sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pérolas ministeriais

Por deferência da RTP, eu hoje vi com os meus olhos e ouvi com os meus ouvidos a Senhora Ministra da Saúde garantir em Faro:
Quem achar que tem consulta marcada há mais de dois meses, use o telefone.
Achar?
Eu acho que tenho 54 anos, será mesmo?
Eu acho que estamos em 2008, será mesmo?
Eu acho que hoje é sexta-feira, será mesmo?
Eu achava que para ser ministro, deveria haver exigências mínimas, estarei enganado?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

DESÍGNIOS

A justificação para se construir uma auto-estrada para Bragança não é mais que um desígnio. Não há qualquer argumento económico para a construir e ninguém desmonta o raciocínio: medo de perder os votos de Trás os Montes?
Esta auto-estrada parece que vai custar 440 milhões de euros, não se sabendo qual o retorno.
Lembro que o Euro 2004 foi justificado como "desígnio nacional". Até hoje ninguém mostrou os números concretos do Euro para o país. E até há para aí uns tipos (sempre os mesmos, aliás) a falar num Mundial de futebol e ninguém vai preso.

O NATAL ESTÁ A CHEGAR

Uns "jingle bells" bem actuais, por Diana Krall:


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

E NINGUÉM REPARA?

É absolutamente impressionante o que se passa na comunicação social debaixo dos olhos de todos nós.
Uns ministros fazem os disparates diários que se podem observar, outros desapareceram para parte incerta como Mário Lino e aquele senhor da Cultura que ninguém conhece.
A "Educação" é o que se vê, a Justiça e a Economia idem.
Estamos em depressão, seja ela técnica ou não, como é bem visível para toda a gente.
Ninguém sabe muito bem quem paga os "magalhães", nem sequer se são os mesmos que andam de sessão de apresentação em sessão de apresentação.
Entretanto, os jornais e as televisões continuam a tratar o PSD como se fosse o responsável de tudo o que acontece. Ele é Dias Loureiro, ele é Oliveira e Costa, ele é Cadilhe, ele é Paulo Rangel, ele é Guilherme Silva, ele é Santana Lopes, ele é Marco António, ele é Menezes, ele é Marcelo.
Enfim, ele é Manuela Ferreira Leite que trata os deputados como crianças de colégio.
O leitor não acha que há aqui uma desfocagem de alvo, relativamente ao que verdadeiramente interessa aos portugueses e relativamente à visibilidade da realidade? Não lhe passa pela cabeça que por cada bronca com pessoal do PSD (e, note-se, não os estou a desculpar) há pelo menos uma outra abafada com pessoal do PS?
Entretanto o tempo vai passando e qualquer dia estamos em eleições, tendo passado a ideia de que das duas uma: ou o PSD é responsável por grande parte das "chatices", ou não é credível para governar.
Depois é fácil levar as pessoas a votar onde logo de seguida se arrependerão, mas será tarde demais.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Imperador da Língua Portuguesa



Está prestes a terminar o ano em que se comemoram os 400 anos do nascimento do Padre António Vieira.

Dada a vida e obra do padre jesuíta, as comemorações brasileiras foram muito mais significativas que as portuguesas, já que no país irmão se releva a sua acção em prol da cultura e dignidade dos índios brasileiros num tempo em que tal atitude era excepção à regra.

Na nossa Cidade, as poucas acções comemorativas havidas, embora de elevada qualidade e indiscutível interesse, não saíram dos muros da Universidade, razão por que a população em geral não terá dado por elas. Coimbra esteve representada nas Comemorações através do Prof. Doutor Aníbal Pinto de Castro na Comissão Científica e de dois Centros da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra na lista das Instituições Associadas, mas não houve exposições, conferências para o público em geral ou mesmo concursos escolares como se verificou um pouco por todo o país.

Não quero crer que a circunstância de a passagem do Padre António Vieira por Coimbra por volta de 1663 não ter sido muito feliz, ainda hoje se reflicta no tratamento da Cidade à sua memória. De facto, foi nessa altura que depois de anos de perseguição infrutífera a Inquisição o conseguiu encarcerar em Coimbra e o obrigou a responder às acusações que lhe vinha fazendo havia muito tempo.

A acção do Padre António Vieira e da Companhia de Jesus em defesa dos índios do Brasil e a sua luta persistente contra a escravatura valeram-lhe os ódios dos colonos do Brasil e da maior parte da nobreza. A proposta que fez a D. João IV, inusitada para a época, de serem abolidas as distinções entre cristãos novos e cristãos velhos veio ajudar a que o Santo Ofício se juntasse aos seus inimigos e perseguidores.

Para além de toda a polémica que rodeou a sua vida, há no entanto algo perene que nos legou e que leva a que muitos o considerem o “Imperador da Língua Portuguesa”, que são os seus muitos escritos.

Muitos deles contêm ensinamentos que ainda hoje são actuais e cujo conhecimento nos poderia ajudar na nossa vida.

Dos seus brilhantes sermões, um há de que não resisto a citar um breve trecho, que se chama “Sermão do Bom Ladrão”:

"Levarem os reis consigo ao Paraíso ladrões não só não é companhia indecente, mas acção tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é tanto pelo contrário que, em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno."


Publicado no Diário de Coimbra em 8 de Dezembro de 2008

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

As nossas ajudas

Os jornais de hoje anunciam medidas económicas do Governo que visam incentivar a troca de automóveis, para ajudar o sector automóvel.
Porquê o sector automóvel?
As outras áreas económicas não estão em crise?
No fim de semana passado soube-se que, pela primeira vez em vinte anos, os casinos estão a perder dinheiro. Não se arranjam por aí uns euros para ajudar os amigos dos casinos?
Agora a sério. Todo o país está ou vai estar em recessão. Esta obsessão de ir a correr atrás de sector em crise está a criar injustiças profundas e a cavar um buraco no défice que todos vamos pagar com línguas de palmo, muito em breve.
Lembram-se das consequências das nacionalizações do Vasco Gonçalves que andámos a pagar durante dezenas de anos?
Pois a continuar assim, num dia destes acordamos e o Estado é outra vez dono de mais de 50% do PIB.



terça-feira, 2 de dezembro de 2008

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

BIOMBOS

Quem tenha acompanhado a comunicação social nos últimos dias não poderá deixar de se ter admirado com o número de “notícias” e de comentários sobre dois protagonistas improváveis da nossa vida colectiva, atendendo ao momento crítico que se vive: a presidente do PSD, Dra. Manuela Ferreira Leite e o Presidente da República, Prof. Cavaco Silva.

A Dra. Ferreira Leite sofreu ataques de todos os lados, quer tenha falado, quer tenha ficado calada, quer tenha falado sério, quer tenha ironizado.

A líder do PSD não pode propor descida de impostos para enfrentar a actual crise, no que está bem acompanhada pela Comissão Europeia e pelo ex-ministro das Finanças Campos e Cunha, porque o controle do défice é que é necessário.

Não pode colocar em causa as decisões sobre os grandes projectos sem garantir a sua sustentabilidade e papel efectivo na competitividade, no que é igualmente acompanhada pelo Prof. Campos e Cunha, porque esses projectos serão necessários para a recuperação da economia, o que está ainda por provar.

Não se pode queixar do tratamento da comunicação social às suas intervenções, porque é queixinhas e não pode pretender condicionar a comunicação social.

Se fossem precisos exemplos para demonstrar que tem razão nessa queixa, os últimos dias deram-lhe inteiramente razão. A Dra. Ferreira Leite propôs há quase dois meses uma alteração no pagamento do IVA para ajudar as pequenas e médias empresas, passando essa entrega ao Estado a efectuar-se aquando do pagamento e não no momento da emissão da factura. Aqui d’el rei, que a Dra. Ferreira Leite é incompetente e não percebe nada disso, porque as normas da União Europeia proibiriam essa alteração. Pois bem, a semana passada a Comissão Europeia veio informar que não tem nada contra essa alteração. O leitor encontrou alguma referência na comunicação social a essa posição e ao facto de ir de encontro ao proposto pela Dra. Ferreira Leite?

Quanto ao Presidente da República, assiste-se igualmente a uma barragem de ataques enviesados com base em financiamentos que a sua candidatura recebeu de forma totalmente legal e na situação de um Conselheiro de Estado que ele deveria demitir, o que até lhe está vedado pela lei.

Isto é, a gravíssima crise financeira que também já é económica e a aproximação de uma série de actos eleitorais, parecem levar à criação de criar biombos artificiais que escondam a realidade.

Mas a realidade surge de todo o lado.

Só nos últimos dias, para além da revisão sistemática e quase semanal das previsões económicas em baixa, foram conhecidos relatórios que reflectem a gravidade do que se passa.

Assim, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, o indicador de clima económico caiu em Novembro pelo sexto mês consecutivo, para o nível mais baixo desde 1989, com especial intensidade na indústria transformadora; por outro lado, o indicador de confiança dos consumidores baixou para o nível mais baixo desde 1986.

Por mais biombos que se coloquem, a verdade é que a realidade da crise se está a impor com tal força que já não pode ser escondida, sendo crucial juntar esforços para a enfrentar e não escamoteá-la.


Publicado no Diário de Coimbra em 1 de Dezembro de 2008