segunda-feira, 11 de maio de 2009

QUE ENERGIA PARA O FUTURO? (2)



Na crónica da semana passada, apresentei o projecto da cidade de Masdar, que se encontra em construção em Abu Dhabi. Como facilmente se perceberá, a minha intenção não passou por apresentar um modelo para nós aqui em Portugal, mas apenas mostrar a importância da questão energética, hoje tão vital que até os grandes produtores de petróleo a pensam de forma séria.

Do modelo de Masdar, parece-me que há vários aspectos a reter: primeiro, a poupança nos consumos de energia; depois, a obrigatoriedade de os edifícios públicos produzirem pelo menos a energia que consomem; a reutilização da água é também muito importante, bem como o controlo efectivo do seu consumo; por fim, a organização de um sistema de transportes públicos realmente eficaz, que permite prescindir do uso de meios de transporte privados.

Claro que o aspecto mais impressivo deste exemplo de Masdar é a utilização exclusiva de energia dita “renovável”, isto é, sem recurso à queima de combustíveis fósseis.


Entre nós (dados de 2007), a energia primária consumida tem as seguintes origens: 69% de petróleo e gás natural; 11,3% de carvão; 3,5% de hídricas; 1,4% de eólica, geotérmica e solares; a biomassa, os biocombustíveis e resíduos produzem 12,3%; finalmente, 2,5% constituem o saldo de transferências eléctricas.

Como se vê, apesar do enorme investimento em eólica, com grandes apoios do Estado nos últimos dez anos, o papel das chamadas novas energias renováveis continua muito reduzido. A fatia de energia proveniente das barragens poderia ser bem maior se não se tivesse abandonado a construção da barragem de Foz Côa em 1995, facto que atrasou ainda os novos projectos hidroeléctricos previstos.

É também crucial salientar que, nos últimos dez anos, a factura energética líquida paga por Portugal aumentou 440%, tendo a componente importada de energia primária diminuído apenas de 85% para 83% no mesmo período.

A estratégia energética a adoptar por Portugal nas próximas décadas será, muito provavelmente, o factor essencial para a definição da nossa competitividade económica, diminuindo a excessiva dependência externa que hoje se verifica.

Em tempo de preparação de programas eleitorais, devemos ter a maior atenção às diversas propostas neste domínio. Os critérios passarão inevitavelmente por reforçar a biomassa, a hidroeléctrica e a eólica. O nuclear terá que ser obrigatoriamente encarado de frente. Não podemos esconder o facto de que boa parte da energia eléctrica que somos obrigados a importar tem essa origem. Não podemos pensar que o petróleo durará para sempre (e barato), e muito menos podemos esconder a cabeça na areia no que diz respeito ao nuclear, se queremos ser competitivos.

De qualquer forma, os portugueses precisam que lhes seja claramente dito quais são as alternativas em jogo, e qual a influência de cada uma delas na resposta à necessidade de aumento da competitividade nacional.


Publicado no Diário de Coimbra em 11 de Maio de 2009

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