segunda-feira, 5 de abril de 2010

TESOUROS DE COIMBRA

Alguns dos tesouros mais escondidos de Coimbra encontram-se na Catedral de Santa Maria de Coimbra.

Muitos leitores se perguntarão onde fica tal catedral. Pois bem, é a nossa bem conhecida Sé Velha e esse era o seu nome no século XI.

O seu interior foi quase limpo quando em Outubro de 1772 se procedeu à transferência do cabido para a Igreja que fora do extinto Colégio de Jesus e que assim passou a ser a Sé Nova. Na velha igreja restaram apenas peças consideradas sem grande valor ou que, pelas suas dimensões não seriam fáceis de transferir.

Quanto ao retábulo principal de madeira dourada e policromada, da autoria dos flamengos Olivier de Gand e Jean de Ypres, já aqui me referi por algumas vezes. Além de excepcional pelas suas dimensões e beleza artística, é o único daquela altura que se mantém no seu local original em toda a Península Ibérica. Fez há pouco 500 anos, facto que foi devidamente assinalado e celebrado.

Lá se encontra o túmulo de D. Sesnando, falecido em 1091. Recorda-se que o moçárabe D. Sesnando nascido em Tentúgal foi um importante apoio de Fernando Magno, tendo depois governado de forma excepcional e infelizmente pouco conhecida por nós o condado de Coimbra, para aquele Rei de Castela e Leão.

A Porta Especiosa de João de Ruão é talvez o tesouro mais conhecido da Sé Velha, porque se vê bem e porque foi restaurada há pouco tempo.

Mas outro tesouro da Sé Velha deveria ser mais conhecido. Trata-se da Capela do Santíssimo Sacramento, que ocupa o absidíolo do lado direito. O retábulo desta capela é também da autoria de João de Ruão e data de 1566.

O retábulo é espantoso e um pouco intrigante à primeira vista para leigos na matéria, como eu. Trata-se de uma representação do Concílio de Trento e o significado das suas figuras é ainda matéria de estudo de especialistas. Socorri-me, para estas notas, do escrito pelo Prof. Pedro Dias no seu Guia para uma visita a Coimbra, que recomendo para um melhor conhecimento da nossa Cidade.

O retábulo foi encomendado pelo Bispo D. João Soares, que foi um dos representantes portugueses no Concílio de Trento.

O Concílio de Trento foi importantíssimo para a Igreja Católica. Decorreu em três períodos: entre 1545 e 1548, entre 1551 e 1552 e entre 1562 e 1563.Foi convocado pelo Papa Paulo III e foi a resposta da Igreja Católica à Reforma Protestante. Influenciou decisivamente o futuro da Igreja Católica, mas teve ainda grande importância política e social em muitos países europeus, designadamente Portugal.

O retábulo da Capela do Santíssimo Sacramento apresenta as figuras do Concílio de Trento de forma simbólica e com profundo significado religioso. No plano superior estão as estátuas de Cristo e de dez dos Apóstolos. No plano inferior aparecem a Virgem, outro santo e os quatro Evangelistas. Como refere Pedro Dias na sua obra, Cristo é representado como o Sumo Pontífice que preside ao concílio, enquanto os padres participantes no concílio ouvem e as suas palavras e os Evangelistas verificam os seus escritos.

Todo o conjunto é verdadeiramente extraordinário no pormenor do simbolismo e merece uma visita atenta, se possível com a companhia de alguém conhecedor.

Esta nossa cidade tem realmente tantos tesouros desconhecidos a descobrir. Amigo leitor, desafio-o a descobri-los por si, porque o conhecimento é cultura e é por ela que verdadeiramente nos desenvolvemos.

Publicado no Diário de Coimbra em 5 de Abril de 2010

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