
No próximo dia 24 de Junho almoço-debate no salão da Sé Velha com Pedro Vaz Serra :
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
Machado de Castro, talvez o escultor português mais conhecido, nasceu em Coimbra em Junho de 1731.
Da sua importante obra escultórica, destaca-se a estátua equestre do Rei D. José I, que está no Terreiro do Paço, em Lisboa. Para além de muitas outras obras, a Machado de Castro se devem numerosos presépios barrocos que se podem encontrar por todo o país, sendo de salientar os que estão na Sé Patriarcal de Lisboa de 1776 e na Basílica da Estrela, este último feito em 1782.
Muito justamente, Machado de Castro veio a dar o nome ao Museu de Coimbra que, de entre os museus portugueses, é o que maior colecção de esculturas apresenta.
O Museu Nacional Machado de Castro está instalado desde 1913 no antigo Paço Episcopal que serviu de habitação aos bispos de Coimbra desde o século XII, e que tem anexa a antiquíssima igreja de S. João de Almedina.
Ao longo dos séculos, o conjunto arquitectónico em que se insere foi sofrendo as vicissitudes normais ditadas pela passagem do tempo e evolução das sociedades, desde a primitiva construção do fórum romano no século I da nossa era.
Em vez de fazer um grande aterro, a administração romana optou por construir uma base de suporte para o fórum através de galerias abobadadas em dois níveis, que constituem o criptopórtico. Foi sobre a plataforma assim conseguida que as diversas edificações sucessivamente construídas e arruinadas se foram sucedendo no tempo.
O resultado de toda esta evolução está hoje consubstanciado no Museu Nacional Machado de Castro, que, após um longo encerramento para obras de recuperação de acordo com um magnífico plano do Arq. Gonçalo Byrne, se vai agora abrindo progressivamente à população.
Hoje em dia, e pela primeira vez, já é possível visitar os dois pisos do criptopórtico romano, numa experiência única, atendendo a que não existe mais nenhum daquela dimensão ou condições de conservação.
A Capela do Tesoureiro, executada por João de Ruão, que nos anos 60 do século passado foi trazida para este local vinda do Convento de S. Domingos na Rua da Sofia, está hoje protegida das intempéries e integrada num pavilhão expositivo de grande qualidade.
Desafio os meus concidadãos a visitar e admirar o novo Museu que Coimbra reganhou. A Direcção do Museu, que diga-se, tem hoje à cabeça uma mulher que não precisou de quotas para se afirmar, pretende que este seja um espaço de cultura e de cidadania activa.
Existe mesmo um Grupo de Amigos do Museu que permite a qualquer um de nós participar na vida do Museu.
Perante esta nova realidade que para além de mostrar o passado nos interpela a nós hoje, só podemos dizer que estamos perante um exemplo de COIMBRA NO SEU MELHOR.
Publicado no Diário de Coimbra em 25 de Maio de 2009
Michael Martin demitiu-se de líder da Câmara dos Comuns, depois da revelação das despesas dos deputados britânicos. Além dele, também um ministro e dois Lords já se foram embora. O ciclo da terceira via do socialismo de Tony Blair desfaz-se aos bocados em corrupção e poucas vergonhas ao mais alto nível. David Cameron exige eleições antecipadas e o primeiro ministro resiste cegamente à realidade. Vamos ver como a mais velha democracia do mundo vai ultrapassar esta crise.
"O Procurador-Geral da República (PGR) deu instruções para que as diligências que impliquem cooperação judiciária internacional no caso Freeport não tenham a intervenção do Eurojust, organismo presidido por Lopes da Mota, alvo de um inquérito por alegadas pressões neste processo."
Segundo os dicionários, a palavra “crise” significa um “momento perigoso e decisivo” ou uma “mudança que sobrevém no curso de uma doença aguda”.
Como tal, é uma situação conjuntural, embora traga dor e sacrifícios no seu interior.
Enquanto duram, as crises económicas exigem cuidados especiais dos responsáveis políticos, com o objectivo de minorar os efeitos nefastos sobre os atingidos que não se podem defender. No entanto, não se pode esquecer que, durante uma crise, o essencial é preparar o futuro, para que a saída se faça a um bom ritmo, deixando para trás os desperdícios que antes existiam.
Claro que, como acontece com qualquer doença, não há curas estáveis sem diagnóstico, isto é, sem conhecimento das razões que levaram ao seu surgimento.
Sobre as causas da presente crise, já muitos especialistas se pronunciaram, devendo aqui ser salientado o livro de Vítor Bento (Perceber a crise para encontrar o caminho) que ajuda a perceber o que se passou, e cuja leitura recomendo vivamente. Há poucas semanas ouvi, no entanto, aquela que considero a maneira mais apelativa de explicar o que se passou.
No 4.º Congresso Nacional da ACEGE, o Prof. Luís Campos e Cunha comparou o sucedido à queda de um avião. Um acontecimento desse calibre nunca se deve a uma causa única, mas sim à acumulação de problemas vários, que, embora graves, só por si não fariam cair o avião. É a ocorrência em simultâneo que determina a inevitabilidade do desastre. Por outro lado, há problemas que tal como as doenças desconhecidas, não são passíveis de ser detectados antes de se manifestarem, pelo que não podem sequer ser prevenidos.
Entre essas causas, apontam-se a fé num crescimento permanente sem fim, a vontade de providenciar casas para todos, os automatismos nas decisões de investimento, o dinheiro fácil e barato durante muito tempo, a venda de produtos financeiros em pacote sem conhecimento real da sua constituição, a falta de regulação da banca de investimentos, a ganância de querer dar lucros imediatos aos accionistas que garantissem bons prémios aos gestores, a falta de ética de muitos responsáveis bancários, económicos e políticos etc.
Claro que há também quem mais uma vez acuse a economia de mercado (sim, o velho capitalismo) ou mesmo a globalização de todos os males. Esquecem que nunca houve no mundo uma tão grande produção de riqueza; nunca tantos milhões de pessoas tiveram acesso ao mínimo indispensável.
Outros tentam apresentar esta crise como uma prova de contradição entre capitalismo e Estado, esquecendo aliás tudo o que a História do século. XX ensina. Como se fosse possível imaginar o sistema capitalista sem Estado, que é essencial desde logo para regular a própria actividade económica. Isto, claro está, para além do necessário exercício das funções de soberania e de assegurar uma redistribuição social das receitas que são geradas pelas empresas da tal economia de mercado.
Publicado no Diário de Coimbra em 18 de Maio 2009
Da imprensa de hoje:
"A Autoridade da Concorrência (AdC) considera que a existência de painéis nas auto-estradas com os preços iguais em várias bombas de marcas concorrentes "não constitui, por si só, uma prova de concertação ilícita entre operadores".
Confrontado pela Lusa com a existência de painéis nas auto-estradas com preços iguais para gasóleo e gasolina sem chumbo/95 em várias marcas, a AdC remeteu a situação para as conclusões do relatório que apresentou em Abril: "um paralelismo de preços de venda ao público não constitui, por si só, uma prova de concertação ilícita entre operadores nos termos da legislação da concorrência"
Claro que eu não acredito em bruxas, mas que as há, há!
Na crónica da semana passada, apresentei o projecto da cidade de Masdar, que se encontra em construção em Abu Dhabi. Como facilmente se perceberá, a minha intenção não passou por apresentar um modelo para nós aqui em Portugal, mas apenas mostrar a importância da questão energética, hoje tão vital que até os grandes produtores de petróleo a pensam de forma séria.
Do modelo de Masdar, parece-me que há vários aspectos a reter: primeiro, a poupança nos consumos de energia; depois, a obrigatoriedade de os edifícios públicos produzirem pelo menos a energia que consomem; a reutilização da água é também muito importante, bem como o controlo efectivo do seu consumo; por fim, a organização de um sistema de transportes públicos realmente eficaz, que permite prescindir do uso de meios de transporte privados.
Claro que o aspecto mais impressivo deste exemplo de Masdar é a utilização exclusiva de energia dita “renovável”, isto é, sem recurso à queima de combustíveis fósseis.
Entre nós (dados de 2007), a energia primária consumida tem as seguintes origens: 69% de petróleo e gás natural; 11,3% de carvão; 3,5% de hídricas; 1,4% de eólica, geotérmica e solares; a biomassa, os biocombustíveis e resíduos produzem 12,3%; finalmente, 2,5% constituem o saldo de transferências eléctricas.
Como se vê, apesar do enorme investimento em eólica, com grandes apoios do Estado nos últimos dez anos, o papel das chamadas novas energias renováveis continua muito reduzido. A fatia de energia proveniente das barragens poderia ser bem maior se não se tivesse abandonado a construção da barragem de Foz Côa em 1995, facto que atrasou ainda os novos projectos hidroeléctricos previstos.
É também crucial salientar que, nos últimos dez anos, a factura energética líquida paga por Portugal aumentou 440%, tendo a componente importada de energia primária diminuído apenas de 85% para 83% no mesmo período.
A estratégia energética a adoptar por Portugal nas próximas décadas será, muito provavelmente, o factor essencial para a definição da nossa competitividade económica, diminuindo a excessiva dependência externa que hoje se verifica.
Em tempo de preparação de programas eleitorais, devemos ter a maior atenção às diversas propostas neste domínio. Os critérios passarão inevitavelmente por reforçar a biomassa, a hidroeléctrica e a eólica. O nuclear terá que ser obrigatoriamente encarado de frente. Não podemos esconder o facto de que boa parte da energia eléctrica que somos obrigados a importar tem essa origem. Não podemos pensar que o petróleo durará para sempre (e barato), e muito menos podemos esconder a cabeça na areia no que diz respeito ao nuclear, se queremos ser competitivos.
De qualquer forma, os portugueses precisam que lhes seja claramente dito quais são as alternativas em jogo, e qual a influência de cada uma delas na resposta à necessidade de aumento da competitividade nacional.
Publicado no Diário de Coimbra em 11 de Maio de 2009