sexta-feira, 29 de maio de 2020

Branding Territorial

Video de promoção da pós-graduação em "Brending Territorial" da Business School de Coimbra. alusivo ao Dia Nacional da Energia.
 https://cbse.iscac.pt/




quarta-feira, 27 de maio de 2020

À ABORDAGEM

Em 1975 a comunicação social estava a ser dominada pela extrema esquerda, com o PCP à cabeça. A certa altura apareceu o Jornal Novo, para lutar contra esse domínio ideológico em que nem o jornal tradicional do PS escapava. O MFA, juntamente com os comunistas, tentava fazer aprovar uma nova "lei de imprensa" para acorrentar de novo a liberdade de imprensa recentemente conquistada, sendo responsável governamental pelo sector um militar da Marinha, se não estou enganado o Cte. Correia Jesuíno. E o Jornal Novo dedicou-lhe um célebre artigo de Artur Portela Filho com o título «À ABORDAGEM» que nunca mais esqueci. Felizmente, a seguir veio o 25 de Novembro e tudo isto ficou para a História para frustração de Álvaro Cunhal e seguidores que não tiveram a sua "Revolução de Outubro".
O que é que me fez lembrar este momento da nossa História? Os ataques esquerdistas ao OBSERVADOR por ter realizado uma campanha de novas assinaturas e doações para compensar o dinheiro do Estado para publicidade recusado pelo jornal online. E rapidamente levantaram dinheiro que compensa o que prescindiram do Estado, marcando a sua independência. Os críticos chegam ao ponto de exigir as listas dos apoiantes do Observador. A Liberdade passa mesmo por aqui e estes ataques demonstram quem é que de facto acabaria com ela se quisesse.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

PRESIDENCIAIS à portuguesa


Uma visita a uma fábrica de automóveis constitui o cenário mais improvável para se fazer um anúncio de apoio a uma recandidatura presidencial. Mas foi o que aconteceu em Portugal, neste ano da (pouca) graça de 2020.
Não é que a recandidatura do actual presidente da República não fosse algo de que praticamente todo o país tivesse a certeza a começar pelo próprio, correndo-lhe o actual mandato como correu. Recordo que, no Verão de 2015, numa conferência de Marcelo em Coimbra, lhe perguntei se confirmava a intenção de se candidatar às presidenciais de Janeiro de 2016, ao que me respondeu com a sua ironia que era algo em que ainda não tinha pensado até então, mas que ia pensar nisso, provocando uma gargalhada geral na sala.
Eventualmente, o momento e o local para a indicação da decisão não terão sido propriamente do agrado do Presidente Marcelo, mas também não foram da sua escolha e, às vezes, não se pode fugir às circunstâncias. O «affaire» Centeno foi uma situação muito desagradável para o primeiro-ministro que, perante uma situação penosa que o colocava em cheque perante o país, viu Marcelo dar-lhe a mão, enquanto abandonava politicamente o ministro das Finanças. Foi assim possível ver um Costa todo prazenteiro dizer a Marcelo que contava voltar a encontrar-se de novo com ele como Presidente no mesmo local, numa altura que será depois das presidenciais. Como lhe costuma acontecer jogou bem e, no que lhe diz respeito quanto às presidenciais e como se diz no casino, «les jeux sont faits».
Claro que esta nova situação tem consequências. À esquerda do PS deverão aparecer candidaturas às presidenciais, como é tradição. Quanto ao PCP, apresentou sempre os seus próprios candidatos presidenciais, pelo que decerto fará o mesmo desta vez. O Bloco de Esquerda desejará fazer o mesmo, havendo mesmo quem adiante a recandidatura da conimbricense Marisa Matias que nas anteriores presidenciais obteve um honroso 3º lugar com 10,12% dos votos, deixando muito para trás o candidato do PCP Edgar Silva que se ficou por uns míseros 3,95%.
O anúncio do apoio de Costa a Marcelo deixou sem respiração uma boa parte do PS que muito dificilmente apoiará o actual presidente. Contudo, e muito convenientemente, o Congresso socialista foi postergado para depois das eleições presidenciais, pelo que as discussões internas se ficarão a um nível mais privado e, eventualmente, mais controlado pela direcção do partido. Espera-se, no entanto, que Ana Gomes ou outra personalidade semelhante capaz de surfar a onda do populismo «anti sistema» à esquerda se veja alvo de pressões no sentido de uma candidatura independente da área socialista, podendo mesmo avançar como Manuel Alegre já fez no passado. 
Recorda-se que em 2006 Manuel Alegre obteve quase 21% contra o vencedor Cavaco Silva (50,54%), tendo Mário Soares, que era o candidato oficial do PS, obtido apenas 14%. Ana Gomes poderá fazer melhor, caso o BE não apresente candidatura própria.
À direita, de forma algo surpreendente estabeleceu-se a confusão, como que a querer provar ser mesmo «a direita mais estúpida do mundo», lançando nomes cada um mais implausível que o anterior. É certo que o Presidente Marcelo não corporizou oposição aos governos Costa, desde 2016, havendo mesmo muitos momentos em que se pode legitimamente considerar que foi a mão mais ou menos visível que os segurou. Mas alguém minimamente atento à coisa pública pode afirmar que os partidos tradicionais à direita do PS têm exercido oposição forte e susceptível de afirmar uma clara alternativa política, desde a saída de Passos Coelho da liderança do PSD? Será que estariam à espera que o presidente da República fizesse esse trabalho por eles? Mais uma vez o PSD vai chegar atrasado a uma tomada de posição importante, quando já poderia e deveria ter publicamente afirmado que o seu antigo líder Marcelo é o candidato que, sem quaisquer dúvidas, irá apoiar de novo. André Ventura tentará levar o voto de uma direita também «fora do sistema» para o seu nacionalismo populista, mas o resultado deverá surpreender pela sua irrelevância política.
Claro que Marcelo Rebelo de Sousa pode ter sido irritante para a direita pela forma como se relacionou com o Governo neste mandato, mas é evidente que veio dessa área política. Direita que, em vez de saudar grande parte da esquerda por reconhecer que o seu antigo candidato Marcelo teve um bom mandato como Presidente a ponto de lhe dar agora o seu apoio, mais parece andar perdida e ciumenta por causa desse apoio.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Maio de 2020

Fundo de recuperação

Estudo sobre o Fundo de Recuperação pelo COVID 19. Portugal não receberia,l antes pagaria para os países que mais sofreram directamente com a pandemia . Só quem como é evidente, pandemia é uma coisa, consequências económicas são outra. E, quanto a estas últimas, Portugal é uma desgraça.
Ão olhar para isto percebe-se melhor o silêncio sufocante do governo: não te dinheiro para acções fortes como os países do norte e espera pelo apoio deles. Se não vem, estamos lixados.



Gordon Lightfoot - Sundown {HD}

domingo, 24 de maio de 2020

José Cutileiro

A última vez que escreveu no seu blogue «Retrovisor» foi no dia 28 de Agosto de 2019. Na altura em que morreu Vera Futscher Pereira. Desde então que ia lá espreitar à procura daqueles textos deliciosos, mas não nunca mais lá escreveu. Agora foi-se também e ficam os textos para ir descobrindo com calma. Até sempre.

Secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media

“Não adianta estar a promover a leitura de jornais se não fizermos simultaneamente a promoção da literacia mediática, isto é, da capacidade de qualquer cidadão, seja de que idade for, poder descodificar, compreender e ler de maneira clara os sinais do seu tempo”

Não foi Goebbels que disse isto exactamente, mas todo o discurso  anda lá perto.  Ou o jeito que dá ter um Sec. Estado do Cinema do Cinema, Audiovisual e Media. Meus caros srs., dispenso esta vossa vontade de me educar.


O governo do Brasil!!!

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Liszt - La Campanella (100,000 special)

DANTE: O NONO CÍRCULO DO INFERNO

“Do aflito reino o imperador eu via:
Do gelo acima o seio levantava.
A um gigante igualar eu poderia”




O Portão do Inferno não tem porta, nem fechaduras, nem nada de especial. Apenas um letreiro que diz: “Deixai toda a esperança, ó vós que entrais”. A partir daquela porta as almas deixam de ter o livre-arbítrio de que gozavam na sua vida anterior, passando a assumir apenas o castigo das opções tomadas. E foi por essa porta que Dante entrou para conhecer o Inferno, tendo-se-lhe juntado logo à entrada o espírito de Virgílio que o encaminhou pelos diversos círculos do Inferno.
Como sabemos, no Inferno de Dante, à medida que se vai descendo nos círculos a gravidade dos pecados vai aumentando e o nono é o último, portanto o local dos piores pecados: a Traição.
Ao saírem do oitavo círculo, Virgílio e Dante encontram os seis gigantes que, acorrentados em poços congelados por terem atraiçoado Júpiter, impedem a passagem ao nono círculo. Um deles, Anteu, ajuda-os a passar ao lago congelado Cócite, o nono círculo do Inferno, o fundo do funil dos círculos do Inferno, já perto do centro da Terra. É lá que estão imersos os que cometeram o pior dos crimes, a traição, sendo a morada do próprio Lúcifer, o traidor de Deus que nas bocas das suas três cabeças exibe três grandes traidores: Judas que atraiçoou Cristo, Brutus e Cássio que traíram imperadores romanos.
Correspondendo à gravidade da traição cometida, os traidores estão distribuídos por quatro esferas: Caína, Antenora, Ptolomeia e Judeca cujas designações remetem cada uma para um traidor famoso.
Das quatro esferas que constituem o nono círculo do inferno, as duas últimas castigam precisamente os maiores pecadores de todos. O nome da esfera Ptolomeia remete para Ptolomeu, que convidou Simão e os seus dois filhos para o seu castelo em Jericó, para os matar traiçoeiramente, depois de lhes dar de beber em quantidade. As almas dos que penam nesta esfera estão dentro do gelo, tendo apenas as caras de fora onde as lágrimas se congelam instantaneamente. São assim eternamente castigadas por traírem os que convidaram para as suas próprias casas, os seus estabelecimentos, as suas instituições.
Já a última esfera remete para Judas Iscariotes que historicamente se converteu no próprio nome da traição, Na esfera da Judeca, são castigados os que atraiçoaram os seus líderes e estão totalmente imersos no gelo, com a única excepção do próprio Lúcifer metido no gelo até metade do peito.
Dante Alighieri nasceu em Florença em Maio de 1265 e é a prova de que, ao contrário do que muitos iluministas séculos mais tarde tentaram fazer crer, a Idade Média não foi a idade das trevas. Das suas muitas obras sobressai a “Divina Commedia” considerada uma das obras mais importantes da literatura universal, pela sua composição mas também pelo seu carácter eminentemente enigmático e pelo número e carga das alegorias que contém. A obra, dividida em trinta e quatro cantos, é composta por três partes, sendo o Inferno precisamente a primeira, e o Purgatório e o Paraíso as outras duas, sendo que nesta última viagem é guiado pela jovem Beatriz Portinari. A sua influência na Cultura universal é enorme, tendo suscitado obras dos mais diversos artistas, desde músicos como Liszt a pintores como Botticelli, De Chirico, Delacoix e muitos outros.
A leitura desta obra-prima com setecentos anos deveria ser aconselhada a todos os que, de alguma forma, ascendem a lugares de proeminência social, económica ou mesmo, quase que diria principalmente por se tratar do bem-comum, política. Aí aprenderiam como os principais pecados, diremos hoje más-acções ou crimes, são aqueles que se relacionam com faltas cometidas perante quem convida para esses lugares, mas também precisamente por quem convida. Algo muito mais importante do que agir apenas de acordo com as leis do momento. Os leitores portugueses que queiram conhecer a “Divina Commedia” até têm hoje a vida facilitada, por disporem de uma recente tradução portuguesa, da autoria de Vasco Graça Moura.
As alegorias de Dante aplicam-se às sociedades de todos os tempos. Nos dias de hoje podemos estar a falar de simples empregos em empresas, mas também dos cargos máximos de administração. Ou de governos em que chefes e subordinados não se devem atraiçoar reciprocamente, ainda que por omissão, esquecendo-se que estão num palco cuja plateia é toda a população de um país. Fariam bem em lembrar-se do gelo do esquecimento das duas últimas esferas do nono círculo do Inferno de Dante

Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 18 de Maio de 2020

Que impertinência

O INE confirmou que o valor da carga fiscal aumentou 4% em 2919 para 74 mil milhões de euros, situando-se em 34,8% do PIB, o mesmo rácio de 2018. Recordemos que em 1995, no primeiro ano do governo socialista de Guterres, a carga fiscal era de 29,2% e quando ele fugiu do "pântano" deixou uma carga fiscal de 31.1%. O seu sucessor Sócrates recebeu uma carga fiscal de 30,9% e quando foi estudar para Paris deixou uma de 33,3%.

Daqui:  https://impertinencias.blogspot.com/2020/05/cronica-da-asfixia-da-sociedade-civil_18.html#more

terça-feira, 12 de maio de 2020

A memória do nazismo: para não esquecer

Obama em 2014

«There may and likely will come a time in which we have…an airborne disease that is deadly. And in order for us to deal with that effectively, we have to put in place an infrastructure—not just here at home, but globally—that allows us to see it quickly, isolate it quickly, respond to it quickly…So that if and when a new strain of flu, like the Spanish flu, crops up five years from now or a decade from now, we’ve made the investment and we’re further along to be able to catch it.»

Recolhido em  https://impertinencias.blogspot.com/

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Peter Gabriel...The Carpet Crawlers.

E AGORA, EUROPA?


A decisão tomada a semana passada pelo Tribunal Constitucional Alemão (TCA) foi um duche de água fria nos voluntarismos europeus para encontrar rapidamente meios de apoio comunitários às consequências económicas da pandemia COVID-19. Embora a decisão não tenha sido contrária às medidas previstas pelo Banco Central Europeu (BCE), contudo o TCA solicitou ao BCE explicações sobre o programa de compra de activos (quantitative easing) aplicado desde 2015. Cabe aqui referir que, sem este programa, Portugal nunca teria tido as facilidades de financiamento de que dispôs nos últimos seis anos, já que a nossa dívida externa nunca o permitiria. Pela sentença tomada por sete votos contra um, o TCA vem requerer ao BCE que demonstre, nos próximos três meses, que o programa «quantitative easing» não viola o princípio da proporcionalidade previsto nos tratados europeus o qual, no entanto, foi considerado conforme às regras comunitárias pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) em 2018.
Surgem, aqui, duas questões. A primeira é verificar se, de facto, as acções de apoio da Comissão Europeia e do BCE aos diversos países em causa, incluindo Portugal, ao longo dos últimos 6 anos, encontram o devido respaldo nos tratados europeus. Depois, é a própria estrutura organizativa da União Europeia que está em causa, já que a entrega voluntária de soberania dos países para a EU significa que as instituições nacionais se devem submeter às comunitárias, de acordo com os tratados incluindo, claro, as alemãs; acresce que o BCE foi constituído com uma independência própria, precisamente à imagem e semelhança do próprio Banco Central Alemão, o Bundesbank.
A questão é grave, dado que no Bundesbank está parqueado um quarto das dívidas compradas pelo BCE e, caso não obtenha resposta satisfatória, o TCA ameaça ordenar ao Bundesbank que abandone o «quantitative easing» e que recoloque no mercado os 534 mil milhões de euros de activos adquiridos no âmbito do programa.
Há uma noção generalizada de que, efectivamente, as instituições europeias, perante as crises dos diversos países desde 2010 até hoje, terá andado a adiar reformas necessárias e urgentes na sua organização, tarefa política difícil e muito complicada de levar a cabo pela dimensão que hoje tem a União Europeia e os diversos interesses nacionais e regionais, preferindo fechar os olhos ao estrito cumprimento dos tratados relembrem-se, por exemplo, as regras referentes ao défices e dívidas públicas.
As respostas a estas questões ditarão o futuro da União Europeia da qual, convém lembrar, já saiu o Reino Unido abrindo o caminho a outras saídas.
Há um conjunto de países que nem podem ouvir falar em sair da União e/ou do Euro, que são aqueles cuja saída, em função da falta de competitividade e elevadas dívidas, os atiraria para uma tragédia sem descrição possível. Entre eles está precisamente Portugal, acompanhado pela Espanha, Itália e Grécia. Do lado oposto estão a Alemanha e a Holanda que, ao contrário daqueles, criaram excedentes comerciais consideráveis o que lhes permite agora dedicar uma percentagem apreciável do PIB aos apoios às suas economias pela crise económica consequência da pandemia. Enquanto Portugal prevê destinar 4,4% do PIB em políticas de crédito e orçamentais e a Espanha 8%, a Alemanha prevê para o mesmo fim 29,8% do seu PIB, o que irá agravar ainda mais o fosso entre os países ricos do Norte e os endividados do Sul, se não houver uma política comunitária de redistribuição justa.
No passado dia 8 de Maio passaram 75 anos sobre a capitulação alemã marcando o fim da Segunda Grande Guerra na Europa. Não deve haver na História europeia um período de tempo tão alargado sem guerra, o que é um activo humano de valor incalculável. A União Europeia surgida no caminho, alargamento e aprofundamento da Comunidade Económica Europeia-CEE encontra-se numa encruzilhada provocada agora, não pelo Homem, mas pela Natureza que desde sempre foi enviando uns vírus para nos pôr à prova e o fez agora de novo.
Claro que, ao contrário do que aconteceu com as palhaçadas dos ministros da Holanda, agora, entre nós, impera um silêncio gritante mostrando que o respeitinho é muito bonito e é fácil ter voz grossa com os pequenos e fininha com os fortes. Sinal de que, desta vez, a questão é mesmo séria e todos devemos ter consciência disso.

 Publicado originalmente no Diário de Coimbra, em 11 de Maio de 2020

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Anti-parlamentarismo

É cada vez mais frequente assistir a tomadas de posição anti-parlamentares. Em vez de se criticar politicamente opções políticas com que se discorda, atira-se directamente à Assembleia da República como instituição.
Mal. Isso é atirar à Democracia. Claro que, como todas as instituições, os parlamentos têm defeitos de funcionamento. Mas as vantagens superam esses problemas.
O resumo do anti-parlamentarismo está aqui:
«Eu sou de facto, profundamente anti-parlamentar, porque detesto os discursos ocos, palavrosos, as interpelações vistosas e vazias, a exploração das paixões não à volta de uma grande ideia, mas de futilidades, de vaidades, de nadas sob o ponto de vista nacional…»
Esta é a transcrição de parte de  uma entrevista de Salazar a António Ferro em 1932. Impressiona ver tanta gente hoje em dia, a repetir estas palavras, sem fazer a mínima ideia do seu significado profundo e das consequências de serem levadas à prática.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

JORNAIS


Não ligamos muito a cada um deles. De tal forma que, depois de lido, vai para a reciclagem. Muitas vezes, irritamo-nos com o que lá vem escrito. Mas é como se passa com os velhos amigos: discute-se, anima-se a conversa e, no fim, venha de lá aquele abraço. Na realidade, a vida seria diferente, para pior, se não existissem.
A existência dos jornais tem passado pelas mais diversas dificuldades, desde que surgiu o primeiro jornal em papel, na China, há mais de mil anos, desde censuras a concorrência de outros meios como sucede hoje com a internet.
Jornal é sinónimo de Liberdade. Liberdade de opinião, desde logo. Mas também liberdade de associação e económica. Em conjunto, é a Liberdade de Imprensa, cujo dia mundial se celebrou precisamente no dia de ontem.
A presente crise constitui também uma ameaça aos jornais. Desde logo, pela queda abrupta da actividade económica que dita uma diminuição equivalente de receitas de publicidade, essenciais para a sua sobrevivência económica. Depois, porque a prevalência de um assunto de notícias durante um prolongado período de tempo, cansa os leitores, diminuindo o interesse pela leitura dos jornais. Acresce algo que se está a passar de forma avassaladora, que é a partilha de jornais e revistas pela internet, essencialmente pelo WhatsApp. Já não é a partilha de artigos, que todos fazemos de uma ou de outra maneira, que até poderá será vantajosa para as respectivas publicações ao indicar-se a origem, mas de publicações inteiras. Sei que grandes publicações estão a ser gravemente afectadas por este fenómeno que se reflecte de imediato, imagine-se em quê? Em reduções no que pagam aos seus colaboradores, para além da dispensa de outros. Estimado leitor, pense nisto antes de partilhar publicações: há alguém que sofre por causa disso.
Uma das medidas governamentais de apoio à actividade económica consiste na compra de publicidade nos jornais no montante de uns 15 milhões de euros. Trata-se, evidentemente, da maneira mais fácil de fazer chegar o necessário dinheiro às publicações periódicas, mas será a pior possível. Por duas razões imediatas: por um lado a publicidade institucional cria dependência política; por outro lado, é de imediato favorecido o partido governamental do momento que, como é bem sabido, e seja ele qual for, só por o ser ocupa de imediato uma imensidão de organismos e dependências do Estado por todo o país, instituições essas objecto da publicidade paga pelo Governo.
Dentro do universo dos jornais, há alguns que têm um interesse suplementar por uma característica muito própria: são os jornais locais ou regionais. Há quase 15 anos que tenho a honra de poder colaborar semanalmente num dos mais notáveis jornais locais de Portugal, o Diário de Coimbra. O DC está a celebrar o seu 90º aniversário, já que o seu primeiro número foi para as bancas em 24 de Maio de 1930, tendo o seu número zero saído no anterior mês de Abril. Nesse número se dava a justificação para o seu surgimento, em defesa da Região das Beiras e da cidade de Coimbra, «dotando-a de um jornal destinado a pugnar pelos interesses da “malfadada região”, em cuja extraordinária importância os poderes políticos nunca atentaram como deviam». 
Como todos sabemos, mas não é demais recordar, foi fundado por Adriano Lucas tendo, a partir de 1950, a sua Direcção sido assumida pelo filho Eng. Adriano Lucas, até ao seu falecimento em 2011. Durante o regime autoritário e não-democrático auto-nomeado Estado Novo a sua publicação esteve suspensa durante um ano por se opor à censura e depois, restituída a Liberdade em 74, o Eng. Adriano Lucas foi voz activa e determinante para que a Lei de Imprensa significasse de facto aquilo por que lutara toda a vida. Caso único entre os jornais diários portugueses, o DC mantém-se na propriedade da família do seu fundador, garantia de que as suas preocupações editoriais de sempre se mantêm como farol indicador do seu rumo, ao contrário de tantos jornais nacionais que foram referência e se transformaram em algo incaracterístico ao serem comprados por quem nada tinha a ver com a sua História.
Também o Diário de Coimbra está a sofrer com as consequências económicas da pandemia que atingiu o mundo. A importância da sua subsistência não está na sua História, certamente importante mas passado, antes no que nos poderá ainda dar no futuro. É por isso que, hoje, é crucial lermos o Diário de Coimbra e assiná-lo ou comprá-lo para o efeito.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Maio de 2020