segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Marcelo, Presidente


Portugal acaba de passar por um dos períodos eleitorais mais longos da sua história democrática. As eleições legislativas de Outubro tiveram uma campanha eleitoral que não se limitou ao período definido na lei, dado que na realidade começou muitos meses antes. Seguiu-se-lhe a campanha presidencial que terminou com a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa logo à primeira volta.
As eleições presidenciais tiveram vários aspectos dignos de nota. Desde logo porque houve dez candidatos, tendo-se considerado desde o início que havia nove candidatos contra um, Marcelo. Oriundos directamente do Partido Socialista, havia três candidatos a que se acrescentava um oficioso, independente “mais ou menos apoiado” pelo partido. Dois partidos, o PCP e o BE apresentaram os seus candidatos próprios, mesmo sendo estas eleições para o Órgão de Soberania Presidente da República, logo nominais e não para governação do país; claro que estão no direito de o fazer, mas não deixa de ser digno de registo que esses candidatos o sejam como militantes dos respectivos partidos e não em nome individual. Assistiu-se também a uma entrada inopinada e violenta do Tribunal Constitucional na campanha, liquidando instantaneamente a candidatura de Maria de Belém, ao escolher o momento para anunciar um acórdão sobre subvenções vitalícias atribuíveis aos titulares de postos parlamentares anteriores a 2005 que perfizessem 12 anos na AR; recorda-se que o assunto estava em apreciação no TC desde 2014, dizia respeito a centenas de políticos, mas só um deles era candidato naquele momento, pelo que o tiro foi de morte (política, claro está).

Os resultados eleitorais merecem também algumas observações. Desde logo a abstenção que foi de 51,2%, tendo portanto votado menos cerca de 700.000 eleitores do que nas eleições legislativas de três meses antes. Marcelo Rebelo de Sousa, foi eleito com 2,4 milhões de votos quando Cavaco Silva há dez anos obteve 2,8 milhões, Mário Soares teve 3 milhões em 1986 na segunda volta e Jorge Sampaio também 3 milhões em 1996.
Os partidos que apresentaram candidaturas próprias sujeitaram-se às inevitáveis comparações com os resultados das legislativas. Assim, o BE que em 2009 teve 590.000 votos e em Outubro passado 550.000, viu a sua candidata obter 470.000, longe portanto do grande sucesso propagandeado. Descida ainda maior teve o PCP que tem mantido consistentemente o seu valor eleitoral à volta dos 450.000 eleitores e viu o seu candidato perder mais de metade desses votos, devendo perguntar-se se isso terá razões conjunturais pelo apoio ao actual Governo, ou se será o caminho definitivo para a irrelevância política, tantos anos depois da queda do muro de Berlim. 
Estas duas descidas eleitorais são ainda particularmente significativas porque, em conjunto com os dois candidatos socialistas mais relevantes apoiantes da actual solução governativa, obtiveram um total de quase 2 milhões de votos quando os respectivos partidos haviam obtido, em Outubro, um total de 2,7 milhões, numa queda de 750.000 votos desde então.
O sucesso de Marcelo Rebelo de Sousa é indesmentível e resultado de uma campanha completamente definida e organizada pelo próprio candidato, que não colou um único cartaz nem deu canetas ou autocolantes. Marcelo é, indiscutivelmente, uma das personalidades portuguesas mais bem preparadas para o exercício de qualquer função no Estado. A partir de Março vai exercer a mais relevante de todas. Portugal atravessa um momento de grandes dificuldades, quer na sua afirmação externa como membro da União Europeia, também ela própria a passar por um momento difícil, quer sobretudo pela política interna que nos próximos anos vai ter que encontrar caminhos diferentes para aproximar o nível de vida dos portugueses daquele que todos ambicionamos.
Desengane-se quem pensa que Marcelo se vai imiscuir nas tácticas dos partidos do governo ou da oposição, ou mesmo nos pormenores da governação. Mas desengane-se também quem imagina que Marcelo chegou ao fim da sua brilhante carreira pessoal e que, não precisando de mais nada para se afirmar, irá agora descansar. Marcelo, o primeiro presidente da República portuguesa a ser chamado pelo nome próprio pela maioria dos portugueses, sabe diferenciar o dia-a-dia da estratégia que o país precisa e não vai ceder perante as facilidades ou mesmo erros governativos, seja qual for o partido que estiver a governar.


Quem me lê sabe que Marcelo Rebelo de Sousa era o meu candidato. Por isso mesmo, devo dizer que a minha exigência pessoal para com o seu exercício da presidência da República será maior do que seria com qualquer outra pessoa no cargo. A bem de Portugal e dos portugueses, desejo-lhe as maiores felicidades como Presidente da República de Portugal.

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