Escrevo esta crónica durante a semana anterior às eleições autárquicas, bem sabendo que a sua publicação ocorrerá depois das mesmas e de serem conhecidos os resultados eleitorais. Não pode, assim, ser considerada como de apoio a esta ou aquela candidatura, constituindo apenas o resultado da observação pessoal e independente das respectivas campanhas.
Observando o que se passou pelo continente, já que no respeitante às regiões autónomas a comunicação social escrita e televisiva primou por as ignorar, alguns aspectos são de salientar. Em primeiro lugar, a importância relativa dada pela c.s. às duas maiores cidades, Lisboa e Porto estendida também aos dois maiores partidos, PSD e PS, esquecendo que, antes das eleições, todos os partidos ou coligações merecem igual tratamento. Por lei e por respeito democrático. Infelizmente, foi notória a acrimónia entre as diversas candidaturas, chegando a pontos de verdadeira guerra política. À apresentação de verdadeiras propostas abrangentes e concretas tendo em vista visões estratégicas para os diversos municípios preferiu-se, demasiadas vezes, a destruição nominal dos candidatos oponentes e a discussão de questões menores elevadas momentaneamente a assuntos cruciais de vida ou de morte. Matérias que nem são da competência autárquica são atiradas para cima da mesa com o maior dos à-vontades. Assuntos de verdadeira importância como a relação das propostas apresentadas com as capacidades orçamentais são esquecidos propositadamente, seja por desconhecimento, seja por puro oportunismo.
Coimbra também não escapou a esta “normalidade”. Fugiu-se a discutir o futuro estratégico do município, isto é, qual deverá ser o seu papel a nível regional e nacional, sem esquecer a visão metropolitana. Na continuidade das anteriores versões, a revisão do Plano Regional de Ordenamento do Território continua a considerar o “sistema urbano policêntrico da região” não atribuindo, em consequência qualquer centralidade especial a Coimbra. Uma das consequências tem sido a “redistribuição” de organismos regionais pelas outras cidades da Região. Coimbra está disposta a permitir que isso continue? Todas as cidades, incluindo Coimbra, deverão esforçar-se para conseguir para si o máximo de capacidades e isso é inteiramente compreensível. Já que Coimbra permita o contrário no que lhe diz respeito é que não deverá ser aceitável pelos conimbricenses.
Coimbra tem hoje características metropolitanas evidentes. A mobilidade, a habitação, a saúde, o ensino, o comércio, são todas áreas que não podem ser analisadas olhando apenas para o município de Coimbra. Propor transportes concelhios gratuitos é uma medida simpática, mas não está provado que diminua o número de carros nas ruas e pagá-la com aumento dos impostos dos residentes no município é que não fará muito sentido. A habitação nos municípios vizinhos é largamente influenciada pelas características do mesmo sector em Coimbra. O que, por sua vez, está intimamente ligado com os transportes intermunicipais em conjugação com os transportes municipais de Coimbra: todos os dias milhares de munícipes de outros concelhos utilizam os SMTUC pagos pelo município de Coimbra, por cá trabalharem ou por cá virem tratar de imensos outros assuntos.
Por sua vez, a centralidade geográfica de Coimbra a nível nacional e regional tem consequências positivas óbvias, mas traz igualmente custos para os conimbricenses. Por exemplo, o tráfego pesado de mercadorias que passa diariamente pelo interior da Cidade é inaceitável, quer pelos constrangimentos de trânsito interno, quer pelos elevados custos ambientais.
Poderá o leitor considerar que estes aspectos nada têm a ver com as actividades diárias da Câmara Municipal. Na realidade têm muito. Porque influenciam decisivamente as opções municipais nas mais diversas áreas, desde o urbanismo até ao desenvolvimento económico, passando pelas infra-estruturas e oferta de ensino, transportes ou saúde.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 Outubro 2025