Muitos dos artistas ligados a Roma ficaram conhecidos desde que fizeram as suas obras. Tal não aconteceu com Caravaggio que só se tornou conhecido há pouco mais de cem anos, apesar de se comemorarem este ano 400 anos sobre a sua morte. Encerrou há poucos dias, precisamente em Roma, junto ao palácio do Quirinal, a maior exposição de sempre de obras deste pintor, que teve uma afluência de público gigantesca. Apesar de ter morrido com apenas 39 anos, Caravaggio teve uma uma influência extraordinária na pintura, tendo ainda hoje as suas telas uma contemporaneidade invulgar. A sua técnica de utilização de luz, aliada a um realismo da forma humana invulgar para a época, bem como a utilização de modelos da vida real e vulgar que ele bem conhecia para representar as figuras clássicas do cristianismo, trazem para as suas pinturas uma crueza mas também humanidade que até então eram desconhecidas.
A sua obra encontra-se distribuída por vários locais, mas em Roma basta entrar numa série de Igrejas para descobrir o mundo da sua pintura que ainda hoje nos deixa impressionados e esmagados pela sua intensidade. Na Igreja de S. Luís dos Franceses pode-se apreciar o tríptico dedicado a S. Mateus: Vocação, Martírioe e S. Mateus e o Anjo. Na Basílica de S. Agostinho, a Madona do Loreto. Em S. Maria del Popolo, a Conversão de S. Paulo e a Crucifixão de S.Pedro. Também na Galeria Borguese está David com a cabeça de Golias e na Galeria Doria Pamphili o lindíssimo Descanso da Fuga para o Egipto.
Nesta comemoração dos 400 anos da morte de Caravaggio, lembra-se um homem que viveu muito e depressa, sempre em conflito com tudo e com todos. Mas lembra-se sobretudo um artista que usou de forma sublime a sua capacidade artística para representar as cenas clássicas do cristianismo a que pertencia, de uma forma verdadeiramente humana e não artificial, alterando para sempre a forma de arte que assumiu como sua.
Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Junho de 2010
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