jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Descer de degrau em degrau
Qualquer que seja o motivo para o fazer, irrealismo ou compreensível vontade de transmitir confiança, a retirada de palavras do léxico noticiário não altera a realidade e, em determinados casos, só aumenta a desconfiança dos cidadãos.
Há poucas semanas, soube-se de uma certa aversão da agência Lusa pela utilização do termo estagnação para caracterizar a situação económica do país.
A queda acentuada de todos os indicadores depressa ultrapassou essa questão, porque a palavra recessão veio infelizmente substituir a estagnação em todos os noticiários. Ao nível internacional, começa a falar-se em depressão, o que é ainda muito mais complicado e promete um futuro muito difícil.
Para se perceber facilmente a diferença entre as duas situações, podemos socorrer-nos da definição simplista do antigo presidente americano Truman: dizia ele que há recessão quando o vizinho perde o emprego, e há depressão quando perdemos o nosso.
A situação económica começa a parecer-se com um imenso buraco negro. As pazadas de dinheiro atiradas para cima do problema desaparecem sem deixar rasto. Fala-se da banca e da economia real, como se tudo não fizesse parte do sistema económico e como se os bancos fossem os únicos responsáveis pelos problemas das empresas não financeiras. Nada de mais errado: a crise é geral, e é assim que deve ser encarada, para ser possível a obtenção de resultados. Não vale a pena diabolizar a banca, para além de erros e até eventuais ilegalidades cometidas por alguns banqueiros em tempos de vacas gordas que devem ser exemplarmente punidos por isso.
O leitor lembrar-se-á da calma com que foi para férias no Verão passado. Pois bem, ao pensar em tudo o que aconteceu nestes seis meses, poderá imaginar que já está psicologicamente preparado para tudo o que poderá vir aí. Pois é melhor começar pensar em tirar o cavalinho da chuva, como diz o povo.
As taxas de juro americanas e japonesas estão praticamente a zero. A deflação aparece no horizonte.
As taxas do Banco Central Europeu desceram como nunca visto, mas as taxas que nos chegam pouco descem, porque as comissões e spreads sobem. Isto é, não há liquidez, como o prova a incapacidade de a CGD se financiar lá fora, mesmo com garantias do Estado e sucessivos aumentos de capital.
Isto é, não há liquidez.
Os teóricos perdem tempos infindáveis a discutir se se deve aumentar os investimentos públicos e em que áreas, ou se será melhor diminuir os impostos para promover o consumo.
Infelizmente, o que não se vê é quem explique aos cidadãos com clareza e verdade, a realidade da situação e os critérios para as medidas de apoio que se vão tomando.
Porventura, a proximidade de três actos eleitorais não ajuda à clarificação da situação. Seria bom que os actores políticos fossem capazes de colocar os interesses nacionais acima dos seus interesses partidários imediatos, porque a gravidade da situação assim o exige e o povo português não iria gostar nada de acordar num dia destes numa situação miserável generalizada e descobrir que foi enganado.
Publicado no Diário de Coimbra em 29 de Dezembro de 2008
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
CAPSIZE
O Dr. Medeiros Ferreira escreveu algures que o país parece um navio mal estivado, em que a carga vai quase toda a estibordo, pelo que num dia destes desequilibra-se e vira.
A imagem está boa, mas ao contrário. De facto, a carga vai praticamente toda a bombordo, que é o lado esquerdo para quem está dentro no navio virado para a proa. A soma das sondagens para a direita- PDS e CDS está tão longe da soma das esquerdas - PS, PCP BE e mais quem por aí venha, que não falta muito o navio faz da quilha portaló, para continuar com a imagem naval.
Tal como sucedeu com o Tolan (lembram-se?) basta haver um pequeno encosto para isto ficar tudo virado ao contrário. A inconsciência anda à solta e ainda vamos pagar tudo isto muito caro, para além da conta dos impostos, claro.
A nacionalização salvítica
Parece que o plano de recuperação proposto pelo Dr. Miguel Cadilhe não lhe deixou outra alternativa, porque o Estado teria que lá colocar uns 600 M€ (ah, e não mandaria no Banco, mero pormenor).
Cançoneta para embalar meninos.
No fim de tudo iremos chegar à conclusão que o Estado terá lá metido muito mais do que aquela verba, sem recuperação que se veja. Mas, claro, o Dr. Cadilhe provavelmente também não percebe nada daquilo...
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Consoadas politicamente correctas
Pés da moda 2
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
CARTEL
A própria UE tem promovido grandes processos contra a cartelização, mesmo a nível mundial, como no caso da Microsoft.
Não se compreende bem como é que o cartel do petróleo é pacificamente aceite em todo o mundo, havendo mesmo negociações de institutos internacionais com esse cartel, em vez de numa situação de crise económica global a situação ser colocada em causa.
Claro que os petrodólares são importantes, mas essa é outra questão,
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
MAGNIFICAT
(Lc 1, 46-56)
Naquele tempo, Maria disse: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa.
Para o Magificat, Bach escreveu esta peça magnífica:
O imposto escondido
É sabido que os inimigos da Democracia usam muitas vezes o tema da corrupção para denegrir e atacar essa mesma democracia.
De facto, nas democracias liberais as sociedades são, por princípio, livres e abertas. Existem assim condições para que os esquemas de suborno e tráfego de interesses e influências sejam praticados com mais à vontade do que em sistemas ditatoriais em que as polícias tudo controlam e vigiam, enquanto normalmente fecham os olhos aos amigos do poder.
Mas é precisamente por as democracias terem como princípio básico a igualdade de oportunidades que devem combater a corrupção que desvirtua essa igualdade. Desvirtua, porque altera decisões gerando vantagens ilegítimas. E além de imoral, a corrupção é um imposto escondido suportado pelos cidadãos honestos, já que o valor da corrupção se reflecte em acréscimos de custos no acesso a bens e serviços.
Um determinado nível de corrupção existirá sempre, porque as pessoas não são perfeitas.
Mas as sociedades livres não podem permitir o grau de laxismo por parte do Estado que deixa que a corrupção atinja níveis insustentáveis para a sua própria continuidade.
Claro que a corrupção será tão mais eficazmente combatida, quanto maior for a exigência ética da sociedade e quanto melhor e mais justo for o clima económico. A degradação de qualquer um destes factores propicia o aumento da corrupção. Em alturas de dificuldade económica, é ainda mais premente aplicar a outra alternativa contra a corrupção, ou seja, aplicar a solução política e judicial última: as pessoas têm que perceber que, além de ilegítima, a corrupção dá cadeia, seja em que nível for. Como em tudo na vida, não adianta pregar bons princípios: o fundamental é dar bons exemplos e os exemplos têm que vir de cima.
Entre nós, infelizmente, a situação tem vindo a piorar. Há pouco mais de uma semana foi publicado o relatório anual da “Transparency International”, ou Índice de Percepções da Corrupção. Portugal aparece nesse índice no lugar nº 32, quando em 2007 ocupava o nº 28 e em 2006 o nº 26.
Não é nada que nos deva surpreender. Na realidade, todos nós nos apercebemos de que algo está errado na nossa organização política e social que permite a ocorrência de casos verdadeiramente escandalosos que são cada vez mais vistos como comuns.
Além de um imposto escondido, a corrupção é um veneno que de forma insidiosa vai minando os alicerces da nossa sociedade.
Publicado no Diário de Coimbra em 22 de Dezembro de 2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
TURBILHÃO CENTRAL
A OMEGA continua no seu caminho de recuperação de um lugar entre as marcas relojoeiras de topo, ainda que os modelos de entrada sejam relativamente abordáveis.
Os novos modelos trazem todos certificado COSC de cronómetro e grande parte deles trazem já o "escape co-axial" que lhes confere grande estabilidade de movimento e durabilidade acrescida, já que praticamente dispensam lubrificação.
O novo modelo de turbilhão central com escape co-axial é absolutamente extraordinário.
Como a gaiola do turbilhão está colocada no centro do relógio, não é possível colocar eixo de ponteiros, pelo que na realidade estes também não existem.
O que existe são dois discos finíssimos de safira, um para as horas e outro para os minutos, onde estão gravados os desenhos dourados dos respectivos ponteiros.
Estes discos são movidos por uma engrenagem localizada na sua periferia.
Tudo isto, mecânico.
Relógio mais estranho, na realidade, não deve haver. No entanto, é uma peça de beleza inexcedível.
PACO DE LUCIA
É o caso desta, tocada por um trio absolutamente espantoso que chegou a editar um álbum que nunca mais encontrei.
No entanto, o you tube consegue a proeza de nos dar todas aquelas músicas que julgávamos perdidas.
PACO DE LUCIA , John McLaughlin , AL DI MEOLA:
sábado, 20 de dezembro de 2008
PAÍS SEM CRÉDITO
O facto de a Caixa Geral de Depósitos não conseguir financiar-se lá fora, apesar de inteiramente de capital público e apesar da garantia do Estado português, só pode traduzir-se na falta de credibilidade externa do país, que gera falta de confiança para nos emprestarem dinheiro.
Agora percebo bem o aspecto claramente angustiado dos membros do Governo quando há oito dias apresentaram o plano anti-crise.
Isto não está mesmo nada fácil.
Fim de semana
Passado, presente e futuro, acrescentarei eu.
Jean Ferrat:
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
ESTATUTO DOS AÇORES
O aborto jurídico foi confirmado pela Assembleia da República.
A posição tomada pelo PSD foi deprimente. Os senhores Deputados foram obrigados pela Direcção do Grupo Parlamentar a abster-se, tendo havido uns 16 que emitiram declaração de voto, manifestando-se discordantes do sentido do voto a que foram OBRIGADOS.
A própria Direcção do Grupo Parlamentar manifestou a sua opinião contrária ao Estatuto, enquanto OBRIGAVA os senhores deputados a abster-se. E estes aceitaram as ordens como cordeirinhos, enquanto a única reacção de alguns foi a declaração de voto.
Por outro lado, a mesmíssima Direcção autorizou dois Deputados a votarem a favor do Estatuto, o que permitiu que fosse aprovado por dois terços, embora tal não fosse necessário. a cereja em cima do bolo.
Absolutamente lamentável: todos saem mal na fotografia. Pelos vistos com medo de uma cisão do Dr. Mota Amaral, o que não passa de uma anedota de mau gosto.
Para ter amigos destes, mais vale o Presidente ter inimigos.
Por outro lado, quem não é capaz de fazer política a sério devia, isso sim, abster-se disso e ir dar aulas na Universidade ou fazer outra coisa qualquer que não tenha consequências negativas para a comuidade.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
UMA QUESTÃO DE ESTATUTO
Tenho dito
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
O PAU E A CENOURA
Não sou financeiro, mas suspeito que nestes dias que correm os problemas dos bancos têm mais a ver com a sua própria sustentabilidade do que com solidariedades com o Governo.
Os bancos são privados e não têm nada que receber ordens dos governos, que já têm a CGD para isso.
Claro que o facto de garantir condições de subsistência aos bancos, é uma tentação para tentar ir mais além e mandar neles. No entanto, os bancos têm que pensar no dia a dia, e nos próximos anos, devendo mesmo evitar a facilidade de crédito que existiu nos últimos anos. Por outro lado, as garantias do Estado vão ser pagas e bem pagas, pelo que esta espécie de chantagem não faz sentido nenhum.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Credibilidade
Até me parece que pode ter um bom resultado e mesmo ganhar.
Mas a escolha destrói a ideia de credibilidade e coerência, cruciais em qualquer altura, mas principalmente em crise total instalada.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
SITUAÇÃO MUITO DIFÍCIL
O reconhecimento da dificuldade da situação económica do país já saiu dos gabinetes de especialistas e começa a ser do conhecimento generalizado da população, embora ainda nem todos tenham tomado inteira consciência do que nos espera nos próximos anos.
Fala-se muito das dificuldades que surgirão em 2009 porque essas são fáceis de prognosticar, bastando olhar para o que se passa lá fora. Mas não podemos pensar que os sacrifícios durarão um ano. As medidas que no nosso país se estão a preparar, à semelhança dos outros países da União Europeia, consistem muito em atirar com dinheiro para cima dos actuais problemas, dinheiro esse que irá ser reposto a seguir pelos impostos de todos.
Isto é, a acrescer à nossa falta de produtividade e elevadíssimos níveis de endividamento irão somar-se de novo os custos de recuperação do défice que vai de novo disparar pelo lado da despesa, sem qualquer possibilidade de a compensar pelo lado dos impostos cujo nível é já insuportável.
É perfeitamente defensável sustentar que a gravidade da actual situação poderia ser minorada, caso as políticas anteriores tivessem sido diferentes.
Como é um facto assente que esta crise veio lá de fora e, com maior ou menor gravidade, atinge todas as economias ocidentais e mesmo as que estão ou estavam em desenvolvimento.
Em consequência, Governo e Oposição, designadamente o seu principal partido o PSD, têm obrigatoriamente que encontrar uma plataforma comum na definição daquilo que de um ponto de vista patriótico é prioritário fazer de imediato para combater a crise e que deverá ser assumido pelos dois partidos. Em termos mais prosaicos, aquilo que tem que ser feito tem muita força e está a ser feito na UE por governos de direita e de esquerda.
O tronco principal das acções imediatas deve estar fora da luta política partidária. Esta deverá centrar-se na definição dos caminhos futuros da desejável recuperação económica e social que deverá seguir-se a esta crise.
Em termos estritamente políticos, o Governo e o PS deverão estar preparados para assumir esta posição, porque a gravidade da crise poderá descambar facilmente numa situação social totalmente descontrolada.
Por seu turno, o PSD deverá rapidamente trilhar este caminho, que é o único que dará aos portugueses a sensação de confiança e de segurança que, perante as dificuldades e insegurança generalizadas, serão certamente a base da escolha política nas eleições do próximo ano.
A incapacidade de os nossos líderes se entenderem minimamente numa crise com estas dimensões levará certamente a que os portugueses se entreguem a propostas extremistas, que pouco de bom trarão para o nosso futuro.
Publicado no Diário de Coimbra em 15 de Dezembro de 2008
domingo, 14 de dezembro de 2008
O PRD DE SÓCRATES?
Um novo partido de Manuel Alegre não terá grande futuro. Mas no início, poderá satisfazer grande parte dos votantes socialistas que não se revêm na actual governação e que depois ficarão psicologicamente "libertos" para irem para votarem noutro partido.
Até pode ser que boa parte deles vá para a esquerda, mas na sua maioria poderão regressar à casa PSD, já sem se sentirem "traidores".
sábado, 13 de dezembro de 2008
POLÍTICA E FUTEBOL (de novo)
Sem ter nada contra o senhor em concreto, será que estes responsáveis políticos ainda não perceberam que misturar política e futebol dá mau resultado, mais cedo ou mais tarde?
California Dreaming
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Pérolas ministeriais
Quem achar que tem consulta marcada há mais de dois meses, use o telefone.
Achar?
Eu acho que tenho 54 anos, será mesmo?
Eu acho que estamos em 2008, será mesmo?
Eu acho que hoje é sexta-feira, será mesmo?
Eu achava que para ser ministro, deveria haver exigências mínimas, estarei enganado?
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
DESÍGNIOS
Esta auto-estrada parece que vai custar 440 milhões de euros, não se sabendo qual o retorno.
Lembro que o Euro 2004 foi justificado como "desígnio nacional". Até hoje ninguém mostrou os números concretos do Euro para o país. E até há para aí uns tipos (sempre os mesmos, aliás) a falar num Mundial de futebol e ninguém vai preso.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
E NINGUÉM REPARA?
Uns ministros fazem os disparates diários que se podem observar, outros desapareceram para parte incerta como Mário Lino e aquele senhor da Cultura que ninguém conhece.
A "Educação" é o que se vê, a Justiça e a Economia idem.
Estamos em depressão, seja ela técnica ou não, como é bem visível para toda a gente.
Ninguém sabe muito bem quem paga os "magalhães", nem sequer se são os mesmos que andam de sessão de apresentação em sessão de apresentação.
Entretanto, os jornais e as televisões continuam a tratar o PSD como se fosse o responsável de tudo o que acontece. Ele é Dias Loureiro, ele é Oliveira e Costa, ele é Cadilhe, ele é Paulo Rangel, ele é Guilherme Silva, ele é Santana Lopes, ele é Marco António, ele é Menezes, ele é Marcelo.
Enfim, ele é Manuela Ferreira Leite que trata os deputados como crianças de colégio.
O leitor não acha que há aqui uma desfocagem de alvo, relativamente ao que verdadeiramente interessa aos portugueses e relativamente à visibilidade da realidade? Não lhe passa pela cabeça que por cada bronca com pessoal do PSD (e, note-se, não os estou a desculpar) há pelo menos uma outra abafada com pessoal do PS?
Entretanto o tempo vai passando e qualquer dia estamos em eleições, tendo passado a ideia de que das duas uma: ou o PSD é responsável por grande parte das "chatices", ou não é credível para governar.
Depois é fácil levar as pessoas a votar onde logo de seguida se arrependerão, mas será tarde demais.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Imperador da Língua Portuguesa
Está prestes a terminar o ano em que se comemoram os 400 anos do nascimento do Padre António Vieira.
Dada a vida e obra do padre jesuíta, as comemorações brasileiras foram muito mais significativas que as portuguesas, já que no país irmão se releva a sua acção em prol da cultura e dignidade dos índios brasileiros num tempo em que tal atitude era excepção à regra.
Na nossa Cidade, as poucas acções comemorativas havidas, embora de elevada qualidade e indiscutível interesse, não saíram dos muros da Universidade, razão por que a população em geral não terá dado por elas. Coimbra esteve representada nas Comemorações através do Prof. Doutor Aníbal Pinto de Castro na Comissão Científica e de dois Centros da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra na lista das Instituições Associadas, mas não houve exposições, conferências para o público em geral ou mesmo concursos escolares como se verificou um pouco por todo o país.
Não quero crer que a circunstância de a passagem do Padre António Vieira por Coimbra por volta de 1663 não ter sido muito feliz, ainda hoje se reflicta no tratamento da Cidade à sua memória. De facto, foi nessa altura que depois de anos de perseguição infrutífera a Inquisição o conseguiu encarcerar em Coimbra e o obrigou a responder às acusações que lhe vinha fazendo havia muito tempo.
A acção do Padre António Vieira e da Companhia de Jesus em defesa dos índios do Brasil e a sua luta persistente contra a escravatura valeram-lhe os ódios dos colonos do Brasil e da maior parte da nobreza. A proposta que fez a D. João IV, inusitada para a época, de serem abolidas as distinções entre cristãos novos e cristãos velhos veio ajudar a que o Santo Ofício se juntasse aos seus inimigos e perseguidores.
Para além de toda a polémica que rodeou a sua vida, há no entanto algo perene que nos legou e que leva a que muitos o considerem o “Imperador da Língua Portuguesa”, que são os seus muitos escritos.
Muitos deles contêm ensinamentos que ainda hoje são actuais e cujo conhecimento nos poderia ajudar na nossa vida.
Dos seus brilhantes sermões, um há de que não resisto a citar um breve trecho, que se chama “Sermão do Bom Ladrão”:
"Levarem os reis consigo ao Paraíso ladrões não só não é companhia indecente, mas acção tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é tanto pelo contrário que, em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno."
Publicado no Diário de Coimbra em 8 de Dezembro de 2008
sábado, 6 de dezembro de 2008
AM VOX TRANSPONDER
Amvox Transponder
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
As nossas ajudas
Porquê o sector automóvel?
As outras áreas económicas não estão em crise?
No fim de semana passado soube-se que, pela primeira vez em vinte anos, os casinos estão a perder dinheiro. Não se arranjam por aí uns euros para ajudar os amigos dos casinos?
Agora a sério. Todo o país está ou vai estar em recessão. Esta obsessão de ir a correr atrás de sector em crise está a criar injustiças profundas e a cavar um buraco no défice que todos vamos pagar com línguas de palmo, muito em breve.
Lembram-se das consequências das nacionalizações do Vasco Gonçalves que andámos a pagar durante dezenas de anos?
Pois a continuar assim, num dia destes acordamos e o Estado é outra vez dono de mais de 50% do PIB.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
BIOMBOS
Quem tenha acompanhado a comunicação social nos últimos dias não poderá deixar de se ter admirado com o número de “notícias” e de comentários sobre dois protagonistas improváveis da nossa vida colectiva, atendendo ao momento crítico que se vive: a presidente do PSD, Dra. Manuela Ferreira Leite e o Presidente da República, Prof. Cavaco Silva.
A Dra. Ferreira Leite sofreu ataques de todos os lados, quer tenha falado, quer tenha ficado calada, quer tenha falado sério, quer tenha ironizado.
A líder do PSD não pode propor descida de impostos para enfrentar a actual crise, no que está bem acompanhada pela Comissão Europeia e pelo ex-ministro das Finanças Campos e Cunha, porque o controle do défice é que é necessário.
Não pode colocar em causa as decisões sobre os grandes projectos sem garantir a sua sustentabilidade e papel efectivo na competitividade, no que é igualmente acompanhada pelo Prof. Campos e Cunha, porque esses projectos serão necessários para a recuperação da economia, o que está ainda por provar.
Não se pode queixar do tratamento da comunicação social às suas intervenções, porque é queixinhas e não pode pretender condicionar a comunicação social.
Se fossem precisos exemplos para demonstrar que tem razão nessa queixa, os últimos dias deram-lhe inteiramente razão. A Dra. Ferreira Leite propôs há quase dois meses uma alteração no pagamento do IVA para ajudar as pequenas e médias empresas, passando essa entrega ao Estado a efectuar-se aquando do pagamento e não no momento da emissão da factura. Aqui d’el rei, que a Dra. Ferreira Leite é incompetente e não percebe nada disso, porque as normas da União Europeia proibiriam essa alteração. Pois bem, a semana passada a Comissão Europeia veio informar que não tem nada contra essa alteração. O leitor encontrou alguma referência na comunicação social a essa posição e ao facto de ir de encontro ao proposto pela Dra. Ferreira Leite?
Quanto ao Presidente da República, assiste-se igualmente a uma barragem de ataques enviesados com base em financiamentos que a sua candidatura recebeu de forma totalmente legal e na situação de um Conselheiro de Estado que ele deveria demitir, o que até lhe está vedado pela lei.
Isto é, a gravíssima crise financeira que também já é económica e a aproximação de uma série de actos eleitorais, parecem levar à criação de criar biombos artificiais que escondam a realidade.
Mas a realidade surge de todo o lado.
Só nos últimos dias, para além da revisão sistemática e quase semanal das previsões económicas em baixa, foram conhecidos relatórios que reflectem a gravidade do que se passa.
Assim, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, o indicador de clima económico caiu em Novembro pelo sexto mês consecutivo, para o nível mais baixo desde 1989, com especial intensidade na indústria transformadora; por outro lado, o indicador de confiança dos consumidores baixou para o nível mais baixo desde 1986.
Por mais biombos que se coloquem, a verdade é que a realidade da crise se está a impor com tal força que já não pode ser escondida, sendo crucial juntar esforços para a enfrentar e não escamoteá-la.
Publicado no Diário de Coimbra em 1 de Dezembro de 2008