sexta-feira, 30 de abril de 2021

Ourivesaria Costa


 O Sr. José da Costa, proprietário da Ourivesaria Costa na rua Ferreira Borges em Coimbra, tem 89 anos e trabalha na mesma loja há 75 anos, de forma ininterrupta. Nasceu na Baixa e na Baixa continua a viver e trabalhar. É um exemplo para todos os comerciantes. Hoje de manhã fez o favor de me mostrar uma série de fotografias antigas da Baixa de Coimbra e da praia fluvial que todos os anos era montada na zona da Portagem para fruição de milhares de pessoas. A qualidade das estruturas provisórias de madeira que eram montadas todos os verões para fruição das gentes de Coimbra era espantosa. 

Aqui fica uma dessas fotos :



quinta-feira, 29 de abril de 2021

Michael Collins

 Morreu o astronauta solitário da Apollo XI. Enquanto os dois colegas desceram à Lua, ele ficou sozinho na nave à volta da Lua. Tirou uma célebre fotografia em que aparece a superfície da Lua e a Terra ao fundo. Nessa ocasião ele era o único ser humano fora da fotografia.
Aqui o meu speedmaster que celebrou os 40 anos desse feito.


terça-feira, 27 de abril de 2021

Diário de Coimbra

 


KAMOV

 Sobre os negócios espantosos do Siresp e dos Kamov, Henrique Raposo escreveu já em 2017, no Expresso diário (nota: os bichos continuam no chão e ninguém pergunta nada a A. Costa):

«Como relembrou o jornalista Filipe Santos Costa no Expresso, o ministro António Costa e o secretário de estado Rocha Andrade adjudicaram o Siresp em 2006 quando tinham todas as cartas para extinguir o ruinoso negócio. Aliás, Costa e Rocha Andrade rasgaram o contrato original que vinha do governo Santana com base num parecer mais do que negativo da PGR. No entanto, renegociaram o Siresp nas bases técnicas e financeiras que se conhecem. Rocha Andrade volta a ser personagem no negócio dos Kamov, que é obscuro do princípio ao fim. Os Kamov foram contratados à Rússia (primeira perplexidade) e contra pareces técnicos (segunda perplexidade); os aparelhos foram entregues muito fora do prazo e "sob reserva" (terceira perplexidade). "Sob reserva" queria dizer que os aparelhos ainda não podiam funcionar - o que levou a nova espera de dois a t rês anos por aparelho. E aqui entra a quarta e derradeira perplexidade: apesar dos atrasos e falhas, apesar do consórcio já estai· em incumprimento, Rocha Andrade suavizou as penalizações da empresa (15% do valor possível) e aceitou pagai· mais cedo. No final deste festim de impunidade patrocinado por Costa, o Estado teve de alugar outros meios aéreos devido à inoperacionalidade dos Kamov, em 2007 tudo foi acelerado através de ajuste direto e a empresa criada por Costa para gerir os helicópteros (Empresa de Meios Aéreos) foi considerada pelo Tribunal de Contas como um exemplo de desperdício. Resta dizer que os Kamov continuam no chão, não voam.»

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Querida Baixa de então

 


Esta não é uma crónica sobre nostalgia, embora esteja seguro de que vai provocar alguma ou mesmo muita nalgumas pessoas. Sucede que numa destas noites sonhei com situações que se passaram comigo em duas lojas que se situavam na Baixa e que já não existem há muito. Quando acordei dei por mim a lembrar-me de mais algumas dessas lojas e devo confessar que fui atacado por uma enorme saudade.

Resolvi recordar aqui algumas dessas lojas, sem qualquer pretensão de rigor nem de ser exaustivo, já que se há algo que nos prega partidas é a memória, pelo que peço desde já desculpa pelas falhas que houver no texto. Certo é que de todas as lojas que vou referir guardo uma outra recordação pessoal, seja por alguma compra, seja pela interacção com os lojistas.

Vou, pois, convidar-vos a fazer uma piscina pelo canal e quem tiver mais de 50 anos percebe o que eu quero dizer com este convite. Quem não tiver…pergunte a alguém mais velho.

Ao lado da estátua de Joaquim António de Aguiar, o simpático «mata-frades» nascido ali bem perto, existia uma loja de tecidos, o «Novais», onde era possível escolher os tecidos das calças e dos casacos ou mesmo dos fatos, que se mandavam fazer um pouco mais à frente na Ferreira Borges no alfaiate Serafim ou no alfaiate Abito na Sá da Bandeira. Ainda na Portagem, lá estava a Hilda, casa de fotografia do Sr. Varela Pécurto que um dia, nos anos oitenta, foi comigo no helicóptero da BT da GNR fotografar as filas dos pontos de trânsito nevrálgicos de Coimbra, era eu funcionário autárquico.

Quando se queria comprar um «LP» havia a Valentim de Carvalho logo à entrada da Ferreira Borges onde a aparelhagem Rotel permitia ouvir com a maior qualidade. Mais adiante a discoteca da Novalmedina tinha a D. Adelina que tudo conhecia de filmes e músicas, principalmente de esquerda, claro…Na Visconde da Luz o Neves dos Vidros tinha o primeiro andar onde os pequenos estúdios permitiam fazer audição prévia dos discos e onde até o filho do dono, o saudoso Dr. Neves da Costa chegou, quando jovem, a ajudar na escolha.

O Arcádia e a Brasileira eram os cafés de excelência de Coimbra onde no primeiro se reunia a intelectualidade e a política e no segundo, além do café e conversa, se podia ir dar umas tacadas de bilhar no piso superior. Já na Central ia-se comer um éclair de chocolate e no Nicola do Sr. Abelha subia-se ao primeiro andar para comer uma meia torrada acompanhada por um galão depois de a Mãe ter ido ao cabeleireiro Salão Azul, mesmo em frente, escola da maioria dos cabeleireiros de hoje da nossa Cidade. Ao lado a Papelaria Cristal vendia canetas de boas marcas e lá se ia comprar a necessária régua de cálculo para as aulas de matemática do liceu.

Na Casa Amado escolhiam-se os tecidos de decoração para casa, na San Remo uma carteira e na Casa das Luvas as ditas ou outros complementos. Era sempre possível ir ver uma exposição de pintura à Galeria do Primeiro de Janeiro e, com sorte, encontrar o Mestre Mário Silva numa das suas apresentações extravagantes. E quase ao lado íamos cortar o cabelo à magnífica Barbearia Basílio com os seus enormes espelhos. Aqui coexistiam as três grandes livrarias da cidade para o mundo: a Atlântida, a Coimbra Editora e a Novalmedina.

No Último Figurino o Sr. Alfredo Coroado e o Sr. Fausto ajudavam a comprar vestuário da moda ou a escolher uma gravata de seda. Por cima, a boutique Delfieu tinha as últimas novidades mais modernas. A Loja das Gabardinas do Sr. Martins oferecia uma enorme possibilidade de escolha e o pronto-a-vestir incluía ainda ao fundo da Visconde da Luz a Nova Paris dos srs. Fonseca e Flaviano com a sua montra especial. Na Bambi no início da Rua Corpo de Deus íamos comprar as batas escolares e as sapatilhas Sanjo.

Deixando a Ferreira Borges, entrava-se na Visconde da Luz com as ourivesarias: a Patrão com o Sr. Elísio Patrão ajudado pelo Sr. Simões com ourivesaria e relojoaria incluindo a representação da Omega e em frente a Brinca igualmente com o nome da família proprietária estando quase ao lado a Santos do Sr. Santos.

O movimento de pessoas da Baixa justificava a existência do supermercado Colmeia e a Visconde da Luz fechava com a espectacular Perfumaria Galera do saudoso Sr. Ribeiro.


Fora do canal devo recordar o Carlos Camiseiro à entrada da Rua Eduardo Coelho ou “Rua dos Sapateiros” e toda a Rua Adelino Veiga ou «rua dos bazares» com o Hospital das Bonecas, o El Dorado onde o Sr.Manuel ajudava na escolha das malhas Sidney e calças de ganga de marcas variadas, o Saul Morgado que apresentava louça e vidros de todo os tipos nas galerias da cave e os bazares de Coimbra e de Lisboa que nos faziam sonhar com os comboios eléctricos e miniaturas de automóveis da Corgi Toys.

Propositadamente deixo para o fim algumas da lojas que resistiram heroicamente ao vendaval que levou tudo o que acima recordei. O Sr. Jorge Fernandes da Óptica Fernandes, o Sr. Marques da Casa dos Enxovais são queridos amigos que bem mereciam ser homenageados por uma Autarquia que defenda realmente os exemplos de cidadania, capacidade de luta por uma economia próxima e amor à Cidade. Tal como o Sr. José da Costa e o Sr. Cruz com as ourivesarias Costa e Ágata e os Braga com os seus chapéus. E porque os últimos são os primeiros, aqui presto homenagem sentida ao Sr. Cândido Carvalho e sua saudosa mulher Sra. D. Maria João da Loja das Meias (a verdadeira, a de Coimbra). Durante décadas receberam clientes sem olhar a diferenças sociais, sempre com uma simpatia e uma esmerada capacidade de acolhimento e conhecimento profissional que transformavam qualquer cliente num amigo, no que têm no filho um perfeito herdeiro.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 26 de Abril de 2021

Fotos recolhidas na internet

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Marquês improvável

 


Quem o tenha visto nas tv´s depois da longa leitura do despacho de pronúncia pelo Juiz Rosa terá certamente estranhado a satisfação e sentimento de vitória evidenciados pelo ex-primeiro-ministro José Sócrates. Afinal, ele acabava de ser pronunciado para ser julgado por seis crimes, três de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos e acusado com todas as letras pelo juiz de Instrução de ter sido corrompido, embora esse crime já estivesse prescrito. Segundo as palavras do próprio juiz Rosa, e para vergonha dos portugueses, José Sócrates andou mesmo a «mercadejar a sua personalidade» enquanto era primeiro-ministro de Portugal. Embora a acusação do Ministério Público o tivesse acusado de 31 crimes e o juiz de instrução Rosa tenha deixado cair 25 deles, deve ser difícil qualificar pior a acção de um ex-primeiro-ministro.

Os dias que entretanto passaram sobre aquela inédita leitura do despacho de pronúncia, durante várias horas em directo para as televisões, deixaram assentar alguma poeira e já permitem ter algumas leituras sobre o caso difíceis de ter em cima do acontecimento.

Desde logo, o juiz Rosa retirou da pronúncia todas as acusações de corrupção. Para tal, socorreu-se de um oportuno e muito discutível a diversos níveis, desde a matéria e suas implicações até aos subscritores passando pela data, acórdão do Tribunal Constitucional que faz, relativamente a uma determinada situação concreta, logo sem estabelecer jurisprudência mas realmente passível se ser invocado, uma determinada interpretação dos prazos de prescrição nos crimes de corrupção. Claro que, dado que o MP vai interpor recurso para o Tribunal da Relação, este poderá ter uma interpretação diferente, anulando as decisões do Juiz Rosa nesta matéria. Recorda-se, a propósito, o historial do Juiz Rosa no que toca a reversões das suas decisões por parte do tribunal da Relação: nos últimos quatro anos, foram pelo menos dezassete.

O Juiz Rosa encontrou as suas melhores justificações para anular as acusações de corrupção e crimes subsequentes como os de branqueamento de capitais, enquanto adjectivava o trabalho de anos de investigadores e Ministério Público como «delirante e fantasioso». Corruptores e corrompidos passaram num ápice a vítimas. Não se diga que o trabalho do MP é isento de falhas, parece estar longe disso, mas trocar as situações não parece ser nem justo, nem favorável para a imagem da Justiça portuguesa. Aguarda-se com curiosidade saber se o Tribunal da Relação irá aceitar que as entregas de 1,7 milhões de euros pelo «amigo» a José Sócrates consubstanciavam a verdadeira corrupção, acusação que parece ser essa sim, verdadeiramente delirante, fora de toda a lógica e com pouco rigor e consistência. E falta ainda o verdadeiro julgamento, para se poder dizer que a Justiça decidiu.


A jornalista Maria Antónia Paula. mãe do primeiro-ministro António Costa, perguntava-se há poucos dias no jornal Público: «Sócrates, porquê tanto ódio?», assim virando o bico ao prego e sustentando a habitual manipulação de sentimentos e lealdades políticas de Sócrates. Está no seu direito, mas faria melhor em perguntar como é possível um partido nacional com tantas responsabilidades como é o Partido Socialista seguir e propor ao país de forma cega e sem pensar dois segundos, um político que se definia a si mesmo com um «animal feroz» e que, desde o primeiro cargo governativo até ao fim, sempre alimentou suspeitas sobre a sua honestidade (freeport, face oculta e operação Marquês). Tudo isto enquanto se acumulavam sinais sobre uma insuportável mistura entre governação e economia (PT e BES) e se atirava o país para o mais desgraçado estatuto de protectorado de que temos memória com a pré-bancarrota e a chamada da troica. E a jornalista ainda pergunta porquê tanto ódio? A cegueira política tem que ter um limite. Colocando de lado a apesar de tudo possível hipótese da síndrome de Estocolmo e sem ter que sair da família socialista, vá perguntar, por exemplo a Ana Gomes, que ela explica-lhe como centenas de milhares de pessoas se sentem ludibriadas por Sócrates e por quem com ele colaborou sem fazer perguntas, nem quando apareceram fotografias da montra da loja mais cara e exclusiva de Beverly Hills com o nome do Primeiro-Ministro de Portugal José Sócrates como cliente.

Um processo de corrupção de um ex-primeiro-ministro não pode deixar de ter contornos políticos. Dizer muito simplesmente que se deve deixar à justiça o que é da justiça e à política o que é da política é, neste caso, apenas uma prova de refinado cinismo e hipocrisia. Como é evidente, a justiça faz parte da política. E, se os agentes da Justiça que em Portugal trabalham árdua e diariamente contra a corrupção vêem sistematicamente abrir-se os mais diversos alçapões para safar políticos corruptos, isso deve-se sobretudo, não aos princípios penais gerais, mas aos pormenores que na legislação são metidos sem vergonha pelos principais partidos. E os alçapões permitem ir atrasando os processos com é visto neste: Sócrates foi preso há sete anos e só agora saiu uma acusação, e mesmo essa com os problemas que se vêem.

Mas, se há algo que é verdade em democracia, é que o que pode prescrever são os políticos. Não a Justiça.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 de Abril de 2021

Fotos retiradas na internet

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Coimbra no seu melhor: o caso Feedzai

 


O noticiário sobre a pandemia que traz o mundo em convulsão com as suas informações, contra-informações, politiquices, contradições variadas e mesmo guerrilhas económicas que se adivinham tem, além disso que já não é pouco, o condão de encobrir muitas notícias que, assim, passam despercebidas à maior parte de nós. E foi certamente por isso que uma notícia do maior interesse para Portugal e também para Coimbra não terá tido a divulgação e mesmo comemoração pública que devia.

Como é bem conhecido, o maior problema da economia portuguesa que se tem vindo a agravar desde há mais de vinte anos, reside na falta aflitiva de capital, estando a maior parte das empresas descapitalizadas e, o que é pior, endividadas. Diz-se mesmo que estamos a mudar de paradigma económico ao passar da economia do capital para a economia da dívida. Colocando de parte as teorias que se podem desenvolver sobre esta nova situação, o que é facto é que não dispondo as empresas de músculo financeiro, na prática não têm capacidade para responder a novos desafios com a rapidez necessária, pagam maus salários aos seus trabalhadores e passam grande parte do seu tempo a tentar apenas sobreviver pagando à segurança social e os juros dos empréstimos bancários ou outros.

É por isso uma excepção a felicitar e mesmo festejar quando uma empresa portuguesa consegue atrair investidores que lhe dêem capacidade financeira para se afirmar num mundo globalizado e cada vez mais competitivo. Ainda para mais quando se trata de uma empresa jovem, fundada e dirigida por jovens talentosos que decidem arriscar.

A FEEDZAI é uma empresa «Startup» de tecnologia financeira fundada em 2008 que iniciou a sua actividade na incubadora do Instituto Pedro Nunes em Coimbra.


Foi notícia há poucos dias porque, tendo conseguido uma avaliação superior a mil milhões de dólares (1.200) é assim a quarta empresa portuguesa a obter o estatuto de «empresa unicórnio» depois da Farfetch, OutSystems e Talkdesk mas com uma característica própria que a distingue das outras: é a única que continua a manter a sede em Portugal e, mais concretamente, em Coimbra onde foi fundada.

Esta avaliação financeira vem na sequência da última ronda de captação de investidores em que obteve um investimento de 200 milhões de dólares com o fundo KKR à cabeça, que se juntou a outros investidores que aumentaram também a sua participação anterior, casos da Sapphire Ventures e Citi Ventures, além das que também entraram como a Armilar Venture Partners ou a Sonaecom.

E quais são os produtos desta empresa que fazem com que seja tão valiosa? A FEEDZAI, através da inteligência artificial e "machine learning", actua no mercado da gestão de risco e na prevenção de cibercrime. Isto é, numa altura em que o mundo assiste a um acréscimo brutal de vendas através da internet e em que a banca também está a mudar completamente a maneira como exerce o seu negócio fechando balcões e desenvolvendo massivamente a sua actividade no mundo digital, a FEEDZAI proporciona ferramentas automáticas que protegem estas actividades. É assim que as empresas podem ganhar confiança nas encomendas que recebem, evitando perdas de tempo e de esforços, assim como os bancos e os seus clientes podem igualmente estar mais seguros nas transacções que fazem, que são aos milhões em cada segundo que passa. A pandemia Covid-19 veio trazer uma enorme expansão ao já crescente comércio on-line, aumentando o volume de pagamentos através da banca digital, o que faz crescer as necessidades de segurança, dado que aquele crescimento é acompanhado pelo aumento do crime financeiro online.


Razões mais que suficientes para que a FEEDZAI tivesse sentido necessidade de expandir os seus serviços através de plataforma «na nuvem», sendo o capital levantado crucial para que isso seja possível. Resta acrescentar que entre os seus clientes actuais se contam os cinco maiores bancos norte-americanos ou o Santander, significando operações em 190 países e mais de 800 milhões de utentes.

E sim, estimados leitores, esta empresa fundada por Nuno Sebastião, Pedro Bizarro e Paulo Marques com mais de 500 trabalhadores e escritórios em Lisboa, Porto, Coimbra, Nova Iorque, Atlanta, Silicon Valley, Londres, Hong Kong e Sydney mantém a sede em Coimbra, atitude tão mais de louvar quanto o contrário parece ser a norma. E é mais uma das excelentes empresas tecnológicas saídas nos últimos vinte e cinco anos do Instituto Pedro Nunes para o mundo. Prova de que em Coimbra existe software para dar e vender faltando-lhe eventualmente hardware, situação absolutamente inversa do habitual.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 12 de Abril de 2021

Fotos retiradas da internet

Primavera, segundo Botticelli

 


domingo, 11 de abril de 2021

Sócrates protegido pela PSP

 Quando vi esta foto perguntei-me: o Sócrates vai preso outra vez? Afinal não, os polícias estavam a protegê-lo na sua passagem na rua. De quem? E a que propósito?

 


 

 


 


sexta-feira, 9 de abril de 2021

OPERAÇÃO Marquês

 Não haverá muitas dúvidas de que, qualquer que seja o ponto de vista, hoje é um dia trágico para a justiça portuguesa. Com consequências políticas a sérias a médio prazo.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Entregues a gente desta, estamos

 

 Agora diz que é o protocolo. Pois, pois, quem se dá ao respeito faz o protocolo. Quem não sabe, segue as regras dos outros.

 

D

terça-feira, 6 de abril de 2021

Ainda a maldita Inquisição

 Comentário do Eng. Santos Veloso à crónica de ontem, no Diário de Coimbra.



NOTÍCIAS DAS SONDAGENS

 PS - 39,7%

PSD - 23,6%

BE - 8,6%

CHEGA - 8,5%

IL - 4,8%

PAN - 3,2%

CDS - 1,1%

Investimento costista

 Em percentagem do PIB:


Em 2016: 1,5% 

Em 2017: 1,8% 

Em 2018: 1,8% 

Em 2019: 1,9% 

Em 2020: 2,2%

 De notar que em 2020 o PIB caiu 7,6%, portanto o investimento público em função do PIB cresceu, só por isso.

Mesmo assim,  sempre abaixo dos 2,3% do último governo da austeridade PSD/CDS. É bom recordar estes factos simples.


Autárquicas em Coimbra


 

Ontem, ao analisar-se as próximas eleições autárquicas em Coimbra, alguém disse que, pela primeira vez, vai votar Machado. Isto é, quem decidiu em função dos resultados de há 4 anos pode estar muito enganado. Nem o movimento Somos Coimbra garante os resultados que obteve, porque grande parte dos seus elementos fundadores já se desligaram, nem todos os votantes de então do PSD estão seguros. Muito longe disso.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Maldita Inquisição


A Mesa de Lisboa do Santo Ofício condenou em 15 de Fevereiro de 1820 uma mulher de Leiria a reconhecer e pedir perdão por escrito pelas suas faltas de fé que tinha transmitido em confissão ao sacerdote o qual, como tantas vezes aconteceu, a denunciou à Inquisição. Terá sido esta a última sentença ditada pela Inquisição, em Portugal. Por sua vez, a última condenação por judaísmo tinha acontecido em Abril de 1805. Nesse mesmo ano um padre foi condenado por ateísmo. Em 1773 ocorreu em Goa o que foi provavelmente o último auto da fé da Inquisição portuguesa em que dois homens e uma mulher foram condenados à morte por gentilidade.

A 31 de Março de 1821, passaram agora duzentos anos, na sequência da revolução liberal as Cortes Constituintes aprovaram o decreto que extinguia finalmente a Inquisição, tendo Manuel Fernandes Tomás considerado que a razão para a extinção se devia a «ser incompatível com um país de homens livres». Com alguma ironia histórica a proposta para a extinção deveu-se ao deputado Francisco Simões Margiocchi que em 1797, enquanto estudante de Coimbra, havia sido denunciado ao Santo Ofício pelo intendente Pina Manique, por partilhar escritos contra a Inquisição.

A Inquisição tinha-se estabelecido em Portugal 285 anos antes, em 1536, pela mão do rei D. João III, promulgada pelo Papa Paulo III depois de tentativas falhadas nesse sentido durante algumas dezenas de anos. A Inquisição tinha sido fundada em Espanha em 1478, país de onde os judeus começaram por ser expulsos, tendo muitos deles vindo para Portugal. A vontade do rei D. Manuel de desposar a Infanta D. Isabel filha dos Reis Católicos levou-o a pedir a instituição da Inquisição em Portugal, embora tal só tenha vindo a suceder durante o reinado do sucessor. Mas foi ainda durante o reinado de D. Manuel que a primeira perseguição aos judeus começou a sério em Portugal quando em Abril de 1506 foram massacrados em Lisboa centenas de judeus convertidos na chamada «matança da Páscoa». O ambiente estava criado e nem a reacção de D. Manuel ordenando a execução dos três frades que tinham dado início à violência popular acalmou os ímpetos anti-judaicos.


A verdade é que os efeitos do novo Tribunal do Santo Ofício que agregava interesses da coroa e religiosos fizeram-se sentir logo muito rapidamente depois da sua criação. O primeiro auto da fé da história da Inquisição portuguesa ocorreu logo em 1540 em Lisboa, sendo executados dois homens. Em 1537 a Universidade foi definitivamente transferida para Coimbra e quando em 1541foi criado o tribunal da Inquisição em Coimbra, o reitor da Universidade, o frade dominicano Bernardo da Cruz, foi nomeado presidente da mesa, no que constituiu o início de uma longa e profunda colaboração entre as duas entidades.

Além das mesas distribuídas pelo território, em Évora (a primeira), Lisboa, Coimbra, Lamego e Porto, a Inquisição passou a ter na década de 60 do século XVI, sob a direcção do cardeal Infante D. Henrique irmão de D. João III, uma intrincada rede por todo o país, constituída pelos «familiares» leigos do Santo Ofício que gozavam de vários privilégios pela sua actividade e ainda os clérigos designados por comissários que representavam localmente o tribunal.

Durante os 285 anos da sua existência a Inquisição portuguesa sentenciou um total de mais de 45.300 processos, dos quais 10.388 em Coimbra. Das quase 30.000 pessoas condenadas, terão sido queimadas vivas cerca de 1.175.

As mentiras e falsas acusações provocadas por invejas e inimizades pessoais encontraram terreno fértil com a Inquisição em que a defesa dos acusados era praticamente impossível. O caso de Damião de Góis será paradigmático. Figura maior do renascimento português, conviveu de perto com Erasmo, foi embaixador de D. João III e escreveu a crónica de D. Manuel I. Pois, mesmo assim, foi vítima de denúncia e acabou preso para toda a vida, abandonado em condições miseráveis que lhe afectaram gravemente a saúde e lhe ditaram a morte. Saliento este caso, porque é demonstrativo de como mesmo a cultura e a inteligência de pouco valiam perante acusações falsas e caluniosas, misturando invejas, inimizades, interesses políticos e outros.

Penso ser pacífico supor que uma duração de quase três séculos de um ambiente social corroído pelo medo, pela traição e pela delação não sucedeu sem que tal tivesse consequências profundas e persistentes na nossa sociedade e mesmo numa certa maneira de estar e ser dos portugueses. Suspeito mesmo que ainda hoje se poderão detectar entre nós traços de alguma submissão acompanhada de inveja e matreirice que ajudam a que não nos afirmemos como podíamos e devíamos no mundo. Tal como é perfeitamente visível que, mesmo em ambientes com alguma religiosidade, é raro que algum anti-clericalismo deixe de estar presente.

Lembrar o que foi a Inquisição entre nós é importante, não só para conhecermos a História de Portugal, mas também para melhor entendermos o que somos hoje. Recomendo vivamente a leitura da «História da Inquisição Portuguesa» da autoria de José Pedro Paiva (Universidade de Coimbra) e Giuseppe Marcocci onde colhi algumas preciosas, e provadamente correctas, informações sobre a acção do Santo Ofício no nosso país.
 
Publicado originalmente no Diário de Coimbra, em 5 de Abril de 2021
Imagens recolhidas na internet