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quarta-feira, 30 de junho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
CARAVAGGIO
Muitos dos artistas ligados a Roma ficaram conhecidos desde que fizeram as suas obras. Tal não aconteceu com Caravaggio que só se tornou conhecido há pouco mais de cem anos, apesar de se comemorarem este ano 400 anos sobre a sua morte. Encerrou há poucos dias, precisamente em Roma, junto ao palácio do Quirinal, a maior exposição de sempre de obras deste pintor, que teve uma afluência de público gigantesca. Apesar de ter morrido com apenas 39 anos, Caravaggio teve uma uma influência extraordinária na pintura, tendo ainda hoje as suas telas uma contemporaneidade invulgar. A sua técnica de utilização de luz, aliada a um realismo da forma humana invulgar para a época, bem como a utilização de modelos da vida real e vulgar que ele bem conhecia para representar as figuras clássicas do cristianismo, trazem para as suas pinturas uma crueza mas também humanidade que até então eram desconhecidas.
A sua obra encontra-se distribuída por vários locais, mas em Roma basta entrar numa série de Igrejas para descobrir o mundo da sua pintura que ainda hoje nos deixa impressionados e esmagados pela sua intensidade. Na Igreja de S. Luís dos Franceses pode-se apreciar o tríptico dedicado a S. Mateus: Vocação, Martírioe e S. Mateus e o Anjo. Na Basílica de S. Agostinho, a Madona do Loreto. Em S. Maria del Popolo, a Conversão de S. Paulo e a Crucifixão de S.Pedro. Também na Galeria Borguese está David com a cabeça de Golias e na Galeria Doria Pamphili o lindíssimo Descanso da Fuga para o Egipto.
Nesta comemoração dos 400 anos da morte de Caravaggio, lembra-se um homem que viveu muito e depressa, sempre em conflito com tudo e com todos. Mas lembra-se sobretudo um artista que usou de forma sublime a sua capacidade artística para representar as cenas clássicas do cristianismo a que pertencia, de uma forma verdadeiramente humana e não artificial, alterando para sempre a forma de arte que assumiu como sua.
Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
SOLSTÍCIO DE VERÃO
Como se sabe, ocorre hoje o solstício de Verão, que corresponde ao ponto de viragem astronómico em que a eclíptica se afasta mais do equador celeste ou, de forma mais comum, o Sol atinge o ponto mais alto sobre o horizonte. A partir de hoje a duração dos dias começa a diminuir até ao próximo solstício, o do Inverno. Mais uma lei da Natureza que qualquer radicalismo humano nunca conseguirá mudar, por mais fracturante que se queira ser. Felizmente podemos contar com leis da Natureza que já existiam antes do Homem e continuarão muito depois de a Humanidade terminar a sua História.
Já o mesmo não se pode dizer infelizmente, das chamadas ciências sociais, como as que têm a ver com a economia e a nossa organização social e política que, na realidade têm muito pouco de científico.
A actual crise económica que hoje é uma crise do euro foi prevista por muita gente durante anos, gente essa considerada iconoclasta e ignorante pelos grandes especialistas e mesmo cientistas da economia. Hoje em dia é fácil perceber que meter no mesmo saco diferentes economias como a alemã, a francesa, a grega, a espanhola e a portuguesa só podia mesmo dar mau resultado, principalmente por não terem sido construídos mecanismos de compensação, deixando à solta a possibilidade de financiamento externo a cada país e possibilitando os endividamentos que hoje se conhecem.
O leitor lembra-se de no início do Euro, nas eleições de 1995, o então candidato a primeiro-ministro António Guterres se ter atrapalhado cá em Coimbra com uns números relativos a despesa pública e crescimento do PIB? Na altura gozou-se muito com a atrapalhação de Guterres com os números, mas a questão principal não era essa, até porque Guterres sempre foi muito bom em matemáticas e atrapalhações com contas em público acontecem a qualquer um. A questão principal era o raciocínio que lhe estava subjacente. Guterres explicava que a despesa orçamental poderia subir bastante porque a economia estava a crescer e esse facto dava margem para o Estado gastar mais. E a verdade é que nos anos seguintes o Estado gastou cada vez mais, mesmo com recurso a crédito que parecia ilimitado e barato para sempre. O Estado gastou, endividou-se e levou toda a sociedade a endividar-se porque nunca mais haveria problemas com falta de dinheiro. Foi também nessa altura que se inventaram as SCUTs, o leitor está recordado? O ministro João Cravinho contra toda a evidência comum, provava com estudos económicos feitos pelos maiores especialistas que as SCUTs se pagariam a sim mesmas pelo acréscimo de produção económica do país que iriam gerar só por serem construídas. Viu-se; claro que esses especialistas virão agora explicar calmamente que os pressupostos dos estudos não se verificaram e que portanto não têm qualquer responsabilidade na tragédia que foram esses investimentos (menos para os construtores, claro está). Dava jeito é que esses pressupostos tivessem na altura sido divulgados e explicados ao povo eleitor e pagante de impostos.
Como na Astronomia, o solstício de Verão da nossa economia passou e agora aproxima-se inexoravelmente o solstício de Inverno, sem que ninguém assuma o papel de explicar devidamente aos portugueses o que se está verdadeiramente a passar. Não basta que venha o Presidente da República agora dizer apocalipticamente, mas também de forma algo encriptada, que Portugal chegou a uma “situação insustentável”. É preciso saber o problema que temos, para podermos discutir como o resolver.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Junho de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Escrito para os dias de hoje?
«Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu. Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.» «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te. «E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.»
segunda-feira, 14 de junho de 2010
DISPARATE PEGADO
Pelos vistos, para se circular nalgumas estradas de Portugal vai passar a ser preciso um dispositivo electrónico no carro. Isto não faz sentido nenhum. Para se andar nas actuais auto-estradas, dá jeito ter a via verde, mas ninguém é obrigado a tê-la. Agora, obrigar todas viaturas a ter um dispositivo electrónico, para circular nalgumas estradas? Mesmo os carros estrangeiros? E a liberdade de circulação? Já não interessa?
Mas não há por aí ninguém com um pouco de bom senso que possa mandar parar toda esta anedota?
LE MANS 2010
LUGAR À CULTURA
Chegámos finalmente a um ponto em que já todos percebemos de que forma o caminho da nossa economia está traçado; sabendo isso, devemos ter consciência de que a vida tem muito mais para além das dificuldades económicas que nos esperam por muitos e bons anos, para que a nossa satisfação interior seja alcançada, o que é essencial para o equilíbrio das pessoas, mas também das sociedades.
De entre outras, é essa uma das razões por que a Cultura tem hoje em dia, e deverá continuar a ter no futuro, uma grande importância social e até económica. Os cortes em despesas, tantas vezes cegos, não deveriam pois atingir de forma insensata a cultura, tão importante para a sociedade.
Uma das áreas culturais mais importantes em todo o mundo é a chamada música erudita. Importante, porque define claramente o nível cultural de um povo. Importante, porque permite aos jovens, que a ela têm acesso, adquirirem uma postura social completamente diferente daqueles que infelizmente não têm essa oportunidade.
Contra ventos e marés, apenas com o apoio permanente e possível da Câmara Municipal de Coimbra e de alguns patrocínios, a Orquestra Clássica do Centro que sucedeu à Orquestra de Câmara de Coimbra, tem vindo a afirmar-se em toda a região Centro, com dezenas e dezenas de concertos e centenas de presenças em acontecimentos diversificados. Isto para além de proporcionar condições para formação musical de crianças e jovens. Com nove anos de existência, a OCC desde há dois que ocupa o Pavilhão Centro de Portugal no Parque Verde do Mondego.
Pessoalmente, já por diversas vezes referi nestas páginas a relevância cultural da actividade da Orquestra Clássica do Centro. Tenho ainda dado conta da mágoa sentida por muitos, pelo facto de o Ministério da Cultura não apoiar a OCC como pareceria ser sua estrita obrigação, escudando-se muitas vezes com desculpas esfarrapadas e mesmo injustas, como a acusação de falta de qualidade, ou por apoiar já outra orquestra clássica na região, que na realidade é uma formação mais pequena e com uma actividade pública bem mais reduzida. Se a Cultura apoia, e porventura bem, numerosas companhias teatrais na mesma região, porque não o fará com a música clássica? Estará a música erudita condenada a ser sempre o parente pobre da Cultura entre nós? Acaso entenderão os responsáveis políticos pela área da Cultura que a Música não ajuda à formação dos jovens? Ou será mesmo porque está sedeada em Coimbra?
Coimbra deve muito à Direcção da Orquestra Clássica do Centro e ao Maestro Virgílio Caseiro, como é já sobejamente conhecido. Muitos não saberão, no entanto, que há mais pessoas sem as quais os resultados já alcançados não seriam possíveis. Desde logo, o presidente da Câmara, Dr. Carlos Encarnação, sem quaisquer dúvidas. Mas há outro responsável que aqui deve ser referido. O Prof. Linhares Furtado é bem conhecido pela sua extraordinária relevância no campo da Medicina não apenas em Coimbra, mas em todo o mundo. Para além do pioneirismo das suas cirurgias e das técnicas sofisticadíssimas que desenvolveu nessa área que passaram a ser praticadas em hospitais um pouco por todo o lado, é conhecido por ser um Médico, para além de cirurgião. Isto é, para ele os doentes existem muito para além das mesas cirúrgicas, em toda a complexidade do ser humano que sofre.
Este humanismo não podia deixar de ser transportado para outras áreas. Foi assim que a certa altura o Prof. Linhares Furtado, grande amante e conhecedor da música erudita ou clássica, como muitos lhes chamam, se dedicou de alma e coração à obra da Orquestra Clássica do Centro. Certamente que sem a sua acção e apoio discreto, mas decisivo, a OCC não seria o que é hoje. Coimbra teve a sorte de acolher este Açoriano de origem que, para além de uma vida inteira como Médico e Cientista do melhor que há no mundo, tanto tem feito em prol da Cultura na nossa cidade. Saibamos merecer.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 14 de Junho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Euro Zone Dialogue - does the euro have a future?
Dear reader,
Plus, join one of our breakfast briefings with senior editors of The Economist, including Brooke Unger, Berlin Bureau Chief and Jonathan Rosenthal, European Finance and Business Correspondent.
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segunda-feira, 7 de junho de 2010
NOTÍCIAS DOS VELHOS ALIADOS
Nestes tempos conturbados e de deriva política, não nos faz mal nenhum recordar as nossas antigas ligações e ver o que o que os nossos mais velhos aliados andam a fazer. De facto, negócios podem fazer-se com toda a gente ou quase, pelo que não virá grande mal se algumas empresas portuguesas ganharem dinheiro na Líbia, na Venezuela ou nos países do Magreb. O que não podemos de forma nenhuma é imaginar que nos virá alguma vantagem política ou social de um contacto mais íntimo com os regimes desses países. Aquilo a que muitos chamam a “magrebização” do país significaria apenas um retrocesso lamentável na nossa organização social económica e política, que deve ter como modelo a Europa.
Voltando aos nossos aliados da “Aliança Inglesa”, devemo-nos recordar que essa é a mais antiga aliança diplomática do mundo em vigor. Significa uma ligação quase umbilical entre Portugal e Inglaterra, hoje Reino Unido. O Tratado de Windsor foi firmado em Maio de 1386, mas a “Aliança Inglesa” era já de 1373. Da ascensão ao trono de D. João I e seu casamento com Filipa de Lencastre, filha de João de Gant, duque de Lencastre, veio a Ínclita Geração e uma época de grande prosperidade económica com grande desenvolvimento do comércio que hoje chamaríamos de exportação, e ainda o início da época dos descobrimentos com todos os seus sucessos e prosperidade.
Não esqueçamos ainda que a Inglaterra é a mais antiga Democracia, e que aos ingleses se deve a tenaz resistência à barbárie nazi, não apenas militar, mas também, e sobretudo, ideológica e civilizacional.
Tudo isto para dizer que o Reino Unido resolveu finalmente deitar fora a “Terceira Via”, nome que Tony Blair e os seus amigos resolveram dar à política do Partido Trabalhista a que até chamaram “Novo Partido Trabalhista”, no fundo enterrando a social-democracia tal como a conhecíamos.
A coligação que o Partido Conservador e o Partido Liberal Democrata montaram é um modelo político a estudar e a seguir com o maior interesse. E isto porque os respectivos líderes, David Cameron e Nick Clegg, não construíram a coligação através de uma simples divisão de ministérios ou de pessoas. Os dois partidos partiram dos seus programas para as negociações e, sector a sector, analisaram com seriedade aquilo que para cada partido era crucial e aquilo em que podia ceder. Por exemplo, o Partido Conservador não cedeu nas suas propostas sobre Educação que foram uma das suas bandeiras principais, mas acrescentou-lhe os apoios financeiros para as crianças pobres, como o Partido Liberal Democrata propôs nas eleições. Bem interessante é constatar que ambos os partidos acordaram em reduzir drasticamente as despesas do Estado em vez de aumentar os impostos, para cortar no défice. A construção da terceira pista do aeroporto de Heathrow, por exemplo, foi abandonada. Em praticamente todas as áreas da governação houve negociações a sério e encontro de soluções aceitáveis por ambos os parceiros, o que permitiu um pacto de não agressão entre os dois partidos até às próximas eleições, daqui a cinco anos.
Bem refrescante, devo dizer. E um exemplo a ter em conta entre nós, acrescentarei ainda. Exemplo que, obviamente, não nos chegará do Magrebe ou da Venezuela.
Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Junho de 2010