, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. No momento em que António Borges devia ter assumido a sua candidatura não teve coragem para o fazer; se o tivesse feito, mesmo perdendo, estaria hoje numa posição completamente diferente perante os militantes do PSD que, embora tendo muitos defeitos, apreciam sobretudo quem tem coragem para ir à luta. Com isto não quero dizer que não tem hipóteses: tem apenas que sair da redoma intelectual e ir à luta pura e dura dos argumentos políticos, para além da técnica.
- Em segundo lugar, a actuação do ministro Manuel Pinho que politicamente não é ninguém, é bem a imagem dos dias de hoje, em que um Estado cada vez mais omnipresente põe e dispõe na área económica. Em vez de colocar a economia em cima e apoiar as pequenas e médias empresas como lhe competia, trata de manipular cada vez mais os grandes negócios em função de objectivos políticos.
Apesar de tudo, António Borges fez muito bem em se afirmar com esta entrevista. É de atitudes destas que o país precisa; de quem seja capaz de apresentar caminhos diferentes e de os sustentar devidamente do ponto de vista técnico.
Doutor António Borges: que não lhe doa a mão e não se fique por Alter do Chão.




A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR ALI?

Os cubanos foram autorizados a dormir em hotéis até agora reservados a estrangeiros.
Esta pequena manifestação de liberdade dada aos cubanos no seu próprio país será utilizada por muito poucos, dada o baixíssimo nível dos ordenados em Cuba, mas vale pelo significado.
Segue-se à autorização de comprar fornos de microondas, leitores de DVD, computadores e uso de telemóveis por particulares.
É o próprio regime comunista que, na sua fase moribunda, vem confirmar as correntes com que tem limitado a liberdade dos cubanos.